sexta-feira, 7 de outubro de 2016

À busca de um interlocutor válido



Num 'post' intitulado "A incompleta remodelação do Presidente", Marcelo Mosse despoletou uma discussão sobre a gestão do pelouro dos recursos minerais e energia na República de Moçambique.
Eu venho aqui com uma sugestão...
Um gestor público para o pelouro dos recursos minerais tem que ser alguém que comunga duas coisas indispensáveis, designadamente (i) a sensibilidade técnica nos domínios de políticas de gestão e de exploração sustentável de reservas de recursos minerais e (ii) conhecimento de esquemas de negociação de contratos de exploração comercial vantajosa e sustentável de recursos minerais. Isto para além da integridade moral e cívico-patriótica.
Ora, eu conheço três moçambicanos da nova geração que reúnem estas qualidades, todos eles professores associados do Departamento de Geologia da Universidade Eduardo Mondlane. Seus nomes são (por ordem de preferência):
1. Salvador Mondlane (especialista em gestão de recursos minerais);
2. Isidro Manuel (especialista em gestão de recursos minerais); e
3. Mussa Achimo (especialista em sedimentologia)
O Presidente Filipe Nyusi pode e deve servir-se de quadros que o país já formou e que têm escola de integridade moral e competência técnica comprovadas, para gerir áreas-chave da nossa economia, qual a área de gestão dos recursos minerais de que Moçambique foi abençoado.
Posto isto, estou a recordar-me que alguém alguma vez perguntou-me:
«Tu só andas por aí sugerindo nomes de outros para possivelmente assumir responsabilidades neste país (Moçambique). Nunca te ocorreu que tu também podes gerir algo? Já agora, em que é que te achas competente, em matéria de gestão pública?»
A minha resposta foi a seguinte:
«Eu posso gerir qualquer área pública que tenha a ver com ciências naturais (física, química, biologia e ciências da Terra, incluindo ambiente—terra, ar e água) e, também, com negociação de acordos de cooperação mutuamente vantajosa. Tenho esta convicção por duas razões. A primeira é que, posso dizer aqui e com propriedade, eu tenho a radiografia do quadro técnico-profissional que Moçambique possui, e do que precisa e ainda não tem, nas diversas áreas da vida económica e social deste país. A segunda é que conheço as leis fundamentais que regem o funcionamento dos sistemas materiais, e sei que a sociedade humana é um sistema material cuja dinâmica é determinada não só pela necessidade de sobrevivência, mas também pelas necessidades de auto-estima e auto-superação. Esta segunda razão é, afinal, o que torna a política necessária no contexto da vida humana.«
«Assim, é minha concepção que governar é um jogo de xadrez em equipes. O jogo de xadrez admite empate. Politicamente, o bom jogo é aquele que conduz a empates. Eu sei negociar para não ganhar sozinho. Ganhar sozinho não é bom, porque gera conflitos, e até guerras fratricidas. Por isso, para evitar conflitos ou guerras, uma negociação tem que ser conduzida de modo a que as partes envolvidas ganhem proporcionalmente à sua inteligência (em oposição à sua capacidade material). Quando a inteligência de qualquer das partes evolui, surge a necessidade de uma nova negociação para ajustar proporção dos ganhos das partes à proporção da evolução intelectual registada. Só este ciclo de negociações pode assegurar uma paz efectiva nas sociedades humanas.»
Pena foi que o meu interlocutor depois só emitiu uma interjeição de quem gostara da resposta, ao mesmo tempo que a não entendera. E eu que esperava um debate, fiquei falido de interlocutor. Por isso trago o assunto aqui, esperando saber da tua opinião... O que tu que me lês tens a dizer sobre o que acabas de ler?
Com votos de um feliz fim-de-semana, sem excessos!
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PS: Não há nenhuma contradição entre o que eu disse sobre negociação e a tese de que a paz só se mantém pela força. A negociação para alcançar ganhos proporcionais à inteligência de cada uma das partes envolvidas é um mecanismo de transmissão da força necessária para a manutenção da paz. Quando a negociação não ocorre pacificamente, recorre-se ao uso legítimo da força das armas, com a infelicidade de que a maioria das vítimas é inocente. Este é que é o real custo da vida humana.


