sábado, 8 de outubro de 2016

A transparência como arma

EDITORIAL
Estamos atentos à forma como o Gover­no moçambicano está a gerir os negócios do Estado, desde que, quase todos, fomos colhidos de surpresa com as chamadas dí­vidas ocultas. Primeiro, pela maneira não precipitada como o Executivo do dia encarou esta situação e depois pelos caminhos que escolheu para que o país encarasse as consequências nocivas daí resultantes.
Na verdade, as dívidas ocultas, que outros consi­deram escondidas, foram uma das principais armas de arremesso contra o Governo saído das eleições de Outubro de 2014, abraços, nessa altura, com os desastres naturais que impiedosamente puseram o país de joelhos, precisamente uma semana antes de o novo Governo tomar posse.
As calamidades naturais voltaram a dividir o país em duas partes, em 2016, em regiões de seca e es­tiagem, por um lado, e de cheias e inundações, por outro. Ambos os casos eram de anormalidade reco­nhecida, visto que se por um lado não se podia pro­duzir, por outro, a produção conseguida não podia servir o país como um todo, porque uma outra ca­lamidade, desta feita humana, consubstanciada em ataques, matanças e sufoco da economia nacional, desenvolvida pela Renamo, inviabiliza a circulação de pessoas e bens em território nacional.
O quarto factor é global. Trata-se da crise económica e financeira mundial que afecta quase todos os países, a nível planetário, em que Moçambique, para se desenvolver, depende da exportação de matérias-pri­mas, a partir, sobretudo, de recursos naturais, que na sequência, entretanto, se foram desvalorizando, ressentindo-se assim de forma severa com a situa­ção, tendo em conta que o que internamente se con­some é produto de importação.
É em face destes quatro factores desestabilizadores da nossa economia e da convivência normal entre os moçambicanos que aparece o Executivo de Filipe Nyusi a enfrentá-los, numa atitude totalmente transparente de quem nada tem a esconder.
Em primeiro lugar, dizendo aos moçambicanos que os caminhos para a saída da crise passam pela produção nacional, pelo que a solução não virá do quintal dos outros e, a partir daí, lançar uma cam­panha presidencial pela valorização do que é nosso, que passa pelas iniciativas na agricultura, pecuária, pescas e inovação nas mais diversas áreas produ­tivas. Ficou claro no posicionamento do Executivo que não devíamos confiar na produção dos outros,
 tínhamos de contar com as nossas próprias forças, de modo a fazer com que produzamos e importemos menos do que precisamos para consumir.
Em segundo lugar, e em relação às dívidas ocul­tas, o Executivo, não contradizendo a ideia prevale­cente de transparência, abriu as portas para que o país fosse ajudado a esclarecer o imbróglio, porém, respeitando a soberania nacional, assente nas auto­ridades instituídas, para que Moçambique voltasse a merecer confiança.
Nessa senda, as autoridades do país, ao seu mais alto nível, viajaram pelo mundo fora, numa diplo­macia sem par, com vista a mostrar a sua própria cara, e dizer presente a todos os que pretendiam mais esclarecimentos, e, no fim, os homens de bem parecem estar a perceber esta mensagem, valendo­-nos dos louros que vêm sob forma de comunicados e declarações de diplomatas e chancelarias congra­tulando as autoridades nacionais.
Da mesma forma, o mundo está a ficar in­formado que aquilo que se apelida de crise político-militar em Moçambique tem só um único responsável: a Renamo, que faz de­mocracia com armas em punho, matando civis, condicionando a vida socioeconómica e cultu­ral de todo um povo e caminhando a passos largos para uma situação de violação crassa dos direitos humanos. É a Renamo que não se arrepia por ser o único partido armado no mundo inteiro, que está representado num Parlamento nacional, fazendo de Moçambique um país singular no planeta com uma democracia anormal.
Moçambique, bem dito, que não tem nada a es­conder, escancarou as suas portas para todos os que queiram saber da verdade sobre os principais problemas que o apoquentam, bastas vezes pinta­dos com cores de certa animosidade derivada de interesses inconfessáveis, contrários ao bem-estar do seu povo.
O país continua, desde 1994, a cumprir o calen­dário eleitoral e de democratização, igual ou melhor que os outros países da região e do mundo, mas há, como em qualquer país de democracia emergente, aqueles que pensavam que a democracia é um exer­cício fácil e irresponsável.
Aqui no domingo aplaudimos todas as inicia­tivas responsáveis visando o engrandecimen­to da nossa democracia, em primeiro lugar. Ficamos de pé quando notamos que a trans­parência tem sido uma arma potente que o Governo vigente usa para a sua defesa contra os mal­-entendidos, porque entendemos que por aí atacare­mos o resto dos males, incluindo a corrupção, e porquê não, como diria Samora Machel, os sanguessugas!
Aqui no domingo somos pelo respeito pelas ins­tituições das quais esperamos o veredicto final so­bre o que hoje é dúvida, porque entendemos que em democracia a separação de poderes e de responsa­bilidades é que manda.
JORNAL DOMINGO – 09.10.2016

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