segunda-feira, 20 de junho de 2016

Os meandros da Fundação da UNITA - Carlos Kandanda



Luanda - Na minha conversa com uma elite intelectual do Planalto Central, Dr. Paulo Tchipilika, Provedor da Justiça, em Angola, tivera-me dito, em Umbundo, o seguinte: “U, okuti, elimi liaye lio limba, ka kuete olondunge.” Na tradução literária em português, diz o seguinte: “Que esquece sua língua materna, não tem juízo.”
Fonte: Club-k.net
A língua é o repositório da cultura, é o veículo da sabedoria e é a base solida da identidade e da personalidade da pessoa humana. Por outro lado, a História é a narração critica e pormenorizada de factos sociais, políticos, económicos, militares, culturais ou religiosos, que fazem parte do passado de um ou de mais países ou povos – veiculada pelas Línguas.

Logo, os factos da História devem ser respeitados e narrados de forma objectiva, crítica e rigorosa, sem tentativa de violá-los ou de desvirtuar sua autenticidade. A distorção propositada dos factos da História não só prejudica a veracidade da História, mas atenta-se contra a alma e a dignidade dos actores e dos protagonistas desta História. O que, de certo modo, constitui um crime contra a Humanidade.

Na minha humildade, sendo parte da História da UNITA e combatente da luta anticolonial, na Frente Leste, sinto-me parte integrante desta História, que assumo com todo orgulho e defendo com a cabeça erguida. Pois, sem História, não somos nada. O Homem digno não pode, nem deve, negar sua existência histórica, sua identidade e sua personalidade. Ou seja, negar a consciência da unidade e da identidade do Eu – Auto-estima.

Este intróito extenso tem a intuição de esbater os preconceitos e as interpretações distorcidas entre o meu passado histórico e o estado presente, que caracteriza a minha orientação política, como militante da CASA-CE. A minha matriz politico-ideológica mante-se intacta, na sua essência filosófica. Repare-se que, a política não é um Dogma inerte e imutável. Ela é dinâmica e evolutiva, que se desenvolve e se adapta as transformações constantes que ocorrem nas sociedades e no Mundo. Sem com qual, contrariar a História, no tempo especifico e num espaço determinado. É neste contexto do tempo e do espaço, que se avalia a História libertadora; com que identificamos e defendemos, com a consciência limpa da nossa participação efectiva nesta obra, de grande dimensão. Não é imaginável, em qualquer circunstância, que se ponha em causa a virtude e a Glória do «Manifesto do Muangai», que se desenrolou de 1966 até 2002.

Talvez, só aqueles que não estiveram na Base de Apoio do Lunguébungo, das Terras Livres do Leste de Angola, que tenham a consciência turva e dócil, capazes de servir os interesses alheios. Pois, o Manifesto do Muangai foi um Projecto Politico, concebido na Orla do Rio Lunguébungo, por Dr. Jonas Malheiro Savimbi. Adaptando-se às condições objectivas do Colonialismo Português, do Dr. António de Oliveira Salazar, que opunha-se tenazmente a uma solução negociada através do diálogo, como acontecera com as antigas Colónias do Reino Unido. Portanto, a luta armada foi uma alternativa inevitável da descolonização – em busca da liberdade, da justiça social e da autodeterminação do povo angolano.

A tese de que, a UNITA só tornou-se Partido Politico após 2002, constitui uma aberração grosseira, que ofende a consciência dos patriotas que combateram o Colonialismo Português, sob a Bandeira do Galo Negro, em várias frentes: Na guerrilha, na clandestinidade, nas cadeias, na diplomacia e no exílio. Este Conceito, da militarização do Manifesto do Muangai, contraria os valores e princípios fundamentais que estiveram na origem da fundação da UNITA., no Leste de Angola.
Na verdade, a UNITA foi concebida teoricamente no Luasane, na Suíça, por Dr. Jonas Malheiro Savimbi e Dr. Tony da Costa Fernandes. A sua materialização, na prática, foi feita na Vila do Muangai, na Província do Moxico, após do regresso dos primeiros onze Quadros político-militares, treinados na China. Nesta altura, existia uma Direcção Clandestina em Lusaka, composta por três Vice-Presidentes e um Secretário das Finanças e das Relações Exteriores. Refira-se, neste respeito, ao Gaston Smart Chata, 1º Vice-Presidente; Solomon Njolomba, 2º Vice-Presidente; e Moisés Muliata Kanyumbu, 3º Vice-presidente. Senhor Daniel Muliata Campozo, foi o Secretário das Finanças e das Relações Exteriores. Convém realçar o facto de que, Daniel Muliata Kampozo, Abel Ferreira Massaka, Móris Chimbalanga e outros, foram Homens de Negócios, bastante ricos, na Zâmbia, que financiaram, desde início, as actividades da UNITA e a acomodação dos comandantes e dos quadros vindo do interior do País; inclusive as viagens do Dr. Jonas Malheiro Savimbi ao estrangeiro eram financiadas por eles.

