domingo, 11 de setembro de 2016

Registam gado em vez da casa

AUTARQUIAS: Registam gado em vez da casa

O presidente do Conselho Municipal da Cidade de Xai-Xai, Ernesto Chambisse, afirma que o alargamento da base tributáriaé ainda um grande desafio na sua edilidade, pois implica objectivamente o registo. “Nós temos problemas sérios com isso, não só aqui em Xai-Xai, pois esse é um problema moçambicano.As pessoas preferem registar gado do que a sua casa. Muitas casas que temos aqui à volta não estão registadas. Se estivessem, o Imposto Predial Autárquico (IPRA) seria o forte do nosso município.
Mas só pelo facto de colocar a palavra “predial” na designação do imposto, a pessoa, quando tem um terreno, mesmo infra-estruturado, diz que eu não tenho prédio, porquê tenho de pagar este imposto?”
O elenco de Ernesto Chambisseconstruiu recentemente dois postos de cobrança de impostos nos postos administrativos, nomeadamente, posto de Inhamissa e Patrice Lumumba com a finalidade de facilitar toda a colecta de receitas fiscais e alargar a base tributária.
Agora estamos preocupados com a construção dum posto de cobrança no Posto Administrativo da Praia, porque a praia continua longe. Mas, em termos de densidade populacional de contribuintes, olhamos mais para Inhamissa e Patrice Lumumba, por serem zonas densamente habitadas e com muitas actividades económicas”, refere.
Foi a partir deste mote que iniciamos a nossa conversa com o edil. Como o município lida com os desafios do aumento do número de contribuintes?
O melhoramento da colecta das receitas é outra das nossas apostas, por isso precisamos de alargar a base tributária. O alargamento da base tributária implica objectivamente o registo. Nós temos problemas sérios, não só aqui em Xai-Xai, porque esse é o nosso problema moçambicano.
Que problemas sérios são esses?
As pessoas preferem registar gado, do que registar a própria casa. Essas casas que temos aqui à volta não estão registadas. O Imposto Predial Autárquico (IPRA) seria o forte do município. Mas só pelo facto de colocar a palavra “predial” na designação do imposto, a pessoa quando tem um terreno, mesmo infraestruturado, diz que eu não tenho prédio, porquê tenho que pagar este imposto? Mas quando se diz Imposto Predial Autárquico não se refere ao prédio apenas, refere-se ao espaço físico infraestruturado, com água canalizada, energia. A pessoa precisa de pagar.
E como se comportam em relação aos outros impostos?
O outro imposto, que é uma grande aposta nossa é o Imposto Pessoal Autárquico (IPA), porque as pessoas não têm o hábito de pagar IPA. A pessoa, que paga o IPA, é funcionário e esse é descontado directamente no serviço. Paga o IPA quem quer abrir uma barraca. Quem tem um projecto a aprovar, porque no acto do requerimento é necessário anexar a senha do IPA.
O que fazer para inverter essa situação?
Nós estamos a trabalhar, inclusive, com algumas igrejas, em termos de divulgação ou popularização de diferentes tipos de impostos. Estamos a tentar demonstrar que os impostos que vocês pagam resolvem este e aquele problema.
Dê-nos alguns exemplos…
Há pouco tempo estávamos a entregar carteiras. O que nós repetimos várias vezes é que aqui não há novidades: estas carteiras foram compradas com o dinheiro que vocês pagam na banca do mercado, na barraca, para a sua licença como vendedor ambulante. É esse dinheiro que está a comprar estas carteiras. Esta escola que nós recebemos a tarefa de construir, está a concretizar o vosso desejo. Então, as pessoas começam a compreender a necessidade de se ter que pagar os impostos, mas o assunto imposto não é fácil.
O senhor já está a meio do seu mandato. Que balanço faz das realizações que estavam arroladas no plano?
