A partir da próxima edição SAVANA passa a custar 50 Mt Naíta Ussene
Pág. 2 e 3
Lobby petrolífero
empurra Couto Pág. 4 Dhlakama fala aos camaradas
TEMA DA SEMANA 2 Savana 07-10-2016
O líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, não tem
dúvidas de que o Acordo
Geral de Paz (AGP)
foi “escangalhado a 100%” nos
24 anos da sua implementação,
assinalados terça-feira, 4 de Outubro,
e quer no novo acordo, a
alcançar ainda este mês, o fim do
ódio e uma reconciliação genuína
entre os moçambicanos. Contudo,
dispensa o diálogo directo
com Filipe Nyusi, que acusa de
promover matanças de políticos,
recorrendo a esquadrões de morte,
com raptos e execuções nunca
antes vistos, desde a administra-
ção de Machel a Guebuza. Apelou
“aos camaradas meus irmãos
da Frelimo”, que estiveram reunidos
(reunião de quadros) e aos
do Comité Central, que iniciam
hoje uma reunião de três dias, que
já não é tempo de fazer propaganda,
porque o povo está a sofrer.
“Se há guerra, é porque a Frelimo
tem estado a provocar a Renamo,
e sejamos realistas, o país não é da
Renamo, o país é do povo, não é
de Guebuza, de Chissano, nem
do Dhlakama e nem do Nyusi,
nós somos dirigentes, cada um
deve estar em prol dos interesses
superiores deste povo”, precisou
o líder da Renamo, enquanto repisava
que o seu partido reafirma
a governação das seis províncias,
como condição para um acordo
final.
Sendo uma peça chave do AGP,
como olha o acordo 24 anos depois?
De facto ontem (terça-feira) comemorámos
o 24º aniversário do
acordo político. Negociámos em
Roma e chegámos a uma conclusão.
A Frelimo reconheceu que
havia perdido a guerra no terreno,
tentou resistir 16 anos, não foram
poucos. Houve muitas tropas, até
estrangeiras, vieram para tentar
impedir o multipartidarismo, mas
devido ao povo de Moçambique
que sempre esteve do nosso lado, a
Renamo conseguiu obrigar o regime,
e assinamos o acordo no dia 4
de Outubro de 1992 em Roma, eu
pessoalmente com o ex-presidente
Joaquim Chissano. Completamos
ontem (terça-feira) 24 anos. Infelizmente
tudo aquilo que havíamos
acordado em Roma foi violado
pela Frelimo, porque o multipartidarismo
não está a funcionar
bem, já tivemos várias eleições, foram
manchadas por fraude, o que
significa que quem rouba votos é
porque não quer a democracia, não
quer o multipartidarismo, porque
também não tem o apoio da população.
Desde 1994 até às últimas
eleições de 2014, sempre houve
roubos de voto, nas presidenciais e
nas legislativas, e inclusive até nas
autarquias, mas como a Renamo
luta apenas para a democracia, não
quisemos fazer confusão, se não
manter a paz, e honrarmos com
a nossa palavra, como muito bem
li no discurso em Roma. Ontem
pude escutar (discurso proferido
em Roma em 1992) a minha voz
na Rádio Moçambique, fiquei
muito satisfeito, porque dizia que a
guerra estava terminada, e que agora
ia desenvolver a democracia, o
desenvolvimento económico, a paz,
justiça, reconciliação nacional, e
aquele discurso foi bom, mas prontos,
por isso mesmo que durante os
24 anos pude ter paciência, com o
partido que dirijo. Espero que nestas
negociações agora em Moçambique
tudo corra bem, porque a
Renamo tem o direito de governar,
nas províncias onde tem ganho as
eleições. Não faz sentido que desde
1994, o Dhlakama e a Renamo ganhem
sempre nas províncias mais
importantes do país, e essas províncias
continuem a ser governadas
por elementos indicados a partir
de Maputo. A Renamo pretende
começar a governar as seis províncias.
A Renamo vai governar com
respeito, vamos ter governantes
para governar bem os governados,
que é o povo, vamos saber servir o
povo, melhorar a situação do povo,
sobretudo no sector da agricultura
para acabarmos com a fome.
Quero dizer que os governos provinciais
com os governadores da
Renamo vão criar diferença e serão
o exemplo de boa governação. A
paz poderá voltar a reinar, porque o
conflito militar vai parar. Exigimos
que os comandos da Renamo nas
FADM sejam enquadrados, nos
lugares de chefia como forma de
despartidarizar o exército. Como
é do seu conhecimento como jornalista,
até aqui as FADM atacam
a Renamo porque elas servem os
interesses do partido Frelimo, com
esse acordo, que poderá conter este
mesmo título, acredito que quer nas
FADM, quer na Polícia, mesmo
no SISE, podemos criar um equilíbrio
para que estas instituições
representem de facto os interesses
do país, que não sejam ao serviço
do partido político, por isso estou
optimista que a paz pode voltar a
reinar no nosso país, porque não
tem interesse e nem motivo que a
Renamo permanentemente com a
Frelimo continuem a se matar. Somos
irmãos, somos primos, somos
do mesmo país.
Acredito agora que com o envolvimento
da União Europeia, da
África do Sul, e das outras organizações,
mesmo do vaticano na
mediação, isto poderá ajudar, porque
isto é diferente de Roma. Em
1992 era só o Governo italiano, a
Sant´Egídio, a liderarem e a mediarem,
agora é a União Europeia
toda, é África do Sul, é aquela organização
mundial com vários antigos
chefes de estados, o próprio
vaticano, o representante de Papa
em Moçambique, o núncio apostó-
lico está na mesa das negociações,
portanto há mais peso.
Acredito eu que com o acordo em
Moçambique e criar-se uma comissão
permanente, que não só será
dos moçambicanos, mas também
incluir a comunidade internacional
e regional da África Austral, para
fiscalizar esse acordo para evitarmos
os erros do acordo de Roma,
dentro de semanas podemos voltar
a ter aquela paz, que é importante
estarmos com as nossas famílias,
com os nossos filhos, nas praias e
tudo, a produzirmos, comida para
o nosso povo.
O chefe da equipa de mediadores
entende que o AGP foi cumprido
em 95%, e houve falhas em 5%,
partilha da mesma opinião?
Não. O Acordo geral de Paz foi escangalhado
todo. O que era o acordo?
O acordo significaria a entrada
do multipartidarismo, significaria
o estabelecimento de Estado de direito
em Moçambique, significaria
que as instituições tinham de pertencer
ao Estado e não ao partido,
significaria eleições livres, justas e
transparentes, significaria reconciliação
nacional, o fim do ódio,
e essas coisas todas continuaram.
Eleições não são eleições, é fraude,
há política da exclusão social,
se você não é membro da Frelimo,
não é nada, é considerado estrangeiro,
há raptos, há sequestros, há
fuzilamentos, há mais pobreza do
que naquela altura durante a guerra
dos 16 anos, portanto não falhou
pouco, falhou 100%.
Mario Raffaelli não é moçambicano,
é italiano, tem análise diferente,
eu assinei o acordo. O facto da ausência
da própria democracia aqui,
é a falha da aplicação do acordo
geral de paz, o facto de estarmos a
lutar, e a ser atacados pelas forças
armadas, é resultado da não aplica-
ção do AGP, o facto de estarmos
a andar pé descalço, pobreza, fome
e mortes, é a falta da aplicação do
AGP. Portanto, significa que o
AGP falhou em 100%.
Reunião de quadros
A reunião de quadros da Frelimo
remeteu ao encontro entre Filipe
Nyusi e Afonso Dhlakama a matéria
da indicação dos governadores
da Renamo. É necessário que
isso se discuta a esse nível?
Não. É o pensamento deles como
Frelimo. Eu acho que o nível das
negociações em curso, é no nível
mais alto. Eu estou a dizer que
organizei uma equipe, o Presidente
Nyusi também uma equipe,
estão a negociar em Maputo, com
a presença da mediação internacional.
Não acho seja importante
que ainda o Nyusi e o Dhlakama,
duas pessoas, tenham de se encontrar
para negociar a sós, porque
este país não pertence ao Nyusi e
nem ao Dhlakama. Nós temos representantes
nas comissões. Estão
credenciados para poderem negociar.
Eu todos os dias falo com os
representantes, tanto na comissão
mista, quero acreditar que o Nyusi
também que quase todos os dias
está em Maputo, que também o
faça. Portanto, é dispensado esse
encontro, a não ser que seja um
encontro para assinar o dossier,
aquilo que aconteceu com Chissano,
quando me encontrei com
ele lá em Roma em 1992, aquilo
que aconteceu a 5 de Setembro de
2014, quando assinei o acordo de
cessação das hostilidades militares
na cidade de Maputo, com o ex-
-presidente Armando Guebuza,
isto pode justificar. Agora enquanto
há diálogo, e as delegações estão
a negociar, na capital, não é necessário
um encontro entre Nyusi
e Dhlakama para ainda ver o que
está sendo discutido, eu do meu
lado não vejo que seja importante
isto. O mais importante agora
é aquilo que deve ser discutido lá
na comissão mista e produzirem
o acordo final do compromisso da
governação das seis províncias da
Renamo, e os governadores com
poderes próprios, porque nós não
estamos para ser integrados no regime
da Frelimo, nem haverá um
governo de Unidade Nacional, à
semelhança do Quénia e do Zimbabwe,
entre Tsvangirai e Mugabe,
não é isso que queremos fazer. Mas
governarmos com as nossas políticas.
É claro vai ser provisório, porque
os governadores vão ser nomeados
ainda este ano, ou por aí em
Novembro, mas começam de facto
a funcionar em 2017, 2018 e 2019.
Com as eleições de 2019, termina
esta governação provisória e de
transição, e daí os governadores serão
eleitos e gera outra situação. O
encontro entre Nyusi e Dhlakama
não tem muita importância. Talvez
poderei admitir se for para assinarmos
o documento final, que ponha
termo ao conflito militar, para batermos
as palmas, então não é pôr
o Dhlakama numa cidade ou um
distrito qualquer, encontrar-se com
o presidente Nyusi aí para discutir,
discutir o quê, que não esta sendo
discutido neste momento pela comissão
mista?.
Reitera a posição de que os governadores
da Renamo não devem
governar com o programa da
Frelimo?
Sim, os governadores da Renamo
vão governar com o programa da
Renamo. Só que serão nomeados
pelo quadro jurídico existente. Eu
poderei indicar e depois o Presidente
da República conferir posse,
mas como vão querer implementar
a democracia, aproximar
a democracia junto da população
e tudo, justiça, recursos florestais,
desenvolvimento local, praticamente
com o programa da Renamo,
as nossas políticas vão entrar
em acção, porque não significa que
Sofala vai ser independente, Nampula
vai ser independente, estamos
num único país, os governadores
terão que reconhecer o Presidente
da República, embora não tenha
ganho as eleições, mas o é perante
a Constituição. O que nós temos,
portanto vai ser assim. Não é o governador
da Renamo acompanhar
o programa de governação da Frelimo.
Reitera a posição de governar as
seis províncias a partir de Novembro?
Tudo que estamos a fazer, quer
a mediação internacional, quer
Comissão Mista tem poderes para negociar
“Dispenso diálogo com Nyusi”
Por André Catueira
“Nós temos representantes nas comissões. Estão credenciados para poderem negociar”
TEMA DA SEMANA Savana 07-10-2016 3
Neste dia memorável, a British American Tobacco
Moçambique, gostaria de encorajar-lhe a continuar
a dar o seu contributo para o alcance da paz e
crescimento do nosso País, mantendo vivo o espírito
de irmandade que caracteriza o nosso povo.
Juntos, podemos construir um Moçambique
próspero!!!
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nível médio de escolaridade
a Renamo, mesmo a própria Frelimo,
é que isso acabe com o conflito
militar. As pessoas estão cansadas
da guerra. Não podemos terminar
com o conflito e as hostilidades
militares e a paz ser reposta enquanto
não resolvermos o problema
da governação, quero acreditar
que como as coisas estão a andar,
tendo o governo e a Renamo negociados,
penso que Novembro
ou Dezembro comecem mesmo a
funcionar, mesmo que comece em
Janeiro, mas até fim deste ano os
governadores devem ser nomeados
e começarem a se apresentar nas
províncias.
Os mediadores tinham mostrado
a pretensão de conversar pessoalmente
consigo, e havia necessidade
de abertura de um corredor
de segurança, condicionada, com
a exigência da Renamo para a retirada
das 25 posições das forças
de defesa na Gorongosa. Reitera
esta exigência?
Como sabe foi a proposta dos
próprios mediadores, quando acabavam
de chegar a Moçambique,
queriam encontrar-se comigo, e
é muito importante, sou líder da
Renamo, eles têm se encontrado
também com o Nyusi em Maputo.
Foi da iniciativa deles, e perguntaram-me
sobre o que eu achava, dar
trégua ao nível da Gorongosa, para
fazer um corredor para eles poderem
chegar cá e, imediatamente,
respondi positivamente que estava
preparado. No passado, mesmo
durante a guerra dos 16 anos, já
houve corredores semelhantes, mas
eu disse pronto, porque as posições
das forças armadas que estão em
volta da serra da Gorongosa, são
25 posições ao todo. Estas posi-
ções não restam dúvidas que tem
a missão de matar o Dhlakama,
como tem visto. Eu disse à media-
ção que não era possível criar um
corredor de segurança. A condição
seria pelo menos a retirada das for-
ças governamentais que estão aqui,
porque todas essas forças vieram
de Maputo com o único objectivo
de matar e destruir o Dhlakama. O
governo rejeitou, não quis retirar
as suas forças, como forma de criar
os corredores, que só assim haveria
trégua na Gorongosa. Agora falo
com os mediadores ao telefone.
A não cessação imediata das hostilidades
é uma estratégia de pressão
da Renamo?
Não. Não há cessar-fogo enquanto
não chegarmos ao Acordo geral.
Havia sido adiantando pela Frelimo
um cessar-fogo em todo o país,
e nós rejeitamos e dissemos que
não. Se há guerra é porque há um
motivo qualquer, e primeiro é encontrarmos
a solução do problema,
depois cessarmos fogo duma vez
para sempre, agora cessarmos fogo
hoje de emoção, e um mês depois
continuarmos, estaríamos a brincar
com o povo.
Aliás, quando negociámos em
Roma, dois anos e meio, não houve
cessar-fogo, cessamos fogo mesmo
no dia 4 de Outubro, depois
da assinatura do acordo, também
a Frelimo quando lutava pela Independência,
Chissano e esses todos
eles negociaram em Lusaka,
na Zâmbia, com a guerra e depois
quando assinaram no dia 7 de Setembro
de 1974, a seguir cessaram
fogo. Tem sido essa a prática. Não é
cessar-fogo, sem combate e depois
negociar, se não a Frelimo estaria
em vantagem. Se a Frelimo aceita
algumas coisas também connosco
é porque esta a perder no terreno,
e agora cessar-fogo sem acordar
com a Frelimo, e a Frelimo no poder,
as negociações podem até levar
dois ou quatro anos porque estão a
governar, já não há incómodo, por
isso não há cessar-fogo antes de
atingirmos a solução da causa que
leva as pessoas a se matarem entre
elas.
Estamos a trabalhar no sentido de
devolver a paz, devolver a paz para
o povo, a paz é muito importante.
Podemos ter contradições entre os
partidos Frelimo e Renamo e os
outros, mas a paz deve ser uma coisa
sagrada, e sem a paz não há nada
que podemos fazer com sucesso.
Prometo ao povo que a paz será
reposta, se calhar dentro de meses,
não quero acreditar que a gente
passe as festas do natal, ainda em
conflitos, acredito que até finais de
Novembro até meados, a paz volte
para o povo em Moçambique.
Chamo atenção aos camaradas
meus irmãos da Frelimo, que estiveram
reunidos, que já não é tempo
de fazer propaganda, o povo está
a sofrer. Se há guerra, é porque a
Frelimo tem estado a provocar a
Renamo, e sejamos realistas, o país
não é da Renamo, o país é do povo,
não é de Guebuza, de Chissano,
nem do Dhlakama e nem do Nyusi,
nós somos dirigentes, cada um
deve estar em prol dos interesses
superiores deste povo.
Quero dizer o povo para não fi-
car decepcionado. Estamos a trabalhar,
do meu lado, e aqueles
que estão em volta de mim, quer
aqueles que lutam com armas nas
mãos, quer mesmo os deputados
das Assembleias da República e
provincial pela Renamo, e todos,
e os membros da Renamo em
Manica, em Sofala, em particular,
Tete, Zambézia, que tem sido alvo
de perseguição, são sequestrados,
mortos. A campanha que Nyusi
lançou, nunca houve, nem Samora
Machel não chegou a fazer isso,
Chissano, Guebuza, guerra sempre
houve, mas de deixar a guerra e ir
agarrar os meus nas montanhas e
tudo, de dia e noite, levar de carros,
por exemplo de Chimoio ir cortar
cabeças no rio Lucite, em Catandica,
em Tambara. Quero acreditar
que esses massacres macabros
da Frelimo vão terminar agora, se
tudo depender da minha vontade,
eu Afonso Dhlakama, como sempre,
gostaria que logo que os mediadores
regressarem, comece já o
acordo final.
Como olha para a crise económica
actual, com o agravamento dos
preços de combustíveis e produtos
essenciais?
É um problema sério. Apesar de
eu estar aqui na Gorongosa, acompanho
o que acontece no país, e
acompanhei que houve o aumento
de preços dos combustíveis, afectando
tudo, desde camiões, chapa-
-cem. Isso vai provocar o aumento
de todos os produtos, sobretudo
agrários, e a população é que sai
lesada porque não consegue viajar
por causa das tarifas que dispararam,
as pessoas que dependem dos
chapas que não são subsidiados,
isso significa complicar a situação
da população. Não faz sentido que
os preços dos combustíveis estejam
a subir agora, porque lembro
me muito bem, que há dois ou três
anos, o barril chegava mesmo a
custar 30 a 40 dólares, e agora estão
a justificar os preços altos por causa
do conflito. Isso não tem nada a
ver, até afugenta os investimentos
nacionais e estrangeiros, porque
torna impossível fazer negócio.
Não só os preços, as coisas estão
mal, há preços de produtos que
custam o dobro daquilo que as pessoas
conseguiam comprar no ano
passado, como açúcar, barras de
sabão, óleo de cozinha, mesmo sal.
Hoje as pessoas já não conseguem,
mesmo recebendo 30 mil meticais.
Uma pessoa que tem quatro a cinco
filhos, já não consegue fazer estudar
porque a inflação disparou e
porque?, porque Moçambique não
está a produzir nada, sobrevive de
produtos de importações. A economia
real, com os produtos, depende
da agricultura, e isto está parado, e
isso desencoraja, não só os investimentos
nacionais como estrangeiro,
ninguém quer continuar a
investir em Moçambique com esta
situação. A Frelimo atira para o
conflito armado. É verdade que a
guerra veio agravar, mas as políticas
económicas do próprio regime não
ajudam a incentivar os investimentos
estrangeiros, incluindo nacionais.
Esta é que é a razão do fundo.
A falta de boas políticas económicas.
É importante que os impostos
não penalizem os empresários,
como forma de fazer com que eles
possam aplicar esse dinheiro na
produção, possam trabalhar, possam
aumentar, os seus negócios.
Se mais de 50 por cento dos seus
rendimentos, a pessoa é obrigada
a pagar em impostos, isto provoca
fuga ao fisco e provoca também o
desencorajamento das pessoas que
querem investir em Moçambique,
esses são os problemas fundamentais.
O regime devia estar a estudar,
e não aparecer com argumentos da
guerra.
TEMA DA SEMANA 4 Savana 07-10-2016
Asaída de Pedro Couto
do estratégico Ministério
dos Recursos
Minerais e Energia
gerou em meios políticos e económicos
um clima de discrepantes
especulações, reforçando
a ideia de que Filipe Nyusi terá
sido pressionado pelo lobby
petrolífero (Anadarko/ENI)
na sua última visita a Houston
(Texas), nos Estados Unidos
da América (EUA), a afastar o
governante acusado de ser inflexível
e bloquear o andamento
de importantes dossiers ligados
ao sector de hidrocarbonetos na
Bacia do Rovuma, alegadamente
em nome dos “interesses do
Estado”.
Entre as referidas especulações
avulta a indicação de que Couto
era um principal travão nas pretensões
da multinacional norte-
-americana Anadarko de usar a
região de Afungi, no distrito de
Palma, província de Cabo Delgado,
para a exportação do Gás
Natural Liquefeito (GNL), desistindo
da utilização da Base
Logística de Pemba (BLP).
A questão da base logística não
era a única dor de cabeça com a
Anadarko. Não havia também
acordo nas quantidades de gás
oferecidas pela multinacional
norte-americana para comercialização
em Moçambique. Havia
igualmente debates com as
entidades governamentais nas
quantidades a exportar. Com os
preços em queda, a Anadarko
defendia que terá de exportar
muito mais do que previsto inicialmente
para cobrir os custos
de operação. Porém, as entidades
governamentais do sector estavam
em desacordo.
Couto, provavelmente o único
membro do executivo que não
tem cartão do Partido Frelimo,
uma prática não recorrente
no país, é conhecido pelos seus
hábitos ascetas e como “completamente
limpo” em questões
de luvas e corrupção. Quando o
SAVANA questionou a sua nomeação
para o cargo em Janeiro
de 2015, recebeu a explicação de
que Couto “colocaria a casa no
lugar”, sugerindo-se o fim da
“influência Guebuza” no sector
e, por outro lado, que “os dinheiros
estariam completamente
controlados”. Couto é conhecido
nas reuniões do Conselho de
Ministros por dizer “o que lhe
vai na alma” sem os salamaleques
que caracterizam a subserviente
nomenklatura partidária. O apoio
que deu à “tecnocratização” da
EDM assustou muitos quadros
de topo na Frelimo, habituados
a olharem para o sector econó-
mico público como a sua própria
manjedoura.
Atraso de quatro anos
Couto tinha posições muito
prudentes sobre a exploração
do gás, alinhando com os posicionamentos
das assessorias da
Argélia e Noruega que o governo
decidiu auscultar, numa área
totalmente nova no desenvolvimento
do país. Couto, segundo
os seus colaboradores, sobretudo
com a acentuada derrapagem da
economia moçambicana, tentava
assegurar que os contratos com
as grandes multinacionais não
seriam atingidos “a preço de banana”.
