terça-feira, 10 de maio de 2016

Será que Eduardo Mondlane era agente da CIA?

Uma das fotos históricas na História da Frelimo (1965)
1. Eduardo Mondlane
2. Che guevara
3. Uria Simango
4. Samuel Magaia
Isabel Nilza Mabasso, Gilder Anibal, Matheus Khossa Kelvy e 126 outras pessoas gostam disto.
Comentários
Alcidio Do Rosario
Alcidio Do Rosario Esta vai para o meu acervo.
22/5 às 3:50
Raposo Andrade
Raposo Andrade A 5a figura?!
Joao Cabrita
Joao Cabrita O mais provável é a 5ª figura ser o Capitão Pablo Rivalta, na altura embaixador cubano em Dar-es-Salam,e que participou nas reuniões com os movimentos de libertação. Antes do encontro de Che Guevara com o presidente da Frelimo, Rivalta advertiu Guevara de que "os acampamentos de treino de guerrilheiros da FRELIMO na Tanzânia, estavam 'contaminados' por membros do 'Corpo da Paz' (Peace Corps)". No entanto, Rivalta informou Che Guevara que dentro da Frelimo poderia contar com "Marcelino dos Santos, como um elemento de toda a confiança." Rivalta havia conhecido Marcelino dos Santos durante umencontro da União Internacional de Estudantes em Praga.
24/5 às 14:43Editado
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Joao Cabrita, segundo a acta do encontro, os elementos presentes eram:
1. Eduardo Mondlane
2. Uria Simango
3. Lourenço Mutaca
4. Feliciano Gundana
5. Embaixador de Cuba na Argélia (assinalado com 5 na foto)
6. Ernesto Che Guevara
7. Francisco Sumbane
8. Jeremias Jacob
9. Filipe Magaia
10. Francisco Cufa
14/5 às 14:44
Joao Cabrita
Joao Cabrita Eusébio A. P. Gwembe, leia o artigo de Azaria Mbughuni, “Why Did Che Guevara Come Secretly in Tanzania”, em que assinala a presença de Rivalta no encontro de Che Cuevara em Dar-es-Salam em Fevereiro de 1965:

« Arrangements were made for a meeting for Che and at least 50 representatives of various liberation groups from 10 countries. The black Cuban Ambassador to Tanzania Pablo Rivalta and Juan Carretero, Head of Latin America Section of the Intelligence Department for Cuba, took part in the talks. The meeting was held at the Cuban Embassy in Upanga, Dar es Salaam.»

O embaixador cubano em Argel em 1965 era Jorge “Papito” Serguera (ver foto em anexo).
O número 5 da foto poderá ser um dos chefes da "CIA" cubana (DGI), Juan Carretero.
15/5 às 5:24Editado
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Pablo Ribalta era negro retinto, Joao Cabrita.
15/5 às 22:37
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Tenho a impressão de que nesta reunião, especificamente, só participou a FRELIMO. Não há sinais aqui de estarem 50 pessoas a representarem outros ML
15/5 às 22:39
Joao Cabrita
Joao Cabrita Bem sei que Pablo Rivalta não era muzungo, Gabriel Muthisse. Inseri a foto de Jorge “Papito” Serguera para explicar aoEusébio A. P. Gwembe que a pessoa na foto (a 5a pessoa) não poderia ser o embaixador cubano em Argel. No livro, "THE AFRICAN DREAM The Diaries of the Revolutionary War in the Congo" Che Guevara refere que se reuniu em Dar-es-Salam com representantes de vários movimentos. Houve mais do que uma reunião.
16/5 às 5:46
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Joao Cabrita, entre um livro editado, possivelmente com recurso a fontes secundárias e acta do encontro não acha que mais credível seria a acta? Che Guevara reuniu-se com muitos movimentos, sim, mas aqui ele se deslocou para a sede da Frelimo, pelo que é de admitir que o número tenha sido reduzido.
16/5 às 5:58
Joao Cabrita
Joao Cabrita Eusébio A. P. Gwembe, apenas respondia a Gabriel Muthisse quanto à questão das 50 pessoas que não aparecem na foto. Numa outra foto do mesmo encontro, tirada de ângulo diferente, aparecem mais pessoas. (ver anexo) O SAVANA publicou uma foto de um outro encontro com dirgentes da Frelimo numa sala diferente, que presumo ter sido na embaixada cubana em Dar-es-Salam. O livro que mencionei, de autoria de Che Guevara, foi publicado postumamente.
26/5 às 6:44Editado
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Reunião que tornou Mondlane "persona non grata" na Revolução Cubana. Mondlane não se entendeu com Che Guevara. Este queria que os combatentes africanos, incluindo os da FRELIMO, se concentrassem no Congo (actual RDC) donde, depois do respectivo triunfo, irradiaria depois a Revolução Africana para o resto dos países.
112/5 às 4:22
Antonio A. S. Kawaria
Antonio A. S. Kawaria Mondlane agiu muito bem e a bem de Moçambique e África toda. Para mim, isso teria isso mais confusão do que temos agora em África.
22/5 às 8:15
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Claro, amigo Antonio A. S. Kawaria. Partilho desse ponto de vista.
22/5 às 8:31
Alvaro Simao Cossa
Alvaro Simao Cossa Gabriel Muthisse a outra coisa que fez com que Eduardo Mondlane e Che Guevarra nao se entendessem foi porque Eduardo Mondlane reprovou o plano de guerra feito por Che, de transferir a guerra para as grandes cidades.
44/5 às 0:15Editado
Alvaro Simao Cossa
Alvaro Simao Cossa Gabriel Muthisse, Fidel Castro reconheceu mais tarde que a Frelimo e MPLA tiveram melhor estrategia de luta que aquela proprosta pelo Che. O problema e' que os latinoamericanos sempre viram Africa como um pais e nao como continente.
34/5 às 0:11
Júlio Mutisse
Júlio Mutisse E continuam a ver.
44/5 às 21:02
Alcidio Do Rosario
Alcidio Do Rosario Em que ano aconteceu a reuniao?
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Nas 5 fotos que consegui, não consegui descobrir a identidade da 5ª pessoa, Raposo Andrade. Pois é Gabriel Muthisse, foi nesta reunião que surgiu o desentendimento entre ambos. Mas Mondlane justificou-se, mais tarde, numa entrevista a um Jornal Ocidental.
22/5 às 4:26
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Fevereiro de 1965. Período da reunia, Alcidio Do Rosario
32/5 às 4:33
Alcidio Do Rosario
Alcidio Do Rosario Logo na fase embrionaria da nossa luta. Seria uma traicao as expectativas do povo oprimido, se as FPLM tivessem abandonado a nossa luta para concentrarem-se noutro ponto, Congo.
32/5 às 4:37
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Foi isso que Mondlane não aceitou, Alcidio Do Rosario. Isso valeu-lhe epítetos de agente da CIA.
42/5 às 4:39
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Até hoje há gente bem formada e bem informada que se convence que Mondlane era agente da CIA, Gabriel Muthisse. Para essas pessoas, todas as relações que Mondlane estabeleceu com o Oriente e bloco socialista e sua postura de neutralidade quando o assunto não fosse apoio, pouco contam.
22/5 às 4:42
Fernando Jorge Francisco Cumbana
Fernando Jorge Francisco Cumbana um amigo segredou me marcelino dos santos foi da pide,hâ evidencias disso ?
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Cumbana este é um campo que não deve ser tratado de ânimo leve. A Bíblia Sagrada apela para que a comida dos filhos seja para os filhos.
26/5 às 6:18
Brazao Catopola
Brazao Catopola A ideia deNeutralidade é o que complica... Shubbin (1983). Expõe entrevistas de Marcelino dos Santos na qual questiona a neutralidade e assumindo Mondlane como agente do Ocidente. Achei interessante essa versão porque Mário Pinto de Andrade tem também uma entrevista no mesmo livro a reconhecer Marcelino dos Santos como figura Central. no entanto pondo Eduardo Mondlane cono figura necessária mas não determinante pois ele só servia para angariar apoio do Ocidente. Razão pela qual na crise de armamento 1967/8 foi recusada o apoio a Frelimo pelo bloco socialista (russia) e para o desbloqueio foi necessário intervenção de MdS
32/5 às 4:56Editado
Benjamim Muaprato
Benjamim Muaprato Se esteve na fase embrionária do partido, quando e onde comecou aquea história de reacionário?
12/5 às 4:59
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Claro que é complicada, Brazao Catopola, mas vendo o percurso de pedidos de ajudas e de participação em encontros internacionais, vê-se uma certa postura mediana que todos os argumentos de chamá-lo agente da CIA não encontram sustentação plausível. Mesmo a documentação conseguida por Joao Cabrita, pouco ilucidam sobre este facto. Mondlane era muito tolerante.
32/5 às 4:59
Alcidio Do Rosario
Alcidio Do Rosario A historia de racionario comeca por volta do ano 67, quando comeca a surgir clivagens nitidas no seio do movimento. Que me corrijam se estiver errado
12/5 às 5:07
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe A História de reaccionários é muito anterior a este encontro. Paulo Gumane, Fanuel Mahluza e David Mabunda, já em Outubro (3) de 1962 queriam golpear Mondlane.
42/5 às 5:11
Brazao Catopola
Brazao Catopola Não disse que era da CIA mas há muita coisa que o leva a sustentar essa posição. Vale lembrar por exemplo o facto de Mondlane ter uma forte ligação com o irmão de John Kennedy e a ajuda a Frelimo de forma oficial ter sido apenas rejeitada no senado americano. Ademais muitas armas da Frelimo foram de apoio inglês e americano. muita coisa ainda por esclarecer e bem haja esse teu lado acadêmico
32/5 às 5:15
Alessandro Carmo
Alessandro Carmo Os reacionarios e as suas estratégias. Aqui no Brasil não é muito diferente.
12/5 às 5:20
Eugenio Chimbutane
Eugenio Chimbutane E carimbado o "passaporte" para um pesadelo que parece que vai durar até ao fim dos séculos ...