Acabámos de aprovar a um teste difícil da avaliação do manifesto feito pela estrutura do partido na província. O município de Xai-Xai saiu-se bem.Também tivemos alguma felicidade em relação àquilo que tentamos realizar. A coisa não chega a dar 100 por cento de satisfação, porque há problemas de recursos, mas aquilo que é o nosso manifesto, de 2014 até agora, a nossa realização ronda acima de 60 por cento.
Quais são as actividades já realizadas?
Na área do desporto, reabilitámos vários campos desportivos e já são utilizáveis. Há campos que já estavam mortos e isso dificultava a mobilidade dos jovens. Contudo, temos a obrigação de reabilitar mais quatro campos nas escolas que foram afectadas pela erosão. Este é um ano de poucas realizações.
Porquê?
Já devíamos ter mais dois campos reabilitados, mas os meios não eram suficientes. Há mais que reclamam reabilitação, inclusive, tivemos de reabilitar um campo dum clube que está no campeonato provincial.
Como está o município em termos de abastecimento de água?
Construímos um pequeno sistema. Temos um camião cisterna. Colocámos dois tanques de mil litros, cada, em três comunidades que enchemos duas vezes por semana. Antes disso, vinham buscar água para beber aqui na cidade, mas agora elas ganham mais tempo para irem à machamba e para outras actividades.
E na componente social?
Temos reservado uma certa percentagem de valores para aquisição de meios de compensação, por exemplo, para deficientes. Já fizemos isso várias vezes, com a compra de carrinhas de roda, motorizadas para deficientes, entre outros. Já adquirimos acima de 30 meios. Inclusive ajudamos um jovem que graduou recentemente na Universidade Pedagógica. Ele não tinha meios de locomoção. Começámos por lhe dar uma bicicleta que era para se locomover. Mas depois comprámos um motociclo para ele porque vivia longe da escola e continuava a sofrer para pedalar com as mãos a bicicleta. Também construímos uma casa para uma idosa que não tem filhos, porque todos faleceram, e é responsável por um neto de 13 anos. Eles viviam ao relento.
Bonito esse gesto…
Infelizmente, quando estávamos a terminar a construção, ela faleceu, mas o neto ficou lá. Tem agora 14 anos de idade. Ele foi acolhido por uma família, pois o acordo foi de que se devia arrendar aquela casa para sustentar os seus estudos. Nós mobilámos minimamente a casa para se viver. Comprámos uma mesa, cama, cadeira, panelas e colocámos energia.
EROSÃO PROVOCA CRATERAS
Quais são as outras actividades que congregam ou concretizam estes 60 por cento de realização a que se referiu?
Falamos de 60 por cento de realização no campo de construções, abertura de novas vias de acesso, recolha de resíduos sólidos. A cidade de Xai-Xai já foi avaliada como sendo a cidade mais limpa do país, porque há um esforço enorme na recolha de resíduos sólidos. Aqui no campo da recolha de resíduos sólidos, o nosso calcanhar de Aquiles é a questão dos aterros sanitários.
Não tem aterros?
A cidade de Xai-Xai não tem um aterro sanitário qualificado como tal. Então, todo o resíduo sólido que recolhemos, que vai em boas toneladas, usámo-lo para o tapamento das ravinas. A cidade de Xai-Xai é uma espécie de uma tábua flutuante, pois estamos cercados de mar e rio, o que nos expõe à erosão. Por outro lado, a configuração do relevo é formado por dunas. Sempre que chove surge uma erosão acentuada. Há zonas de dunas em que se abrem crateras grandes que acabam ameaçando algumas residências que naturalmente estão por cima das dunas.
Que saída para esses casos?
A estratégia que adoptámos foi identificar as crateras que constituem uma ameaça para as residências. Canalizamos os resíduos sólidos para essas zonas.
Mas estávamos a falar ainda das realizações do mandato…
Duma maneira geral, o plano está em realização. A nossa primeira avaliação foi muito boa. Não estamos satisfeitos, mas também não estamos aflitos.
Este 2016 deu muita desaceleração, porque comparando o primeiro semestre deste ano com o de 2015, houve uma desaceleração de cerca de seis por cento.