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Uma resposta mais elaborada ao Efraimo Neves

Efraimo, tu convocaste-me ao teu mural, na sequência da notícia publicada hoje pelo "Africa Confidential", um órgão de comunicação social lá da Inglaterra, dando conta de mais uma pretensa «dívida oculta» contraída pelo Governo de Moçambique para a compra de material bélico.
Em jeito de uma resposta mais elaborada à pergunta que me colocas no teu 'post', remeto-te à mensagem partilhada nas redes sociais, depois que foi recebida por Marcelo Mosse, via email, e que transcrevo a seguir.

------ INÍCIO DE MENSAGEM TRANSCRITA ------

Meu Caro (Marcelo),
Estamos assistindo à queda do império frelo (Frelimo era outra coisa). Vai ser ruidoso. Devastador nalguns aspectos, perigoso em muitos outros. E, com um final absolutamente imprevisível.
Quando este pessoal se meteu nas tão badaladas golpaças das chamadas dívidas escondidas, os tipos, ou por excesso de álcool ou por profunda ignorância, acharam-se donos do mundo, e desataram a fazer o que lhes apeteceu ou lhes sugeriram.
Acontece que a finança internacional está cada vez mais regulada, as golpaças financeiras já não passam tão bem, seja na Suíça, em Moscovo ou Pequim. Mas eles ignoraram tudo isso. Agora, estão a contas também com o FBI! Estes, por inerência de funções, não podem deixar passar estas golpaças sem ver do que se trata, se não há terrorismo à mistura, lavagem de dinheiro, etc. e, nesta data, já estão carecas de saber, quanto dinheiro foi desviado, para que contas, o que se comprou com ele, etc., etc. Por isso, instruíram o FMI—ou se faz uma auditoria forense ou não há
nada entre nós e vocês. Isto, não é um pedido, é uma ordem! O FMI é credor de Moçambique não é capanga de Moçambique. A estratégia dos “espertos” foi a da fuga para a frente. Mais uma vez, ou por efeito do álcool ou por profunda ignorância. Mas, nesta última reunião, o FMI, disse isso na cara do nosso querido presidente—amigo, esta brincadeira acabou! Chegou-se ao fim da linha.
E o que vai acontecer?! A Lava Jato brasileira mostrou ser o método mais barato e pacífico de derrubar um governo com 54 milhões de apoiantes. Por isso, não tenho dúvidas que, também aqui, alguns iminentes vão parar à cadeia! É isso que os cowboys também querem, por vingança, por causa dos subornos que tiveram de pagar pelas concessões de gás, e pelo vexame, quando o guebas os mandou à merda, quando queriam que ele lhes entregasse os barões da droga, os quais protegeu até ao fim.
Os frelos estão encurralados e, com muito medo. E já não duvidam que têm a cabeça a prémio.
Num encontro ocasional que tive com um iminente, dizia-lhe eu:— façam as concessões todas que a renamo quer antes que seja tarde. Depois, todos vamos concluir que não há meios de as concretizar. Mas isso será outra história. No próximo ano o país é ingovernável e o povo vai revoltar-se, e aí, será o nosso fim. Resposta:— eles querem a nossa cabeça, e isso é demais!
A tão badalada aliança chinesa com que sempre sonharam, já não lhes serve de nada.
Actualmente, os cowboys já não disfarçam o seu confronto político aberto com os russos e chineses, em qualquer parte do mundo. Hoje, a Síria é um claro exemplo. E está ficando claro, que inclusivamente aqui, se está montando o palco. A última cena na Base das Lages, nos Açores, é elucidativa. Os cowboys fizeram o presidente chinês esperar pela aterragem de seis dos seus aviões militares, antes de autorizarem a descolagem do avião presidencial.