Egidio Vaz nosso futurologista: que sorte seria a nossa, com Mondlane no comando até hoje (ou até a década de 90)?
22/5 às 5:44Editado
Afonso Nassone Macaiele
Afonso Nassone Macaiele historias e estorias...hahahah, o que interessa a nos agora e compreender esse passado tragico, para vivermos um presente sem surpresas e perspectivarmos um futuro risonho, mas parece que o passado teima em repetir-se constantemente em Moçambique.... pena nao termos compreendido o que SAMORA MACHEL falava foi um futorologista.
22/5 às 23:59
Iris Maria Monteiro
Iris Maria Monteiro Todos na vala
13/5 às 1:45
Joao Cabrita
Joao Cabrita Eusébio A. P. Gwembe, um reparo ao seu texto e aos comentários que ele suscitou:

1. Os apoios que um país presta a organizações como a Frelimo contam geralmente com o envolvimento dos serviços de segurança, neste caso a CIA. Mas isso não significa que os recipientes da ajuda prestada sejam membros das instituições que a canaliza. Quem tem o hábito de promover este conceito é a chamada ̏esquerda˝, mas quando esta é a visada, evidencia-se o embaraço.

2. Cuba não pretendia que a Frelimo e outros movimentos de libertação deixassem de lutar ao se envolverem no Congo com o corpo expedicionário cubano de Guevara-Risquet. O que os cubanos pretendiam era que os movimentos de libertação contribuíssem com efectivos. O MPLA, o ANC e outros apoiaram em princípio o plano.

3. A recusa de Mondlane foi apenas pelo facto do plano cubano na essência visar os interesses dos Estados Unidos dos quais o presidente da Frelimo era um incondicional aliado. De salientar um outro facto: no mesmo ano em que Cuba interveio no Congo, Mondlane e os Estados Unidos trabalhavam em conjunto na elaboração de uma proposta que foi apresentada a Salazar tendo em vista uma solução política do problema colonial; proposta essa que não incluía o direito de Moçambique à independência.
24/5 às 9:53
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse O seu numero 3 ee uma hipótese, Joao Cabrita. Carece de ser verificada. Ha outras explicacoes para essa recusa. Por exemplo, a de que a FRELIMO havia sido fundada para lutar pela libertação de Mocambique. E a não disponibilidade para alienar esse objectivo pela libertação do Congo. Mais ainda, as fontes que eu li, que irei procurar para partilhar, não referem uma simples contribuição em efectivos. Referem o adiamento das lutas de libertação nos respectivos países, em prol da concentração dos esforços no "foco insurrecional do Congo". Seria apenas apôs a libertação do Congo que os outros países seriam libertados. Alias, Che Guevara teorizou esta estratégia nos seus livros sobre guerrilha (creio que no livro "a guerra de guerrilhas"). Che foi ate as ultimas conseqüências com esta fe estratégica, na Bolivia, que seria um outro "foco insurrecional".
14/5 às 13:53
Francisco Wache Wache
Francisco Wache Wache Devia ter escolhido o.oficio de historiador. Admiro os teus comentários em relação a história de Moçambique. Tens muito domínio sobre ele. Acho um dia, com. Joao Cabrita e Eusebio guembe, devia reescrever a historia de Moçambique. PARABENS
44/5 às 14:58
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse, em aditamento às palavras de Pablo Rivalta que citei anteriormente, e para demonstrar o alinhamento de Mondlane em relação aos Estados Unidos – o que, julgo, tornava impossível um compromisso da Frelimo com o plano cubano no Congo – de referir que Mondlane recusou instrutores cubanos.

Numa mensagem expedida de Dar-es-Salam para Che Guevara no Congo-Kinshasa a 19 de Agosto de 1965, Pablo Rivalta falou da necessidade de se alterar o plano sobre o uso de instrutores militares cubanos que a pedido de Julius Nyerere haviam chegado à Tanzânia para o treino de guerrilheiros da Frelimo em Tabora.