É a crise entrando-vos pela porta dentro?
Sim. Isso deveu-se à situação actual no país. Portanto, o nível de libertação dos fundos orientados pelo Governo Central não se realizou como devia ser.
O que pretendiam fazer e não deu?
Por exemplo, tínhamos em conta a construção de algumas estradas, a conclusão do mercado de peixe. Do fundo dos investimentos, tínhamos a construção de quatro salas de aula. Já estava previsto que pelo menos duas salas de aula tivessem sido terminadas. Até este período não concluímos, porque tivemos de recorrer aos nossos fundos próprios para a construção dessas salas. A aquisição de carteiras para as escolas não foi como era de esperar. No universo de cerca de 400 carteiras, apertamo-nos até adquirir 200. Isso devia já ter sido feito.
A crise afecta a todos nós…     
Claramente. A crise não afecta apenas o Governo, afecta também a nós (município). O município vive de taxas e impostos. Há pessoas que justificam e provam que o seu negócio não está a andar. Dizem que não posso pagar porque ainda tenho falta disto e daquilo e nós estamos aqui no país e sentimos isso. Em termos de comércio, os proprietários das bancas, grossistas, entre outros, não realizam os pagamentos como deve ser. Portanto, este é um dos elementos que ditou uma pequena desaceleração.
Há outros factores a influenciar?
Há. O outro elemento estranho foi a estiagem. Desde o segundo semestre de 2015 até agora, na província de Gaza, que não chove. Até para simples hortícolas, que somos grandes fornecedores, temos de depender de outros para ter alface, couve e mandioca no mercado. Nós tivemos de distribuir alguma semente para dar resposta a alguns problemas concretos, mas não deu para muita coisa.
Nesses 60 por cento de realização, deve ter alguns pontos que toma como bandeira. Quais são?                   
A nossa primeira bandeira é o combate à erosão, a segunda é o abastecimento de água, a terceira é a iluminação pública e recolha de resíduos sólidos. Essas são as maiores. Mas também trabalhamos intensamente com a produção de hortícolas, aproveitando a cintura verde da cidade de Xai-Xai. Mas essa força foi reduzida à insignificância, devido à estiagem. Mas temos vindo a trabalhar fortemente nessa área.
Então o que falta fazer nos remanescentes 40 por cento?
Agora estamos muito preocupados, porque temos uma estrada que chamamos Semicircular de Xai-Xai, em que a nossa intenção era partir da subida de Maneca, dar a volta e subir até à USTM e voltar à cidade baixa sem passar pela EN1, completando assim o semicírculo.
Mas há que enfrentar a erosão que pode desfigurar a cidade…
Temos um estaleiro, e fabricamos aqui um certo tipo de bloco, bloco de combate à erosão e reproduzimos um capim especial que se chama vê-tê-vê. Este capim serve para suportar os blocos de combate à erosão. Outras actividades deste mesmo âmbito tem a ver com a obrigatoriedade da colocação de caleiras e direcionamento das águas nos projectos de construção de novos edifícios. Portanto, tem de haver um plano de estudo ambiental sobre para onde é que se vai encaminhar a água. Todas as nossas construções têm de ter isso. É obrigatório que tenham caleiras. Essa é uma das medidas que tomámos.
Olhando para as outras áreas, por exemplo, os cemitérios, que acções de vulto realizaram? 
Tivemos acções muito relevantes nos nossos cemitérios. Os nossos cemitérios são dos mais limpos do país. A limpeza é intensa nos cemitérios. Porém, tivemos uma situação anormal no ano passado. Gritámos em toda a comunicação social, porque tivemos uma vaga de vandalização de campas. Continuamos a cuidar destes locais. Por exemplo, no maior cemitério que temos, que é o Cemitério de Patrice Lumumba, no dia 5 de Junho, fizemos o plantio de duas mil árvores para circundar o próprio cemitério e há outras beneficiações localizadas. Estamos a vedar este cemitério para evitar a invasão por gente sem escrúpulos. Há um sítio que vedamos com árvores e outro em que estamos a fazer um muro.