Foi esta Direcção clandestina, formada por Dr. Jonas Malheiro Savimbi, em Lusaka, que cuidou-se da mobilização prévia das populações ao longo da fronteira e do encaminhamento ao interior do país dos onze comandantes treinados na China. Mesmo o recrutamento de quadros e da mobilização das comunidades angolanas em Lusaka, no Copper Belt e no Katanga foram feitos por esta Direcção clandestina, formada pelo Dr. Savimbi, quando passou pela Zâmbia, em busca de alguns Quadros que lá tinham chegado do Katanga e da Namíbia. Alias, estes quatro dirigentes, acima referidos, estiveram juntos com Dr. Savimbi na UPA, e decidiram abandonar aquilo, na mesma altura da ruptura do Dr. Jonas Savimbi.
Convém realçar o facto de que, essas quatro figuras, acima referidas, tinham influências enormes na política da Zâmbia. Apoiando o Partido UNIP do Dr. David Kenneth Kaunda, com que fizeram campanhas políticas juntos, naluta pela independência nacional daquele país irmão. São essas personalidades, próximas do Presidente Kaunda, que serviram de elo de ligação entre Dr. Jonas Malheiro Savimbi e Presidente da Zâmbia, Dr. David Kenneth Kaunda. O papel destas personalidades, com influencias enormes junto das comunidades angolanas na Zâmbia e no Katanga, foi crucial na fundação da UNITA e na sua implantação na Frente Leste. 

Não é meu carácter invocar nomes de algumas figuras históricas, que tanto respeito, que têm dado impressão de ter sido elementos principais na introdução do Jonas Malheiro Savimbi ao Presidente da Zâmbia. O que, não passa de ser uma grande mentira. Alias, Dr. Jorge Alicerce Valentim, andava em Kinshasa, junto da liderança do Presidente Holden Roberto. Depois disso, partia para Europa, onde fixou-se na Bélgica até o 25 de Abril de 1974. Nesta altura tinha uma Revista que fazia publicações em Bruxelas. Na época, não tinha ligações nenhumas com a UNITA. Pelo que eu saiba, Dr. Jorge Alicerce Valentim ficou admitido na UNITA, após o 25 de Abril de 1974, na Conferência da Úlia, a Sul do CFB, na área de Kangumbe.

Lembro-me, tão bem, da objecção firme e explicita do Dr. Tony da Costa Fernandes, que dizia assim: “Se Dr. Jorge Alicerce Valentim for admitido na UNITA, eu sairei pela mesma porta que ele vai entrar.” Isso criou-nos o impasse, pelo posicionamento de destaque, do Dr. Tony Fernandes, como Co-fundador da UNITA. Levou-nos (Bureau Politico da UNITA) dois dias intensos de persuasão do Dr. Tony da Costa Fernandes para viabilizar o ingresso do Dr. Jorge Valentim na UNITA. Havia, de facto, precedentes na Suíça, relacionados com cortes de bolsas de estudos, de estudantes afectes ao Dr. Savimbi, feito por Dr. Jorge Valentim, na qualidade do Director Geral do Presidente Holden Roberto, em Kinshasa.