Anos depois, Rivalta esclareceria o teor da mensagem, afirmando que "alguns companheiros que o Che pensava enviar para Moçambique não puderam ir porque os contactos que tínhamos estabelecido com o governo da Tanzânia e com os moçambicanos disseram que não era ainda o momento, e o Che deu-me instruções para que fossem para o Congo e para o Congo os enviei."
14/5 às 14:43
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Joao Cabrita, Mondlane nao recusou instrutores cubanos. O que disse foi que os únicos instrutores que a FRELIMO aceitava nas suas bases na Tanzania, eram os chineses. Os outros instrutores e países deveriam treinar os nossos quadros fora da Tanzania, nos seus respectivos países. Foi essa a lógica seguida com a Argelia, com Marrocos, com Egipto, com Israel e com a URSS. Nenhum destes países tinha instrutores na Tanzania. Mais ainda, a quantidade de instrutores que os cubanos enviavam era muito grande. Vendo aquela quantidade, poderia subsumir-se tratar-se de uma forca combatente, e não de simples treinamento. Esse numeroso contigente foi sugerido apôs a recusa de Mondlane, Marcelino e Magaia de alinharem com os planos do Che no Congo. Por ultimo, referir que nem os Tanzanianos estavam confortáveis com esse contigente, tao numeroso. Posso procurar os dados que confirmam esta indisponibilidade Tanzaniana se insistires. Mais uma vez, não se tratou de responder a nenhuma estratégia americana. Tanto mais que a FRELIMO tinha chineses, na Tanzania, que não eram mais amigos dos Americanos que os cubanos. E treinava outros contigentes em outros paises que não eram amigos dos americanos. O problema era o de que os cubanos mandavam contigentes ávidos de entrar em combate. Com o risco de subalternizarem a liderança política do Movimento de Libertacao. Jorge Risquet, que eu conheci, que dirigia esses numerosos contigentes de instrução, era um dirigente de primeiro escalão da revolução cubana. Veio a ser membro do bureaux político do PCC e negociador chefe da retirada cubana de Angola, conducente aa libertação da Namibia. Joao Cabrita, estamos a falar de uma estratégia hegemônica, de controlo político dos cubanos, como vieram a faze-lo na Bolivia.
24/5 às 15:52
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Joao Cabrita, no livro "Conflictin Missions, de Piero Gleijess, retirei as seguintes passagens: (i) "This is indirectly confirmed by a FRELIMO leader, Marcelino dos Santos, who attended the meeting. He addressed the issue discreetly. ("We told Che, he said, about our situation, about the armed struggle that had just begun, and questions were raised about our facts. Some of these facts struck Che as rather extraordinary. We told him about the battles we'd fought against the portuguese, of how we'd prepared for the struggle. These facts seem to have surprised Che a little. As for Che's view of the struggle in Africa: the Cuban believed that it was important to FOCUS - meu sublinhado - on Zaire. It was one point of view. We explained that FRELIMO had a different point of view")"; (ii) "But instead of scattering Cuban instructors in different countries, Che continued, there should be a CENTRALIZED (outro sublinhado meu) training center, and it should be in Zaire. Moreover, before the guerrillas returned to their homeland, they should help to free Zaire"
14/5 às 15:17
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Confirmo, ouvi essa versão já de dois antigos combatentes. Creio que o Che continuava muito influenciado pela teoria do foco (Régis Debray), e que privilegia a ação armada à ação de consciencialização politica. Na FRELIMO, a opção era por uma formação politico-militar, que consciencializasse cada um dos guerrilheiros sobre a razão da luta (colonialismo).
Joao Cabrita
Joao Cabrita O plano do Congo não era exclusivo de Che Guevara, mas um projecto do regime cubano. Apesar daquela encenação de Fidel Castro (lendo a 'carta de despedida' de Che Guevara quando este já estava no Congo), o facto é que os contactos entre Havana e Guevara continuaram. Houve troca de correspondência entre Castro e Che Guevara quando este estava no Congo. Aliás, ele aparece depois na Bolívia vindo de Cuba. Régis Debray narra a teoria do 'foco', recolhida de Che na Bolívia. Portanto, não foi Debray a influenciar Guevara.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Sim, não era exclusivo do Che. Jorge Risquet e o embaixador na Tanzânia pertenciam ao núcleo duro da Revolução Cubana. Risquet, que conheci, veio a ser membro do Bureaux Político do Partido Comunista e principal negociador cubano nas questões de Angola e Namíbia. Mas esta não parece ser a questão da Maria Paula Meneses. A questão dela é a de o Congo ter sido concebido como o focus insurrecional, como o fora a Serra Maestra e como seria Bolívia.

E ela define muito bem o princípio fundamental do foquismo: negligência do trabalho político, no pressuposto de que as vitórias espectaculares da guerrilha acabariam por ganhar a adesão das massas. Quando, na Bolívia, este pressuposto não se verificou, Che não se coibiu de defender "terror localizado" sobre os camponeses, para força-los a cooperar.
34/5 às 22:32
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses E o Congo não foi 'só' um plano de Cuba. Também o foi dos Estados Unidos e da Bélgica. Ou seja, como Angola foi mais tarde, tratou-se de mais um palco da 'quente' guerra fria.
15/5 às 6:09
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Agora diz-me, amigo Joao Cabrita, acha que esses combatentes (fossem da FRELIMO, fossem d MPLA, fossem de outro Movimento) depois de trinados pelos cubanos, depois de terem combatido durante meses ou anos, depois da gloria de terem libertado o Congo, voltariam a obedecer aos comandos políticos dos seus movimentos originais? Acredita nisso? Ou, depois disso, a libertação de Africa estaria sob o comando de Che Guevara? Conhece as tricas que Che teve na Bolivia, com o Secretario Geral do Partido Comunista Boliviano? Houve la uma clara disputa pelo comando da guerrilha de Che. Mario Monge, o SG, defendia que a liderança deveria estar com um Boliviano. Che Guevara defendia que a liderança deveria estar com um experimentado chefe de guerrilha - ele próprio, neste caso. Não acredita que isto teria ocorrido com a FRELIMO, com o MPLA, com o ANC, com a ZAPU...? Isto, do meu ponto de vista, justifica a recusa de um líder maduro como Mondlane, em entregar centenas de seus homens para um projecto que ele não controlaria jamais. Veja o que diz Alvaro Simao Cossa sobre o conceito que os latino-americanos tinham sobre Africa (e teem ate hoje). Para eles Africa ee uma massa amorfa, sem diferenças... Quase como uma pagina branca em que cada um pode escrever. Ainda hoje encontram-se latino-americanos cultos que se referem a Africa como se fosse um paiis. E que te perguntam se, por acaso, não conheces um obscuro enfermeiro que mora em Bamako, quando tu vens de Mandlhakaze!
24/5 às 22:05Editado
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Porque ee que Che Guevara pretendeu minimizar e negar seriedade aos comunicados militares da FRELIMO? A minha hipotese ee a de que tratava-se de sugerir que a guerrilha daquele movimento era ainda incipiente, sem preparacao para levar uma verdadeira guerra de libertação. E que a solução era levar todos eles para o Congo, para serem treinados e "antes de regressar aa FRELIMO, ajudar a libertar o Congo". Discutimos mais acima as implicações políticas deste facto. Mondlane e a FRELIMO perderiam, definitivamente, o controlo político sobre os seus guerrilheiros. Perderiam relevância política. Daii em diante, a nossa libertação passaria para as maos do Che. So um ingênuo aceitaria isso. E Mondlane e Marcelino não o eram. A sua recusa não tem, em minha opinião, nada a ver com estratégia americana global. Mesmo que se sugira que Mondlane era um peao dos americanos, que eu saiba, essa sugestão nunca foi feita em relação a Marcelino. Como se ve acima, Marcelino esteve com Mondlane na recusa de entregar os seus homens para o Congo.
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse,deve ter reparado que não me referi ao mérito ou demérito do plano cubano no Congo, mas ao facto dele ter deparado com a oposição da Frelimo de Mondlane, não pelas razões que apontou mas pelo facto desse plano não se enquadrar na orientação ideológica do então presidente da Frelimo.

E quanto à perda de controlo sobre militares treinados por cubanos, o que dizer dos que haviam sido treinados por argelinos? e depois por chineses?

Aliás, Mondlane e os demais políticos da Frelimo em Dar-es-Salam, já começavam a perder o controlo sobre a guerrilha em Moçambique antes do surgimento do plano cubano no Congo. Filipe Magaia foi eliminado por representar essa ameaça. Veja o comunicado saído da sessão do Comité Central da Frelimo (Outubro de 1966) que fala da existência de duas linhas – a dos militares (Magaia) e a dos políticos (Mondlane) – detectadas logo a seguir ao início da luta armada em 1964.

O fenómeno da supremacia dos militares em movimentos de libertação não é exclusivo da Frelimo.
34/5 às 16:21Editado
Elton Bila
Elton Bila Lots to diggest....
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Joao Cabrita, referi-me às implicações políticas de entregar centenas de homens "para serem treinados pelo Che" para mostrar-lhe que só um ingénuo deixaria de notar nisso. E, como Mondlane, Magaia e Marcelino não o eram, recusaram. E que essa recusa, portanto, não tinha nada a ver com alinhamento com estratégia americana alguma. Aliás, nem Marcelino, nem Magaia (que concordaram com Mondlane) foram jamais acusados de serem peões dos americanos.

