segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Dia do professor ou dia dos sacrificados?


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CARTA A MUITOS AMIGOS
A 12 de Outubro celebrou-se o Dia do Professor. Merecem que os homenageemos. Em todo o mundo e aqui eles asseguram o futuro da pátria.
Relembremos o que aconteceu pelo mundo fora. Depois da II Guerra Mundial havia países inteiros destruídos. A Alemanha, o Japão, a URSS haviam sofrido as piores destruições. A Inglaterra, a Itália, a Grécia, a Jugoslávia estavam com cidades e vilas inteiras em escombros.
Nesses países não faltavam engenheiros, arquitectos, ferreiros, carpinteiros, electricistas, pedreiros. Alguns Estados receberam apoios monetários para se restaurarem, mas não se enviaram para nenhum deles técnicos superiores, médios ou básicos para lá. Eles existiam em todos os locais, incluindo num Japão que sofrera dois ataques nucleares.
Reconstruíram-se porque sabiam e sabiam fazer. A educação e o ensino haviam apetrechado o país. Reergueram-se as fábricas, os prédios, refizeram-se as estradas e pontes, os sistemas de água, as ligações eléctricas. Normalizaram-se as vidas das gentes e dos países.
A FRELIMO durante a guerra de libertação criava escolas nas zonas libertadas. Tunduro e Bagamoyo criaram-se nesse período. Enviávamos os finalistas para diversos países amigos com bolsas.
Por absurdo na libertação nacional havia mais jovens com cursos médios e superiores vindos do sistema de educação da FRELIMO do que o colonialismo formara durante a sua bem longa ocupação.
Estávamos conscientes e bem das prioridades e necessidades. Havia que assegurar a reconstrução da pátria livre.
Na sequência da independência havia um Ministério da Educação e Cultura. Nele se tratava do ensino superior, técnico, primário, do desporto, da juventude e da cultura. Desmembrou-se o ministério, criaram-se vários e, claro, aumentou o número de funcionários.
Fernando Ganhão leccionava no Instituto Moçambicano desde 1967. Com ele aí estavam João Ferreira, Jacinto Veloso. Todos expulsos da Tanzânia pelas manobras dos reaccionários aliados ao Sheik Karume. Os únicos médicos moçambicanos, Hélder e Helena Martins expulsos pela mesma razão.
Sobreviveu o saudoso Daniel Saul Banze com pele mais escura. A cor da pele para essa escumalha determinava tanto as necessidades da pátria, como do ensino.
Devemos interrogar porque razão a UEM nunca assinalou o nome do seu fundador e demais reitores? Ruth First e Aquino de Bragança encontram os seus nomes num pequeno jardim dentro do Centro de Estudos Africanos. Iniciativa e custos do CEA.
Verdade, o Conselho Municipal no Bairro dos Cronistas o nome de Ganhão a uma das ruas. Obrigado!
Sofrerão o Conselho Universitário e os Magníficos Reitores de uma magnífica amnésia ou ignorância?
Nos estabelecimentos de ensino havia laboratórios de física, química, biologia, bibliotecas.
Bom visitar para se constatar quantos funcionam, alguns pararam por carência de reagentes e outros produtos, há protecção dos livros nas bibliotecas? Havia alojamento para os docentes e para os discentes de locais distantes e sem família o ministério criara lares.
Como está a situação hoje?
Não se atrasa brutalmente o pagamento do salário bem baixo até nas universidades dos docentes? Em quantos locais o professor primário deve apanhar um chapa para se deslocar a um ATM ou banco para receber o seu magro salário? Como alojamos os professores primários e mesmo do secundário?
 Vemos na Universidade alunos escrevendo com erros crassos de gramática, ignorantes da aritmética mais básica.
Premiamos com diplomas a ignorância. Sai-se de um Instituto Médio ou Superior sem saber e muito menos saber fazer.
Acusam-se docentes de venderem notas, venderem provas. Perguntemos se as condições criadas não os forçam a virarem traficantes?
Que dizer da venda de álcool e drogas nas imediações dos estabelecimentos de ensino? A entrada de facas e punhais nas escolas? Não se pode controlar a embriaguez? Há ou não violação de alunas? O acontecido no Josina constitui um caso único e excepcional?
Bem, na gota de orvalho reflecte-se a beleza do sol ou sujidade das valas carregando podridão.
A polícia tem instrumentos que medem o teor alcoólico. Controlar armas? Há aparelhos em todos os aeroportos para tal se fazer. Não existem guardas em todos estabelecimentos de ensino? Qual a tarefa que cabe aos guardas e de que meios dispõem?
Paremos de choraminguices e comecemos a agir como pessoas e adultos responsáveis pelos seus filhos, netos e o país.
Na comunicação social que investigação existe, quantas reportagens sobre estas calamidades que assolam a educação?
Lamentações deixem-se para o muro que existe na cidade santa de Jerusalém. Aqui e agora a tarefa está no agirmos.
Para satisfazer doadores e gostos de A e B alteraram-se os livros ensino
Desapareceu a nossa História, a educação patriótica e cívica, na literatura ficaram mais os autores portugueses que e todos juntos, os moçambicanos, angolanos, cabo-verdianos, são-tomenses, goeses e brasileiros.
 Porque não se pode descrever a História pátria sem dar o devido relevo à resistência anti-colonial, aos crimes e massacres dos ocupantes e à saga da libertação nacional, tudo se considerou propaganda partidária e liquidou-se. Hoje as novas gerações pouco ou nada sabem do passado.
O 8 de Março, um dos esteios essenciais da reconstrução nacional, está ignorado. Os filhos e netos dessa geração pouco ou nada sabem da gesta em que os seus pais estiveram envolvidos.
Temos que salvar o nosso futuro, retomar o ensino dos verdadeiros valores da História, literatura deste país.
Para isso o meu abraço.
P.S. Todo assassinato, sequestro, violência fazem parte do odioso.
Jeremias Pondeca que nós gostássemos ou não dele tornou-se vítima dum assassinato. Membro do Conselho de Estado, o Presidente da República, o Governo e a FRELIMO condenaram a barbaridade.
Não devemos cair nas especulações sobre as causas, quando ainda não há pistas e dados. As lendas sobre esquadrões da morte só servem para obscurecer a investigação.
Má comunicação social a que conclui sem investigar.
Queremos sim informação fiável e acção eficiente das autoridades policiais e judiciais.
SV

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