É outro o entendimento nos
círculos diplomáticos e nos sectores
do petróleo e gás sobre o
desempenho do ministro. Um
representante de uma das multinacionais
envolvidas no Rovuma
disse ao SAVANA que o governo
“está atrasado quatro anos”,
implicando a anterior administração
moçambicana na actual
conjuntura de baixos preços de
gás e petróleo e desaceleração
das principais economias asiáticas,
potenciais compradoras do
gás moçambicano.
Na recente visita aos EUA, Filipe
Nyusi, sem Pedro Couto
na delegação, escalou Houston
(Texas) onde manteve encontros
com o CEO da Anadarko
e a direcção da General Electric.
Em Nova Iorque esteve também
com o CEO da Exxon Mobil,
a empresa que se propõe a pesquisar
vários blocos de petróleo
em Moçambique e mantém um
acordo, ainda a sete chaves, para
entrar na exploração do gás no
bloco 4 da bacia do Rovuma, em
conjunto com a italiana ENI.
Quando se tornaram ruidosos
os rumores do acordo Exxon
Mobil/ENI, Nyusi recebeu em
Maputo os executivos das duas
companhias.
Uma semana após o regresso dos
EUA, Filipe Nyusi exonerava,
surpreendentemente, o economista
Pedro Couto, tido em alguns
sectores como um quadro
competente e não vulnerável a
influências e pressões. Horas depois,
Couto era anunciado PCA
da Hidroeléctrica de Cahora
Bassa (HCB), numa Assembleia
Geral Extraordinária convocada
para deliberar sobre a eleição dos
membros dos órgãos sociais da
barragem para o triénio 2016-
2018, um lugar onde substitui
Paulo Muxanga, outro legado de
Armando Guebuza.
“O ministro não era muito querido
das petrolíferas, mas ele
argumentava que estava a fazer
o seu trabalho defendendo os
interesses do Estado moçambicano”,
frisou uma importante
fonte do Ministério dos Recursos
Minerais e Energia.
Aliás, em Novembro passado a
Sweet Crude Reports, uma publicação
nigeriana especializada
em temas sobre a indústria de
energia, escreveu que a Anadarko
estaria a pressionar o Presidente
moçambicano, Filipe Nyusi, para
aceitar que o consórcio que lidera
a exploração de gás no Bloco1,
usasse a região de Afungi, para a
exportação de GNL, desistindo
da utilização da BLP.
Ao que apurámos, os oficiais governamentais
moçambicanos argumentavam
que, caso o governo
permitisse que a Anadarko
use Afungi para a exportação do
GNL, seria a ruína do projecto
da BLP, uma vez que o consórcio
liderado pela multinacional
norte-americana posiciona-se
como o principal cliente do empreendimento.
Manifestando-se “tranquilo”, em
relação à exoneração de Pedro
Couto, Claudio Descalzi, presidente
da ENI, comentou à Reuters:
“a decisão do governo não
terá impacto” sobre o arranque
do investimento no GNL da bacia
do Rovuma; Todas as aprovações
para desenvolvimento
do campo Coral obtidas e alterações
políticas e decretos especiais
relacionados com o projecto
aprovados; “O último passo é o
financiamento do projecto, que é
independente”; decisão final de
investimento possível em Outubro
ou Novembro de 2016.
Ironicamente, quatro dias depois
da exoneração de Couto, a ENI
celebrou um acordo de comercialização
de gás com a BP para
20 anos, anunciou que o FID
(Decisão Final de Investimento)
deverá acontecer até ao fim do
mês, assim como a assinatura de
um novo EPCC (Contrato de
concessão, produção e explora-
ção) para o gás do Bloco 4.
A publicação nigeriana também
escreveu que, no início de Julho
de 2015, o director-executivo da
Anadarko, R.A Walker, foi recebido
por Filipe Nyusi, num encontro
secreto realizado em Maputo.
Nyusi, considerou a Sweet
Crude Reports, parece mais receptivo
à utilização de Palma
pela Anadarko do que o seu antecessor
Armando Guebuza.
A Anadarko fez, na altura, chegar
por vias apropriadas que se
o governo não permitisse outra
alternativa, eles deveriam fazer
a sua própria base logística em
Mtwara na Tanzânia.
Entrada na HCB
A apetência da Anadarko pelo
porto de Afungi deve-se ao facto
de estar localizado perto da sua
futura fábrica de GNL e pelas
naturais vantagens logísticas e
operacionais que o mesmo oferece.
Quando abordado pelo
SAVANA em Novembro último
sobre a opção Afungi e não
PLB, a Anadarko disse: “O nosso
foco é utilização da opção mais
económica e transparente disponível,
como um esforço para aumentar
as receitas em benefício
dos cidadãos de Moçambique
e do Projecto de Desenvolvimento
de Gás de Moçambique”
Por outro lado, a companhia
norte-americana não está animada
com a perspectiva de
trabalhar com Orlean Invest,
empresa de capitais de Itália e
Nigéria que detém 49% da concessão
da BLP, aliado ao facto de
um relatório intitulado “Mantendo
a corrupção estrangeira
fora dos Estados Unidos: histó-
rias de quatro casos”, produzido
pela Subcomissão Permanente
de Investigações, subordinada à
Comissão de Segurança Interna
e Assuntos Governamentais
do Senado norte-americano, ter
apontado a Orlean Invest Holding
Ltd como tendo sido utilizada
pelo então vice-presidente
da Nigéria, Atiku Abubakar,
para exportar, ilegalmente, dinheiro
de corrupção para os
EUA.
Couto, na HCB, enfrentará o
desafio de assegurar uma gestão
competente e afastada das
pressões político-partidárias da
Frelimo, terá de enfrentar mais
uma vez o poderoso lobby para
a construção da nova barragem
de Mpanda Nkwa em detrimento
da edificação da central
norte, a renegociação dos preços
na energia à África do Sul, os
pagamentos em atraso do Zimbabwe
por cumplicidade política
com Robert Mugabe. Em termos
moçambicanos, conta com
uma equipa notável de quadros
onde pontuam Moisés Machava,
Adriano Jonas e Nelson Beete.
Uma semana após o regresso de Nyusi dos EUA
Lobby petrolífero empurra saída de Couto
Por Francisco Carmona
Pedro Couto, antigo ministro dos Recursos Minerais e Energia
Naíta Ussene
TEMA DA SEMANA Savana 07-10-2016 5
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6 Savana 07-10-2016 SOCIEDADE
Depois de constituir
manchetes de jornais e
matéria de destaque dos
telejornais, ao contrair
uma dívida de USD 850 milhões,
em 2013, com aval do Estado
moçambicano, para a compra
de embarcações, a Empresa
Moçambicana de Atum (EMATUM)
volta à ribalta, desta vez,
devido ao incumprimento das
cláusulas contratuais com os seus
trabalhadores.
O facto foi conhecido esta semana,
quando um grupo de 50
trabalhadores, de mais de 200, se
concentrou no pátio daquela empresa,
na cidade de Maputo, para
reivindicar atraso salarial que, de
acordo com os queixosos, se veri-
fica há três meses.
Dizem que a situação não é nova
e alastra-se desde Setembro do
ano passado, altura em que a empresa
era gerida por Cristina Matavele,
ex-Directora Executiva.
Os trabalhadores contratados há
dois anos para garantir o atum
e a sustentabilidade da empresa
denunciam que nunca tiveram
subsídios de transporte e alimentação,
embora estes estejam previstos
nos contratos com a EMATUM.
Aqui, mostram-se mais preocupados
ainda pelo facto de a empresa
mandar os seus pescadores
ao alto-mar sem comida e água
suficiente para o período de actividades.
Além dos subsídios acima descritos,
o grupo queixa-se também de
falta de assistência médica e medicamentosa,
que também consta
do contrato.
“No princípio éramos atendidos
no Hospital Militar e na Clínica
do Hospital Central (ambos de
Maputo), mas depois rescindiram
o contrato sem nos avisarem.
Apenas ficamos surpreendidos,
quando mandaram-nos voltar nas
consultas”, explicam.
“O nosso contrato prevê seguro
de vida, mas há um colega que
perdeu seu filho e a empresa não
foi capaz de comprar caixão para
o filho do seu trabalhador”, acrescentam.
Totalmente agastados, contam os
trabalhadores da EMATUM que
alguns já foram despejados por
não ter dinheiro para pagar renda.
Segundo eles, por várias vezes,
já tentaram conversar com a direcção
da empresa que nunca se
mostra disponível.
Mas a lista das inquietações é
longa. “Não conhecemos o nosso
PCA. A direcção executiva não
nos respeita. Não nos reconhece.
Já expomos o problema aos Ministérios
do Trabalho e da Economia
e Finanças; a Liga dos
Direitos Humanos; e a Administração
Marítima. Mas, ainda não
temos resposta”, afirmam.
Com os barcos atracados no Porto
de Maputo, a nossa reportagem
quis conhecer as tarefas exercidas
por aqueles trabalhadores, ao que
responderam que, neste momento,
“o único trabalho é vigiar os
barcos 24 horas por dia”.
“Há um ano que não vamos ao
mar. Neste ano, apenas um barco
navegou, em Fevereiro, mas voltou
sem nada porque não tínhamos
iscas. Os produtos apresentados,
há meses são do ano passado.
Aquele peixe estava congelado há
muito tempo”, revelam.
Por essa razão, os trabalhadores
da badalada empresa de atum
não só pedem o pagamento dos
seus salários, mas também a sua
indemnização.
“Se a empresa não tem dinheiro
para operar, que nos indemnize
para procurarmos outro emprego
porque não podemos ficar sem
trabalhar e muito menos sem receber”,
defendem.
Esta quarta-feira, na sede da
EMATUM, onde estavam amotinados
os grevistas, o nosso repórter
foi expulso pelo Chefe dos
Recursos Humanos da empresa,
Flávio Quibe, que justificou que
“queremos discutir questões da
nossa casa”, prometendo se pronunciar
mais tarde, o que não
aconteceu até ao fecho desta edi-
ção. Entretanto, soubemos mais
tarde que a “discussão de casa”
não produziu novidades, senão as
sistemáticas intimidações. Foram
também nulos esforços para ouvir
o PCA da EMATUM, António
Carlos do Rosário.
“Nenhum barco foi
readaptado”
Até Julho passado, mês em que
apresentou os seus produtos, a
EMATUM revelou que tinha
despendido 14 milhões de Meticais
na adaptação de nove embarcações,
havendo oito por iniciar
o processo, para além de outros
quatro barcos cuja adaptação estava
ainda em curso.
Entretanto, os grevistas revelam
que tudo não passa de uma mentira
porque os 24 barcos continuam
atracados no Porto de Maputo
e sem previsão da sua retirada.
Acrescentam que, daquele número,
apenas cinco é que estavam
operacionais e não oito, como
sempre se disse.
Reiteram que o maior problema
da EMATUM reside nos seus
gestores, que não têm conhecimento
sobre a área pesqueira, dedicando
maior parte do tempo no
facebook.
Três anos depois de endividar o país em USD 850 milhões, agora a empresa não paga salários
Greve na EMATUM
Por Abílio Maolela
Depois de desfalcar o país, a EMATUM delapida, agora, as economias familiares
OGoverno moçambicano
avalizou nos últimos oito
anos empréstimos no
valor de 300 milhões de
dólares a favor da Empresa Aeroportos
de Moçambique (AdM) e a
companhia só pode sobreviver com
apoio estatal, escreve a Zitamar,
uma agência noticiosa electrónica
especializada em assuntos econó-
micos do país.
De acordo com a matéria, a AdM
encontra-se numa situação financeira
grave e as dívidas avalizadas
pelo governo a favor da companhia
não estão inscritas nas contas pú-
blicas.
Citando o último relatório de contas
da empresa, a Zitamar nota que
a companhia fechou o ano de 2015
com uma dívida de 13.4 biliões de
meticais, o equivalente a 300 milhões
de dólares ao câmbio desse
ano, na sequência de avultados empréstimos,
incluindo para a construção
do Aeroporto Internacional
de Nacala.
Nas contas da Zitamar, a referida
dívida pode ter saltado agora para
23.6 biliões de meticais, devido à
colossal derrapagem do metical
face ao dólar americano.
A publicação lembra que em Junho
deste ano o presidente do Conselho
de Administração da AdM, Manuel
Chaves, disse que a empresa
precisava de restruturar uma dívida
de 500 milhões de dólares, garantida
pelo Governo.
Na ocasião, Chaves adiantou que
não se espera que a empresa obtenha
lucros nos próximos cinco
anos.
O relatório de contas da AdM indica
que a empresa sofreu prejuízos
no valor de três biliões de meticais
em 2015, o equivalente a cerca de
67 milhões de dólares. O prejuízo
pode ser atribuído ao incremento
da dívida da empresa, devido à deterioração
da taxa de câmbio.
O texto refere a uma análise às
contas feita pela auditora Ernest
& Young, que diz que a empresa
“depende fortemente” do seu único
accionista – o Estado moçambicano
– dos seus credores e de lucros
futuros.
A Zitamar assinala que o Estado
moçambicano actuou igualmente
como avalista da AdM num empréstimo
para obras no Aeroporto
Internacional de Maputo, incluindo
uma dívida de 23 milhões de
dólares do China Exim Bank em
2008.
A agência de apoio ao desenvolvimento
da França, AFD, emprestou
44 milhões de dólares ao Governo
moçambicano em 2014, mais tarde
repassados para a AdM, no âmbito
do projecto do Aeroporto Internacional
de Maputo.
O Deutsh Bank, através da sua
subsidiária espanhola, emprestou à
AdM 9.7 milhões de dólares para
o projecto de Maputo. O Banco de
Investimento Europeu comprometeu-se
a emprestar 26 milhões de
dólares, mas fonte da AdM disse à
Zitamar que o dinheiro ainda não
foi desembolsado.
A empresa tem afirmado que deve
à construtora brasileira Odebrecht
15 milhões de dólares e 45 milhões
de dólares pela reabilitação da pista
do Aeroporto Internacional de
Maputo, maioritariamente à francesa
Razel.
A Zitamar observa que as dívidas
avalizadas pelo Estado moçambicano
a favor da AdM podem não
estar inscritas nas contas públicas,
anotando que o relatório do Tribunal
Administrativo de 2014 refere
que não tem lá inscrita essa rubrica.
Contudo, o mesmo relatório do
Tribunal Administrativo já faz a
análise dos 350 milhões de dólares
que o Estado avalizou a favor da
Ematum, depois de ter assumido
como dívida soberana 500 milhões
de dólares que inicialmente vinham
sendo imputados à mesma companhia.
O Estado acabou assumindo os
500 milhões de dólares, depois de
o montante ter sido considerado
como correspondente a despesas
com material de defesa.
Governo avalizou USD300 milhões em empréstimos para AdM
Avultados empréstimos serviram também para a construção
do Aeroporto Internacional de Nacala.
Savana 07-10-2016
7
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8 Savana 07-10-2016 SOCIEDADE
Quando surgiu, em 2008,
num mercado bancário
dominado por capitais
internacionais, o Moza
afirmou-se como o primeiro banco
verdadeiramente moçambicano,
fora da esfera Frelimo. O sonho
era jogar na “Champions League”,
mas oito anos depois não conseguiu
a qualificação, apesar de se ter transformado
no quarto maior banco
nacional. O sonho transformou-se
num pesadelo e, agora, o banco central,
sem emoções de maior, propõe
a venda do Moza, como alternativa
para salvaguardar os interesses dos
depositantes.
Depois de na sexta-feira o Banco
de Moçambique (BM) ter emitido
um comunicado informando
que suspende todo o Conselho de
Administração do Moza porque a
situação financeira e prudencial do
banco tem vindo a degradar-se de
forma insustentável, o banco regulador
convocou uma conferência de
imprensa, esta segunda-feira, para
falar da saúde do banco detido em
51% pela Moçambique Capitais.
De acordo com o BM, existe uma
forma legal de salvar bancos que
atravessam situações difíceis, mas
para o caso do Moza tal não sucede
porque o banco não tem todos os requisitos
para assistência.
“Existe aqui uma facilidade para
casos de bancos que experimentem
alguma dificuldade do ponto de vista
de liquidez, que nós chamamos de
assistência. Mas, para tal, é preciso
que o banco observe a determinados
requisitos. Um dos requisitos é
que tenha, pelo menos, o rácio de
solvibilidade mínima, que é de 8%.
Esse banco não reunia este requisito.
Logo, não podia ter acesso a esta facilidade”,
explicou a administradora
do Pelouro de Emissão, Mercados e
Câmbios no BM
Segundo Joana Matsombe, a causa
principal da crise do banco maioritariamente
moçambicano tem que ver
com a incapacidade de os accionistas
recapitalizarem a instituição, apesar
de uma reunião de accionistas ter
Moza em maus lençóis
decidido que assim seria feito.
“O Moza Banco decidiu, em assembleia-geral,
aumentar o seu capital.
Só que acabou não cumprindo com
a sua própria decisão a 100% indo
apenas a 80%”, explicou Matsombe.
O que Matsombe não explicou é
que a parte moçambicana do Moza
está “amarrada” ao Novo Banco de
Lisboa, uma instituição também ela
intervencionada pela Banco de Portugal,
depois da “implosão” do Banco
Espírito Santo (BES), o maior banco
português. Ao que apurámos, o
Novo Banco não apoiou os aumentos
de capital de que o banco desesperadamente
necessitava, nem se
mostrou disponível para vender a sua
parte antes da “derrocada” do metical
no terceiro trimestre de 2015.
Na opinião do banco central, o que
agravou a situação do quarto maior
banco no país foi o audacioso programa
da sua expansão. Com o seu
crescimento substancial, a institui-
ção abriu novos balcões em todo o
país, para além de acrescidos novos
custos da máquina de administra-
ção bancária. A expansão do banco,
com 60 balcões e 800 colaboradores,
foi possível exactamente pelo apoio
prestado pelo BES e pelo seu presidente
Ricardo Salgado. A maior
parte dos bancos sedeados em Mo-
çambique fizeram notáveis capitalizações
nos últimos dois anos, o que
não aconteceu com o Moza pela situação
prevalecente em Portugal.
Segundo a administradora, o BM
exigiu que o banco criasse um plano
para que tudo voltasse à normalidade,
tendo sido tomadas medidas
como a restrição de novos empréstimos
e depósitos. Não tendo sido
suficientes, o BM interveio na sexta-
-feira nomeando um novo Conselho
de Administração presidido por
João Figueiredo, um accionista do
concorrente Banco Único, com o intuito
de estabilizar e vender o banco
todo de uma vez, num prazo de seis
meses. Segundo apurámos, o Conselho
de Administração do Moza foi
convocado ao Banco Central para
lhe ser comunicada “secamente” a
sua demissão como facto consumado.
Não foi permitido ao seu PCA,
Prakash Ratilal, por sinal antigo governador
do Banco de Moçambique
emitir qualquer opinião sobre a decisão
do BM. Na mesma tarde foram
chamados ao BM todos os CEO dos
bancos sedeados em Moçambique
para lhes ser também comunicada a
decisão sobre o Moza.
Esta é a primeira acção atribuída à
mão do novo governador do BM,
Rogério Zandamela, com três décadas
de trabalho no Fundo Monetá-
rio Internacional (FMI). Segundo o
SAVANA apurou, o Moza esperava
concretizar uma importante transac-
ção nos 60 dias que, aparentemente
teriam sido concedidos pelo BM,
para ultrapassar a falta de liquidez.
O potencial investidor assinalou por
escrito a intenção de “injectar” no
banco USD 30 milhões, sendo essa
intenção conhecida formalmente
pelo BM. Estava aliás em curso uma
“due diligence” promovida pelo potencial
investidor quando o banco
foi intervencionado esta sexta-feira.
Analistas na praça moçambicana
consideram que apesar da falta de
liquidez do Moza, situação que é
partilhada com outros bancos locais,
sendo o Moza o primeiro projecto
inclusivo de moçambicanos de vá-
rias origens e tendências político-
-filosóficas, o governo poderia “ter
feito muito mais” para “não deixar
cair o banco”.
Na conferência de imprensa de
segunda-feira, a administradora do
BM explicou que a tarefa do Conselho
de Administração provisório é
estabilizar o Moza Banco e prepará-
-lo para venda.
“Não temos a intenção de ficar lá. A
nossa tarefa, como o regulador, não
é gerir bancos”, precisou Matsombe.
O BM rejeita a possibilidade de cré-
ditos mal parados terem contribuído
para a crise no banco.
“Do ponto de vista do crédito mal
parado, para nós não é a primeira
causa tendo em conta que o rácio
deste indicador ficou a 8%, ligeiramente
acima daquilo que é considerado
o normal, que é de 5,3%”,
rebateu.
A administradora assegurou que não
se pode falar de algum crime que
tenha sido cometido pela administração
suspensa, por isso, o banco
continuará a funcionar dentro da
normalidade.
Fundado em 2008 e detido em
51% pela Moçambique Capitais e
em 49% pelo Novo Banco, o Moza
Banco desmentiu há algum tempo,
em comunicado, as mensagens que
circulavam que davam conta que o
banco estaria a ir à falência.
Quando, ano passado, o português
Banco Espírito Santo (BES) foi à
falência, dando lugar ao Novo Banco,
que herdou os activos na instituição
moçambicana, o Moza informou
que a situação do seu accionista
português não iria afectar o banco.
Com uma quota de mercado de
7,2% no crédito, 7,68% nos depósitos
e 8,88% nos activos, em 2015, o
Moza registou um resultado líquido
de 81,7 milhões de meticais, abaixo
dos 153 milhões de meticais conseguidos
no ano anterior.
O ano passado, a imprensa nacional
e internacional noticiou conversa-
ções entre o grupo anglo-ugandês
Atlas Mara e a Moçambique Capitais
para a transacção da parte portuguesa
do banco. O negócio não
se chegou a concretizar e os activos
do banco, com a desvalorização do
metical, passaram a valer metade do
preço da potencial transacção.