Che visitou Dar-es-Salam em Fevereiro de 1965. Nessa altura, os conflitos entre políticos e militares na FRELIMO não estavam ainda visíveis. A luta só começara uns meros 4 meses antes. Esses conflitos vieram a ganhar momentum só nos finais de 1966, o que justificou a sessão mais longa do Comité Central que a FRELIMO tivera até aí. A de Outubro. Não confirmo, porque não tenho dados credíveis, que essa sessão, ou esse conflito, tenham sido as causas da morte de Magaia.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Mais uma coisa João Joao Cabrita, veja como Che se senta em algumas das fotos dessas reuniões: como um Grande Chefe!!!! No centro da Mesa!!! Uma pessoa sofisticada como Mondlane ou como Marcelino, deixariam de notar isso e as respectivas implicações!!!!??? Se até eu pude notar! Eu não entregaria os meus homens àquele indivíduo. Com americanos ou sem eles.
14/5 às 22:45
Joao Cabrita
Joao Cabrita É interessante ver militantes da Frelimo a insurgirem-se contra o envolvimento de guerrilheiros da Frelimo em outras lutas, mormente no Congo. Terão a mesma opinião em relação aos combatentes da Frelimo desdobrados em Angola em 1975 (juntamente com os mesmos cubanos)? e no Zimbabwe? ou ainda no Uganda? E em relação ao que foram treinados na Líbia em 1984? e por ingleses no Zimbabwe? e antes na RDA e na URSS?

Gabriel Muthisse pretende negar o comprometimento de Mondlane com os Estados Unidos, alvo principal do plano cubano no Congo, mas os factos são claros: o primeiro presidente da Frelimo era declaradamente anticomunista (por isso regozijou-se, perante diplomatas americanos em Dar-es-Salam, pelo facto das autoridades tanzanianas não terem autorizado João Ferreira a permanecer no país quando fugiu de Moçambique com Jacinto Veloso em 1963 por ser um ‘comunista’), e que ascendeu ao poder e consolidou-o graças a apoios americanos. É óbvio que um político com este perfil não poderia nunca participar num plano que visava um aliado.

Muthisse alega que Marcelino dos Santos se havia oposto ao plano cubano, mas não apresenta provas que contrariem as declarações de Pablo Rivalta, de que Che Guevara não devia contar com Mondlane, mas com uma pessoa da máxima confiança: Marcelino dos Santos.

Quem disse que Mondlane havia recusado instrutores cubanos foi o embaixador de Cuba em Dar-es-Salam, como atrás citei.

Ao contrário do que alega Muthisse, o surgimento das alas militar e política no interior da Frelimo é anterior a 1966.

E quanto à foto, escapa-me significado da forma como Che Guevara está sentado. Qual seria o lugar apropriado, Gabriel Muthisse, tendo em conta que a reunião foi numa missão diplomática cubana?
25/5 às 6:16
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Bom, Joao Cabrita já não está a debater fraternalmente. Nem está a responder aos pontos vivos do debate.

Primeiro, eu não neguei o envolvimento da FRELIMO em outras lutas. Expliquei o meu entendimento sobre a recusa de Mondlane em mandar os seus homens combaterem no Congo, em detrimento dos objetivos para os quais a FRELIMO havia sido formada. E apresentei argumentos que contrariam a ideia de que essa recusa de Mondlane se deveria ao facto de ele ser peão dos Americanos. São esses argumentos que Cabrita deveria debater.

Em segundo lugar, eu coloquei um trecho em que o próprio Marcelino explica a racionalidade da recusa da FRELIMO. Nessa explicação de Marcelino ele não se coloca ao lado de Pablo Ribalta, mas sim ao lado de Mondlane. Nem sei se Marcelino tinha ciência da avaliação que Ribalta fazia dele, quase o colocando como opositor a Mondlane.

Em terceiro lugar, nem Mondlane, nem a FRELIMO puseram jamais em causa a sua solidariedade com outros povos. Mas sempre que isso não colidisse com os objectivos estratégicos de expulsão do colonialismo, proclamação e consolidação da independência de Moçambique. Por isso mesmo que a FRELIMO se tenha envolvido nas lutas do Zimbabwe, de Angola, do Uganda, da RSA, de Timor e outras.

Em quarto lugar, o conflito entre políticos e militares na FRELIMO não surgiu automaticamente com o desencadeamento da luta armada. Tratou-se de um sentimento que se foi consolidando à medida que a luta progredia. Essa contradição não poderia estar explícita poucas semanas após o 25 de Setembro de 1964. Che chegou a Dar-es-Salam poucas semanas depois do desencadeamento da luta. Essas contradições não estavam ainda patentes.

O facto de a reunião se realizar na Embaixada Cubana não implica necessariamente que Che a presidisse explicitamente. Principalmente se considerarmos que estavam presentes líderes de movimentos de libertação que, em muitos países, eram recebidos quase como Chefes de Estado. Questões de protocolo. Existe uma disposição neutra das cadeiras que não cria a impressão de subordinação de uns sobre outros.

Em último lugar, Mondlane poderia não ser Comunista. Haveria, contudo, que substanciar o alegado anti-comunismo referido por Cabrita. Li muita coisa sobre Mondlane, mas nunca encontrei nada que o classificasse como anti-comunista. Cabrita teria de provar com factos.
35/5 às 6:46Editado
Brazao Catopola
Brazao Catopola Good too much to learn. Bit thanks for the lessons.
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse, não posso debater questões que não levantei - a de Mondlane ser alegadamente um peão dos americanos. Nunca me referi a Mondlane como “peão”. No entanto, creio ter-me referido aos pontos por si levantados. Uma vez que me pede agora que prove com factos que Mondlane era um anticomunista, passo a citar alguns dados:

1. Num encontro com entidades americanas, realizado no Departamento de Estado em Washington a 8 de Fevereiro de 1962, Mondlane referiu que havia “abordado Holden Roberto para que este obtivesse apoios do presidente tunisino, Habid Bourguiba, para um movimento de independência de Moçambique” que ele, Mondlane, pretendia criar. Segundo declarou Mondlane nesse encontro, “Habid Bourguiba estava profundamente preocupado com a penetração comunista na África subsariana, e em particular com o envio de armas soviéticas para países desta região”.

2. Em 18 de Junho de 1962, Mondlane contactou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Dar-es-Salam, Thomas Byrne, tendo manifestado “consternação face ao completo comprometimento de Adelino Gwambe para com Nkrumah e países do bloco comunista”. Mondlane disse ainda ao diplomata americano que havia “instado Oscar Kambona a considerar a vantagem de assegurar fundos de fontes ocidentais a fim de libertar o movimento moçambicano de Gwambe”. Um informe de Thomas Byrne para o Departamento de Estado refere que “no regresso a Siracusa, Mondlane tenciona fazer escala no Cairo, Tunes, Genebra e Londres para angariar fundos” e que “logo que chegue aos Estados Unidos planeia avistar-se com Wayne Fredericks, subsecretário adjunto americano para os
assuntos africanos”.

3. Num outro encontro com Thomas Byrne em Dar-es-Salam a 28 de Junho de 1962, Mondlane pediu ao diplomata americano que “informasse Fredericks de que necessitava desesperadamente de fundos tendo em vista consolidar a independência da Frelimo em relação ao Gana e aos países do bloco comunista”.

4. Em meados de Abril de 1963, Mondlane reuniu-se em Washington com Wayne Fredericks e Robert Kennedy. Foi como resultado deste encontro que Mondlane obteve $96,000 da Fundação Ford da qual o secretário da defesa americano, Robert McNamara, havia sido presidente.