Qual é a área que ocupa o novo cemitério?
Este cemitério é grande e ocupa pouco mais de 20 hectares. Mas não é só aquele. O segundo que tem mais ou menos 10 a 15 hectares já está quase a lotar. Então, estaremos todos a olhar para aquele cemitério. Estamos a fazer tudo por tudo para defender o Cemitério de Patrice Lumumba, porque em algum momento será o único cemitério geral da cidade. O cemitério do Bairro-5, que é o primeiro, o mais antigo por sinal, já está fechado. Estamos a tentar abrir um outro cemitério no posto administrativo da Praia, mas este ainda não está demarcado e legitimado como cemitério.
Este é um município com uma forte tradição agrícola. Qual é a saúde dos campos ao redor da cidade?
Na área agrícola, apoiamos os agricultores, sobretudo as associações. Temos uma cintura verde bastante rica que ficou vandalizada pela estiagem, mas mesmo assim tentamos trabalhar. Conseguimos fazer limpeza das valas. Para a primeira época, havia problema de sementes, porque a estiagem nos havia batido muito. Até tivemos de correr para a África do Sul a fim de comprar semente de milho. Conseguimo-la um pouco tarde, mas depois choveu de forma irregular. As populações lançaram a primeira semente que tinham guardado. Caiu a primeira chuva, mas depois não caiu mais. Tudo secou. A semente que fomos comprar à África do Sul e distribuímos produziu pouca coisa.
E na segunda época?
Conseguimos garantir semente de hortícolas. Aí distribuímo-la por todos, é por isso que agora Xai-Xai não tem grandes problemas de hortícolas. Não conseguimos todo o tipo de uma única vez, porque primeiro tivemos de a comprar sozinhos, só depois é que tivemos um parceiro que trabalha connosco que nos apoiou com uma variedade de hortícolas até de alguns tipos de feijões. Esse parceiro conseguiu dar-nos uma quantidade razoável e cobrimos as partes mais importantes da nossa cintura verde. A nossa cintura verde não está completamente verde, mas também não está seca e escura como estava. Portanto, todas as pessoas vão à machamba e voltam sempre com qualquer coisa.
Aposta na educação ambiental
Pode-nos falar da área ambiental?
Aqui o ambiente está fortemente ligado à erosão, mas não só, está também ligado à agricultura e ao próprio saneamento. Investimos muito na educação dos munícipes na área ambiental, porque a nossa grande preocupação não é pegar vassoura e limpar. Em 2014 e 2015, fomos realizando aquilo que se chamou de limpezas didácticas. Mostrar como se faz e como se deve fazer. E isso tinha de ter a sua réplica nos bairros. Quando isso aconteceu, envolvemos todos os membros, a partir do quarteirão, bloco, dez casas. Todos são envolvidos.
Que resultados obtiveram?
Nisso tivemos muita sorte, porque mesmo de manhã, se for a circular duma forma subtil, vai notar que se faz a limpeza de forma voluntária. Mesmo aqui na cidade, se for à zona do Mercado Limpopo ou Central, de propósito, mesmo para testar a situação, pegar três cascas de bananas, fizer um distanciamento de 10 metros lançar a primeira casca e depois a segunda, não pode lançar a última casca sem alguém dizer, olha, lança ali, tem um tambor de lixo. Isso é geral. No nosso primeiro seminário de saneamento o lema foi: “participe no saneamento a partir da sua própria casa”. O segundo seminário foi realizado este ano, o ano Samora Machel. Estávamos a tentar homenagear Samora Machel. O lema do seminário tinha a ver com o seguinte: “o saneamento do meio como tarefa de todos. Um legado de Samora Machel”.
Mas, apesar dessas acções, ainda se vêem alguns focos de lixo. A que se deve?