Ao que apurámos, não é conhecida
ainda a posição do Novo Banco face
à intervenção do BM. Os órgãos
sociais da Moçambique Capitais
vão reunir-se nos próximos dias,
enquanto decorrem consultas com
os advogados da sociedade para estudar
os passos a seguir. O BM não
deu qualquer indicação da linha de
actuação em relação a Moçambique
Capitais.
Zandamela de mão dura
- investidor potencial tinha sido apresentado ao BM
Sexta eleição ganha
sem nenhum voto
contra. António Guterres
venceu esta
quarta-feira a sexta votação
para o cargo de secretário-
-geral da ONU, com 15 votos
a favor (dois deles neutros).
Os 15 votos positivos do candidato
português correspondem
a 13 votos de encorajamento
- quatro dos quais de
membros permanentes - e dois
neutros, sendo um destes do
quinto membro permanente.
António Guterres foi eleito
secretário-geral da ONU,
depois de ter superado com
sucesso a sexta votação, nesta
quarta-feira.
O candidato português, ex-AlA
sexta foi de vez
Guterres escolhido para SG da ONU
Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, já começou a dar
cartas
to Comissário das Nações Unidas
para os Refugiados, foi a escolha
unânime dos membros do Conselho
de Segurança.
Nas anteriores cinco votações Guterres
foi sempre o preferido da Assembleia
Geral, mas a candidatura
de última hora da búlgara
Kristalina Georgieva chegou
a ensombrar a provável vitória
do antigo primeiro-ministro de
Portugal. Ojornal de referência dos moçambicanos sobe o seu preço de
capa na próxima edição.
Passamos para 50 meticais porque temos que fazer face
aos nossos custos que sobem assustadoramente todas as
semanas. O jornal custava 30 meticais quando o dólar estava exactamente
a 30 meticais e o rande valia 2,80 Mt. A moeda sul-africana
está agora nos 5,60 Meticais e é neste país onde pagamos papel e
impressões. A pronto pagamento e antecipadamente.
Nas últimas semanas, por decisão do nosso próprio governo e graças
à bendita SADC, não podemos transportar o nosso próprio jornal
em território sul-africano, o que nos obriga a dar mais uns milhares
de randes a um operador sul-africano que traz o jornal à fronteira.
Claramente, somos agora mais caros que uma cerveja, o habitual
produto de comparação com o jornal. Esperamos porém que os nossos
leitores e anunciantes continuem a ter o mesmo prazer em “saborear”
o nosso jornal nos seus espaços de humor, reportagem, entrevista
e opinião nesta jornada comum iniciada há mais de 22 anos.
Boas leituras!
SAVANA sobe preço
Savana 07-10-2016
9
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10 Savana 07-10-2016 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE SOCIEDADE
1 Anti-corrupção z Boa governação z Transparência z Anti-corrupção z Boa governação z Transparência
Boa Governação - Transparência - Integridade ** Edição No
37/2016 - Outubro - Distribuição Gratuita
O RELATÓRIO DE
EXECUÇÃO DO
ORÇAMENTO DO
ESTADO JANEIROJUNHO
2016 EXPÕE A
PERSISTENTE FALTA DE TRANSPARÊNCIA NAS POLÍTICAS FISCAIS
DO GOVERNO
Por: Celeste Filipe e Jorge Matine
ORelatório de Execução do Orçamento do Estado de Janeiro-Junho
2016 (REO II 2016), publicado na página web da DNO1
,
revela mais uma vez a apetência do Governo em não apresentar
as transacções financeiras por si realizadas de forma transparente. Isto
levanta sérias questões de grande preocupação em relação à confiança
que se deve depositar no Governo. A falta de transparência torna-se
crucial quanto à estratégia do Governo para controlar a crise de iliquidez
na economia e frenar o desastre das dívidas ocultas. O CIP nesta
Nota gostaria de enfatizar mais uma vez que o facto de o Governo ter
ocultado as dívidas EMATUM, Pro-Indicus e MAM (as únicas conhecidas
até agora) foi motivo suficiente para a suspensão de uma parte
importante do apoio financeiro ao Orçamento por parte dos parceiros
– apoio sem o qual o Governo já não tem oxigénio suficiente para gerar
as suas políticas fiscais.
Importa realçar que para o ano de 2016 o documento orientador da
despesa pública teve 3 grandes marcos, tendo cada um merecido uma
análise profunda do CIP2
:
x Submissão da Proposta do Orçamento de Estado (OE) 2016 em
Setembro de 2015: foi apresentada uma proposta de orçamento
em Setembro de 2016 baseada em pressupostos bastante optimistas
no que tange à arrecadação de receitas provenientes da exploração
de recursos naturais, previsão de crescimento do PIB e total
da despesa pública na ordem dos 261 mil milhões de Meticais
(MMT).
x Aprovação do OE pela AR em Dezembro de 2016: devido à existência
de discrepâncias entre os indicadores da Proposta do OE
com os da conjuntura económica internacional foi submetido um
segundo documento que reconhecia a deterioração do preço das
principais matérias-primas de exportação reduzindo o total da despesa
pública em 5,7%.
x Aprovação e Promulgação da Lei de Revisão do OE (OER) a 2 de
Agosto de 2016: reconhecendo o Governo que o Orçamento aprovado
não se enquadrava na contínua deterioração do Metical (em
parte devido à suspensão do Apoio Geral ao Orçamento no valor
de 10,9 MMT) e havendo necessidade de adoptar políticas mais
1 http://www.dno.gov.mz/docs/orc_estado/execucao/REO_JAN_JUN_2016.zip.
2 http://www.cipmoz.org/images/Documentos/Industria_Extrativa/408_um_olhar_despesa_0115.pdf
http://www.cipmoz.org/images/Documentos/Financas_Publicas/Falhas_no_Orcamento.pdf
http://www.cipmoz.org/images/Documentos/Financas_Publicas/AS_FALHAS_NAS_POLITICAS_MACROECONOMICAS_FINANCAS_PUBLICAS.pdf
Savana 07-10-2016 11 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE
2
ANTI-CORRUPÇÃO
z BOA GOVERNAÇÃO
z TRANSPARÊNCIA
restritivas no âmbito da despesa pública para conter a inflação, o
Governo submeteu à Assembleia da República em Julho do ano
corrente um OER que, para além de reduzir a despesa pública em
2,71 MMT, ajustou para baixo as estimativas de crescimento do
PIB e para cima a inflação.
x A análise do Relatório de Execução Orçamental (REO) de Janeiro
a Junho de 2016 dá seguimento ao acompanhamento da
execução orçamental que o CIP se propõe no seu quadro de
monitoria ao Orçamento do Estado.
Uma primeira observação do CIP é que o REO II 2016 surpreendentemente
não está actualizado às cifras do OER. Ainda mais, é apresentada
uma tabela (Tabela 1: Alterações Orçamentais) que só apresenta as
cifras orçamentadas e actualizadas com base no OE aprovado em Dezembro
de 2015, sem incluir as cifras revistas do OER. O mesmo comentário
é válido para um documento separado intitulado “Alterações
Orçamentais”. Este documento não só carece de texto, mas apresenta
informação num formato (pdf) que não permite a análise das cifras
para as necessidades dos pesquisadores, o que impossibilita fazer um
acompanhamento da real execução da despesa pública. O CIP acha
que, mesmo que o OER só tenha sido aprovado em Junho de 2016 e
A. FINANCIAMENTO
O défice durante Janeiro-Junho do OE 2016
foi de 22,9 MMT; o défice orçamentado foi de
69,6 MMT, ou seja, 29,5% (Tabela 2). Mesmo
que isto seja menos de 50% (ponto de referência,
sendo meado do ano), o que normalmente
indicaria uma boa disciplina fiscal do Governo,
o resultado neste caso não é positivo. O défice
baixo revela a queda drástica das despesas de
investimento, que alcançaram uma realização
de só 19,6%. O que o REO não explica em
nenhum momento é por que os investimentos
caíram tanto: os recursos externos (créditos e
donativos) no total alcançaram uma taxa de
realização de 47,3%, ou seja, consistente com o
facto de estar em meado do ano. Mas os investimentos
com recursos externos só alcançaram
uma realização de 13,3% – uma diferença de
34 pontos percentuais! Isto implica contundentemente
que o Governo recebeu dinheiro para
fins não produtivos – e estamos de novo numa
situação em que os Moçambicanos não sabem
para que fins foram contratados os novos empréstimos!
O CIP insta o Governo a explicar
ao povo de Moçambique como foi possível –
num contexto onde há uma taxa de realização
dos recursos externos de perto de 50% – que
os investimentos com os recursos externos não
espelhem uma taxa de realização similar.
1] $SUHVHQWDGRVySDUD¿QVGHLQIRUPDomR MiTXHRWH[WRGR
5(2,, QmRDQDOLVDHVWDVFLIUDV.
2] Orçamento Aprovado pela AR em Dezembro de 2015.
3] Realização = cifras proporcionadas pelo Relatório de Execu-
ção do Orçamento (REO) Janeiro-Junho 2016.
Os recursos do exterior que não foram aplicados
para investimentos permitiram que
o crédito interno no primeiro semestre de
2016 fosse, à primeira vista, negativo em
6,4 MMT (uma FRQWUDFomR de crédito), resultado
de um aumento de crédito bruto de
Tabela 1. - Resumo das Alterações Orçamentais (Em Milhoes de Meticais)
a publicação do REO II só em Agosto, os funcionários do Ministério
GD(FRQRPLDH)LQDQoDV 0() GHYLDPWHUWLGRWHPSRVX¿FLHQWHSDUD
actualizar o REO II e incorporar as cifras do OER.
RECEITAS DO ESTADO
Receitas Fiscais
Impostos sobre Rendimentos
Receitas sobre Bens e Serviços
Outros Impostos Fiscais
Receitas Não Fiscais (incl. próprias)
Receitas Consignadas
Receitas de Capital
DESPESAS TOTAIS
Despesas de Funcionamento
Despesas com o Pessoal
Bens e Serviços
Encargos da Dívida
Juros Internos
Juros Externos
Transferências Correntes
Subsídios
Demais Despesas Correntes
Despesas de Capital
Despesas de Investimento
Com Recursos Internos
Com Recursos Externos
Operações Financeiras
DÉFICE; antes de donativos
FINANCIAMENTO
Financiamento Interno
Créditos
Variação de saldos
Financiamento Externo
Créditos
Donativos
ITEM DE MEMORANDO:
Crédito do sistema bancário ao Governo
Crédito do sector bancário reportado pelo Governo
Discrepância
176,3
151,4
62,3
82,0
7,1
10,2
11,5
3,2
246,1
136,2
71,3
29,0
12,5
7,2
5,3
19,3
2,1
1,5
0,5
83,9
41,3
42,5
26,0
-69,8
69,6
7,6
7,6
0,0
62,0
37,2
24,8
…
…
…
65,6
144,5
64,6
74,5
5,4
9,9
8,0
3,2
243,1
143,2
70,0
24,8
15,1
7,2
5,3
21,3
0,9
10,6
0,5
76,0
28,9
47,1
23,9
-77,5
77,8
21,8
21,8
0,0
56,0
…
…
…
72,3
59,4
28,9
28,0
2,5
6,8
5,1
1,0
93,7
72,8
38,6
11,8
7,3
3,3
4,0
14,1
0,9
0,1
0,1
16,5
10,8
5,6
5,9
-22,9
22,9
-6,4
2,3
-8,7
29,3
23,7
5,6
19,9
-6,4
26,3
41,0
39,2
43,7
34,9
49,0
65,9
44,2
32,6
38,1
53,5
54,9
40,5
58,2
45,2
75,8
72,1
41,5
12,2
13,9
19,6
25,9
13,3
22,6
29,5
29,5
…
…
…
47,2
63,7
22,4
Aprovado 5HFWLÀFDGR @
Realizado
Jan-Jun, % Real, Real.
Fonte: Elaborado pelo CIP a partir dos documentos enumerados abaixo:
2,3 MMT e um aumento de saldos (contabilisticamente
com sinal negativo) em outras
contas do Governo de 8,7 MMT. Só que
existe uma discordância enorme entre o que
o Governo apresenta como transacções referentes
ao crédito interno (do sistema bancá-
rio) e o que dizem as estatísticas publicadas
pelo Banco de Moçambique. Estas últimas
indicam um DXPHQWR de crédito líquido ao
Governo de 19,9 MMT, uma diferença de
26,3 MMT com as cifras apresentadas pelo
Governo!
12 Savana 07-10-2016 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE
3
ANTI-CORRUPÇÃO
z BOA GOVERNAÇÃO
z TRANSPARÊNCIA
Ora, o BM apresenta as suas cifras de um ponto de vista contabilístico,
o que implica que é pouco provável que as suas informações
estejam erradas. Prova disto é que o FMI, ao construir
as suas tabelas para a análise das actividades financeiras do Governo,
utiliza as contas do BM – e não as cifras apresentadas no
REO pelo Governo. Chegados a este ponto, o CIP insta mais
uma vez o Governo a adoptar o Plano de Contas (Chart of Accounts),
discutido anteriormente com o FMI, para poder analisar
melhor as transacções reais que está a reportar. Além disso,
o Governo deve também explicar o porquê da enorme discrepância
entre as cifras reportadas pelo Governo e pelo BM.
Outrossim, surge a mesma pergunta que o CIP fez referente ao
REO 20153
: por que o Governo não aumentou o montante utilizado
de crédito interno a níveis programados, ou seja, 3,8 MMT
– 50% da cifra orçamentada de 7,6 MMT – em vez de contrair
o crédito de 6,4 MMT. O Governo, mais uma vez, apresenta a
rubrica de “variação de saldos” no financiamento interno sem
indicar de que se trata: o REO II 2016 guarda silêncio no total
das suas 539 páginas sobre qual foi a conta em questão. Tirando
o aparte de não saber de que transacção se trata, o mero facto de
uma variação de saldos existir levanta perguntas fundamentais
de políticas fiscais: por que o Governo não aplica o dinheiro
disponível para os investimentos, em vez de acumular saldos?
O CIP insta o Governo a velar pela aplicação das suas polítiFDV¿VFDLVSDUDLQFHQWLYDUDHFRQRPLDFRPDFWLYLGDGHVSURGXWLYDVQHVWHVWHPSRVGHLQFHUWH]DHGL¿FXOGDGHGHLOLTXLGH]
B. RECURSOS
O total das receitas alcançou 72,3 MMT, ou seja, 41,0% do total
orçamentado. Em termos de arrecadação de receitas aos cofres
do Estado, nas rubricas que ultrapassaram 50% em termos de
realização destacam-se: os Outros Impostos Nacionais4
com
138,4%; o Imposto Específico sobre Actividade Petrolífera com
68,1%; as Contribuições Sociais5
com 67,7%; os Bens de Domínio
Público6
com 63,6% e o IVA nas operações internas com
59,0%7
. Apesar de ter ultrapassado a meta de arrecadação em
mais de 100% ainda a meio do ano, a rubrica “Outros Impostos
Nacionais,” no valor de 2,6 MMT, por albergar muitos tipos de
impostos dificulta ao leitor o conhecimento da real fonte das
receitas.
Embora em termos relativos (percentuais) a cobrança de receitas
aos cofres do Estado se tenha situado abaixo das cifras de
igual período de 2015 (Tabela 4), verifica-se um aumento total
nominal de quase 2,0 MMT, justificado pelos aumentos nominais
das receitas de impostos sobre rendimentos. Quedas nominais
e percentuais foram verificadas na cobrança do Imposto
sobre o Valor Acrescentado9
em cerca de -3,3 MMT e realiza-
ção de 37,0%; receitas das taxas sobre combustíveis em cerca
de -1,0 MMT e realização de 20,1%.
C. DESPESAS
Nota-se na Tabela 2 em cima que a taxa de realização das despesas
totais se situa em 38,1%. Isto é composto por uma taxa de
realização de 53,5% para as Despesas de Funcionamento e de
19,6% das Despesas de Investimento.
&,3 -RUJH0DWLQHH&HOHVWH)LOLSH 25HODWyULRGH([HFXomRGR2UoDPHQWRGR(VWDGR /HYDQWD6pULDV4XHVW}HVVREUHD,PSOHPHQWDomRGDV3ROtWLFDV)LVFDLVGR*RYHUQR SDUWHV,D,9 KWWS FLSPR] RUJ LQGH[ SKS SW ÀQDQcas-publicas/130-a-disponibilidade-de-informacao-para-os-orcamentos-anuais-tem-sido-consistentemente-fraca
8PDFODVVLÀFDomRQRYDLQWURGX]LGDSHOR*RYHUQRTXHFRPSUHHQGHRV,PSRVWRVGH6HOR 6REUH9HtFXORV 6REUH6XFHVV}HVH'RDo}HVGH5HFRQVWUXomR1DFLRQDO 6,6$ ,PSRVWR6LPSOLÀFDGRSDUD3HTXHQRV&RQWULEXLQWHVHGHPDLV
Impostos Nacionais.
&RQWULEXLo}HV6RFLDLVVmRUHFHLWDVSURYHQLHQWHVGDVFRQWULEXLo}HVGRVWUDEDOKDGRUHVRXGRVHPSUHJDGRUHVWDQWRGHHQWLGDGHVS~EOLFDVTXDQWRSULYDGDVHTXHVHMDPGHVWLQDGDVDFXVWHDUDDSRVHQWDomRGHVHJXUDQoDVRFLDO
2VEHQVGHGRPtQLRS~EOLFRVmRRFRQMXQWRGHEHQVGHSURSULHGDGHGR(VWDGR LPSHQKRUiYHLVHLPSUHVFULWtYHLV ([ GHDFRUGRFRPD&RQVWLWXLomRGD5HS~EOLFDFRQVWLWXHPGRPtQLRS~EOLFRGR(VWDGRD]RQDPDUtWLPD RHVSDoR
DpUHR RSDWULPyQLRDUTXHROyJLFR DV]RQDVGHSURWHFomRGDQDWXUH]D RSRWHQFLDOKLGUiXOLFR RSRWHQFLDOHQHUJpWLFR DVHVWUDGDVHOLQKDVIpUUHDV DVMD]LGDVPLQHUDLVHRVGHPDLVEHQVFRPRWDOFODVVLÀFDGRVSRUOHL
$VUXEULFDVGHVWDWDEHODUHSUHVHQWDPPXGDQoDVQDDSUHVHQWDomRGHUHFHLWDV /DPHQWDYHOPHQWH D'12QmRLQFOXLGDGRVKLVWyULFRV DOJRTXHpQRUPDQHVWHVFDVRV 1HVWD1RWDR&,3XWLOL]DDFODVVLÀFDomRDQWLJD 7DEHOD SDUDSRGHU
comparar 2016 com 2015.
8PDFODVVLÀFDomRQRYDLQWURGX]LGDSHOR*RYHUQRSDUD
2GRFXPHQWRDSUHVHQWDXPHUURGHFiOFXORHPUHODomRDRVRPDWyULRGR,9$ 2VRPDWyULRGR,9$ RSHUDo}HVLQWHUQDVHLPSRUWDo}HV GHYHULDVHU 007
Tabela 3. Receitas Fiscais (Classificação Nova)8
Ano de 2016
&ODVVL¿FDomR(FRQyPLFD 2UoDPHQWR
Anual
&REUDQoD
Jan-Jun.
% Peso % Realiz
5HFHLWDV&RUUHQWHV 173,221.80 71,277.50 98.60 41.10
7ULEXWiULDV 165,644.10 67,072.50 92.70 40.50
,PSRVWRV1DFLRQDLV 165,644.10 67,072.50 92.70 40.50
,PSRVWRV R5HQGLPHQWR 65,827.20 28,760.30 39.80 43.70
Imposto s/ o Rendimento de Pessoas
Colectivas 41,519.80 16,394.60 22.70 39.50
Imposto s/ o Rendimento de Pessoas
Singulares 24,112.40 12,241.10 16.90 50.80
Imposto Especial sobre o Jogo 195.10 124.60 0.20 63.90
,PSRVWRV %HQVH6HUYLoRV 80,215.20 28,014.20 38.70 34.90
Imposto s/ o Valor Acrescentado 53,266.80 19,716.10 17.90 37.00
IVA – Nas operações internas 21,928.00 12,943.60 17.90 59.00
IVA–Nas importações 31,338.80 13,143.80 2.50 41.90
Imposto s/ Comercio Externo 13,919.70 4,996.90 6.90 35.90
Imposto s/ Consumo Esp. Produção
Nacional 5,146.20 1,783.00 2.50 34.60
Imposto s/ Consumo Esp. Produtos Importados
7,882.40 1,518.10 2.10 19.30
Taxas 16,478.30 7,148.50 9.90 43.40
Das quais:
Taxas sobre os Combustíveis 8,396.20 3,525.40 4.90 42.00
Taxas Nacionais 8,082.00 3,623.10 5.00 44.80
2XWURV,PSRVWRV1DFLRQDLV 3,123.40 3,149.50 4.40 100.80
Imposto Específico s/ Actividade Mineira 879.70 277.90 0.40 31.60
Imposto Específico s/ Actividade Petrolífera
331.20 225.60 0.30 68.10
Outros Impostos Nacionais 1,912.50 2,646.00 3.70 138.40
2XWUDV5HFHLWDV&RUUHQWHV 7,577.60 4,205.00 5.80 55.50
Contribuições Sociais 3,118.40 2,111.00 2.90 67.70
Patrimoniais 380.70 110.80 0.20 29.10
Exploração de Bens de Domínio Público 548.30 348.60 0.50 63.60
Venda de Bens e Serviços 3,347.60 1,549.50 2.10 46.30
Outras 182.60 85.00 0.10 46.60
5HFHLWDVGH&DSLWDO 3,187.40 1,039.80 1.40 32.60
Alienação do Património do Estado 3,187.40 29.20 - 0.90
Outras Receitas de Capital 1,010.50 1.40
5HFHLWDV&RUUHQWHVHGH&DSLWDO 176,409.20 72,317.20 100.00 41.00
Tabela 4: Receitas Fiscais (Apresentação Antiga)
Savana 07-10-2016 13 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE
4
ANTI-CORRUPÇÃO
z BOA GOVERNAÇÃO
z TRANSPARÊNCIA
Informação Editorial
Director: Adriano Nuvunga
Equipa Técnica do CIP: $QDVWiFLR %LELDQH
Baltazar Fael, Borges Nhamire, Celeste Filipe,
(GVRQ &RUWH] (JtGLR 5HJR )iWLPD 0LPELUH
Jorge Matine, Stélio Bila.