Gabriel Muthisse, os exemplos que acabei de citar baseiam-se em documentação que obtive junto do Departamento de Estado ao abrigo da Lei de Liberdade de Informação. Poderá ler essa e outra documentação no portal electrónico do CPHRC (Contemporary Portuguese Political History Research Centre) em http://www.cphrc.org
25/5 às 13:18
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Joao Cabrita, também posso citar fontes credíveis, de estudiosos que pesquisaram a vida de Eduardo Mondlane, que demonstram que este nunca se posicionou como um anticomunista militante. Por exemplo, num Ensaio com o titulo “O Projecto Pessoal e Político de Eduardo Mondlane”, Pedro Borges Graça, do Centro de Estudos Africanos e Brasileiros no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa, escreveu: “Quem não o toma por um revolucionário marxista- leninista? Na verdade nunca se posicionou claramente como tal e defendia que os africanos tinham de desenvolver os seus próprios e específicos modelos de sociedade…” Ou seja, segundo este investigador, Mondlane evitou expressar um posicionamento inequívoco, pelo menos até 1968, em relação a este debate ideológico.
Outro exemplo, Lorenzo Macagno, Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná , num Ensaio com o titulo “Lendo Marx “pela segunda vez: experiência colonial e a construção da nação em Moçambique” afirma que um sintoma indicativo de que a orientação da Frelimo cairia, cedo ou tarde, sob os postulados teóricos do “marxismo-leninismo” pode ser rastreado em uma famosa entrevista que Aquino de Bragança realizou com Eduardo Mondlane em 1969, pouco antes deste ultimo ser assassinado. Naquela entrevista o fundador da Frelimo admite que não havia nenhuma outra alternativa afora a adoção do “marxismo-leninismo”. Há uma coalescência de pensamento que actuou durante os últimos seis anos, dizia Mondlane, “...que me autoriza a concluir que a Frelimo realmente agora é muito mais socialista, revolucionaria e progressista do que nunca. E é a linha, agora, a tendência, mais e mais em direcção ao socialismo do tipo marxista-leninista. Porque as condições de vida de Moçambique, o tipo de inimigo que nós temos, não admite qualquer outra alternativa”.
Isto é, num dado momento, Mondlane teria evoluído no seu posicionamento ideológico publico até ao ponto de admitir um socialismo de tipo marxista para a nação em forja na luta de libertação nacional. Ademais, é necessário termos em conta que estamos em presença de um ente político, que se treina a si próprio a, algumas vezes, dizer o que o seu auditório quer ouvir. Pela pena de João Cabrita, sabemos o que Mondlane dizia aos Americanos. Haveria que ir aos arquivos Chineses e Soviéticos para apurar o que Mondlane diria quando estava com eles. Posso suspeitar que, naqueles fóruns específicos, Mondlane não proferiria um discurso particularmente anticomunista.
35/5 às 23:01Editado
Joao Cabrita
Joao Cabrita Concordo, Gabriel Muthisse, que os arquivos soviéticos e chineses deviam ser consultados para se apurar mais sobre Mondlane. Vladimir Shubin, do Instituto de Estudos Africanos em Moscovo, revelou algo interessante no livro “The Hot ‘Cold War’- The USSR in Southern Africa”. O autor cita Latyp Maksudov, representante soviético na Organização de Solidariedade Popular Afro-Asiática, como tendo escutado de Marcelino dos Santos esta frase lapidar:

«Toda a gente sabe e nós sabemos que o presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, é um americano, mas de momento não existe outro homem em Moçambique que possa liderar a luta e em torno do qual as forças que lutam pela independência possam unir-se... Até agora, Mondlane é o único homem – educado, que tem ligações e influência no estrangeiro. Afinal, ele é um moçambicano negro, não um branco ou mulato como eu. Não devemos esquecer também que Mondlane é capaz de angariar dinheiro. É verdade, segundo dizem, que ele obtém o dinheiro do governo dos Estados Unidos, mas esse dinheiro vai para a luta. Mais tarde, se for necessário, será possível substituir Mondlane.»

Num outro documento que obtive junto do Departamento de Estado, Mondlane é citado como tendo informado a embaixada americana em Dar-es-Salam, após uma visita a Moscovo por ocasião do dia dos trabalhadores em 1964, que “os soviéticos estavam preparados para aceitar as relações que ele mantinha com os Estados Unidos por elas serem uma forma de dissuasão da presença chinesa em Moçambique”. Segundo o documento, “a URSS estava disposta a prestar um maior apoio à Frelimo, mas preferia que Mondlane diversificasse a assistência que recebia dos Estados Unidos, procurando ajuda através de fontes privadas americanas”.