Em termos protocolares isso não se faz, é um insulto. A mensagem foi clara: não iludam os tugas, porque mesmo na nossa ausência, não vos queremos nas Lages!
O império dos cowboys também está a cair, daí uma desmedida agressividade contra tudo e contra todos! Por isso, nestas próximas eleições, será presidente quem der mais confiança à máquina de guerra, quem estiver pronto(a) para puxar o gatilho! Se o derrube dos frelos não for pela via da auditoria, como tudo indica que será, vai por outra. A renamo foi posta em standby. Os cowboys não precisam de gastar muito para a mandar tomar o poder pela força! Mas acho que os frelos, a julgar pelo incendiário pedido de armas para o povo acabar com a renamo, consideram isto impossível, tal é a bebedeira!
Em Portugal, com a mudança da direcção da Caixa Geral dos Depósitos, vieram à superfície novas escandaleiras. A recapitalização da Caixa não é um assunto pacífico, nem exclusivamente português. A União Europeia quer saber como, porquê e porquanto, o governo português precisa capitalizar a instituição. Então, a nova direcção começou a vasculha das contas—a clássica auditoria. E aí, veio a público que, afinal, há um jovem empresário moçambicano devedor à caixa por uns meros 60 – 80 milhões de euros, por um empréstimo que lhe foi concedido para comprar 18% do capital do BCI. Que o jovem não vale nem 1% desse valor todo o mundo sabe. Mas fica mais estranho que fosse acordado com os credores (a Caixa), que esse empréstimo seria garantido por acções do BCI e amortizado com os lucros/dividendos que o próprio BCI distribuísse. Como o BCI não tem distribuído lucros, o jovem mandou dizer que não paga o empréstimo. Num país normal o jovem era demitido de ministro por se considerar pouco ético e obscuros os interesses do negócio das partes. E, se Portugal fosse também um país normal, ia para a pildra o ex-conselho de administração da Caixa que autorizou um empréstimo de uma instituição pública, em tais condições.
Que empresário brilhante tem Moçambique!
Passei alguns anos na banca, fundei bancos e nunca consegui comprar participações desta maneira. Sou burro! Recordo-me apenas de um caso idêntico, com o falecido Champalimaud, que comprou um banco com o cheque do próprio banco! Mas isso foi no tempo da outra senhora, sem os chamados Acordos de Basileia I e II que regulam o sector financeiro internacional.
Mesmo bem lida, a legislação financeira da nossa república não permite essa operação sem que o banco Central faça muitas perguntas, e solicite respostas por escrito! Teoricamente foi contraído um considerável empréstimo externo, (quem o autorizou?) cuja garantia são acções de um banco local (e se for à falência?), a ser amortizado com dividendos do próprio banco (quantos anos para pagar capital e juros? Os juros não pagos acrescem à dívida?). E tudo isto, todo este estranho negócio, faz-se em troca de quê, exactamente? Mas o Gove não fez perguntas porque sabia que os 18% comprados por esta via pertencem ao patrão dele, que graças a isso, o manteve governador durante o seu mandato!
O jovem empresário afinal, é provavelmente dono apenas de umas quantas empresitas falidas que nem salários pagam—dono de um imperiosito falido!
Portanto, quando o nó górdio for para a cadeia, toda a teia se desfaz e, com ela, uma boa parte da actual máquina do poder! Venham as pipocas, sentemo-nos, para ver o filme!