Assistente de Programas: Nélia Nhacume
Propriedade: Centro de Integridade Pública
Layout e Montagem: suaimagem
Contacto:
&HQWHUIRU3XEOLF,QWHJULW\ &HQWURGH
,QWHJULGDGH3~EOLFD &,3
Bairro da Coop, Rua B, Número 79
0DSXWR 0RoDPELTXH
Tel.: +258 21 41 66 25
Cell: +258 82 301 6391
Fax: +258 21 41 66 16
E-mail: cip@cipmoz.org
Website: www.cipmoz.org
Quanto às Despesas de Funcionamento, os dois factores mais importantes
que levaram a taxa de realização para além dos 50% foram as Despesas
com o Pessoal (taxa de realização de 54,9%, agregando 2 MMT
a mais do esperado) e as Transferências Correntes (taxa de realização
de 72,1%, agregando 3 MMT a mais do esperado). Referente a estas
últimas, o componente de Pensões aparece com uma taxa de realização
de 95,5%, pelo qual o REO dá duas explicações: (i) que o montante do
OE Actualizado foi reduzido em 2 MMT, comparado com o OE Inicial;
(ii) que “o pagamento de pensões Civis do II Semestre do Ano em curso
será efectuado por contrapartida dos descontos para a Contribuição
dos Funcionários e Agentes de Estado e de algumas Empresas Públicas.”
Quanto ao primeiro argumento, o CIP pergunta por que se fez
esta redução (que implicaria uma taxa de realização de 76%), se estas
despesas são conhecidas com antecipação e, portanto, não devem ser
sujeitas a ajustes pontuais. Quanto ao segundo argumento, o CIP não
entende os componentes mencionados: parecem indicar que se pagou
as pensões do segundo semestre já no primeiro semestre e que seriam
reembolsados com a contrapartida dos descontos para as contribuições.
O que o CIP não entende é por que se pagaria antecipadamente as
pensões, pois isto é contrário ao regulamento.
Nas Despesas de Funcionamento também se ressalta o que já é um aspecto
comum nas contas fiscais: o pagamento de juros muito acima das
cifras programadas. Assim, os juros externos chegaram a uma taxa de
realização de 75,8% (4,0 MMT), à raiz das dívidas ocultas que apareceram
em Abril 2016. O CIP repete as suas chamadas de atenção ao
Governo para enveredar por práticas que promovam uma apresentação
completa e transparente da informação sobre as transacções financeiras
ao povo de Moçambique, especialmente sobre as novas operações sem
explicação apresentadas pelo Governo (ver secção de Financiamento) e
RVÀX[RVJLJDQWHVFRVLQH[SOLFiYHLVQD&*( PHQFLRQDGRVSHOR&,3.
O CIP está apreensivo com o facto de os saldos das contas internas
terem aumentado em 8,7 MMT num contexto de falta aguda de recursos
para o investimento. O CIP mais uma vez especula que a redução
das despesas de investimentos a favor do aumento de saldos em conWDVGHVFRQKHFLGDVSRGHVLJQL¿FDUTXHHVWá
ocorrendo uma substituição
das despesas de investimento com os fundos para fazer face ao serviço
da dívida que, como discutido amplamente por vários órgãos de informação
e pela Sociedade Civil em Moçambique, inclusive o CIP,10
prossegue agravando-se.
D. CONCLUSÃO
Esta Nota revela que ainda persistem falhas importantes na qualidade
de apresentação da execução do OE, neste caso com a execução do OE
2016 no primeiro semestre (Janeiro-Junho). Como dito em outras aná-
lises, o Governo falha de forma sistemática na apresentação de detalhes
importantíssimos para a análise completa das cifras, principalmente
nas rubricas sensíveis da dívida e investimentos.
A implementação do OE 2016 teve lugar no contexto da aparição de dí-
vidas ilegais anteriormente ocultas. O pagamento dos encargos destas
dívidas desviou – e prossegue desviando – recursos fiscais importantes
do Governo, causando uma crise de iliquidez.
Uma conclusão de grande realce é que, mais uma vez, como em 2015,
o Governo foi incapaz de reagir à queda dos recursos externos – uma
queda em que o Governo é parte interessada pois foi provocada pelo
desastre das dívidas ocultas – e manter as despesas de investimento
razoavelmente altas. Neste contexto, o CIP questiona por que o Governo
emprestou mais recursos externos do que gastou em despesas
de investimento, com a conclusão inescapável de que estes recursos
IRUDPXWLOL]DGRVSDUD¿QVQmRSURGXWLYRV DIDYRUGRDXPHQWRGHVDOdos
em contas desconhecidas. Como o apoio ao orçamento foi quase
LQH[LVWHQWHQRSULPHLURVHPHVWUH RGHVD¿RFRORFDGRDR*RYHUQRpSURvidenciar
mais informação sobre a proveniência destes empréstimos
externos e detalhar o seu uso.
O CIP renova o seu apelo ao Governo da necessidade de mostrar responsabilidade
e adoptar um espírito de transparência para o restabeOHFLPHQWRGDFRQ¿DQoDGRSRYRGH0RoDPELTXHQR*RYHUQRHPWHUmos
de gestão do orçamento e da dívida pública, em vez de optar por
PDQREUDVGHHQJHQKDULD¿QDQFHLUDSRXFRWUDQVSDUHQWHV
Em relação à qualidade do REO II 2016, notam-se as mesmas discrepâncias
já levantadas pelo CIP em relação ao REO 2015: os mapas
apresentados nos anexos são de tal desagregação que impossibilitam
uma análise geral, porque não são disponibilizados em formatos de
fácil leitura e interpretação que permitam aos pesquisadores simular
outras variáveis com os números. Em específico, é quase impossível
analisar a relação entre a queda dos investimentos e os recursos externos
em relação a doadores específicos. Se bem que os mapas mostram
a informação básica em dezenas de páginas, falta agregar tal informa-
ção por doador. O mesmo comentário de desagregação é válido para
os mapas referentes ao Orçamento Alterado (actualizado) – mapas que
carecem de qualquer texto explicativo.
Tabela 5. Despesa de Funcionamento Segundo a Classificação Económica
Fonte: Tabela 15 do REO Jan-Junho 2016
²8PBROKDUBVREUHBDBGHVSHVDBSXEOLFD ² ´0R]DPELTXH·V SXEOLF GHEW GLVDVWHU :LOO
WKH*RYHUQPHQWFRQWLQXHWRDYRLGÀVFDOWUDQVSDUHQF\"µH BXPBROKDUBGHVSHVDB ²'HVDVWUH
GD'tYLGD3~EOLFDHP0RoDPELTXH 9DLR*RYHUQRFRQWLQXDUDSDXWDUSRUIDOWDGHWUDQVSDUrQFLD"
Parceiros
14 Savana 07-10-2016 Savana 07 -10-2016 15
NO CENTRO DO FURACÃO
Em 2010, o diplomata
franco-alemão,
Stéphane Hessel,
publicou uma célebre
obra que se tornou num manifesto
para despertar o povo
contra a indiferença, apatia e
resignação. Intitulado “Indignai-vos”,
o livro diz que a indignação
cimenta a esperança
que conduz ao engajamento
e à resistência contra as desigualdades
sociais, o desemprego,
a pobreza e todas as outras
formas de discriminação e de
injustiça, acrescentando que
essa é uma responsabilidade de
de académicos e activistas sociais, em
audição popular pela paz.
“Quando é que vai terminar esta
guerra?” questiona sob forma de can-
ção um grupo de camponeses que,
igualmente, reclama expropriação de
terras para construção de mansões,
antes de poesias aterradoras apresentadas
pela juventude.
“O povo morre de fome nas mãos
desse bicho que finge que nos protege
quando, na verdade, nos morde”,
declama Obede Obadias.
Na abertura do evento, o presidente
do Parlamento Juvenil (PJ) avançou
que, mais do que as Organizações
da Sociedade Civil, o momento que
organizações sindicais, essas também
estão capturadas pelo poder político.
Preocupada com a apatia da chamada
seiva da nação, Mabota explicou
que o medo de qualquer poder é o
povo. “Quando o povo sair à rua,
não há militares capazes de o travar”,
afirma, repetindo que, na África do
Sul, crianças de 16 anos deram de fazer
o regime do apartheid, no século
passado.
“Vamos passar de lamentações para
acções concretas. Eles só nos vão
vencer se vacilarmos”, instou a presidente
da LDH que, a dado passo,
equacionou a realização de uma marcha
com mulheres nuas como forma
-presidente do Conselho de Administração
(PCA) do Fundo do
Desenvolvimento Agrário (FDA),
Setina Titosse, acusada de corrupção,
Moyana afirmou: “se fôssemos cidadãos,
diríamos que não aceitamos esses
dirigentes porque não têm valores
morais e éticos. Aceitamos que nos
liderem porque não somos cidadãos,
somos simples habitantes. Ainda não
temos cidadania. Cidadão é aquele
que se indigna, questiona e exige. Se
conseguirmos atingir esse nível, tudo
vai estar bem”.
Num encontro em que os participantes
expressaram indignação com
a governação do dia, o economista
faz guerra pelo poder para servir-
-se a si próprio. Disse que não é
por acaso que os ricos deste país
são todos políticos, pois o Estado
foi transformado no centro onde
todos querem roubar.
“Não consigo descobrir alguém
que foi ministro e saiu mais pobre.
Os 10 mais ricos deste país
foram todos dirigentes e agora
são os seus filhos e filhas”, atirou.
Por isso, prosseguiu, não serão
essas pessoas que roubam há 50
anos que vão mudar o rumo do
país, pelo contrário, vão querer
é enriquecer cada vez mais, enquanto
o povo fica cada vez mais
pobre.
“Para ficarem mais ricos, não só
vão roubar como também vão assassinar
e raptar, sem rostos dos
assassinos ou mandantes” disse,
acrescentando que os regimes
que vivem dessa maneira aperfei-
çoam a propaganda e a repressão
policial.
“É preciso despertar o povo para
que perceba que não só os partidos
políticos vão resolver os problemas”,
insistiu. Até porque para
ele, há que surgir novos partidos.
“O povo deve lutar para que esses
partidos (Frelimo e Renamo)
desapareçam do mapa político
nacional”, assinalou.
“Em toda a história, o povo é que
mudou os regimes e Moçambique
tem várias Leis que permitem
participação política”, referiu
Mosca, para quem enquanto os
jovens não forem capazes de se
organizar vai ser difícil mudar
um regime que é defendido com
balas.
“São os jovens que devem encontrar
mudança. Não vamos
lutar pelo gás e petróleo que vão
passar, mas sim pela democracia”,
destacou.
Para Fátima Mimbirre, do Centro
de Integridade Pública (CIP),
está na hora para todos trabalharem
no sentido de tornar o país
normal. O problema, para Mimbirre,
é que ninguém quer dar a
cara na luta que se impõe no país,
deixando essa tarefa para “os outros”,
mas afirma que não há “outros”
porque a luta é de todos.
“O custa torna este país normal?”
questionou, acrescentando que
“sejamos obreiros de paz e da
mudança que queremos”.
A audição popular desta semana
foi também o momento para o
reaparecimento do polémico presidente
do Fórum dos Desmobilizados
de Guerra de Moçambique,
Hermínio dos Santos que
também instou os jovens para a
revolução.
“A revolução é feita por jovens.
Os jovens é que devem dizer não
à guerra, que não querem ser
mortos. Em qualquer país a revolução
é feita por jovens”, afirmou.
“Indignai-vos”
Por Armando Nhantumbo
Mocuba e Lugela, mais concretamente
nos Postos Administrativos de Namajavira
e Munhamade e constatou,
dos Comités de Gestão locais, que o
Governo não canaliza os 20% das receitas
de exploração florestal há mais
de três anos.
O SAVANA sabe ainda que esta situação
se repete por quase todos os distritos
da província onde há actividades
madeireiras.
Falando ao nosso jornal, Viegas Padre,
líder comunitário da localidade de
Namajavira-sede, distrito de Mocuba,
disse que a não canalização dos 20%
destinados às comunidades por força
da lei está a criar desmotivação no
seio dos Comités de Gestão locais, na
medida em que ficam sem fôlego para
incentivar os residentes a continuarem
a proteger os recursos em seu redor.
Sublinha que a situação toma contornos
muito mais agravantes quando as
próprias autoridades governamentais
ficam sem argumentos para explicar
as razões que impedem a canalização
dos referidos recursos.
Sublinhou que o Comité de Gestão de
Namajavira recebeu as contribuições
da exploração florestal pela última vez
em 2013.
No total foram 215 mil meticais que
estavam a ser investidos na construção
de três salas de aulas, mas que acabaram
não sendo concluídas por falta de
verbas.
“A cerca de 14 quilómetros da localidade-sede
temos obras de uma escola
que não estamos a conseguir concluir
devido à falta de dinheiro. A nossa
esperança era que a mesma entrasse
em funcionamento no ano lectivo de
2014, mas isso não aconteceu e milhares
de crianças continuam a estudar
debaixo das árvores e sujeitas a várias
adversidades climatéricas”, desabafou.
O líder comunitário de Namajavira
contou-nos que, ao nível do seu Posto
Administrativo, há três operadores
florestais que todos os dias tiram madeira.
Cristina Augusto, membro do Comité
de Gestão de Namajavira-sede, contou
ao nosso jornal que, para além da
não canalização dos 20%, outro factor
que preocupa o seu Comité de Gestão
é o défice de conhecimento dos seus
membros sobre a legislação florestal o
que muitas vezes ensombra suas actividades.
Referiu que esse factor também contribuiu
na fraca mobilização das comunidades
locais para protegerem os
recursos florestais.
Questionado sobre o envolvimento
dos membros da comunidade no abate
ilegal da madeira ou na facilitação
de incursões de operadores furtivos,
Cristina Augusto disse que foi um cenário
que prevaleceu no passado, mas
que com o tempo foi superado com a
identificação dos autores.
“No passado tínhamos membros da
nossa comunidade que, em vez de nos
ajudar na fiscalização das florestas,
participavam activamente no abate
ilegal de madeira para venda a operadores
ilegais”, disse.
Telio Afonso, que também é membro
do Comité de Gestão de Namajavira,
referiu que a não canalização dos 20%
torna as comunidades locais vulnerá-
veis aos aliciamentos.
Sublinha que nas florestas locais é comum
a movimentação de operadores
furtivos, sobretudo chineses à procura
de chances para tirar ilicitamente a
madeira.
Para conseguirem seus objectivos, os
furtivos contactam nativos, incluindo
alguns líderes comunitários e juntos
traçam um esquema de retirada ilícita
da madeira.
“As pessoas fazem contas e chegam à
conclusão de que, protegendo ou não
as florestas, a madeira está sempre a
sair e a comunidade nada ganha. Assim,
é preferível juntar-se aos furtivos
e conseguir algum dinheiro para o
sustento familiar”, lamentou.
A falta de canalização dos 20% da
taxa de licenciamento dos operadores
florestais às comunidades inquieta
também as comunidades residentes no
interior do distrito de Lugela.
Felizardo Júlio, membro do Comité
de Gestão de Munhamade-sede, disse
ao SAVANA que a sua comunidade
não está a ser compensada pelo corte
de madeira.
Sublinhou que o triste cenário verifica-se
desde 2012, altura em que, pela
última vez, a sua comunidade recebeu
um cheque de 175 mil meticais.
Diz que o Comité de Gestão de Munhamade
estava apostado na edificação
de um centro de saúde para
minorar o sofrimento do povo que é
obrigado a percorrer 20 quilómetros
para alcançar uma unidade sanitária.
A corrupção e as interferências políticas
são outros factores apontados
pelas comunidades de Munhamade
como estando por detrás do tráfico da
madeira.
Jusselina Coloana, do Comité de Gestão
de Munhamade, referiu que são
tantas as vezes que a comunidade local
interceptou madeiros ilegais. Contudo,
a ofensiva não avança porque,
horas depois da retenção da madeira,
vêm ordens do distrito ou da província
a ordenarem a libertação do produto.
“Temos vários casos em que prendemos
madeira e apresentámos ao chefe
do Posto para as devidas diligências.
No entanto, horas depois vemos a
madeira apreendida a sair e, quando
perguntámos, dizem-nos que são ordens
superiores. Isso desmotiva-nos”,
lamentou.
Coloana mostrou-se também preocupada
com o facto de as autoridades
distritais ou provinciais não retornarem
a informação sobre o destino que
é dado à madeira apreendida.
Diz que, quando a sua comunidade
intercepta operadores furtivos e prende
a madeira, entrega às autoridades
locais que, por sua vez, levam ao distrito.
Pelo que seria incentivante que
o governo do distrito explicasse à comunidade
responsável pela apreensão
sobre o destino dado ao produto, caso
contrário abre espaço para especula-
ções.
Falhas do sistema de
coordenação
A falta de canalização dos 20% às
comunidades residentes nas zonas de
exploração florestal é reconhecida pelo
Governo, mas diz que o facto resulta
de falhas do sistema.
Félix Teona, administrador de Mocuba,
disse que a colecta e a posterior
canalização dos 20% observa um processo
complexo e que todas as partes
devem participar activamente.
Teona referiu que a falta de honestidade
do grosso dos operadores que,
muitas vezes, não honram o seu compromisso,
segundo está definido na
legislação vigente no país, também
contribui grandemente para que o valor
não chegue aos cofres do Estado
para a posterior canalização às comunidades.
O administrador de Mocuba diz que
as comunidades devem participar
activamente na gestão das florestas
controlando todo o processo de exploração
da madeira porque só assim
se poderá evitar que os exploradores
contornem as autoridades e fujam das
suas responsabilidades.
Félix Teona disse que irá trabalhar
com as comunidades no sentido de
melhor perceber o cenário e juntos
encontrar formas de superar esta situação.
Sublinhe-se que o artigo quatro do
Diploma Ministerial nº 93/2005, de
4 de Maio, refere, no seu texto, que
“a entidade licenciadora procederá à
requisição das receitas consignadas a
favor das comunidades locais, as quais
serão depositadas numa conta bancá-
ria aberta para o efeito, com a designa-
ção de Fundo Comunitário, acompanhadas
das especificações referentes às
comunidades beneficiárias, o qual será
movimentado pela entidade licenciadora”.
Contudo, o que na realidade se verifica
é que os operadores florestais pagam
as suas taxas junto às direcções provinciais
da Terra, Ambiente e Desenvolvimento
Rural que, por sua vez,
canalizam à direcção de Economia e
Finanças. Esta depois manda o valor
para as secretarias distritais que por
fim canalizam o valor às contas dos
Comités de Gestão comunitários.
Porém, a natureza do processo faz com
que o governo provincial privilegie as
suas prioridades relegando para o segundo
plano o pagamento dos 20%
das comunidades.
Instituto Panos procura contornar
a situação
A pobreza extrema em que se encontram
as comunidades residentes nas
zonas de exploração florestal está a
preocupar a sociedade civil que não
encontra razões para tal.
Fragilidades como corrupção, analfabetismo,
burocratismo e ineficiência
dos serviços administrativos são apontados
como parte dos problemas que
concorrem para este negro cenário.
Assim, com vista a minorar a situação,
o Instituto Panos está a desenvolver
um conjunto de actividades visando
assegurar que as comunidades locais
participem de forma activa na exploração
sustentável e protecção dos recursos
florestais e retiram benefícios
significativos da sua participação na
gestão sustentável dos recursos.
O Instituto Panos tenciona criar plataformas
que permitam o envolvimento
das comunidades no controlo
na denúncia dos desmandos praticados
pelos operadores florestais ou por
agentes de Estado.
A iniciativa está a ser implementada
na província da Zambézia.
Aexploração desenfreada de
recursos florestais na província
da Zambézia é uma
realidade inquestionável e
reconhecida pelas autoridades governamentais,
principais responsáveis
pela conservação e preservação dos
mesmos.
Como consequência da devastação
florestal verifica-se a extinção de algumas
espécies de madeira de luxo
como é o caso de pau ferro.
Dados recolhidos junto à Direcção
Provincial de Terra, Ambiente e Desenvolvimento
Rural da Zambézia indicam
que a província possui uma área
de 10 milhões de hectares, das quais
cinco milhões estão cobertos de florestas,
quatro de áreas potenciais para
a produção de madeiras, com duas
áreas de conservação, nos distritos de
Derre, Gilé e Pebane num universo de
150 mil hectares.
Oficialmente, as autoridades governamentais
admitem apenas o corte anual
de 120 mil metros cúbicos, com maior
destaque para as espécies de umbila,
pau-ferro, musara, mutube, mugara e
jambire.
A exploração de madeira permitiu que
a província da Zambézia encaixasse,
no ano transacto, cerca de 90 milhões
de meticais. O valor em alusão resulta
de multas de operadores envolvidos
em esquemas de tráfico de madeira e
outras infracções bem como de licenciamentos
e das taxas de exploração
florestal.
Porém, a realidade mostra que a exploração
dos recursos florestais em
nada beneficia as comunidades locais
e, como consequência, dados do Instituto
Nacional de Estatística apontam
a província como das mais pobres do
país com índices do desenvolvimento
humano, muito aquém do desejável.
A província da Zambézia conta com
cerca de 140 operadores florestais dentre
nacionais e estrangeiros e a maioria
tem suas actividades em marcha e
o governo, através dos seus fiscais, está
nos postos de fiscalização a controlar
as operações e a cobrar receitas.
Porém, sucede que parte do valor cobrado
era suposto ser canalizado às
comunidades residentes nas zonas de
exploração florestal, mas o mesmo não
chega aos destinatários há mais de três
anos.
É que, na tentativa de garantir a protecção,
conservação e utilização racional
e sustentável dos recursos florestais
e faunísticos para o benefício
económico e social das comunidades
locais, o executivo definiu, através do
Diploma Ministerial n° 93/2005 de 4
de Maio, a necessidade de motivar as
comunidades a se engajarem na protecção
e controlo dos referidos recursos,
atribuindo 20% do total das receitas
anuais provenientes da exploração
dos recursos.