Presume-se que os soviéticos não consideravam a Fundação Ford como “fonte privada americana” em virtude das ligações dessa instituição ao secretário da defesa da administração Kennedy.
35/5 às 16:12
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Bem, como o Aquino nos dizia, há que ver cada situação no seu contexto. Creio que nos falta ter em perspectiva que a liderança da FRELIMO procurava de todas as formas ampliar o sentido da luta em Moçambique, o que incluía um grande esforço diplomático pelo mundo. Importava dar-se a conhecer e ganhar legitimidade, num mundo onde a 'grande luta' era a guerra fria; em paralelo, não devemos esquecer que esta visita acontece no momento em que se desenha Bandung (e da Tricontinental), ou seja, a procura de uma terceira via, para além do capitalismo ou do socialismo europeus. Tendo tido a possibilidade de ler materiais em russo sobre a luta em Moçambique (e não só) antes da independência, de facto a ignorância é muita, e o enfoque é semelhante ao dos Estados Unidos. Importa 'tê-los do nosso lado', numa equação onde o nacionalismo não é compreendido como a busca de uma experiência alternativa, pensada a partir das realidades contextuais (pensar pelas próprias cabeças, como afirmou Cabral). vale a pena ler o elogio de Cabral feito, creio eu, numa conferencia em honra a Mondlane, nos estados unidos, onde ele reflecte sobre esta caminhada.
56/5 às 7:39Editado
Lucas Henrique Matine
Lucas Henrique Matine O que eu já cunclui é que essas discussões da história de Moçambique na luta de libertação em torno dos famosos blocos antagónico é de extrema importância criarem condicões para que haja uma verdadeira história por todos. Há discordâncias e concordâncias por parte dos investigadores uma vez que cada um usou a sua fonte, ou porque este está a fazer licenceatura, mestrado ou doutoramento. Para salientar que é muito importante que os estudantes moçambicanos de história que se unem, coordenem e debatem sobre criar um projecto para escrever a história de Moçambique num único livro. Vejamos como foi escrito os quatro livros do Evangelho de Jesus Cristo, cada autor escreveu independemente o que ele observou na mesma personagem. Mas até hoje não surgiu alguém que já defendeu que Mateus, Marcos, Lucas e João escreveram melhor relato de Jesus que um e o outro , tudo é aceite num único livro.
16/5 às 6:37
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Não existe isso de história de Moçambique num único livro. Nenhum país sério tem isso, Lucas Henrique Matine
16/5 às 7:41Editado
Brazao Catopola
Brazao Catopola Creio que a grande questão perdurará por muito mais tempo. Por exemplo, Macagno citado por Gabriel Muthisse não afasta a hipótese de Mondlane ter ligações com o governo de Kennedy. Blandier chama de Diplomacy de Convennience a estratégia da Frelimo em permanentemente desde a sua origem conseguir trazer vários opositores ideologicos a sua causa. Quando em 2014 entrevistei a Luís Jose Luis Cabaco no Riode Janeiro e cito em minha tese ele frisou essa ideia de fazer amigos e que houve muito apoio americano a Mondlane. A questão é até que ponto um apoio pode significar conivência? estaríamos no longo debate sobre se os líderes africanos colaboraram com os exploradores ou se a aliança foi uma estratégia de sobrevivência dos seus Estados? Eusébio A. P. Gwembe Parabéns. Gabriel Muthisse e Joao Cabrita vamos criar condições para um debater aberto de Moçambique esse é meu sonho e sei que vocês podem e dão muito para isso.
26/5 às 6:56Editado
Brazao Catopola
Brazao Catopola Daí que a ideia de "Diplomacia de Conveniência" faça sentido. Não me ocorre em que entrevista Samira diz que optou pelo socialismo porque a ajuda que recebeu foi do bloco socialista. Ademais quando se assina a cláusula de Berlim (1982/3) o então embaixador da Alemanha Federal disse que o apoio à Moçambique era apoio político e não econômico. ora voltando aos anos 1965-8 será que o apoio americano seria econômico? Quero crer que Mondlane sabia que não é claro que creio pelo seu passado na ONU que o interesse americano era de uma posição geopolítica previlegida. Por isso acho que temos um grande desafio. Ainda espero ansiosamente por duas auto biografias de Marcelino dos Santos e Oscar Monteiro...
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Convém não esquecer que Mondlane era um homem das Nações Unidas, e que participou/observou vários dos conflitos em palcos africanos e não só. Há aqui um distinção a fazer entre um espírito 'negocial' (negociamos, resistimos e falamos) e o espírito 'sacrificial', que muitas vezes resulta em confrontações desnecessárias. Ainda estará por perceber o impacto da opção por resistência passiva em contextos africanos, por exemplo. em contextos africanos. E não tenho a certeza, com a pouca documentação disponível na altura, que os Cubanos tivessem acesso a este manancial de perspectivas.
36/5 às 7:45
Benedito Mamidji
Benedito Mamidji Tenho cá para mim que estamos a tentar encaixar as personalidades de figuras complexas como o Mondlane numa caixa onde elas possam ser facilmente lidas. As pessoas são muitas coisas ao mesmo tempo justamente porque são complexas. A evolução política de Mondlane foi complicada. Não nos esqueçamos que antes de tudo ele era um devoto cristão Presbiteriano a quem os Suiços viam como futuro líder da Igreja Presbiteriana em Moçambique. Os arquivos do Estado Americano e da Russia são importantes, mas é preciso ver também a sua correspondência com os seus amigos e mentores suiços em Lausanne. O livro de Robert Faris sobre a dimensão religiosa de Mondlane e o seu impacto no pensamento político do líder e da Frelimo em geral é iluminador, tal como o é a biografia de Janet Mondlane por Nadja Manghezi, ou mesmo o trabalho de Teresa Cruz e Silva. A questão da Guerra Fria a que a Maria Paula Meneses se refere é de suma importância. Os termos anticomunista ou Americano não são suficientes para compreender a complexidade dessas figuras. Esses alinhamentos políticos evoluem e mudam. Vejamos por exemplo figuras como Sérgio Vieira ou Armando Guebuza ou mesmo Joaquim Chissano. Se tivessem morrido durante a guerra de libertação ou junto com Samora poderíamos dizer que eles sempre foram Marxistas/Leninistas/Socialistas. Alguém é capaz de dizer tal coisa hoje? As circunstâncias muitas fazes produzem alinhamentos políticos para determinados fins.
26/5 às 8:10
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Benedito Mamidji encontrou as palavras certas para expressar o que sempre tentei dizer. As pessoas são complexas. Mondlane era uma personalidade complexa e, justamente por isso, não cabe nos espartilhos que possamos inventar para o circunscrever ideologicamente.
16/5 às 8:27
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Mondlane teve, sem duvida, ligações com os Kennedy, particularmente com Robert Kennedy, Brazao Catopola. Foi este que conseguiu a Mondlane o seu primeiro financiamento nos Estados Unidos. Isso nunca esteve em disputa neste debate. O que se discute ee se isso faz de Mondlane um anticomunista. Ou faz dele um líder que se curva, sempre, aos interesses americanos, mesmo que isso prejudique os interesses estratégicos de Mocambique e de Africa. Eu acho que ele aceitou a ajuda americana da mesma forma que aceitou as ajudas dos argelinos, marroquinos, egípcios, tanzanianos, nórdicos, suicos soviéticos, chinese e outros, sem que tenha sido, jamais, agente de qualquer destes
16/5 às 8:37
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Veja-se a campanha diplomática lançada desde os finais dos anos 60, que vai incluir palestras mis Estados Unidos, o apoio do papa Paulo VI, etc. Reduzir a luta nacionalista as frentes de guerra faz com que se não dê conta desta diversidade de ações na frente diplomática. É um bom tema para reflectir, tanto mais que há muito material disponível sobre o tema.
26/5 às 10:02
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Muitas vezes, Maria Paula Meneses, a acção diplomática de Mondlane foi muito mal interpretada. Algumas correntes "revolucionárias", dentro e fora do país, não possuíam a sofisticação política e humana para perceber que, isolando o colonialismo diplomaticamente, era uma forma de luta tão decisiva como a luta armada. Ainda não se estudou completamente, o efeito dos ovos atirados contra Marcelo Caetano em Londres. Ou o efeito da recepção do Papa Paulo VI aos líderes independentistas em 1970. Ainda por cima num país católico como Portugal.
A luta dos moçambicanos foi vencida em rodas essas frentes. E, sem dúvida, Mondlane foi um gigante neste esforço diplomático. Na verdade, ele é o verdadeiro fundador do estilo e da pujança da diplomacia Moçambicana.
Algumas correntes avaliaram mal este esforço de Mondlane. Aliás, o próprio Che caiu nesse erro. Talvez porque a luta dos cubanos na Serra Maestra teve uma componente diplomática negligenciável. Terá, por isso, se criado uma escola de que os tiranos SÓ se vencem com os golpes das armas.
17/5 às 2:00
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Gabriel Muthisse concordo, embora creia que há mais estudos sobre as várias frentes de luta nacionalista em moça,bique. Divulgamos talvez pouco esses trabalhos. É sim, do que tenho lido e falado com pessoas que viveram o momento, o Papa Paulo VI, desde a sua encíclicas de 1967 (populorum progressio) que apoiava a libertação dos povos colonizados, o que fez com que não fosse recebido com honras de chefe de estado e quase ostracizado por ter recebido em Julho de 1970. E convém perceber porque esquecestes foram os líderes recebidos e não representantes de outros movimentos (lembremos que até 1972 o COREMO estava bastante activo)
17/5 às 3:47
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse, "uma componente diplomática negligenciável" ? Apoio em armas da Costa Rica, dos americanos através do jornalista Herbert Mathews, dos mexicanos que fecharam os olhos, desde a compra à partida do iate comprado a um dentista americano, e ao fim de uns 2 anos e picos entrada em Havana...
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Vê, contou facilmente as acções diplomáticas mais relevantes, Joao Cabrita! Kkkkkkkkkkkkkkk
17/5 às 8:00
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Tente contar as da FRELIMO e de Mondlane!
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Claro que é mais fácil promover internacionalmente uma luta pela independência que outra por mudança de regime. Por isso que a acção diplomática da FRELIMO tenha sido mais vistosa
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse, portanto está a querer dizer que os pedidos de armamento que a Frelimo fez a russos, chineses e alemães da RDA (e a muitos outros) não se inserem no âmbito de acções diplomáticas? Será que para si diplomacia é apenas ir bater à porta do Vaticano para uns anos depois apunhalar a Igreja pelas costas?
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Apunhalar pelas costas a inocente e coitadinha igreja católica colonial!!!! Que abençoava os comandos e GP's nas suas acções! Mas este não é o tema do Eusébio Eusébio A. P. Gwembe
Joao Cabrita
Joao Cabrita E as Testemunhas de Jeová? que soldados abençoaram? que político, governo ou regime enalteceram?
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Esses tiveram problemas em muitos países. Até com a ciência e com a medicina
Joao Cabrita
Joao Cabrita O verniz estala, Gabriel Muthisse. Escuda-se na postura de um ou outro prelado quando aquilo que lhe move, ou melhor, o que motivou o regime da organização a que pertence, foi a repressão da religião e dos crentes. No fundo,a hipocrisia de um regime que sabia muito bem com que falava durante a audiência no Vaticano. Pessoas de princípios não têm duas caras, dois discursos, ou duas posturas, uma para cada ocasião.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse A FRELIMO sempre elogiou a postura dos Padres Brancos. Ou dos Padres de Burgos, amigo Joao Cabrita. Nada contra a religião, mas alguma desconfiança com um clero que, no seu conjunto, apoiou o colonialismo português.
Joao Cabrita
Joao Cabrita Afenale?!
Joao Cabrita
Joao Cabrita Transcrição de Conversa Telefónica entre Robert F. Kennedy e John Kennedy

Data : 7 de Maio de 1963

Tema: Mondlane

Outros nomes citados durante a conversa telefónica:

John McCone, director da CIA;

Dean Rusk, secretário de Estado;

Averell Harriman, embaixador itinerante, secretário de Estado adjunto para assuntos do Extremo Oriente, subsecretário de Estado para assuntos políticos;

Carl Kaysen : assessor adjunto para a Segurança Nacional.