Claro, não pode falhar, porque nem todas as pessoas saem da mesma casa. O que nos atrapalha em termos de limpeza é quando chega a altura de abundância de certa fruta. Tempo de laranja, ananás. É onde temos alguma complicação, porque nós educamos os nossos munícipes aqui, mas vem um vendedor de Chidenguele, por exemplo, fica num sítio, descasca mafura, vende e quando chega a hora de partir de volta, no lugar de varrer, se não estiver alguém por perto que lhe chama atenção, deixa tudo ali. Quer dizer, as pessoas que mais sujam a cidade de Xai-Xai não são de Xai-Xai. Esta cidade é um centro de confluência de muitos distritos e de muitas sensibilidades culturais.
Qual é a situação dos mercados? Já agora, quantos são?
Se nós falarmos de mercado e mercadinhos activos temos 19. Entre pequenos e grandes, que é o caso do Limpopo, o maior da urbe. Temos o Mercado Central, que é o mais antigo e outros emergentes como o mercado de Roma, de Cruzamento, da Praia, entre outros.
Voltemos à questão. Em que condições se encontram?
Falando do ambiente e do próprio saneamento, entramos directamente ao mercado. Os nossos mercados têm um calendário de limpeza. É à quarta-feira e ao sábado que faz a limpeza. Mas, mesmo assim, há vezes em que nós convocamos uma limpeza geral, em todas as frentes. Para isso, chamamos estruturas, directores provinciais, a própria governadora junta-se a nós para dar importância à iniciativa. E quando é assim, isso acontece em todo o lado. A partir do bairro, todas as pessoas, envolvem-se na limpeza. Conseguimos colocar toda a cidade em movimento em termos de limpeza. E também, temos agentes económicos que nos entendem. Nalguns casos, porque os nossos meios não são suficientes, então recorremos à Agricultura, ao Regadio do Baixo Limpopo (RBL) para ajudar na movimentação dos resíduos sólidos. Os agentes económicos disponibilizam as suas camionetas. Isso dá graça e legitimidade do que temos estado a fazer. Mas não só.
Tem novas infraestruturas?
O nosso maior mercado é o de Limpopo. Temos vindo a fazer alguns serviços de beneficiação, limpeza de sarjetas, reconstrução de algumas infraestruturas. Mesmo aqui no Mercado Central tivemos que reabilitar os sanitários públicos. Porque seria demais para nós a gestão desses sanitários, então entregamos isso a uma gestão privada.
Que obra se salienta no Mercado Limpopo?
Estamos a construir cozinhas modernas. Este é um mercado que é centro de convergência de mais de quatro mil pessoas por dia. Então, estamos a reabilitar as cozinhas, a construir alguns restaurantes tradicionais, e pensamos que tudo vai dar certo. Separamos também os grossistas dos retalhistas. No local onde estão os grossistas, estamos a colocar água, que é um projecto que vem do semestre anterior, e energia, para oferecer um ambiente laboral acolhedor aos utentes.
Essa separação deveu-se a quê?
Os vendedores de bancas reclamavam que os grossistas (dos camiões) também vendiam a retalho. Tivemos que separar isso. Os grossistas estão na zona do aeródromo, no quarto bairro.
A nossa construção é de pobres
Em relação à urbanização, como é que está organizado este município?
A urbanização casa com a erosão. A cidade de Xai-Xai compõe-se de duas partes completamente distintas: a zona alta e a zona baixa. A zona baixa é plana e a zona alta é de formação por dunas. Algumas dunas são secundárias e movediças, e é lá onde tem que se construir, e a nossa construção é de pobres.
Como se ultrapassa isso?
Temos aqui uma parceria com a Prefeitura de Vitória, Brasil. Eu fui lá visitá-los para pensar um pouco nisto. De facto, eles têm casas nas dunas, mas o processo de construção é muito diferente da nossa construção aqui. Eles conseguem colocar uma vegetação consistente, arborizar toda a volta da duna e depois construir escadas. Constroem escadas para o cume das dunas, então, têm os sítios para os caminhos de água. Enquanto nós, abrimos uma picada e quando chove, a terra vai-se movendo.