Com o valor em alusão, as comunidades,
através dos Conselhos Consultivos,
definiam as áreas de investimento
com vista a melhorar as suas condi-
ções sociais.
Semana passada, a reportagem do
SAVANA escalou os distritos de
([SORUDomRGRVUHFXUVRVÁRUHVWDLVQDSURYtQFLDGD=DPEp]LD
Comunidades sem 20 por cento
Por Raul Senda
o país atravessa chama por todos a
consentirem sacrifícios por Moçambique.
Por sua vez, a activista de direitos
humanos, Alice Mabota, disse que
no dia que toda a gente paralisar as
actividades no país, a guerra vai terminar.
Argumentou Mabota que,
neste momento, o governo faz vista
grossa porque é apenas uma parte da
sociedade, no caso vertente as Organizações
da Sociedade Civil, que se
insurgem contra as crises provocadas
pelos políticos.
“Façam a luta, parem este país, façam
a luta enquanto é tempo”, insistiu a
presidente da Liga dos Direitos Humanos
(LDH), mencionando África
do Sul como exemplo de onde adolescentes
e jovens paralisam o país,
juntamente com as organizações sindicais.
“Mas os sindicatos daqui andam de
mercedez”, compara, deixando claro
que, no nosso caso, quem pode fazer
a mudança é a juventude porque as
de pressionar os políticos a darem
resposta às inquietações populares.
“Andam a mentir que valorizam Samora
(Machel) quando, na verdade,
com a sua morte tiveram oportunidade
de fazer negócios”, critica, mostrando-se
decepcionada com Graça
Machel por entender que a viúva do
primeiro presidente de Moçambique
não herdou o legado do seu marido,
que era de servir o povo.
Por sua vez, o jornalista Salomão
Moyana entende que os moçambicanos
devem deixar de ter medo de
pensar o país que é seu. Afirmou
Moyana que, dos cerca de 25 milhões
de moçambicanos, poucos é que são
cidadãos, porquanto cidadão é aquele
que tem consciência dos seus direitos
e deveres e não tolera corrupção.
“Temos de converter os habitantes
de Moçambique em cidadãos”, desafiou,
repetindo que os moçambicanos
permitem os abusos do poder porque
não são cidadãos.
Em alusão ao recente caso da exRoberto
Tibana alinhou que é preciso
vencer o medo sim, mas sem
aventuras.
“Uma luta exige muita entrega, organização
e sacrifício”, explicou-se,
acrescentando: “se vocês não tomarem
essa luta hoje, a situação vai ser
pior”.
De acordo com Tibana, que em entrevista
este ano ao SAVANA observou
que, no lugar de Filipe Nyusi
arranjaria uma desculpa para não ser
presidente, está na hora de se passar
do debate para o espírito de acção,
alertando a perigosidade da passividade
das pessoas.
“Se vocês não vão à luta, serão apanhados
de qualquer das formas, ou
porque serão mobilizados (em referência
à problemática Proposta de
Lei de Mobilização e Requisição em
forja). A luta é vossa e pelo futuro dos
vossos filhos”, instou.
Para o economista João Mosca, os
moçambicanos são um povo sacrificado
por um grupo de pessoas que
todos enquanto indivíduos. Aos
jovens, particularmente, Hessel
escreveu que: “procurem um
pouco, vocês vão encontrar. A
pior das atitudes é a indiferen-
ça, é dizer não posso fazer nada;
estou me virando”. É um pouco
nesta linha que, na última segunda-feira,
académicos e activistas
sociais juntaram-se, em Maputo,
numa audição popular que, em
cerca de cinco horas, procurou
instar o povo para se levantar
contra os políticos que transformam
o país num inferno.
Numa segunda-feira em que a
paralisação de actividades por
alguns transportadores semi-colectivos
de passageiros dificultava
a mobilidade nas cidades de Maputo
e Matola, cerca de 800 pessoas
de diversos extractos sociais
juntaram-se na capital do país
numa jornada de cidadania que
consistiu, para além de palestras
Membros do Comité de Gestão de Namanjavira dialogando com a reportagem do SAVANA
$FDGpPLFRVHDFWLYLVWDVGL]HPTXHHVWiQDKRUDSDUDRSRYRVHOHYDQWDU
Oradores da audição popular pela paz
16 Savana 07-10-2016 SOCIEDADE
a nomeação provisória dos governadores
da Renamo, muito
menos um posicionamento claro
para auditoria às dívidas públicas,
que se teme mexa as estruturas do
partido.
Pelo contrário, viu-se um Filipe
Nyusi incendiário, tanto no seu
discurso de abertura, como no de
encerramento. Ao invés da reconciliação
(Teodato Hunguana, um
histórico da Frelimo, repetiu no 4
de Outubro que a actual guerra
nasceu da falta de uma reconciliação
efectiva), Filipe Nyusi falou
de uma Renamo inimiga da paz
e do progresso de Moçambique.
Nyusi, pelos seus pronunciamentos,
parece ter dado ouvido
aos sectores mais retrógrados e
conservadores do seu partido,
que com grande alarido, o pressionaram
nas redes sociais e na
imprensa afecta à Frelimo, para
não fazer qualquer concessão à
Renamo, nem aos parceiros de
cooperação internacional.
Uma Renamo que, estamos a citar
o presidente da Frelimo e da
República, de forma insistente,
ignóbil e repudiável, usa armas
para desestabilizar o país e matar
sonhos de moçambicanos.
“Enquanto o nosso povo humilde,
com o espírito de labor que lhe é
característico, puxa diariamente a
locomotiva do crescimento e do
desenvolvimento económico, a
Renamo, mais uma vez, de forma
insistente, ignóbil e repudiável,
procura, usando ilegalmente
armas, ir matando o sonho de
Quando a Frelimo anunciou
a realização da
recente 10ª Reunião
Nacional de Quadros,
esperava-se que de lá saíssem
boas novas para milhares de mo-
çambicanos sedentos por uma
paz que lhes foge há quatro anos,
moçambicanos que estão ávidos
também de ver restabelecido o
curso normal da economia do
país. Mas essas expectativas esfumaram-se
e a esperança agora
é a reunião do Comité Central
(CC), o órgão decisório mais importante
do Partido-Estado Frelimo,
que se reúne de sexta-feira
a domingo, no mesmo recinto,
na Matola.
Uma azáfama de viaturas, incluindo
do Estado, todas com
destino à Matola, anunciava, logo
pela manhã de sábado, a realiza-
ção duma reunião do partido que
se confunde com o Estado.
Pouco depois das 10 horas estava
a iniciar o encontro que contou
com 2.787 delegados e 213
“convidados”, totalizando 3 mil
participantes. Usamos aspas por
se tratar de pessoas notoriamente
alinhadas à Frelimo, salvo algumas
excepções.
A cerimónia de abertura é marcada
pelos habituais cânticos
enfadonhos, alguns dos quais a
recordar os tempos do “socialismo
triunfará”. Depois de três nú-
meros culturais, seguiram-se as
organizações sociais do partido.
Foi a Organização da Continuadores
de Moçambique (OCM), o
grupo de crianças que não escapa
à instrumentalização partidária,
que inaugurou os discursos de
louvor ao presidente Filipe Nyusi.
Seguiu-se a sempre obediente e
acrítica Organização da Juventude
Moçambicana (OJM), que incluía
deputados na Assembleia da
República, uma vice-ministra e
um editor de um electrónico que
se pretende imparcial, mas crítico
por excelência à Renamo.
Vieram os elogios da Organização
da Mulher Moçambicana
(OJM), antes da Associação dos
Combatentes da Luta de Libertação
Nacional (ACLLN) que
tinha como figura de proa o controverso
Secretário-geral (SG),
Fernando Faustino que, a 7 de
Setembro último, pediu armas
para “ensinar” Afonso Dhlakama,
o presidente da Renamo.
Neste sábado, Faustino não pediu
armas, mas saudou efusivamente
as Forças de Defesa e Segurança
(FDS) pela “defesa às populações”
e encorajou-as a continuarem
com essa “valentia contra aqueles
que pretendem governar o país à
força”. Depois dos elogios do SG
do partido, Eliseu Machava, foi a
vez do discurso inaugural do presidente.
Discurso incendiário
De sábado a segunda-feira as
atenções estiveram viradas para a
escola da Frelimo na Matola, de
onde se esperava boas notícias,
sobretudo, para desbloquear o
impasse no diálogo com a Renamo,
mas também na frente económica.
Com os “quadros” reunidos à
mesma mesa, esperava-se que o
Governo de Filipe Nyusi saísse
com um cheque a jogar na mesa
para devolver a paz aos moçambicanos.
Mas nem um OK para
Reunião de quadros da Frelimo dominada por cânticos enfadonhos
E à realidade disseram nada!
Por Armando Nhantumbo
Ao lado do uso de
meios do Estado em
actividades políticas
da Frelimo, que já
denunciámos neste jornal, as
reuniões do partido no poder
têm a particularidade de pôr
a nu o patrulhamento político
que a Frelimo exerce no país.
Trata-se de reuniões que juntam
quase todos os “quadros”
que conseguem, facilmente, se
suceder em todas as áreas de
actividades, desde homens de
negócios, reitores de universidades,
directores e editores,
passando por dirigentes desportivos
de ditas associações
independentes, até dirigentes
de alguns partidos extra-parlamentares.
Muitos deles, que não se assumem
publicamente como
camaradas, participam dos encontros
camuflados em “convidados”.
Na recente reunião, o momento
mais alto dessa promiscuidade
foi personalizado pelo
jornalista e editor da Rádio
Moçambique (RM), Filipe
Mabutana. Foi o “camarada”
escolhido para apresentar o comunicado
de imprensa sobre a
reunião. O jornalista da estação
pública de rádio não se fez de
rogado e, para o segundo plano,
relegou os princípios éticos
que se ensinam nos primeiros
dias de uma redacção ou de
uma escola de jornalismo.
Começou a apresentação com
a habitual mensagem de pedido
de permissão ao “camarada
presidente”.
“A Décima Conferência Nacional
de Quadros saúda e
exorta o povo moçambicano a
continuar a produzir como forma
de fazer face aos desafios
que se impõem. Exorta, por outro
lado, os quadros, militantes
e simpatizantes a intensificarem
as acções de preparação do
Décimo Primeiro Congresso
do NOSSO PARTIDO FRELIMO,
com envolvimento do
povo moçambicano em geral”,
disse o jornalista/editor e administrador
em representação
dos trabalhadores da RM no
Conselho de Administração
da empresa sustentada pelos
impostos de todos, incluindo
os moçambicanos na oposição
ou os sem partido.
O aparecimento de Filipe Mabutana
numa reunião partidá-
ria e a ler um comunicado de
imprensa gerou revolta sobretudo
ao nível da classe. Não
é que os jornalistas estejam a
negar a militância política, que
aliás está consagrada na Constituição,
mas defendem que é
incompatível o exercício activo
da política e do jornalismo,
esta última actividade que se
funda nos princípios da imparcialidade
e equidistância.
Mas Mabutana foi apenas o
rosto da maioria dos 213 “convidados”
à 10ª Reunião Nacional
de Quadros da Frelimo.
Reuniões tira-máscaras
Nyusi dirigindo-se aos quadros da Frelimo que, durante três dias, cantaram e dançaram na Matola
Naíta Ussene
Savana 07-10-2016 17 SOCIEDADE
felicidade e de bem-estar colectivo
dos moçambicanos” disse.
Numa clara nega a qualquer arranjo
com a Renamo, Filipe Nyusi
disse que paz sim, mas não a
qualquer preço porque, entende
ele, a tarifa para a paz está nas
Leis.
Disse que a Frelimo não tem nenhum
tabu sobre a descentraliza-
ção e outras matérias do interesse
do povo, desde que salvaguardem
o sentido unitário do Estado.
Aqui, vale recordar que Afonso
Dhlakama sempre esclareceu que
a sua pretensão não é dividir o
país, mas conferir autonomia às
províncias.
Nyusi voltou a transmitir sinais
de intolerância no discurso de
encerramento, no qual voltou a
responsabilizar e condenar o partido
de Afonso Dhlakama pela
guerra que o país atravessa, sem
nunca mencionar qualquer culpa
no cartório para a Frelimo que
governa Moçambique desde a sua
existência como Nação independente.
A intervenção de Nyusi
complementa a atitude completamente
dilatória patenteada
pela delegação governamental na
comissão mista, onde claramente
deixou de se posicionar sobre os
vários documentos e propostas
submetidas às plenárias das rondas
de Setembro que terminaram
exactamene no dia anterior à
“reunião de quadros”.
Sobre o descalabro económico
que o país atravessa, ditado em
grande parte pelas dívidas escondidas
contraídas pelo governo da
Frelimo, o engenheiro reconheceu
que o país não está bom.
“Passamos por crises económicas
mais difíceis”, admitiu, assinalando,
porém, o que chamou de
sinais prometedores resultantes
do esforço do Governo em promover,
cada vez mais, dentro e
fora do país, as oportunidades de
investimento, bem assim a postura
de abertura, frontalidade e
cooperação com as instituições da
Brettom Woods. Na sexta-feira,
a delegação do FMI que esteve
uma semana em Moçambique
regressou a Washington sem ter
conseguido acordar com o governo
de Moçambique os termos de
referência da auditoria internacional
independente às dívidas
das empresas securitárias Ematum,
Proindicis e MAM.
De resto, a reunião da Matola
cingiu-se principalmente ao debate
das teses para o 11o
Congresso
da Frelimo convocado para
o próximo ano na Matola. Para já,
a expectativa é que fumo branco
saia da reunião do Comité Central
que hoje se inicia na capital
da província de Maputo, até domingo,
para avaliar e aprovar as
teses produzidas pelos “quadros”.
Nyusi dispara para dentro
No evento da semana passada, o
presidente da Frelimo lançou fortes
recados para dentro do partido.
Na mesma linha de Armando
Guebuza, em Março de 2015,
cujo discurso foi interpretado
como intimidatório, Filipe Nyusi
dedicou grande parte do seu
discurso inaugural para falar de
“inimigos”, mas como se tivesse
achado pouco, 59 horas depois
voltou a tocar no tema, já no encerramento
do encontro.
Citando Samora Machel, o primeiro
presidente de Moçambique
independente, Nyusi disse
que “o inimigo pode falar a nossa
língua, vestir a nossa farda, comer
da mesma maneira que nós, pode
dar vivas à Frelimo, até gritando
mais do que nós. O que ele nunca
pode, não é capaz, é de ter o nosso
comportamento, viver a nossa
linha política”.
Na sua pregação pela disciplina
e coesão interna, que disse serem
a chave das vitórias da Frelimo,
afirmou, a dado passo: “a disciplina
não se confunde com a maledicência
e com a falta de respeito
pelos órgãos hierarquicamente
superiores ou inferiores. Ela não
se confunde com o liberalismo”.
Naquilo que soou como puxão de
orelhas para os críticos de dentro
da Frelimo, como Jorge Rebelo,
Teodato Hungana, Tomaz Salomão,
Sérgio Vieira, Graça Machel
ou Luísa Diogo, que não se
coíbem de expressar, publicamente,
os seus pontos de vista sobre
práticas desviantes dentro do
partido, Nyusi assinalou: “ser disciplinado
é ter consciência plena
de que os órgãos do partido são
muito mais importantes do que
os nossos egos, ou do que cada
um de nós é, individualmente.
Ser disciplinado é ter a consci-
ência plena de que pouco valerá
sermos aplaudidos ou louvados,
individualmente, sobretudo se esses
aplausos e esses louvores não
se estenderem ao partido que nos
sustenta ou se contribuírem para
a corrosão do seu prestígio e bom
nome. A disciplina distingue-nos
dos nossos inimigos”.
Disse que a coesão e a disciplina
interna é que devem conduzir
a Frelimo nos desafios que se
seguem, nomeadamente, o 11º
Congresso do partido, em 2017,
as eleições autárquicas de 2018 e
as gerais de 2019, pleitos sobre os
quais Nyusi disse que a Frelimo
não tem outra alternativa senão
vencê-los.
No encerramento da Reunião,
as reservas morais na Frelimo ou
não se encontravam no local ou
não quiseram falar à imprensa.
“Estou estoirada” recusa-se, de
forma “polite”, Luísa Diogo, dar
qualquer pronunciamento ao
SAVANA.
Esta reunião bateu todos os recordes
nos posicionamentos
públicos, sobretudo dos que se
identificam com o “guebuzismo”,
nos seus “conselhos” e “recados” a
Nyusi, incluindo uma parte dos
ministros subordinados ao Presidente
da República que é, constitucionalmente,
também o chefe
do governo.
Ofertas milionárias
Numa altura em que o discurso
do governo da Frelimo é de apertos,
as delegações provinciais e
na diáspora ofereceram ao partido,
esta segunda-feira, no cair de
pano da reunião, valores monetários
e bens materiais que contrastam
a crise económica sem
precedentes que o país vive.
Foram 7.443.765,00 meticais;
438 dólares norte-americanos;
20 euros e 40.40 randes que reverteram
a favor do partido no
poder, fruto de contribuições dos
camaradas.
A província de Tete, por exemplo,
onde só Abril último 334
mil pessoas necessitavam de
ajuda alimentar básica devido à
seca severa, ofereceu ao partido
1.150.000,00 meticais.
Maputo cidade, onde falta um
pouco de tudo, ofereceu 1.005
mil meticais. Cabo Delgado contribuiu
com 610 mil meticais e
100 dólares, Zambézia com 550
mil meticais, só para citar alguns
casos.
Mas estas são apenas as contribuições
monetárias. Por outro
lado, houve ofertas também
milionárias, mas em espécies,
incluindo dezenas de gado bovino,
caprino, mobiliário, diversos
produtos alimentares, quadros de
honra, entre outras dádivas transportadas
de diversas províncias
do país para Matola.
18 Savana 07-10-2016 OPINIÃO
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EDITORIAL Cartoon
“Americanismo, não o globalismo,
será o nosso credo”. Esta foi
a frase, proferida na convenção
republicana de finais de Julho,
em que Donald Trump mais se
aproximou de expressar um arremedo
de filosofia política ou uma
ideia central da sua candidatura.
Os meses anteriores tinham sido
dedicados a derrubar um a um os
seus adversários internos numa
mistura agressiva e bem eficaz de
insultos, insinuações e teorias da
conspiração, capacidade de entretenimento,
sentido do espectáculo
e populismo desbragado. Nesta
eleição de 2016, a celebridade televisiva
varreu a paisagem política
como um furacão.
Vale a pena aqui lembrar que,
apesar de bilionário, homem de
negócios há décadas e personalidade
do meio social nova-iorquino,
a maior parte dos americanos
conheceu Trump como apresentador
de um reality show por 14
anos, ou seja, através de um programa
de TV montado, editado e
produzido para ganhar audiências
e fazer a sua estrela brilhar – a televisão,
ainda e sempre a televisão,
como autora e produtora de fenó-
menos sociais.
O americanismo da variedade
Trump tem uma forte componente
nacionalista. Afirma-se contra
o exterior, o desconhecido, contra
o Outro (imigrante, latino, afro-
-americano ou muçulmano). Usa
perigos reais e mistura-os com
temores imaginários (e por vezes
até delirantes) para, num potente
cocktail de medo e agressividade,
lançar uma agenda proteccionista
e isolacionista. Acrescente-se a
venda da imagem de um líder forte
(as declarações de simpatia por
Putin são, neste contexto, tudo
menos ingénuas) e está criado o
discurso que tem, para espanto de
grande parte do resto do Mundo,
feito bastante sucesso neste ciclo
eleitoral na América.
As razões deste sucesso são muitas
e variadas mas uma parece central
– o sentimento de impotência
de largas fatias da população
perante a globalização, a abertura
dos mercados, a deslocalização de
empresas e as crises provocadas
pelo sistema financeiro. Estudos
recentes do economista Branko
Milanovic mostram como entre
1988 e 2008, a era a que ele chama
de “alta globalização”, as classes
médias da Europa Ocidental
e dos Estados Unidos viram os
seus rendimentos estagnados. Em
contraste com a evolução positiva
dos rendimentos dos mais ricos e
mais pobres dessas sociedades e
dos mais pobres do Mundo como
chineses e asiáticos, latino-americanos,
africanos e europeus do
Leste.
Este grupo que nos Estados Unidos
é, grosso modo, constituído
por cidadãos de população branca
sem qualificações universitárias,
não tem encontrado benefícios
para si nos movimentos de abertura
comercial e de globalização
económica e financeira. Antes
pelo contrário, assiste ao encerramento
de indústrias e à sua
deslocalização e, frequentemente,
sente-se impotente para se converter
a tempo de beneficiar de
uma nova economia emergente
de serviços de alta tecnologia e
impiedosamente competitiva. A
crise económica e financeira de
2008 agravou esse sentimento de
revolta contra as elites favorecidas
pela economia global (e que
nada parece afectar) e explica em
grande parte a sua revolta contra
o establishment e a favor de uma
postura mais proteccionista. Este
eleitorado está muito presente em
alguns estados decisivos para a vitória
no colégio eleitoral – Ohio,
Iowa, Michigan, Pensilvânia.
Donald Trump percebeu bem
onde estava o seu mercado eleitoral.
O seu eleitor clama por
mudança. Uma mudança inde-
finida feita da rejeição do status
quo e assente numa nostalgia que
mitifica um tempo passado de
segurança económica e paz social.
Paradoxalmente, esta revolta
tomou conta do Partido Republicano,
aquele que no período de
1980 a 2008 mais batalhou pelo
comércio livre, pela liberalização
económica e pelo avanço da globalização.
Mesmo que não venha
ganhar, a ascensão de Trump provocou
realinhamentos no sistema
partidário americano impensáveis
até há algum tempo – o Partido
Republicano que era o epítome
do establishment norte-americano
conservador nos costumes e liberal
na economia será, pelo menos
durante algum tempo, o porta-
-voz dos revoltados com o Mundo
e dos receosos do futuro.
Publico.pt
Por Nuno Mota Pinto*
D
esde há algum tempo que parecia ganhar espaço a ideia de que
o Presidente Filipe Nyusi é uma figura com ideias progressistas,
mas que a sua acção estava a ser contrariada por forças
conservadoras no seio do partido Frelimo.