Versão audio: http://archive1.jfklibrary.org/.../JFKPOF-TPH-18B-AU_WR.mp3

RFK: Now, one other thing. Uh, . . . I’ve had some conversations the last couple of weeks with a fellow by the name of [Eduardo] Mondlane . . .
President: Yeah.
RFK: . . . who’s from Mozambique.
President: Yeah.
RFK: And he’s the fellow that’s leading the efforts to, uh, make Mozambique independent. Terrifically impressive fellow.
President: Yeah.
RFK: And, uh . . .
President: That’s Portuguese?
RFK: Yeah.
President: Yeah.
RFK: Uh, . . . He, uh, . . . uh, . . . Some of his people have gotten . . . He’s the head of it, but some of his people have gotten some aid and assistance from Czechoslovakia and Poland. He needs help from the United States for two reasons. Number one, so that he can indicate to them that there are people in
the West at least sympathetic to his efforts, and, uh, number two, just to keep him going. And, uh, the figure that he mentions that he will l need for a year is a . . . uh, . . . is quite reasonable. First, he needs fifty thousand dollars for his own operations and then he needs fifty thousand dollars to help with the refugees. Uh, . . . I think that they . . . there is a possibility that they can get the second fifty thousand dollars from the Ford Foundation. At least they’re working on that. Carl Kaysen is. Uh, but he’d need at least fifty thousand dollars from us. Now, uh, Dean Rusk has felt that . . . uh, that he wants to be able to sit down with the Portuguese and say none of these people are getting any money. Uh, . . . if (?we) turned this over to somebody like Averell Harriman or John McCone, just to use their own judgment, uh, . . . then he
wouldn’t have to get involved in it . . .
President: Yeah.
RFK: . . . or know anything about it. Uh, . . . I think it would be damn helpful. Now, we’ve had discussions on these things for the last week and Carl Kaysen can fill you in on it. But this fellow’s going back Wednesday–Mondlane–and he’s gonna meet with the heads of all these African nations at this meeting, I guess next week.
President: ‘Course, we wouldn’t want him to be saying that he is getting anything from us.
RFK: No, but we wouldn’t have that, you see. He’d have it through some private foundation.
President: Yeah.
RFK: Then they could have cut-outs on it.
President: I see.
RFK: And John McCone can handle it. So it wouldn’t come from the agency.

President: Well, now, what does it depend on . . . Uh, you think we ought to give it?
RFK: Yes.
President: O.K., well, then, what do we give it?
RFK: Well, if–maybe you should talk to Carl Kaysen about how it should be handled, because if it’s to be handled so that Dean Rusk is happy and . . . and, uh, Averell Harriman feels very strongly it should be given.
President: O.K.
RFK: But, uh, I think if it could be handled so that . . . maybe to explain to Dean Rusk he doesn’t have to know about it directly.
President: Should we tell Dean Rusk?
RFK: Well, um, Carl Kaysen got all the facts on it, and he’ll have a suggestion as to how it should be handled.
ARCHIVE1.JFKLIBRARY.ORG
36/5 às 10:32Editado
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Eu já tinha visto esta conversa. Ela encaixa-se no queBenedito Mamidji disse antes. Mondlane tinha uma personalidade complexa. E, como diz Robert Kennedy, ele tinha uma personalidade impressionante. Mas, como foi referido antes, haveria também que ver as conversas que ele tinha com os seus mentores suíços, com os pastores da Missão Suíça, alguns dos quais tinham sido seus colegas em Lourenço Marques, com os Nórdicos, com os Russos, com os Chineses, com os Argelinos, com os Egípcios, com os Tanzanianos e com todos os outros que apoiavam a luta dos moçambicanos. Do cruzamento dessas informações poderíamos ter uma imagem mais ampla (não completa ainda obviamente) da personalidade de Eduardo Mondlane
36/5 às 12:45Editado
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses O lado esquerdo desta foto, que tem dado azo a tanta escrita
76/5 às 11:17
Joao Cabrita
Joao Cabrita O livro “Engaging Africa: Washington and the Fall of Portugal’s Colonial Empire” (Envolvimento em África: Washington e a Queda do Império Colonial de Portugal), de autoria do antigo vice-secretário de Estado assistente para assuntos africanos da administração Clinton, Witney Schneidman, fornece mais pormenores sobre a forma como se processou a ajuda financeira dos Estados Unidos a Mondlane e à Frelimo.

Schneidman revela que o primeiro encontro de Eduardo Mondlane com um membro do governo americano foi estabelecido durante o governo do Presidente John Kennedy quando o dirigente nacionalista se avistou no início de 1963 com o irmão do presidente americano Robert Kennedy, então Procurador-Geral (ministro da justiça) dos Estados Unidos.

“Embora o Procurador-Geral não se tenha comprometido sobre apoio official americano ele disse a Mondlane que queria pessoalmente ajudá-lo e à sua família,” acrescenta Schneidman que diz ainda que após o encontro Kennedy entregou um cheque pessoal de 500 dólares a Mondlane para ajudar a sua família.

Poucos dias depois deste encontro Mondlane reuniu-se em Washington durante duas horas com Averrel Harriman, subsecretário de Estado para questões políticas. “Os dois saíram da sua conversa de duas horas com um respeito mútuo profundo,” afirma o livro que cita como fonte para os pormenores do encontro um dos seus intervenientes.

O livro relata que em Abril de 1963 foi feita a primeira proposta de ajuda clandestina a Eduardo Mondlane. Um documento garante ao sub-secretário de Estado George Ball que “a Agência (a CIA) está absolutamente confiante que o podem fazer pela calada”.

Uma carta entregue ao influente Procurador-Geral Robert Kennedy afirma no entanto que “o dinheiro não deve ser dado assumindo-se que podemos controlar Mondlane”.

“De facto seria uma idiotice tentar controlá-lo porque essa tentativa iria prejudicar a sua utilidade para nós. A verdade é que nós não podemos controlá-lo; podemos apenas confiar nele…Apoiar Mondlane sera um bom investimento para nós porque o seu programa representa a melhor e única esperança para uma solução relativamente pacífica para o problema moçambicano,” diz o documento.

Nessa Primavera, a CIA entregou um “subsídio” de 60.000 ( sessenta mil) dólares a Mondlane que foram canalizados através do Instituto Africano-Americano em Nova Yorque.

Ao discutir mais adiante a política do governo do Presidente Lyndon Johnson o livro refere que quatro anos mais tarde, em 1967, “o apoio financeiro” a Mondlane continuava “mas sem aumento dos desembolsos”.