------ FIM DE MENSAGEM TRANSCRITA ------

Posto isto, quero crer que tu, Efraimo Neves, agora podes entender o porquê do endividamento do Estado moçambicano para a compra de armamento e, também, o porquê do nervosismo do G14 e seus FMI e GBM com estas movimentações do Governo de Moçambique. Quero crer que, se tu confias nas fontes do Marcelo Mosse, como já provaste a mim que confias, então agora estás a entender o móbil dos ataques terroristas da Renamo e a dimensão do problema real: a guerra é financiada para facilitar a extracção do carvão, do gás, do petróleo, da bauxite, do urânio, das predras preciosas, das florestas, dos troféus de rinocerontes e elefantes, do atum e outros recursos naturais de Moçambique, sem pagar o preço real—o preço de mercado. Este é o mesmo esquema que está actualmente em voga no Iraque e na Síria! O Governo de Moçambique—liderado pela Frelimo—está a preparar-se para oferecer uma resistência possível contra a implementação deste plano de saque. Contrariamente, aRenamo está a ser financiada para viabilizar o saque.
Agora, Efraimo Neves, o que é que tu apoias, em troca dos dólares emprestados pelo FMI para o financiamento irrisório da tua economia de modo que NUNCA possas sair dependência desses dólares? E tu Homer Wolf e o resto da turma, apoiais o quê?

Vamos lá pôr as nossas cabeças a trabalhar pah!
With the world's fastest falling currency and one of its most damaging debt burdens, Mozambique faces a still harsher regime of economic austerity as claims…
AFRICA-CONFIDENTIAL.COM
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Comentários
Manuel Moises Americo Parabéns ilustre Julião João Cumbane pela bela observação aos actuais acontecimentos. E gostaria de lembrar a muitos amigos que Moçambique é um Estado como qualquer outro e para tal tem a sua inteligência activa. Imaginem meus caros se o Estado Moçambicano não tivesse se rearmado enquanto que a RENAMO o fazia (estava se armando), o que seria deste país hoje. E não se esqueçam que o FMI não concede empréstimos para compra de armas, mas nós como Estado precisamos delas.
Gosto22 h
Efraimo Neves Uma questão prévia: um bom gestor público (governo) deve prever e não dar razões factuais para que qualquer um use algum pretexto para desestabilizar o país.
1. A dívida pública em si não é má , desde que ela seja contraída para beneficiar o seu povo 
(razão da existência do governo );
2. estas dívidas foram contraídas de forma pouco clara, e com muitas zonas de penumbra;
3. O estado pode e deve garantir a segurança do está do, mas é preciso que haja uma politica clara de como é que isso procede. O estado contraiu dívidas soberanas para compra de material de guerra para entre outras coisas proteger à costa, então como se explica que até hoje Moçambique esteja a perder de pesca ilegal cerca de 67 milhões de dólares? 
4. A Ematum uma das empresas resultante das dívidas, não consegue pagar a dívida, seus funcionários estão a dois meses sem salários e recebem de forma irregular, entretanto empresas ilegais nacionais e estrangeiras estão a delapidar a nossa costa! 
5. Todas as dividas são dispoletadas de fora para dentro e cá entre nós vezes sem conta desmentem meia volta não é bem assim e não sei quantos. 
6. Em virtude destas dívidas minha qualidade de vida deteriorou, o custo de vida triplicou. 
Agora é para eu confiar em alguém que furou o meu bolso Ilustre Julião João Cumbane?
Gosto1 h
Julião João Cumbane «Em virtude destas dívidas minha qualidade de vida deteriorou, o custo de vida triplicou.» (sic). É grande burrice creditar nisto,Efraimo Neves. Significa que não conheces o mundo em que vives, daí que não saibas fazer gestão da dor da ferida resultante de uma cirurgia a que foste submetido para te curar um cancro. Querias que todo o mundo soubesse que «a República de Moçambique vai adquirir militar para o reforço da sua capacidade de defesa»? 

A ingenuidade política da «geração de viragem» é de bradar aos céus! 

"Quo vadis, Moçambique"?
Efraimo Neves O facto é que o custo de vida aumentou porque a inflação subiu, a taxa de câmbio subiu em mais de 100% , o metical continua em derrapagem, e os os dólares emprestados pelo FMI e parceiros embora que "irrisórios" , fazem nos muita falta, tanto é que o governo aceitou uma auditoria independente contra sua vontade e implorou para que o FMI começasse a dar algum dinheiro. 
Supondo que os objectivos para os quais as dividas foram contraídas são genuínas então como se explica o exposto nos pontos 3 e 4 do meu último comentário mais velho?
Gosto14 min

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