A teoria era de que essas forças eram tão poderosas que não permitiam
o Presidente avançar com a sua visão, incluindo na importante
questão da paz e reconciliação nacional.
Mesmo à entrada da recente conferência Nacional de quadros da Frelimo,
na Matola, persistiam rumores de que Nyusi seria alvo de vários
questionamentos, incluindo a forma como ele tem conduzido o actual
e sensível processo de negociações com o Fundo Monetário Internacional
(FMI).
Mas nada disso poderia estar tão distante da verdade. A conferência
demonstrou que Nyusi está gradualmente a assumir o controlo da má-
quina do partido, e que qualquer noção de um Presidente isolado não
corresponde à realidade.
Nyusi é Presidente da Frelimo, e ele deve assumir responsabilidades
por todas as más e boas decisões que são tomadas por este partido,
mesmo que isso resulte de processos de negociação interna, onde vá-
rias correntes partem de abordagens totalmente distintas.
Isto deve ter um impacto muito importante sobre a posição da parte
governamental nas actuais negociações com a Renamo. Não deve haver
mais ambiguidades quanto à capacidade de Nyusi de controlar o
que a sua delegação diz e faz na mesa das negociações.
Se está a ser difícil um acordo com a Renamo não é certamente por
acção de qualquer suposta força conservadora dentro da Frelimo.
A dificuldade está na diferença entre um bom acordo e um mau acordo.
Um mau acordo seria aquele que é assinado sob pressão, só para
que a guerra pare. O problema é que um acordo dessa natureza pode
parar com a guerra, mas não elimina o conflito. O conflito reside na
necessidade da Renamo de partilha do poder. Mas como estruturar tal
partilha numa base democrática?
Existe a visão de que basta o governo aceitar a nomeação de governadores
para as seis províncias reivindicadas pela Renamo para que esta
abandone o caminho da guerra.
Mas no passado, a Renamo exigiu paridade nas estruturas de administração
eleitoral e a integração das suas forças residuais na Polícia
e nas Forças Armadas. Depois de um longo processo de negociações
foram assinados acordos nesse sentido. No segundo acordo, até havia
uma disposição que impedia as partes de fazer novas exigências. Mas
como a experiência mostra, nem isso foi respeitado.
Como Chefe de Estado, Nyusi tem a responsabilidade de garantir que
se resulte deste processo o melhor acordo possível, um acordo que no
futuro garanta a estabilidade do Estado, oferecendo à Renamo garantias
de ser parte integrante no processo de construção de um Estado
verdadeiramente democrático.
Como ele próprio disse durante a conferência do seu partido na semana
passada, a Frelimo não encara a questão da descentralização
como um tabu. O que importa, então, é como é que esta descentralização
se processa de modo a que ela tenha um carácter democrático e
contribua para uma estabilidade de longo prazo, capaz de sobreviver
aos interesses momentâneos de qualquer das forças políticas hoje em
acção. A Renamo deve desistir da ideia de que tem capacidade para
obrigar o governo a capitular. É pura ilusão.
Um acordo político mais abrangente, assente no princípio de que a
soberania reside no povo é possível, como resultado do processo negocial
em curso, mas exige a necessidade de qualquer das partes evitar ter
de se contentar com uma vitória que represente derrota para a outra.
Infelizmente, é precisamente isto o que tem estado a acontecer, num
cenário em que mesmo quando acordos são alcançados em princípio,
a garantia de tais acordos virem a ser implementados é quebrada antes
de se avançar para a sua implementação.
Numa situação de impossibilidade de uma vitória militar para qualquer
das partes, a consequência disso será uma espiral prolongada de
violência e de destruição. Este cenário, incluindo raptos e assassinatos
selectivos, corre o risco de assumir a sua própria dinâmica e atingir
níveis em que a cultura de violência se torna institucionalizada e cada
vez mais difícil de inverter.
O perigo de institucionalização
da violência
Uma eleição atípica e em aberto
Guerra de Assad contra o terorrismo
Savana 07-10-2016 19 OPINIÃO
497
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
T
udo está partidarizado e a
Frelimo está infiltrada em
tudo, desde os bancos até as
instituições do Estado onde
mantém células partidárias.
Os próprios bancos estrangeiros
vêem as suas actividades condicionadas,
têm de dar lugar nos seus
quadros a membros do partido no
poder que decidem que projectos
financiar sem condicionalismos de
apresentação de garantias e a quem
dificultar o financiamento.
Muitas empresas e Estados que
investem e cooperam em Moçambique
são cúmplices neste processo.
Daí valer a pena perguntar: Porque
é que a alternância dos partidos no
Governo, que é regra em todas as
democracias do mundo, é uma impossibilidade
em Moçambique?
A grave crise político-militar que o
meu país atravessa é a consequência
inelutável deste estado de coisas.
Em clara violação do direito à vida
consagrado constitucionalmente,
académicos independentes que ousaram
pronunciar-se contra o actual
governo em Moçambique são perseguidos,
intimidados, baleados e
assassinados.
Vários atentados muito cobardes
contra a vida do Presidente Afonso
Dhlakama foram frustrados, mas
com perda de vidas entre os que o
rodeavam.
Eu própria recebo ameaças e ainda
recentemente fui alvo de um atentado
em Quelimane, meu círculo
eleitoral.
As violações dos princípios mais
elementares de um Estado de Direito
são feitas com o objectivo evidente
de silenciar todos os críticos
quer sejam políticos, jornalistas, lí-
deres de opinião e assim implantar
a cultura do medo e limitar a acção
política da oposição e dos intelectuais
críticos do regime.
Mas, graças a Deus, o Presidente
Afonso Dhlakama tem enfrentado
estes ataques com a maior coragem
e não tem vacilado na sua determinação
de lutar por uma verdadeira
democracia em Moçambique o que
encoraja a todos os moçambicanos
a acreditar em dias melhores para
Moçambique.
Para falar do sentido de justiça económica
que os sucessivos governos
em Moçambique têm chamo a colação
dois exemplos:
Primeiro: as dívidas ocultas, ilegais
e inconstitucionais avaliadas em 2.3
bilhões de dólares americanos contraídas
sem a aprovação do Parlamento
como manda a Constituição
de Moçambique. Acham normal
que um Governo, na calada da noite,
endivide todo um povo e ainda
assim continuem os seus membros
impunes? Por exemplo, 850 milhões
de dólares americanos foram
investidos na compra de barcos supostamente
para a pesca do Atum,
barcos esses que desde a sua chegada
a Moçambique continuam atracados
e nem um kg de atum pescaram,
e o Parlamento seja usado
para legalizar essas dívidas ilegais é
inconstitucionais?
Porquê não se faz luz sobre este
caso? Não há responsáveis? Não há
beneficiários? Para onde vão os milhões
e milhões desviados do orçamento
do Estado?
Segundo: o distrito como base de
desenvolvimento, passa a receber
financiamento dos vulgo sete milhões
de meticais para projectos
económicos.
Este dinheiro foi distribuído aos
dirigentes locais do partido no poder
(Frelimo), para potenciar as suas
estruturas de base. Canalizando receitas
dos impostos dos moçambicanos
directamente para o empoderamento
económico dos membros
do partido que controla o Estado
foram cometidas arbitrariedades
que evidenciam grosseiras injustiças
económicas.
Avaliando a iniciativa que a Frelimo
diga que distrito deixou de ser ou
ter pobre(s)? Que distrito está desenvolvido
e tem água canalizada,
electrificação que beneficia 100% da
sua população? Nenhum! O projecto
foi um fracasso total. E a maioria
dos mutuários nem devolvem o dinheiro
ao Estado porque sabem que
o critério principal observado para
ser potencial beneficiário era a militância
na Frelimo.
Julgo que temos que mudar o cená-
rio em que vivemos e isso passa por:
i) Termos um Provedor dos Cidadãos
da CPLP
ii) Termos uma acção concertada
dentro da CPLP contra as violações
recorrentes dos Direitos Humanos
ou um Observatório dos Direitos
Humanos no espaço da lusofonia.
Estas poderiam ser instituições
muito úteis para a afirmação dos
princípios da Democracia e do Estado
de Direito nas nossas diversas
realidades nacionais.
No plano dos crimes económicos,
todos sabemos como as plataformas
transnacionais têm sido usadas para
mascarar ou dar cobertura a negó-
cios ilegais, propiciados pela corrupção,
terreno ideal para a lavagem
de dinheiro e a fuga ao fisco.
Por isso mesmo, precisamos, de forma
aberta e transparente, também a
nível da CPLP de
iii) Sistemas transnacionais de partilha
de informação e controlo da
circulação de capitais.
E é imperioso:
iv) Criar mecanismos que permitam
investigar e acusar eficazmente
todos aqueles que cometem crimes
económicos no nosso espaço de cooperação.
No que à justiça económica diz respeito,
Moçambique enfrenta dois
desafios centrais:
Primeiro a Injustiça fiscal: o sistema
tributário moçambicano favorece o
grande capital, os grandes investidores,
que estão concentrados no
complexo mineral-energético (alumínio,
gás natural, areias pesadas,
carvão mineral, electricidade) em
prejuízo das pequenas e médias
empresas, que são o principal motor
da economia nacional e o maior
empregador a seguir ao Estado.
Assim, para termos justiça econó-
mica em Moçambique, devemos
promover a justiça fiscal, através de
alterações no quadro tributário.
O segundo desafio prende-se com a
superação da desigualdade de oportunidades
económicas, tema que já
abordei nesta intervenção mas que
nunca é demais salientar.
Como se sabe, por razões históricas
e ideológicas, o poder económico
em Moçambique confunde-se
e coincide com o poder político:
quase todos os empresários são políticos,
e quase todos os políticos do
sistema têm interesses directos ou
indirectos em empresas.
Este facto é o reflexo da concentra-
ção das oportunidades económicas
(negócios, financiamento, empregos
mais bem pagos) nas mãos de pessoas
ligadas ao partido no poder, a
Frelimo.
Isto significa que para termos justi-
ça económica precisamos de garantir
que haja igualdade de acesso às
oportunidades que se vão apresentando
no plano dos diversos sectores
da economia.
Em conclusão, só podemos ter justiça
económica se tivermos justiça
fiscal acompanhada por oportunidades
económicas iguais.
Para terminar, apelo a todos para
que ponderem nas palavras que o
Papa Francisco dirigiu em Janeiro
aos poderosos reunidos na cimeira
de Davos, numa mensagem com
a qual totalmente me identifico,
quando diz que é necessário «um
sentido de responsabilidade renovado,
profundo e alargado por parte
de todos», para «servir mais eficazmente
o bem comum e tornar os
bens deste mundo mais acessíveis
para todos».
Estamos aqui para debater a justiça
económica e o papa lembra-nos a
urgência de uma equidade baseada
na «distribuição mais equitativa das
riquezas, a criação de oportunidades
de emprego e uma promoção
integral dos pobres que ultrapasse a
mera assistência.»
O Papa Francisco faz um forte apelo
às nossas consciências e com ele
vos deixo: «Façam de modo que a
humanidade seja servida pela riqueza
e não governada por ela.»
Comunicação sobre justiça económica
apresentada a 28 de Setembro em
Lisboa, num evento organi- zado
pela Casa de Moçambique. Título da
respon- sabilidade do SAVANA
A
crise mundial não é a
dos preços em si, da
“crise económica” em
si, dos bancos em si,
das matérias-primas em si: é a
crise global de um sistema, do
actual modo de produção e repartição
da riqueza social que
acentua a conflitualidade de hegemonias
e a consequente militarização
do mundo, que mutila
a solidariedade, que destrói o
meio ambiente, que torna mais
severa as desigualdades sociais,
que aprofunda as dificuldades
de sobrevivência diária de milhões
de pessoas, crise, enfim,
que torna as pessoas agudamente
sensíveis à incerteza sobre
o futuro.
Crise, ainda, que não é europeia,
asiática, ameríndia ou
africana, que não é cristã, mu-
çulmana, hindu ou ateia, crise
que é global e independente
de continentes, de religiões, de
modelos sociais e culturais e de
estádios de desenvolvimento,
ainda que mais acentuada nos
países da periferia.
Meu ser original Por Ivone Soares*
Em Moçambique assistimos um
desenvolvimento cada vez mais assimétrico*
Sobre crise O
acordo para um cessar-
-fogo e o regresso à paz
na Colômbia, assinado
pelo Presidente do país,
Juan Manuel Santos, e pelo líder
das FARC, Rodrigo Londoño, foi
chumbado num referendo realizado
no domingo.
Perante esta derrota inesperada, as
duas partes reiteraram o compromisso
de estabelecer a paz depois de
uma guerra que já dura há 52 anos.
A pergunta que obviamente se coloca
é esta: porque é que o povo
colombiano, maioritariamente, recusou
o acordo? Valeria Luiselli,
no El País, constata que a campanha
do não foi impulsionada
pelo ex-Presidente do país, Álvaro
Uribe, e baseou-se na seguinte ló-
gica: “Os acordos de paz oferecem
impunidade em vez de castigar
as FARC como elas merecem.”
A versão vencedora do plebiscito
foi o de que o acordo “não assumia
que nesta história há bons
e maus e que o direito a outorgar
perdão só pode ser dado por quem
tem de escrever esta história”.
No jornal colombiano El Tiempo,
Luis Carlos Ávila R., que passou
muitos meses a recolher histórias
dos elementos das FARC e das
suas vítimas, desmonta esta perplexidade
e dá uma resposta: “Sempre
me gerou curiosidade que tanto
vítimas como vitimizadores chegassem
sempre a um ponto em comum:
não se trata de esquecer, mas
sim de deixarmo-nos de culpar,
porque sem perdão não há saída,
sem reconciliação não há avanço.”
Erika Guevara-Rosas, directora
da Amnistia Internacional para as
Américas, diz que o não no referendo
foi uma “oportunidade perdida
para a paz e deixa no ar receios
quanto ao futuro”. “A incerteza que
este voto traz pode ter colocado
milhões de pessoas na Colômbia,
particularmente grupos vulneráveis
como indígenas, afrodescendentes
e camponeses, em maior risco de
sofrer violações dos direitos humanos.”
*negocios.pt
O não à paz recoloca a Colômbia
na rota da instabilidade
Por Celso Filipe*
20 Savana 07-10-2016 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
Mais um “4 de Outubro” passou
sem grandes novidades.
Os discursos oficiais mostraram
um claro distanciamento
entre as partes envolvidas na assinatura
dos Acordos de Roma, a 4 de Outubro
de 1992, do que aproximação. Replicou-
-se o habitual nesta data. Cada uma das
“partes” comemorou no “seu cantinho”,
à sua maneira, com os “seus”. Deu para
perceber, esperamos que estejamos pró-
ximos de errar, que não há vontade factual
para criar espaços de reconciliação.
Admitindo existir essa “vontade”, então,
não há “coragem” devido a uma forte
“muralha de orgulho” grupal. Foram discursos
mais dados a acusações, do tipo
quem está a matar, quem está a “desestabilizar”,
quem não quer paz é aquele mas
eu quero e estou aberto, aquele é que é o
empecilho, etc.
4 de Outubro: ainda o “lado A”
De facto, como dizem algumas figuras da
praça, nunca houve reconciliação entre mo-
çambicanos, entre os contendores. “Nunca
houve” e continuamos a não perceber que
é preciso, é importante, passarmos para um
novo estágio de relações onde o espaço de
aproximação deve ser permanentemente
criado, deixando de lado a carga de ódio que
ainda nos alimenta. Está difícil descarregar
essa bateria! Isto não é mais do que repetir
o que os religiosos disseram nas comemora-
ções do 4 de Outubro e que se resume à necessidade
de uma reconciliação com Deus.
Por outras palavras, provavelmente as peças
mais importantes, entre os contendores,
foram tomadas pelo diabo, o que não acreditamos.
Tudo resume-se à necessidade de
abandonar aquelas cargas que não nos levam
ao entendimento, ou seja, livrarmo-nos do
diabo. Já é positivo quando vemos os nossos
políticos presentes nesta ou naquela igreja
ou mesquita. E ouvem: que a paz esteja consigo
irmão.
O entendimento da população urbana pode
ser provavelmente diferente ou muito diferente
do da população rural ou dos espaços
sob conflito relativamente a quem está a
“desestabilizar”, quem não quer paz, quem
está aberto ao diálogo, etc. Um estudo nessa
vertente resolveria o problema. Deixando
de lado a possibilidade do referido estudo,
é caso para questionar: se o discurso oficial
não é de aproximação mas sim de recorrentemente
lembrar (ao auditório) quem na sua
óptica é o culpado, então, estamos perante
um forte sinal de que nem em Novembro e
muito menos em Dezembro teremos algo de
substancial relativamente àquilo que é vontade
do povo. As “cargas” (acima referidas)
parecem estar fortes; oxalá descobrissem as
respectivas percentagens para podermos respirar
com alguma segurança.
Cá entre nós: quando é que vamos virar
o disco? Continuaremos na face já
riscada, cansada e desgastante de acusações
mútuas? Face em que uns defendem
a obrigatoriedade de cumprimento
da “Constituição” e outros batem-se com
a governação das “seis províncias” como
solução pelo alegado incumprimento da
“Constituição” uma vez que levantam a
tese da existência de fraude eleitoral? Até
quando? Já passam anos e continuamos
a ouvir a cantiga da paz, da abertura ao
diálogo, do interesse supremo, de que não
há desenvolvimento sem paz (óbvio),
que toda sociedade moçambicana deve
contribuir na procura da paz; e até saiu
dos discursos a tão repetida frase (riscada?):
a alternativa à paz é a própria paz.
Quando é que esta alternativa deixará de
ser uma miragem?
Nada, nem sequer as mentes
mais optimistas, podia prever
que tudo fosse acabar assim.
Pessoalmente, passei toda
a manhã e o princípio da tarde daquele
dia amodorrado na sala a ouvir
música e a reler revistas, jornais e capítulos
de livros que já nem sequer
me dão qualquer prazer.
Mas, ao princípio da tarde – digamos
às 2 horas, para nos situarmos
–, o sol rompeu as nuvens, depois
de termos passado todo aquele tempo
sob massas compactas baixas,
aterradoras, cinzentas de chumbo e
trovões. Digo-te uma coisa: o céu
abriu; abriu e abriu e abriu e abriu…
Às 4 da tarde era tudo um brilho feito
de luz amarela – estou a repetir-
-me, porque gosto de luz amarela
e de amarelos e de vermelhos e de
verdes, porque foi assim que nasci e
é assim que vejo o Universo –, então
ganhei uma vontade incrível de
viver!
Vivo num prédio de 17 andares,
estou no 4.º, não há elevador. Mas,
apesar do meu reumatismo e da dor
intensa que tenho no fundo da coluna
vertebral, decidi-me a subir as
escadas até ao terraço. Peguei no
meu banco preferido e subi, subi,
subi… Uma hora mais tarde, estava
no topo do terraço onde moro. Coisa
esplendorosa: céu, Sol, estrelas, luz,
silêncio, flores, e tudo o que se passava
por baixo dos meus pés era como
um elefante que passa sobre várias
covas de formigas, ou seja, nada!
Apeteceu-me viver!
Então disse para mim mesmo:
– Tobias, realiza lá o teu sonho!
Puxei o banco onde estava sentado
um pouco para trás, para ganhar
balanço; coloquei as asas portáteis
nos braços e ganhei uma dimensão
de águia: 3,5 m para o lado direito,
3,5 m para o esquerdo: tinha 7 m de
envergadura. Disse a mim próprio:
– Tobias, voa!
Virei a cadeira de costas para o
Oriente, que era de lá que vinha
vento fresco e um pouco forte, que
me podia fazer voar, e saltei. Saltei
do 17.º andar e fiz aquela pirueta da
História de uma Gaivota e do Gato que
a Ensinou a Voar: primeiro dei um
pino para baixo, depois um pino lá
para cima, e lá em baixo disseram
– Lá está mais um maluco a querer
suicidar-se.
Levantei voo. Não acreditas? Era
tarde, não sei se de sexta ou domingo,
não me interessa muito, porque
quem vai ter com Deus não mede o
tempo pela medida de 7 dias. Voei…
Muito rapidamente passei pelas acá-
cias, passei pelo hangar dos TPM e
estava a voar, a voar, a voar, estava a
subir na vertical, passei pelo dumba-
-nengue do Estrela, passei pelo
dumba-nengue do Fajardo, passei
pelo Mercado Grossita do Zimpeto
e acabei compreendendo, lá nas alturas,
que tudo isso – o Janet, o Estrela
Vermelha, o Mandela, o Museu, o
Zimpeto – é o mesmo.
Então voltei atrás para dar o meu último
adeus aos meus entes amados,
que são os meus sogros, a Laura e o
Tereso, que estão a fazer bloco ali há
mais de 20 anos, no cemitério, e daí
voei, que a minha intenção era viajar
em direcção ao Sol. Queria ver como
é que o Sol é, se é assim tão quente,
se é assim tão animador, se é assim
tão pai, se é assim tão pai de cores.
Fui em direcção à zona sul da província
de Inhambane, porque alguém
me disse (e depois li, para confirmar)
que o Trópico de Capricórnio passa
por essas zonas. Então eu sabia que,
se conseguisse localizar esse Trópico
nessa zona, podia apanhar os ventos
que me poderiam conduzir ao meu
destino.
Tinha medo, mas ao mesmo tempo
me lembrei de que alguém me disse
que o problema não é ter medo.
Todo o ser vivo tem medo, a questão
é vencê-lo. Então aproveitei esses
ventos do Capricórnio e comecei a
elevar-me, a elevar-me… Fiquei novamente
com medo e disse:
– Tobias, vai-te acontecer o mesmo
que aconteceu com Ícaro. As tuas
asas vão derreter, quanto mais te
aproximares do Sol.
Mas aí eu pensei comigo: Não! Ícaro
cometeu a asneira de colar as asas
com cera e a cera derreteu. As minhas
não são de cera, são de protótipos
biónicos da última tecnologia da
cirurgia robótica.
Estava nessa, quando alguém me
abanou fortemente e disse:
– Outra vez nesses teus delírios! Por
amor de Deus, deixa-me dormir!
Era uma voz feminina. Eu disse:
– Hã!?...