Portanto, só depois de solucionar este litígio quando o ingresso do Dr. Jorge Valentim (em 1974) na UNITA foi aceite. Dali, foi convocado para juntar-se a equipa negocial, que resultou nos Acordos de Mombasa, de Nankuru e do Alvor. Na primeira saída ao exterior, após a Conferencia da Úlia, passamos por Lusaka e Kinshasa, onde partimos para Libreville. Posto lá, Dr. Savimbi mandou chamar Dr. Jerónimo Wanga, que era docente de uma Universidade em Gabão, para deixar a docência e juntar-se a equipa negocial. Foi nesta altura em que Dr. Jerónimo Wanga passou ao activo como dirigente da UNITA. Lá, em Libreville, eu seguia para Paris para submeter-se ao tratamento da Prótese, da minha perna direita, amputada por uma mina antipessoal, do Exercito Colonial Português, nos arredores da nascente do Rio Cassai, na fronteira entre a província do Moxico e a província da Lunda Sul.

A verdade é que, Dr. Jorge Alicerce Valentim e Dr. Jerónimo Wanga, foram de facto colegas do Dr. Savimbi. Passaram juntos por Luanda, com destino à Lisboa, em busca de estudos. Em Luanda foram acolhidos pelo pai do Dr. Desidério Costa, antigo Ministro dos Petróleos. Foi este nacionalista, acima referido, que despachou os três jovens do Planalto Central para Portugal.

O que parece que, esta relação, de ser colegas, tem sido confundida com a fundação da UNITA. Porém, a História não pode ser escamoteada ou deturpada por pessoas, apenas para projectar a imagem pessoal. Eu conheci fisicamente Dr. Jonas Malheiro Savimbi em 1965, em Lusaka, através do nacionalista Roí Kangende, nas circunstâncias inéditas. Era estudante do Liceu, sobrinho do nacionalista Jacob Musheke Khamalatah, primeiro Representante do MPLA na Zâmbia. Foi no «Liberation Center», onde se encontravam instalados todos os Movimentos de Libertação da Africa Austral, no Escritório do MPLA, onde conhecera, pela primeira vez, os nacionalistas Lúcio Lara e Aníbal Melo.


Os meus tios, Jacob Musheke Khamalatah, Jethro Muti e Javan Kapatisso, com influências enormes no Partido UNIP, opunham-se fortemente a minha aproximação ao Dr. Jonas Malheiro Savimbi. Nesta altura, Jethro Muti era Secretário do Estado do Governo da UNIP e Jacob Musheke Khamalatah, como referiu-se acima, era o Representante do MPLA em Lusaka. Eu morava na casa do tio Musheke, que fazia tudo para me influenciar ingressar-se no MPLA. Em Lusaka, já frequentava, as noites, a Embaixada da China, através da qual obtinha livros sobre a Revolução Chinesa, a Revolução do Vietnam e a Revolução Russa. Passava noites em fio ler essas obras, incluindo os livros do Karl-Marx e Friedrich Engels.

As três Grandes Revoluções Asiáticas tiveram impacto enorme sobre a minha opção politica. Percebi, desde já, de que, a Revolução Chinesa, estava mais próxima da realidade de Angola e da luta que havia de encetar. Isso contrariava o Conceito do MPLA, assente na Revolução de Outubro, que fazia enfâse, da revolução urbana. Por isso, apesar da pressão dos meus tios, decidi juntar-me ao Dr. Jonas Savimbi e seguir ao interior do País, com Comandante Samuel José Chiwale, na Frente Leste, na Província do Moxico. Por isso, eu estive presente em todas movimentações iniciais, em Lusaka. Pelo que me lembro, Dr. Jorge Alicerce Valentim não estava connosco em Lusaka.

Interessa dizer que, havia um núcleo de três jovens intelectuais, formados na Zâmbia, na pessoa do Cipriano Chipipa Kawindima, Samuel Kanganjo e Carlos Kandanda, que tomaram conta do pequeno Escritório da UNITA, situado atrás do Cairo Road, nos Anexos de um Comerciante Indiano. Trabalhávamos dias e noites, a processar dados, movimentar quadros vindo do interior do país e coordenar a logística a partir do Katanga. Quando Dr. Jonas Malheiro Savimbi foi detido, em Lusaka, devido a paralisação do CFB, nós os três, tomamos a iniciativa de enviar o Telegrama ao Presidente Gamal Abdel Nasser, do Egipto. Ele intervinha logo de imediato junto do Presidente da Zâmbia no sentido de soltar Jonas Savimbi, e encaminhá-lo para o Cairo. O que foi feito, de imediato, pelo Governo Zambiano. Na sua saída ao Cairo, Dr. Jonas Savimbi foi ao encontro do Ministro do Interior da Zâmbia, Mainza Chona, dizendo-lhe o seguinte:

“Estou a partir para o Cairo, mas virei passar por cá, de regresso ao meu País. Conforme vocês libertaram o vosso país; nós também faremos o mesmo.”
Em despedida, Jonas Savimbi reuniu-se com os Quadros, no recinto do Escritório, afirmando, em tom austero: “Os que têm fé em mim, sigam ao interior do País. Eu estarei lá.” Muita gente a lagrimar, perguntando: Se você parte para o Egipto, como que estarás em Angola? Replicava: “Acreditai em mim, estarei lá.” Eu, imbuído dos conhecimentos abundantes da Revolução Chinesa, não tinha dúvida de que, Savimbi voltaria pelo este mesmo caminho, ao interior do País. Pois, era um homem convicto nos seus ideais, ousado e entregue totalmente à Causa de Angola.

Foi a partir do Cairo onde Dr. Jonas Savimbi e Miguel N´Zau Puna, fizeram manobras de passar clandestinamente pela Dar-es-Salam e Lusaka, ao interior do Pais. Esta operação, de passagem pela Tanzânia e Zâmbia, foi feita com a intervenção do Daniel Muliata Kampozo, Secretário das Finanças e das Operações Clandestinas. Alias, foi na casa deste, na Cidade do Kitwe, no Copper Belt, em que Presidente Jonas Savimbi e N´Zau Puna foram escondidos, antes de partir para a fronteira de Angola.

Quando chegaram na fronteira, na área do Lumbala Nguimbo, o Comandante Geral, Samuel José Chiwale (com que vínhamos de Lusaka), se encontrava na área do Umpulo, ao longo do Rio Kuanza. O Comandante José Canoel, enviado por Dr. Jonas Savimbi, a partir da fronteira, encontrou-nos a preparar o ataque à Vila do Umpulo. Largamos a operação e partimos de imediato ao encontro do Presidente Fundador, acompanhado pelo Comandante Miguel N´Zau Puna, Secretário-geral da UNITA. Foi na mesma altura quando nos encontramos com Comandante Samuel Piedoso Chingunji (Kapessi Kafundanga), Chefe do Estado Maior General das FALA, na área do Chatuika, vindo do Norte do CFB, do corredor do Rio Cassai. Tinha o propósito de encontrar-se com Comandante Samuel José Chiwale (Comandante Geral das FALA) para traçar a estratégia de progressão ao Planalto Central e às Lundas.

Mas, com a chegada do Presidente Fundador, realizou-se a Conferência do Chatuika, onde o Comandante Kafundanga foi destacado na Zâmbia para organizar clandestinamente a Logística, a partir do Katanga; bem como manter contactos permanentes com os diplomatas da UNITA na Europa e nos Estados Unidos da América. Cmdte Samuel Chilimbo Muanangola foi destacado na Região do Norte do CFB, entre Moxico e as Lundas. Infelizmente, de lá, foi render-se ao Presidente Holden Roberto, em Kinshasa. O Cmdte José Kalundungu, antigo Chefe do Estado Maior General da ELNA, e Cmdte Moisés Njolomba, treinado na Rússia, ficaram destacados junto da Coluna do Presidente Fundador, encarregues de treinos e da formação de unidades compactas de guerrilhas.

A Conferência do Chatuika, foi realizada no clima tenso, de discórdia com Cmdte Samuel Chilimbo Muanangola, que já tinha o plano de juntar-se à UPA. Ele tinha mais armas (do seu grupo vindo do Zaire) que nós, ao lado do Líder. Por isso, havia perigo iminente de fazer fogo contra a Direcção do Partido. Decidimos deixá-lo seguir para o Norte do CFB para fazer o que entender. De facto, de lá, foi-se embora ao Zaire. Traçamos uma «Estratégia Oculta e Subtil», sem o conhecimento de alguns Comandantes duvidosos, que estavam no nosso meio.

Eu aconselhei, em privado, Dr. Savimbi para termos muita cautela. Porque, a situação era delicada e perigosa, com risco de sermos eliminados. Pois, havia disparidades de conceitos ideológicos e étnico-culturais. Houve prudência e flexibilidade por parte do Dr. Savimbi e do Miguel N´Zau Puna, que eram amigos íntimos e inseparáveis. Apesar de ser o mais novo dos Nove Membros do Bureau Politico, a minha voz tinha ressonância junto do Presidente Fundador. Alias, logo do início, chamava-me de CHAIRMAN (Presidente). Este título de honra, permaneceu sempre, no seio da UNITA. Na verdade, eu era o Ideólogo do Partido, encarregado da «Formação Politico-Ideológica» dos Quadros Dirigentes.