E viu como se resolve o problema das estradas?
Nós também vínhamos cometendo um erro, porque sempre que caísse uma chuva intensa e provocasse danos na estrada, pegávamos uma pá niveladora e corríamos para ali com ela e tapávamos os buracos. Tornávamos, assim o solo mais vulnerável. Então, na chuva seguinte, no lugar de cavar meio metro, cavava 60 centímetros para abaixo. Se voltar a colocar uma pá niveladora, a chuva volta a cavar assim sucessivamente.
Essas experiências são implementáveis aqui?
São, sim. Quando nos demos conta disso, entramos no plano B que é muito oneroso, mas como se costuma dizer, o barato custa caro. Entramos no processo da compensação dos solos. Ao invés de colocar a pá niveladora para acertar aquelas pequenas crateras que surgiam ali, colocámos os camiões a buscar solo noutros sítios para compensar o que foi arrastado, depois metemos o cilindro. Na chuva seguinte o nível de danos fica menor.
Temos um problema comum no país que é a forma como os bairros surgem, sem planos urbanísticos. Tudo ao acaso. Como Xai-Xai se posiciona?
Aqui, muitos bairros foram formados a partir de calamidades (emergência). Depois de 1977, as cheias de 2000, produziram novos bairros. Até temos um bairro que se chama Ndambine-2000. As cheias de 2013 produziram um novo bairro que se chama Ndambine-2013. Então, esses bairros não têm obedecido ao plano urbanístico, porque é questão de emergência, salvar a vida das pessoas. Só que quando as pessoas já estão numa situação de comodidade não se entregam para corrigir os erros que foram cometidos na altura da sua instalação no local.
Como lidam com estes casos? Como fazem para reorganizar?
Entramos num outro plano que é extremamente oneroso para nós, que é Reordenamento Territorial. Para Xai-Xai, não vale a pena falar de Ordenamento Territorial, porque todos os espaços já estão ocupados de qualquer maneira. Tem que se falar de Reordenamento Territorial. Temos bairros que não têm estradas, o caso, por exemplo, do bairro Coka Missava. Foi o nosso bairro-piloto em termos do reordenamento e enfrentamos muita resistência, porque as pessoas não queriam ceder e reduziram-se as ruas a um verdadeiro fio. O tractor de recolha de resíduos sólidos não pode passar porque já não há rua. Quando a gente pede para demolir a construção fora do lugar, a pessoa exige indemnização. Mas quando tomamos medidas, levando “o martelo” para abrir a via, facilitando a passagem, já vem agradecer, porque já há caminho por onde pode passar uma ambulância, bombeiro, carros pessoais.
Esta situação verifica-se também na parte alta da cidade?
Isso é pior na parte alta da cidade, por exemplo, os bairros Mariam Nguabe A e B, Inhamissa A e B, foram infraestruturadas na altura, porque esses bairros foram formados em 1977, no âmbito das aldeias comunais. O ordenamento na altura foi feito, mas por causa da erosão, a situação torna-se desordenada. Agora, na zona de Makanwine oeste é onde estamos a tentar trabalhar, calmamente. É um bairro de expansão. Tivemos que fazer uma infra-estruturação básica para depois atribuirmos os talhões. Agora estamos a fazer tudo fora da pressão de cheias. Tem que se prever área para jardim, entre vários espaços de recreação. Se for a ver, o Bairro Mariem Nguabe, um bairro construído nessa altura, não tem centro de recreação devidamente identificado. É um bairro antigo. Tem escolas, hospital, mas não é só com isso que se faz um bairro urbano. Precisamos de jardins infantis, onde as crianças podem brincar. No parcelamento de 2000 e 2013 não tem isso. Estamos a fazer agora o esforço de reordenar. As crianças precisam de brincar. A história pode nos julgar.
O nível C é um castigo para nós
Em termos de estrutura administrativa, se sentem tranquilos com a presente organização?
Temos quatro postos administrativos, 16 bairros comunais, mas estamos a projectar uma nova divisão ou redimensionamento de alguns bairros.