– “Hã” o cacete! Eu estou aqui coberta,
a passar mal de frio, e tu a
transpirares mais do que um elefante
do mato. O que se passa contigo?
– Desculpa!
– Desculpa, uma ova!
Pus-me sentado na cama.
– Se queres continuar a dormir aqui,
vai tomar banho!
Levantei-me, chinelos para aqui,
chinelos para lá, pus a minha toalha
aos ombros e, em vez de ir ao banho,
fui-me fechar na sala e pus aquela
música de Chico António que diz
assim – e era mesmo isso que eu
queria dizer: “As coisas na vida parecem
fáceis de encontrar e a gente acredita
que é uma questão de tempo. A gente
não vê que a vida é um tabuleiro de
xadrez, onde qualquer lance mal feito
pode ser a morte do Rei.”
Mas ele acaba a cena assim, o Chico
António: que o futuro do João Sofrimento
há-de ser uma tosca palhota.
É isso que me revolta: eu não quero
que o meu futuro seja uma tosca palhota;
quero que o meu futuro seja
uma palhota tosca, que é a arte da
criação e o fim e o princípio da minha
vida.
E
ste é o título que decidi dar ao
presente texto que surge na esteira
da passagem de mais um
4 de Outubro, dia consagrado
para Paz. Pretendo antes de tudo, recordar
um episódio que mexeu com
meio mundo nos últimos dias, falo
concretamente do ‘’NÃO’’ dado pelo
povo Colombiano ao acordo de Paz
assinado pelo actual Governo e pelas
Forças Armadas e Revolucionárias
da Colômbia (FARC).
O acordo surge depois de quatro
anos de amplas negociações entre o
Presidente Colombiano, Juan Manuel
Santos, e o líder das FARC, Rodrigo
Lodoño. Contudo, esbarrou na
opinião pública, depois que a opção
por não ratificá-lo foi escolhida por
50,2% dos votos válidos. A diferença
entre o “não” e o “sim” foi de menos
de 60 mil votos, com uma taxa de
abstenção que rondou 63%.
Mas, como é possível que um país
recuse um acordo que colocaria fim
a um conflito armado que se arrasta
a mais de meio século e já custou
as vidas de mais de 200 mil pessoas?
Esse é o sentimento que tive quando
soube do resultado deste referendo.
Obviamente que como país estamos
longe de fazer um paralelismo
nítido sobre a realidade do acordo
Colombiano, porém, tratando-se de
um conflito, sou da opinião que há
algumas ilações que como nação podemos
tirar e aprender deste caso.
Por um lado, qualquer que seja o
conflito, se interferir na vida dos cidadãos
os seus fazedores dificilmente
terão o perdão dos afectados. Os
conflitos podem ter várias razões,
mas se os mesmos começam a perturbar
o decurso normal da vida das
pessoas e mudam drasticamente os
sonhos de milhares de cidadãos, os
seus fazedores podem ambos se perdoar
pela assinatura de um acordo,
mas pelo povo não terão um perdão
fácil. Foi o que sucedeu na Colômbia,
o povo não está contra a paz, mas
provou em referendo que não perdoa
e não acredita que as FARC possam
se converter em cidadãos capazes de
conviver de forma civil, sem cometer
as atrocidades que outrora cometeram.
A memória de uma guerra é
sempre dramática, o que a sociedade
moçambicana vive nos dias que
correm terá repercussões nefastas na
vida de qualquer um no futuro, lembrando
que é preciso os nossos políticos
saibam que a dor e mágoa de uma
guerra não se paga fácil.
Por outro, é no mínimo perplexo,
mas a Paz também constrói-se pelo
conflito, sendo necessário que haja
cedências mútuas para se chegar a
este porto. O acordo assinado na Colômbia
mostra-nos claramente um
exemplo de que só de alma e coração
limpos pode-se atingir um entendimento.
O movimento revolucionário
poderá tornar-se em partido político,
concorrer nas eleições presidencial e
legislativa de 2018 e tinham a garantia
de 10 assentos no congresso até
2026. Essa é uma demonstração de
cedência do Governo Colombiano,
mas ao mesmo tempo das FARC
que aceitaram dess forma entregar as
armas num claro jogo de interesses
pelo bem comum. A Paz é exactamente
um jogo onde os vencedores
não são os jogadores, mas sim os telespectadores,
desta feita o povo que
clama pela Paz.
Esta foi uma tentativa de chamada de
atenção em plena semana da Paz para
os actores políticos que perpetuam o
sofrimento do povo Moçambicano,
um povo que segundo o relatório do
Banco revelado no domingo passado,
2 de Outubro, 60 % da população
vive na pobreza extrema e é o décimo
país com maior número de pobres no
mundo.
1. Algo fácil de obter; fácil de conquis- Algo fácil de obter; fácil de conquistar;
alguém brando e macio.
Dércio Tsandzana
A Paz não é moleza1 : um olhar
ao ‘’NÃO’’ pela paz na Colômbia
Na Rota de Ícaro
Savana 07-10-2016 21 PUBLICIDADE
22 Savana 07-10-2016 DESPORTO
S
ancho Quipisso Júnior,
engenheiro de profissão,
é presidente do Clube
Ferroviário de Maputo
desde o ano passado. Pessoa humilde
e de convicções próprias,
diz que apesar de geralmente o
clube lutar para ocupar lugares
cimeiros em qualquer modalidade
e evento que participa, não está
obcecado pelos títulos. Outrossim,
desdramatiza o percurso não
muito bom da equipa de futebol,
afirmando que são 16 equipas que
corporizam o moçambola e, naturalmente,
apesar das aspirações
iguais, a sorte nunca é a mesma.
A caminhar para os cem anos de
existência, completa 92 anos na
próxima quinta-feira, 13 de Outubro,
o Ferroviário é, na opinião
do seu presidente, o clube mais
ecléctico do país. De referir ainda
que a colectividade vai participar,
próximo mês, na Taça dos Clubes
Campeões de Basquetebol em
femininos, evento que nunca conquistou.
Já ganharam a retromencionada
prova a Liga Desportiva
de Maputo, em 2012; Maxaquene
(1991); Académica (2001) e Desportivo
(2007 e 2008).
A seguir, as partes mais relevantes
da entrevista.
2016 está sendo um ano mau para
o Ferroviário. Comunga desta
posição?
-De maneira nenhuma, pois diferentemente
de muitos, o Ferroviário
é o clube mais ecléctico do
país, pois não apenas movimenta
o futebol, mas mais modalidades.
Se movimentasse apenas o futebol
talvez pudessemos dizer que 2016
foi um ano menos bom, mas não
é o caso. Foi um ano menos bom
para o futebol, mas para o clube
Ferroviário foi bom. Não ganhamos
no futebol sénior, mas ganhamos
em tudo o que havia para
ganhar: ganhamos em básquete,
em atletismo e agora conquistamos
o campeonato da cidade em
boxe. Continuaremos a ganhar
em outras modalidades, por isso
não é por não termos ganho no
futebol que podemos dizer que
foi uma catástrofe.
Mas o futebol é o desporto das
multidões...
-Seria mentira se disséssemos que
damos o mesmo peso a todas as
modalidades, mas também não
perdemos a cabeça quando não
ganhamos no futebol, porque,
como disse, além desta modalidade
temos mais sete que estamos a
movimentar. Mesmo no futebol
sénior estamos em quinto lugar no
campeonato e podemos melhorar
um bocado porque faltam ainda
Ferroviário de Maputo comemora 92 anos de existência e Sancho Quipisso Júnior declara:
“Não perdemos a cabeça por termos falhado
o Moçambola”
Por Paulo Mubalo
por se disputar três jornadas, para
além de termos chegado às meias
finais na Taça de Moçambique. E
é por isso que digo que só podemos
pensar que foi um ano mau
se olharmos para o futebol.
Expectativas goradas
Concretamente, o que falhou no
futebol ?
-A nossa expectativa era nesta altura
estarmos a discutir o título, o
que não está a acontecer. São 16
equipas que participam no campeonato
nacional e todas prepararam-se
para conquistar o título,
umas foram felizes e, no nosso
caso, não fomos tão felizes como
esperávamos que fosse.
Há a percepção de que o técnico
Carlos Manuel (Caló) não tem
tarimba para treinar uma equipa
da dimensão do Ferroviário.
Qual é o seu comentário?
-Esta é a sua avaliação e para nós,
Carlos Manuel é o treinador do
Ferroviário. Como sempre, as avaliações
são fáceis de serem feitas
depois do sucedido, e a impressão
que tenho é de que, se estivéssemos
a conversar em Janeiro, não
me faria esta pergunta porque o
Caló, que diz ter pouco gabarito,
tinha ganho o campeonato o ano
passado. Então, estas questões não
se colocavam em Janeiro e Fevereiro.
Hoje é mais fácil colocá-
-las mais por aquilo que foi a sua
prestação e a da própria equipa de
futebol. Nós apostamos nele, faltam
três jornadas para terminar o
campeonato e depois se verá. O
contrato com o Caló termina no
final desta temporada e depois
disso vamos fazer a avaliação do
que foi a prestação da equipa técnica
durante o ano e só em função
da avaliação tomaremos as medidas
que acharmos propícias para o
momento.
Quais eram as perspectivas do
Ferroviário para o ano prestes a
terminar?
-As mesmas de sempre, pois, em
cada modalidade o Ferroviário
participa para vencer independentemente
da competição que
toma parte e este ano não fugiu
à regra.
O Ferroviário completa no dia 13
de Outubro 92 anos de existência.
Que actividades vão realizar?
-Diferentemente do que fizemos
o ano passado, uma comemoração
em conjunto aqui no clube, este
ano estamos a pensar numa coisa
diferente, mas definitivamente a
data não passará em branco. Estamos
a organizarmo-nos para
juntarmos as modalidades que sejam
possíveis realizar partidas no
Estádio da Machava, como atletismo,
futebol e ginástica.
Para quando a mudança do nome
do Estádio da Machava?
-Temos a Assembleia-geral marcada
para o dia 18 e seria de bom
tom primeiro discutirmos com
todos os associados para eles não
tomarem conhecimento desse
assunto pelos órgãos de comunicação
social. Não houve nenhum
volte-face, aquilo que transcende
as competências da direcção, nós
não decidimos, propomos e foi o
que fizemos. O nome que propusemos
é Estádio da Independência
e o argumento é que foi lá
onde foi proclamada a independência
e continua a ser lá onde
são realizadas as grandes festas de
10 em 10 anos da independência.
Infra- estruturas desportivas
Na componente infra-estruturas
o que há a dizer?
-Estamos a melhorar as infra estruturas
desportivas e aqui mesmo
por baixo onde estamos (sede do
clube), em tempos, havia bares e
hoje há obras que estão a ser finalizadas
e que terão ligação com
aquilo que é a clínica do clube.
Temos obras de reabilitação do
lado direito onde ficará o restaurante
e sala de trabalho, temos a
relva sintética que pretendemos
substituir, há projectos de aproveitamento
de espaço no Estádio
da Machava que vêm da direcção
anterior, há projectos de cobertura
de campos de básquete e hóquei e
estamos à espera apenas do momento
propício para iniciar. Pensamos
realizar isso até ao fim do
mandato, que começou em Abril
do ano passado e que termina nos
próximos dois anos e meio, se for
possível.
O presidente já não fala muito da
rentabilização de infra-estruturas...
-Não estou a falar de infra-estruturas
porque estamos a fazer. Falamos
muito durante a tomada de
posse e agora é tempo de apresentarmos
o trabalho. Dei exemplo
do ginásio, terminamos as obras
apesar de não termos sido nós
quem as começamos. O centro de
estágio no Estádio da Machava
não é apenas do futebol, mas sim
do clube.
É quadro dos CFM e presidente
do Ferroviário. É fácil conciliar as
actividades?
-Maior parte de nós não desempenha
uma actividade só, eu não
sou efectivo no clube, temos um
director e uma direccão executiva
que toma conta do clube. Temos
a reunião da direcção nas quintas
-feiras em que tomamos o pulsar
do clube, onde vemos o que foi
feito e o que deve ser feito. Mesmo
os meus colegas da direcção
anterior funcionavam assim. Pessoalmente
estou satisfeito porque
existe bom relacionamento entre
os diversos membros.
O Ferroviário movimenta oito
modalidades e o presidente disse
ser um dos clubes eclécticos do
país. Quanto dinheiro gasta por
mês?
-Vai perceber que de forma alguma
posso falar disso, até porque
tinha de estar aqui o responsável
financeiro. O que lhe posso assegurar
é que a situação financeira
do clube não é a desejável, e há
que entender a situação económica
tanto do país como do mundo.
A saúde financeira do Ferroviário
não está nem bem nem mal. Se
tivéssemos tudo o que precisamos
parte das infra-estruturas que
queremos reabilitar teriam sido
concluídas, mas temos de conciliar
a parte financeira e a desportiva.
O bolo é um só, há que saber
como dividi-lo.
700 mil meticais/dia
Quanto é que custa o aluguer do
Estádio da Machava?
Bem, são 700 mil meticais por dia
quando se trata de evento cultural
(espectáculo musical) e 70 mil
meticais para jogos de futebol.
Mas repare que o último espectáculo
musical foi realizado há já
muito tempo.
Que dizer da participação do
Ferroviário no campeonato africano
de basquetebol, em seniores
femininos?
-Bem, o campeonato (22ª edição)
vai decorrer, aqui em Maputo, de
26 de Novembro a 4 de Dezembro
e estamos a organizar o evento
juntamente com a Federação Mo-
çambicana de Basquetebol. Neste
momento, quero convidar a todas
as pessoas para que marquem presença
por forma a ajudarem, a dar
alento e carinho às nossas meninas,
porque o nosso maior objectivo
é melhorar aquilo que foi classificação
do ano passado em que
ganhamos a medalha de bronze
(ficamos em terceiro lugar). Neste
ano queremos ver se melhoramos
esta classificação e precisamos do
apoio incondicional do público. A
preparação está a decorrer dentro
daquilo que tínhamos preconizado.
A prova terá lugar no pavilhão
do Maxaquene e contará com a
participação de 12 clubes.
O mandato da actual direcção
está ainda a começar. Satisfeito
com o trabalho realizado até ao
momento?
-Ganhamos mais troféus, estamos
para nos preparar para ganhar
mais, estamos a mexer nas infraestruturas.
Eu estou aqui para
prestar o meu contributo coordenando
a equipa que está a dirigir
os destinos do Ferroviário e as
avaliações serão feitas no fim do
mandato, nessa altura vai se saber
se terá valido ou não ter passado
por aqui.
Sancho Quipisso Júnior, presidente do Clube Ferroviário de Maputo
Savana 07-10-2016 23 PUBLICIDADE
24 Savana 07-10-2016 CULTURA
O
país terá nos próximos
tempos mais um espaço
cultural moderno com a
reabilitação e constru-
ção de infra-estruturas do Centro
Cultural Tambo Tambulani Tambo,
na Cidade de Pemba, província
de Cabo Delgado. As obras estão
a ser financiadas pela companhia
petrolífera Anadarko no âmbito
da sua Estratégia de Investimento
Social, que visa promover projectos
sociais e contribuir para o desenvolvimento
das comunidades
de Cabo Delgado, criando oportunidades
de participação dos grupos
vulneráveis.
O lançamento da primeira pedra
desta obra, que irá resultar na construção
de escritórios, salas de aula,
galeria infantil e um estúdio, assim
como reabilitação de palcos, foi diCentro
Cultural Tambo Tambulani Tambo reabilitado
rigido pelo Presidente do Municí-
pio de Pemba, Tagir Carimo, e pela
Directora provincial de Cultura e
Turismo, Fátima Romero.
O Presidente do Município de
Pemba diz que esta acção da Anadarko
poderá incentivar a juventude
e espera que o Tambo Tambulani
Tambo desempenhe um papel
preponderante para o desenvolvimento
da cidade.
A Associação Tambo Tambulani
Tambo foi criada há 21 anos e
é coordenada por Victor Raposo,
uma das maiores referências do teatro
nacional, que considera que o
financiamento da Anadarko deve
ser visto como um grande apoio
para a preservação da cultura do
país. “Com este apoio, a empresa
não aposta apenas na construção de
espaços para exibição artística, mas
também para a criação de uma escola
onde a modernidade e a tradi-
ção possam coabitar”, disse Raposo.
A mesma visão de preservação cultural
tem a Directora Provincial da
Cultura e Turismo, Fátima Romero,
pelo facto de assumir a estrutura
como um impulso para as actividades
culturais da região.
Por sua vez, o representante da
Anadarko justificou o financiamento
destas obras com o facto de
a cultura constituir um elemento
essencial na promoção do desenvolvimento
de um país e por ser
parte da componente de educação,
que é um dos pilares da Estratégia
de Investimento Social daquela
multinacional. “A Anadarko acredita
que contribuindo na promoção
da cultura está também a
contribuir na promoção dos usos e
costumes das comunidades que se
inserem nas áreas onde actuamos
no quadro do nosso projecto de
Gás do Rovuma”.
Nos últimos anos, Tambo Tambulani
Tambo tem organizado um
dos maiores festivais culturais a
nível nacional que conta também
com a participação de artistas internacionais.
Esta actividade da Associação é
vista por Fátima Romero como
uma oportunidade para o crescimento
do turismo com as obras
a serem efectuadas neste Centro
Cultural. “Vão contribuir para o
desenvolvimento de infra-estruturas
culturais da Província onde
poderemos acolher eventos de todos
níveis nacional e internacional
para a população e para turistas”,
destaca.
A cerimónia de lançamento da
primeira pedra foi marcada também
pela exibição da peça teatral
“A Confissão da Leoa” do romance
de Mia Couto, adaptada e encenada
por Victor Raposo. A.S
Victor Raposo, Director do Centro Cultural
Tambo Tambulani Tambu
O
rapper e activista mo-
çambicano Simba
Sitoi foi seleccionado
para o Festival A3C,
um dos mais prestigiados eventos
de Hip-Hop no mundo,
que tem lugar desde o dia 05 a
09 de Outubro corrente, na cidade
de Atlanta, Estados Unidos
da América. Simba Sitoi
vai partilhar o palco com artistas
bem sucedidos no panorama
Hip-Hop ao nível mundial,
com destaque para Rick Ross,
Robert Glasper, Ryan Leslie,
Royce 5’9, Bun B, Red Man,
Erick Sermon, Cam’ron, Bone
thugs N’ harmony entre outros.
O Festival A3C é uma plataforma
de show e conferências
de arte que pretende, através da
música, abordar vários aspectos
da humanidade usando o rap
como ferramenta vital no contributo
da transformação das
sociedades.
Para Simba Sitoi, este convite é
um incentivo e reconhecimento
pelo seu trabalho e deverá ter
impacto na sua carreira numa
perspectiva cada vez mais internacional.
Aliás, a participação
de Simba no Festival A3C é a
prova viva de que os Estados
Unidos da América estão atentos
aos jovens artistas africanos
com talento para influenciar o
Simba actua nos EUA
mundo e dinamizar a indústria
musical.
Esta não é primeira experi-
ência internacional de Simba,
mas a mesma tem um significado
muito importante
para o artista, pois, o primeiro
contacto que teve com a cultura
Hip Hop foi por via de
rappers norte-americanos. E
como forma de reconhecer
este papel, só para recordar, ao
lado do Milton Gulli, produziu
o disco The Heroes, em tributo
aos Tribe Colled Quest,
um trabalho que está na lista
dos 20 melhores álbuns lançados
pela BBE em 2013.
No Festival A3C, Simba será
acompanhado por DJ kenzhero,
produtor e DJ sul-africano
e seu parceiro de trabalho de
longa data. Juntos colaboraram
no mix tape colectivo “Jozambique”.
Simba nasceu em Maputo no
dia 21 de Outubro de 1980.
Cresceu ouvindo músicas de
Ghorwane, Lionel Richie,
Roberto Carlos, Michael Jackson
e outros. Sua paixão
pelo Hip-Hop começou em
1993 quando viu as bandas
norte-americana “De La Soul”
e A Tribe called quest mas só
começou a pensar seriamente
em engrenar nesse mundo
anos depois, e daí nunca mais
parou. A.S
Simba Sitoe
O
jovem fotógrafo moçambicano,
Mario Macilau,
é um dos finalistas do
concurso internacional
de fotografia - Greenpeace Photo
Award – virado para meio ambiente.
Mário Macilau, artista versátil, é o
único concorrente moçambicano
neste concurso de dimensão mundial.
Diferentes vozes influentes da
sociedade, e não só, já apareceram
em público a declarar voto ao fotó-
grafo numa campanha que corre já
para a recta final. Entretanto, Macilau
ainda precisa de votos, sendo
que para o efeito o público deve
clicar no link: http://photo-award.
org/mario-macilau/?lang=en.É
grátis.
Para o artista, este é um momento
fundamental para a demonstração
Macilau no Greenpeace Photo Award
do interesse nacional em relação ao
valor da arte, para compreender e
descobrir o valor dos criadores na
divulgação da imagem real de Mo-
çambique além-fronteiras.
Em parceria com a revista GEO,
a Greenpeace solicitou fotógrafos
de seis continentes para apresentar
projectos ainda não realizados com
um tema ambiental. A partir dessas
apresentações um júri internacional
composto por Peter Pfrunder
(Direktor Foto Fundação Suíça),
Ruth Eichhorn (editor de imagem
GEO), Azu Nwagbogu (Director
do Photo Festival Lagos, Nigéria)
e Greenpeace seleccionados onze
projectos. Participam no concurso
fotógrafos de África, Ásia, Austrá-
lia, Europa e América.
Importa recordar que Mário Macilau
lançou recentemente o seu
primeiro livro de fotografias, intitulado
“Crescer na Escuridão”. A
obra do artista multidisciplinar faz
retrato da vida de rapazes e raparigas
que, por diversos motivos, são
obrigados a procurar abrigo na rua.