Enfim, foi no clima de incerteza, de escassez da logística e do isolamento dos países vizinhos (Zâmbia e Zaire)), que iniciamos a Obra difícil de construir paulatinamente a Base de Apoio do Lunguébungo, que vinha servir de Bastião inabalável da luta de libertação nacional. O Comandante Samuel José Chiwale, entre os Onze Quados político-militares, treinados na China, ele destacou-se como pivô da Organização. Tendo assegurado o regresso ao País do Presidente Fundador e do Secretário-geral, Miguel N´Zau Puna. Permitindo, assim, a construção sistemática das Terras Livres de Angola. Alias, Cmdte Samuel José Chiwale fazia parte da tróica, do triunvirato: Savimbi, Puna e Chiwale. Foi este trio de figuras influentes e carismáticas, que conduziram a UNITA até a Independência de Angola, em Novembro de 1975.


No decurso da edificação da Base de Apoio do Lunguébungo, o núcleo dirigente do Bureau Politico, ficara reforçado com a chegada do Dr. António Vakulukuta, vindo de Paris. Um grande intelectual, homem da Esquerda Europeia, formado nas melhores Universidades da França, que andava nas lides da FEANF (Fedéracion des Etudiants d´Africa Noire en France), fundada em Paris, em 1951, por Solange Faladé (Daomé), Amadou-Mahtar M´bow (Senegal), N´Ki Traore (Guiné Conacri) e Abdou Moumoun (Níger). Esta elite do Cunene, António Vakulukuta, com carácter forte, digno e patriótico, como do Rei Mandume Ya Ndemufayo, foi uma personalidade prestigiosa, integro, realista e pragmática.

Esta personalidade, do Dr. António Vakulukuta, foi um político lucido, visionário e progressista, que vinha enriquecer a Visão Política da luta anticolonial e da construção do Estado-Nação, assente na realidade africana, da Cultura Bantu. Além disso, vinha igualmente equilibrar uma «tendência maoista», que era dominante no seio da Direcção do Galo Negro. Na época, ele defendia proceder-se a uma análise crítica, que resultasse numa «Antítese», capaz de superar o socialismo europeu, o socialismo asiático e a Negritude – à luz da Dialéctica (método) do Filosofo Alemão Hegel (1770-1831). Noutras palavras, adaptar os valores socialistas à realidade objectiva de Angola e da Africa Negra. Sem dúvida, Dr. Vakulukuta era um nacionalista africano e pan-africano – da Esquerda Marxista-leninista, que vigorava na França. Contudo, não partilhava a Ortodoxia do dogmatismo ideológico.

Acima disso, a chegada do Dr. António Vakulukuta ao Lunguébungo aprofundou o debate em torno da «luta de classes» e da «classificação das classes sociais» – entre a burguesia, o proletariado, o campesinato e a intelectualidade. A preocupação, da época, era dos indícios fortes da mentalidade burguesia, que já se manifestava nitidamente no seio dos Movimentos de Libertação Nacional de Angola. Por isso, se impunha uma interrogação, se de facto, a origem social ou a condição académica eram factores determinantes para o posicionamento social e ideológico favorável, em prol das classes desfavorecidas? Não será que, os intelectuais, não obstante as suas origens sociais, podem transformar-se facilmente numa classe burguesa, em detrimento de outrem? Hoje, essas interrogações, do então, estão mais evidentes.


Todavia, prometo trazer a este espaço social o trabalho específico, a fim de enaltecer esta figura nacionalista, do Dr. António Vakulukuta. Não era fácil, naquela época, deixar a Europa e vir juntar-se a nós, nas Terras Livres do Lunguébungo, combater o Colonialismo Português. Pois, muitos intelectuais angolanos preferiram ficar distante, no luxo da Europa, até o 25 de Abril de 1974. Bem-haja o Nacionalismo Angolano! Bem-haja o Pan-Africanismo.
Luanda, 20 de Junho de 2016


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