Quais e porquê?
Por exemplo, o Bairro Patrice Lumumba-B é quase uma localidade. É densamente habitado. Estamos a projectar a possibilidade de submeter o assunto à Assembleia Municipal para a aprovação dessa reformulação de bairros. O posto de Inhamissa também está com alguns problemas com o nascimento do bairro Ndambine-2013. Isso não estava previsto. Então, o Bairro-B ficou grande. Há unidades que têm muitos quarteirões e temos que dividir, porque aqui temos que saber quem é quem, assim directamente. Todos os bairros têm as estruturas previstas no Estatuto orgânico, têm conselhos comunitários e consultivos.
Qual é o papel desses órgãos no vosso caso particular?
Estas estruturas que estão a ser revitalizadas para apoiarem na colecta de receitas, porque em algum momento nós ficamos com essa tarefa de colectar taxas e receitas apenas aqui na sede. Mas estamos a ver que não é melhor caminho. Temos que descentralizar. Por exemplo, temos o Programa Económico da Redução da Pobreza Urbana (PERPU). Isso tudo faz parte do posto administrativo.
O que faz o posto administrativo?
Faz o mapeamento dos projectos a serem aprovados, porque se há um projecto de uma loja aqui e não pode haver outra a 15 metros. Mas se há uma avícola aqui, a próxima avícola tem de ficar à distância considerável. Então, esse projecto é eleito. Há uma participação popular nos projectos a serem financiados. Os projectos são aprovados directamente nos postos administrativos. O Conselho Municipal só homóloga. E daí que a própria responsabilidade da devolução do fundo, atribuímos aos próprios conselhos consultivos e o controlo vai desde os bairros até ao sector técnico do PERPU.
Quantas vereações o município possui?
Em termos de vereações, temos oito de acordo com a lei. Nós somos um município do nível C e isso é um castigo para nós, porque as vereações são indicadas em função de número de habitantes. O número de habitantes que se usa aqui é do censo de 2007, que é de 116.400 e tal habitantes. Mas as projecções para 2015 indicam a existência de 128 mil habitantes. Portanto, oficialmente, não temos como dizer que vamos aumentar as vereações, porque a coisa é assim. Mas, fica muito trabalho para os próprios vereadores que têm várias temáticas. Para perceber isso, fica aqui só um exemplo de duas vereações: Vereação de Água, Energia, Saúde, Mulher e Acção Social e a outra é a Vereação da Educação e Cultura, Juventude e Desportos. Por outro lado, nós falamos de cerca de 128 mil habitantes. São aqueles que dormem em Xai-Xai, porque se fizéssemos a contagem às 12 horas ou às 14 horas apanharíamos mais de 140 mil. Então, quando todos recolhem no fim da actividade laboral, ficamos com cerca de 128 mil habitantes.
PERSPECTIVAS PARA O RESTO DO MANDATO
Quais são as perspectivas para o resto do tempo que falta?
Estamos quase no meio do mandato. Nós temos várias perspectivas, que é apostar muito no agro-processamento, porque produzimos muita fruta aqui. Estamos muito abertos a parcerias. Gostaríamos de mobilizar algum investidor para montagem de pequenas fabriquetas de agro-processamento. Temos fruta tropical como a massala, mapfilwa, entre outras. Trabalhamos com um município brasileiro, que é a Câmara de Vitória. Eles ensinaram-nos como fazem aquilo que eles chamam de suco natural. Portanto, estamos a trabalhar com os camponeses da Associação de Sotoene, que já sabem fazer doce de papaia, mapfilwua. Fazem já massa de tomate e de batata-doce de polpa alaranjada. Já sabem fazer pão. Sabem fazer sumo, mas isso tudo é feito ao nível tradicional ou doméstico. Então, se pudéssemos ter um empresário que entrasse com Agro-processamento, isso seria muito bom.
Texto de Alfredo Dacala
alfredo.dacala@snoticicas.co.mz
Fotos de Carlos Uqueio

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