As fotografias não têm a inten-
ção necessária de representar estas
crianças. Em vez disso, o trabalho
do artista representa uma tentativa
de dar uma voz, um palco aos petizes:
de iluminar as suas vidas frá-
geis e fugazes. As fotografias concedem
àquelas crianças um espaço
de libertação, por meio do qual elas
podem compô-las, brincar com a
sua imagem e reflectir sobre a sua
própria aparência. As fotos tiradas
compiladas no livro retratam uma
realidade que Macilau conhece melhor
do que ninguém. “Fui criança
de rua durante 15 anos e falo dentro
de um contexto que não é estranho
para mim”, finaliza o fotografo. A.S
I
naugurou a 29 de Setembro de
2016, na Sala de Espera da Kulungwana,
sita na Estação Ferroviária
de Maputo, a exposição
colectiva “Azul e Branco”. A mostra é
resultado dum workshop organizado
pela Kulungwana em parceria com
a Escola Nacional de Artes Visuais,
orientado pela artista plástica Carmen
Muianga, e tem como objectivo
divulgar uma técnica relativamente
nova – a colagrafia. Esta exposição
prolonga-se até ao próximo dia 29
de Outubro.
A colagrafia é uma técnica relativamente
recente, atribuindo-se a cria-
ção do termo ao artista americano
Glen Alps (1914-1996). Já nos finais
dos anos 50, numerosos artistas experimentavam
associar colagens e
outras formas de adesivo a outras
técnicas.
Esta é considerada uma técnica aditiva,
na medida em que os artistas
adicionam material a uma chapa
ou placa que se pretende empre-
“Azul e Branco” no Kulungwana
gar como base da matriz, como o
papelão, o contraplacado ou a madeira
prensada, ao qual são colados
pedaços de tecidos, folhas, papel ou
quaisquer outros produtos para obter
as texturas desejadas. Tinta ou pigmento
é usada na colagem resultante
e a placa é utilizada para imprimir
em papel ou outro material usado
numa prensa de impressão ou com
ferramentas manuais. Existem vários
métodos para aplicação da tinta, e a
imprensa pode ser ou não usada.
A flexibilidade da técnica, o baixo
preço e disponibilidade dos materiais,
e a facilidade com que uma
placa pode ser construída, tornaram-
-na uma opção viável por muitos
gravadores.
Em Moçambique, a grande divulgadora
desta técnica é, sem dúvida,
a artista Carmen Muianga. Ela tem
estado à frente de algumas das iniciativas
realizadas e participado noutras
que se realizaram no país. Assim,
orientou um primeiro workshop no
Núcleo de Arte (na realidade na casa
de Victor Sousa), a que se seguiu a
sua participação numa colectiva –
Memórias II -, em 2012, que teve
a participação dos professores da
Escola Nacional de Artes Visuais,
na Fortaleza de Maputo, a que se
seguiu uma individual – Rapsódia
Urbana –, na Galeria Kulungwana,
em 2015.
A presente exposição é o resultado
de um workshop organizado pela
Kulungwana em parceria com a
Escola Nacional de Artes Visuais
(ENAV), que decorreu durante duas
semanas, entre 27 de Junho e 8 de
Julho de 2016, naquela escola. Nele
participaram artistas que colaboram
regularmente com a Kulungwana,
professores e alunos da ENAV e
mulheres artistas do Núcleo de Arte
– Alberto Ivan, Biafro Nhagumbe,
Calisto Fernando Nequane, Chocate
(Chocate Aly Amido), Eneas Mapfala,
João Timane, Lica Sebastião e
Sílvia Bragança. A.S
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1187 DE OUTUBRO DE 2016
E O PRÉMIO FACEBOOK
DA SEMANA VAI PARA.....
2 Savana 07-10-2016 SUPLEMENTO Savana 07-10-2016 3
MÁRIO WILSON
Um dos nossos grandes DONOS da bola....
Savana 07-10-2016 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naíta Ussene (Fotos) P
erante a situação que o país atravessa não é de estranhar que algumas
figuras que ocultavam os seus posicionamentos face à forma de governar
vindas de outras figuras alheias ao partido no poder no país, hoje as coisas
começam a mudar.
A forma de pensar do passado não se compara com a da actualidade. É preciso
acompanhar as mudanças. Embora a questão de mudanças seja acompanhada
de bastante resistência. Mas a força da história derruba qualquer resistência ao
rumo que essa mesma história queira levar ou traçar.
Não é por acaso que algumas figuras que no passado recente eram conhecidas
por serem fiéis, quando se falava na forma de governação do país, hoje gradualmente
estão a perceber que é preciso abrir espaço no país para que sejam
introduzidas outras sensibilidades anteriormente impensáveis. Não é por acaso
que hoje vemos figuras preponderantes da Frelimo como Sérgio Viera e Jorge
Rebelo a concertarem ideias sobre o actual cenário do país. Mesmo que isso implique
suportar o fumo do cachimbo do Filimone Meigos, Director do ISArC.
A figura do cachimbo só faz recordar o cachimbo man.
Agora já não se fala de outra coisa a não ser como encaixar a nova forma de
governar o país. Em todo o lado é visível nas conversas dos quadros da Frelimo
a preocupação sobre os desafios actuais do partido e seu futuro. Vejam como
Mário Machungo escuta atentamente os dizeres do Óscar Monteiro. É motivo
para dizer que é preciso colher mais sensibilidades para decidir da melhor forma
como enfrentar os futuros desafios que se avizinham.
Alguns chegam a transpirar para fazer vincar o seu posicionamento face à situação
do país. Tentam a todo o custo provar aos outros que os seus fundamentos
são melhores para ultrapassar a situação em que o Moçambique se encontra.
Digo isso porque Manuel Tomé teve de soar um bocado para convecer o empresário
Issufo Ali que seu posicionamento tem fundamento.
Os grandes encontros é geralmente o local onde conhecemos o verdadeiro posicionamento
de algumas figuras da nossa sociedade. Refiro-me à questão partidária.
Muitas vezes, ficam camuflados com os seus pronunciamentos que fazem
pensar que não fazem parte de um determinado partido. Mas quando chega a
hora da verdade não há como esconder. Não foi por acaso que o antigo Director
do Jornal Notícias, Rogério Sitoe, procurou virar o crachá do académico, Gil
Lauriciano. Este procurou disfarçar a descoberta com o esticar de mão para
saudar o recém-exonerado Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Pedro
Couto. Encenação que despoletou um sorriso ao antigo PCA da TVM, Simão
Anguilaze. Há coisas que não dá para esconder.
O futuro do partido parece incerto. Muitos não disfarçam o seu desagrado face
à situação. Parece que o barco da Frelimo está à deriva. A preocupação é generalizada.
Está última imagem é testemunho do que dizemos, é bem visível no
semblante do antigo PCA do IGEPE, Apolinário Panguene, e do antigo Ministro
do Turismo, Fernando Sumbana Júnior, ouvindo o vaticínio do PCA do
Standard Bank, Tomaz Salomão. É preciso ter paciência e esperança diante dos
desabafos de descontentamento.
Desabafos de
descontentamento
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF 0VUVCSP EF t "/0 99*** t /o
1187 Diz-se... Diz-se
Amultinacional petrolífera
britânica BP vai comprar
todo o gás que será produzido
pelo consórcio liderado
pela multinacional italiana
ENI na área 4, Bacia do Rovuma,
província de Cabo Delgado, no
âmbito de um acordo que as duas
companhias assinaram na terça-
-feira.
O negócio é válido por 20 anos e
visa os mais de três milhões de toOFMBEBT EF (ÈT /BUVSBM -JRVFGFJUP
-/(
RVF P DPOTØSDJP FODBCF-
ÎBEP QFMB &/* FTQFSB HFSBS OP TFV
campo de gás em Cabo Delgado.
$PN P BDPSEP BMDBOÎBEP
RVF KÈ UJnha
sido aprovado pelo GoWFSOP NPÎBNCJDBOP
B &/*
deu um passo importante
QBSB B %FDJTÍP 'JOBM EF *Ovestimento
na construção
do seu campo de produção
EF (/- FN .PÎBNCJRVF
" NVMUJOBDJPOBM JUBMJBna
prevê tomar a Decisão
'JOBM EF *OWFTUJNFOUP OP
QSØYJNP NÐT F OÍP RVFS GBzer
depender esta etapa da
mobilização total de todo o
pacote financeiro necessá-
rio para a operação.
$PNFOUBOEP P BDPSEP
1BVM
3FFE
EJSFDUPS FYFDVUJWP EB
#1
BmSNPV RVF P NFTNP
aumenta a diversidade da
BP compra gás do Rovuma
carteira do volume de gás natural
da empresa para lá da década em
DVSTP
JODSFNFOUBOEP B DBQBDJEBEF
da companhia de responder às necessidades
dos seus clientes.
" &/* EFUÏN EB «SFB F
está em negociações com a norte-
BNFSJDBOB &YYPO .PCJM QBSB B
venda de participações nesse bloco.
" mSNB DIJOFTB $/1$ DPOUSPMB
TFOEP P SFNBOFTDFOUF EFUJEP
pela empresa pública moçambicana
&/)
QPSUVHVFTB (BMQ F TVM DPSFana
Kogas.
1PS TFV UVSOP
B ;JUBNBS FTDSFWF
RVF P QSPKFDUP EB &/* UFN HFSBEP
enorme interesse em vários bancos
internacionais e o China Exim
estaria disposto a ser avalista num
FNQSÏTUJNP EF RVBUSP NJM NJMIÜFT
EF EØMBSFT B GBWPS EP FNQSFFOEJmento.
#BODPT DPNP P JUBMJBOP 4BDF
P
GSBODÐT $PGBDF F P TVM DPSFBOP ,Prea
Exim perfilam entre as institui-
ções financeiras internacionais na
dianteira dos potenciais candidatos
B mOBODJBS P QSPKFDUP EB &/*
"MÏN EB &/*
P DPOTØSDJP MJEFSBEP QFMB OPSUF BNFSJDBOB "OBEBSLP
também conta com enormes reserWBT
EF HÈT
EFTDPCFSUBT OB «SFB
"NCBT ÈSFBT UÐN SFTFSWBT RVF TF
aproxima de 200 triliões de pés cú-
CJDPT EF HÈT 5$'
Nos próximos 20 anos
O presidente da Tanzania, John Magufuli, na classe económica
QD(WKLRSLDQ$LUOLQHVHPYLDJHPRÀFLDO
t %FQPJT EP DPNVOJDBEP EP '.*
QBSFDF QSBUJDBNFOUF JOFWJUÈWFM
RVF BJOEB FTUF NÐT TF GBÎBN NFYJEBT OBT UBYBT EF KVSP 0T
CBODPT DPNFSDJBJT
QSFWFOEP UBM NFEJEB QPS QBSUF EP OPWP IPNFN GPSUF EP CBODP
KÈ DPNFÎBSBN B NFYFS OP TFV QSJNF SBUF
$PN P iTQSFBEw OP UPQP EP CPMP
WBNPT B DBNJOIP EPT
NBJT VN GVSJOIP OP DJOUP BQFSUBEP EBT FNQSFTBT
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BQFTBS EPT iQBOJOIPT RVFOUFTw EP 1.
WPMUPV EF NÍPT
a abanar para Washington sem a tal auditoria internacional
JOEFQFOEFOUF
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relação ao ministro da Economia e Finanças.
Em voz baixa
t Depois de uma votação decisiva no “católico socialista” porUVHVÐT
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Savana 07-10-2016
EVENTOS
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EVENTOS
N
o âmbito das celebra-
ções do dia do idoso,
assinalado no passado 1
de Outubro do presente
ano, a Cervejas de Moçambique
(CDM) procedeu à entrega de
“Super-Maheu” – um sumo produzido
com base na mandioca –
ao Centro Comunitário Aberto
de Hulene, na cidade de Maputo.
Com este gesto, a CDM pretende
contribuir para uma alimenta-
ção completa e mais equilibrada
no seio dos idosos acolhidos no
centro em referência.
Na sequência, a Cervejas de Mo-
çambique disponibilizou mil e
duzentas (1200) unidades do produto
“Super-Maheu”, que foram
distribuídas num ambiente de
muita alegria, marcada por canto
e danças entre outras actividades,
CDM apoia Centro Comunitário
aberto do idoso de Hulene
distante dos habituais “desassossego
e carências do dia-a-dia”.
De acordo com o representante
da CDM, Fernando Matico, “esta
acção visa proporcionar um dia
diferente a este Centro Comunitário
Aberto de Hulene, que bem
merece, lembrando o papel que
a comunidade dos idosos a nível
nacional sempre desempenhou
para o desenvolvimento do país
e hoje merecem amor, carinho e
homenagem. A CDM continuará
a valorizar as bibliotecas vivas da
sociedade”, destacou Matico.
Refira-se que o Super-Maheu foi
lançado no mercado no início do
presente ano e é produzido com
matérias-primas provenientes do
distrito de Catandica na província
de Manica, estimando-se que
vá consumir cerca de 120 mil kg
A
companhia de seguros
de Moçambique Ímpar
acaba de lançar,
no mercado nacional,
um novo pacote de seguro habitação
denominado “Mais casa
segura”, com vista a responder
aos desafios do mercado. Trata-
-se de um seguro multiriscos
destinado a garantir aos seus
Ímpar lança seguro
multiriscos para habitação
clientes a protecção da habitação e
do recheio do lar contra situações
imprevistas até ao montante dos
capitais subscritos.
O pacote oferece várias e sólidas
vantagens, destacando-se a facilidade
de pagamento mensal do
prémio. Neste novo produto, existe
a escolha de uma opção para o imó-
vel e outra diferente para o recheio
de modo a adaptar o seguro
ao que o cliente realmente
precisa.
Refira-se que a Ímpar se
mantém na vanguarda da
criação e inovação de seguros
adequados ao mercado mo-
çambicano e para este caso às
necessidades de segurança e
protecção de cada lar.
de milho por ano, o que obriga
o envolvimento de 2000 produtores
para o seu cultivo, com um
investimento que rondou cerca
de três milhões de dólares norte-
-americanos.
Savana 07-10-2016 EVENTOS
2O
Banco Comercial e de Investimentos
(BCI) voltou
a apoiar, pelo terceiro ano
consecutivo, o programa
de bolsas promovido pela Embaixada
de Portugal em Moçambique
e que conta com a colaboração
do Instituto de Bolsas de Estudo
(IBE).
A cerimónia de apresentação dos
estudantes que irão para Portugal
ao abrigo deste programa teve lugar
na passada sexta-feira, na cidade de
Maputo, e contou com a presença
da nova embaixadora de Portugal
em Moçambique, Maria Amélia
Paiva, do Director-geral do IBE,
de administradores das empresas
patrocinadoras e de estudantes bolseiros
e seus familiares.
Para o Director-geral do IBE, Octávio
Manuel de Jesus, o apoio da
embaixada e das empresas patrocinadoras
foi inestimável para que
este sonho se tornasse realidade.
“Como Governo de Moçambique
sentimo-nos orgulhosos por esta
cooperação com Portugal. Moçambique
e Portugal compreenderam
que uma das formas fundamentais
para alcançar o desenvolvimento
é exactamente a formação de quadros.
Desde a independência já foram
formados em Portugal muitos
quadros moçambicanos que deram
a sua contribuição em diferentes
BCI apoia bolseiros
moçambicanos em Portugal
áreas. Temos, actualmente, em Portugal
cerca de 200 estudantes no
âmbito deste programa. Temos estudantes
a fazer licenciaturas, mestrados
e doutoramentos.”
Por seu turno, o assessor da Administração
do BCI, Luís Aguiar,
referiu: “apoiar os bolseiros mo-
çambicanos é responder a um desafio:
o de assegurar um futuro mais
promissor e mais seguro, apostando
na qualidade técnica que os futuros
graduados irão garantir. Estamos
pois convictos de que esta é uma
excelente iniciativa para o País e
formulamos votos para que ela perdure
e dê muitos e bons frutos.”
Este ano, o BCI irá apoiar o estudante
Eudes Chambule, que seguirá
dentro de dias para a Universidade
de Coimbra, em Portugal, para
estudar Gestão. “Espero adquirir
muitos conhecimentos de modo a
ajudar, no futuro, o meu País. Sei
que Coimbra é um lugar sossegado,
bem diferente da agitação de
Lisboa ou do Porto. Assim, posso
concentrar-me mais e estudar melhor”,
assegurou Chambule.
Refira-se que, ao abrigo deste programa,
o BCI apoia actualmente
duas bolseiras, nomeadamente,
Marcela Alberto e Suleima Gulamo,
que frequentam os cursos de
Licenciatura em Economia e Gestão,
na Universidade Nova de Lisboa
e na Universidade de Coimbra,
respectivamente.
O
Centro Cultural Franco-
-Moçambicano (CCFM),
acolheu na Sexta-feira,
30 de Setembro de 2016,
no palco do auditório, o concerto
“Born to Be Black – a Celebration
of the Conscious Soul”, protagonizado
pelos músicos Louis Moholo
(bateria), Andile Yenana (piano),
Prof. Salim Washington (clarinete
baixo, flauta e oboé).
Born to Be Black - a Celebration
of the Conscious Soul leva-nos
numa viagem por territórios musicais,
onde as sonoridades estão
constantemente em fluxo. Este é o
culminar de um esforço para trazer
um diálogo entre gerações, nomeadamente,
entre as improvisações
intensas do piano de Andile Yenana
e o dinamismo extraordiná-
rio do percussionista sul-africano
Louis Moholo, que desempenhou
um papel fundamental na influente
comunidade de exilados sul-africanos
que transformaram a evolução
do jazz britânico desde os anos 60,
e ainda o saxofonista de jazz americano
Salim Washington. Estas três
figuras maciças da paisagem musical
sul-africana apresentam-se a
par do colectivo Amandla Freedom
Ensemble, liderado pelo jovem
trompetista Mandla Mlangeni, já
conhecido do público moçambicano.
“Born to Be Black” no CCFM
Descrito pelo Jazz Times (EUA)
como um “conjunto de artes urbanas
que envolve melodias elípticas
em harmonias de três partes,
balançando como lustres quebrados”,
o conjunto foi amplamente
difundido pelas regiões da SADC
e, até o momento, participaram
em inúmeros eventos, tais como o
Festival Internacional de Artes de
Harare no Zimbabwe e o Festival
MTN Bushfire na Suazilândia
com algumas visitas subsequentes
a Maputo. Como consequência do
lançamento de um CD de sucesso e
uma nomeação posterior a Melhor
Álbum de Jazz tem resultado numa
série de colaborações e performances
com muitos e diversos artistas
tais como Afrika Mkhize, Herbie
Tsoaeli, Mark Fransman e vários
outros compromissos notáveis. O
Amandla Freedom Ensemble está
constantemente a captar a atenção
de muitos apreciadores de jazz e
novas audiências.
Born To Be Black - a Celebration
of the Conscious Soul baseia-se
num grupo vibrante de músicos
com um apetite para diferentes gé-
neros musicais num ambiente para
todos os tipos de público colocando
lado a lado cânticos vibrantes sul-
-africanos e fascinantes ressonâncias
de tambores, assumindo-se em
todos os sentidos numa proclama-
ção da rica história musical africana.
A.S
Savana 07-10-2016
EVENTOS
3
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Savana 07-10-2016 EVENTOS
4
O
Millennium bim inaugurou,
recentemente, um
balcão em Matutuíne, na
província de Maputo, no
âmbito da parceria estabelecida
com os Correios de Moçambique,
no final de 2015, que tem como objectivo
promover a bancarização e
Millennium bim reforça aposta no distrito de Matutuíne
inclusão financeira das populações
através da integração de balcões e
implementação de agentes bancá-
rios em agências dos correios.
A inauguração deste balcão implicou
a requalificação de um edifício
dos Correios de Moçambique que
passa agora a oferecer produtos e
serviços financeiros do Millennium
bim, bem como os serviços postais
dos Correios.
Este novo balcão vai servir os cerca
de 52.700 habitantes do distrito.
Com a presente inauguração, o
Banco passa a contar com 173 balcões
espalhados por todas as províncias
do país, dando resposta às crescentes
necessidades das populações
locais e reafirmando o compromisso
do Banco em apoiar a economia,
promovendo a inovação e o desenvolvimento
do sistema financeiro
nacional.
A actuação do Millennium bim, no
distrito de Matutuíne, não se esgota
na abertura do novo balcão. Desde
2010, o Banco tem vindo a apoiar,
no âmbito do seu programa de responsabilidade
social – Mais Mo-
çambique pra Mim, a Missão São
Roque. Uma instituição sem fins
lucrativos, situada na Vila da Bela
Vista, que tem a seu cargo 50 crian-
ças com idades compreendidas entre
os 05 e 15 anos.
O
Ciclo do Documentário
Institucional (INSTIDOC)
vai exibir 27 filmes
documentais de 18 países
durante a terceira edição, que terá
lugar entre os dias 11 e 15 de Outubro
corrente, no Centro Cultural
Franco-Moçambicano, na cidade
de Maputo.
A programação de 2016 deste ciclo
de cinema é composta por filmes
que incidem sobre as temáticas de
Agricultura, Ambiente e Sustentabilidade,
Cultura, Direitos Humanos,
Desenvolvimento Social,
Educação, Género, Recursos Naturais
e Saúde. O ciclo resultade um
criterioso processo de selecção num
grupo de mais de uma centena de
candidaturas nacionais e internacionais.
Com 14 documentários, o equivalente
a mais de 50% da programação,
Moçambique é o país com
maior representatividade no ciclo
de cinema, o que não só comprova a
excelência dos conteúdos nacioO
INSTIDOC promove
cinema documental
em 18 países
nais, mas também o compromisso
do INSTIDOC para com a sua
divulgação. Para além de Moçambique
foram ainda seleccionadas
produções da África do Sul, Bélgica,
Brasil, Cabo Verde, Dinamarca,
Estados Unidos da América, Filipinas,
Guiné-Bissau, Haiti, Holanda,
Madagáscar, Paquistão, Reino
Unido, República Democrática do
Congo, Rússia, Suazilândia e Tanzânia.
Lançado em 2014, o INSTIDOC
é uma plataforma dedicada à divulgação
de documentários, cujo
conteúdo manifesta um inequívoco
valor de interesse público, sendo o
Centro Cultural Franco-Moçambicano
o seu principal parceiro de
organização.
Além de promover trabalhos de
realizadores independentes e de
produtoras audiovisuais, a iniciativa
quer estimular a produção de
novas obras ao garantir um espaço
público para a sua exibição, assim
despertando o interesse institucional
pelo apoio à realização de documentários
e às indústrias criativas.
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