Fonte: José Pestana, “Eduardo Modlane, Primeiro Presidente da FRELIMO, foi Financiado pela CIA, diz novo livro baseado em documentos oficiais”, LUSA 25 de Outubro de 2010.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse "O dinheiro não deve ser dado assumindo-se que podemos controlar Mondlane".
"... A verdade é que nós não podemos controla-lo; podemos apenas confiar nele... Apoiar Mondlane seria um bom investimento porque o SEU (sublinhado meu) programa representa a melhor e única esperança para uma solução RELATIVAMENTE (meu sublinhado) pacífica para o problema moçambicano"
Muito significativo! Os próprios americanos reconhecem que Mondlane tinha um programa próprio. E que a via armada seria tonificada por outras componentes de luta. Depreende-se deste texto que Mondlane não apostava na violência pela violência. Ele era um homem muito responsável. A via armada era uma das formas de pressão. Mas havia outras!
Joao Cabrita
Joao Cabrita Mas não acha, Gabriel Muthisse, que estas revelações de Witney Schneidman vão ao encontro daquilo que tenho vindo a defender : Mondlane dependia de apoios americanos, e tal como a trasncrição da conversa telefónica salienta, não pretendia assegurar esses apoios junto de países do bloco contrário. Logo, em 1965, Mondlane não poderia nunca avalizar um projecto como o do Congo que era objectivamente contra os interesses dos Estados Unidos.
19/5 às 10:20
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Não, amigo Joao Cabrita! O teu equívoco é encarar as fontes americanas como a totalidade dos dados que definem a personalidade de Mondlane. E assumir que esses presumíveis 60.000 dólares anuais, pelo menos até 1965, eram o único apoio que a FRELIMO tinha.
Tens de consultar outras fontes. Por exemplo, devias quantificar quanto custava o apoio em treinamento, em fardamento, em armas que a Argélia, o Egipto e Marrocos davam. Devias quantificar quanto custava o apoio diplomático que esses países, principalmente a Argélia, davam. Quanto custava o apoio inestimável da Tanzânia? E a Rússia? A China? Os Nórdicos? A Suíça? É bem possível que alguns dos outros tenham dado apoios bem acima dos 60.000 dólares americanos. Contudo, não é de presumir que qualquer desses apoios tenha servido para dobrar Mondlane a interesses escusos. Aliás, os próprios americanos concluíram que Mondlane era difícil de controlar por via de ajuda financeira.
Um dado interessante. Sabes que quando Mondlane morreu, o seu filho Eddy se encontrava a estudar na URSS?
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse E as armas da Argélia de Ben Bella e do Egipto de Nasser vinham predominantemente donde?
Joao Cabrita
Joao Cabrita Desconhecia que o filho de Mondlane estudava na URSS em 1969, Gabriel Muthisse. Mas, repare, estamos a tratar de um período bem distinto : 1961-1965.

Não foram apenas 60,000 dólares, nem o cheque de $500 oferecidos a título pessoal por Robert Kennedy a Mondlane. Logo em 1963 temos, portanto, montantes que a CIA se propõe doar ‘pela calada’ (como refere Witney Schneidman), e depois o donativo canalizado através da Fundação Ford. Parte dos fundos tem proveniência no African-American Institute, oficialmente uma organização criada e financiada pela CIA. (Uma funcionária do African-American Institute em Dar-es-Salam, a Sra. Betty King, era quem prestava assistência a Mondlane na gestão do Instituto Moçambicano.)

Mas as ligações de Mondlane ao poder político americano não inciam em 1963 quando ele se avista com Robert Kennedy em Washington. Logo a seguir à visita que Mondlane efectuou a Moçambique (Fevereiro-Março 1961), ele apresentou um relatório da viagem ao governo americano em Abril do mesmo ano. O subsecretário de Estado, Chester Bowles, foi um dos destinatários desse relatório. Porventura, o relatório terá sido recebido por outras esferas do poder americano.

Mondlane manteve depois um encontro de dois dias no Departamento de Estado. O memorando referente a esse encontro tem a data de 6 de Maio de 1961. Entre outras pessoas presentes, o chefe da Divisão da África Oriental do Departamento de Estado, William Wright Jr. No decurso do encontro, Mondlane pediu que os Estados Unidos lhe ̏arranjassem uma colocação˝ fora do sistema das Nações Unidas, dado que não podia levar a cabo actividades políticas enquanto estivesse ao serviço desse organismo mundial. É nesta fase que Mondlane começa a trabalhar para a Universidade de Siracusa.

Wayne Fredericks, subsecretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos, passa a ser um dos elos de ligação entre Mondlane e a Administração Kennedy. É a Fredericks que Mondlane recorre, através da embaixada americana em Dar-es-Salam, para um pedido de ajuda financeira em Junho de 1962. É ainda Fredericks quem organiza o encontro em Washington entre Mondlane e Robert Kennedy no ano seguinte. (Segundo Fredericks, o presidente Kennedy delegava no irmão esse tipo de encontros pois não desejava aparecer em evidência, para não melindrar as relações com Portugal.)

Por conseguinte, há antecendentes claros e um perfil político bem definido do presidente da Frelimo que explica o não-alinhamento dele com o plano cubano de 1965. Como o próprio Gabriel Muthisse refere, as fontes de apoio da Frelimo são diversas, mas não tenho conhecimento que tivessem apresentado contrapartidas, ao contrário dos cubanos que pretendiam um compromisso no âmbito de um projecto que tinha como alvo um velho amigo e aliado. Não se tratou de uma cortês recusa de Mondlane, mas antes de uma afronta pública contra Cuba, o que veio a dar azo ao virulento ataque que o regime cubano lançou contra o presidente da Frelimo através da comunicação social que controlava.

Gabriel Muthisse não pode estar a dar a ser bel-prazer umas pinceladas nas páginas da história, a destoar por completo da realidade e em moldes verdadeiramente surrealistas.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse O que Joao Cabrita não diz é em que é que o apoio americano era superior ao apoio Chinês, por exemplo, para condicionar mais o comportamento de Mondlane do que este. Ou em que é que esse apoio era superior ao argelino. Pode até ser que os americanos não davam 60.000 e davam, por hipótese, 600.000. Temos os montantes das outras ajudas para concluirmos que o americano era superior?
Ninguém nega que Mondlane, Marcelino, Magaia e outros recusaram engajar-se na aventura Cubana no Congo. O que eu digo é que as causas dessa recusa não têm nada a ver com o que Cabrita diz. Essa é apenas a interpretação de Cabrita.
E mais, porque é que os que recusam a tua interpretação estarão à reescrever a história? Porque é que a tua versão é mais verossímil que as outras? Essa acusação de estar a reescrever a história também pode ser válida para ti.
19/5 às 11:54
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse, referi-me sempre à postura política de Mondlane. Não estabeleci diferenças entre os apoios prestados pelos diversos países com quem a Frelimo se relacionou no período em questão. Os seus argumentos, Gabriel Muthise, não vingam, em particular quando nos diz que Mondlane não poderia consentir que moçambicanos fossem treinados por cubanos, longe da Tanzânia, isto depois de um numeroso contingente ter sido treinado na Argélia, outros em Israel e China.

Os factos são claros e não podem ser descurados. Eles demonstram claramente que Mondlane era um político alinhado com o Ocidente. Toda a sua vivência, os valores assimilados, os meios em que se movimentava eram tipicamente ocidentais. Os próprios tanzanianos – que insistiram que Mondlane assumisse um papel no processo político moçambicano – alertaram-no muito cedo de que devia abandonar o estilo de vida que levava em Dar-es-Salam, que de revolucionário pouco tinha, aconselhando-o a conviver com membros da Frelimo em vez de americanos em hotéis, longe de bases militares. Refiro-me a H. Bellege, secretário-geral adjunto da TANU. Noureddine Djoudi, embaixador argelino em Dar-es-Salam e que também representava a Argélia no Comité de Libertação da OUA, em Outubro de 1964 considerava Mondlane de "fantoche americano, destituído de militância e incapaz de liderar um movimento revolucionário". A própria Janet Mondlane, referiu-se em «O Meu Coração Estás nas Mãos de um Negro» à aversão que Mondlane nutria para com a ideologia ‘socialista’ de Marcelino dos Santos.

Em suma, seria de todo ambíguo, sem qualquer lógica, Mondlane desejar relações estreitas com os Estados Unidos, por um lado, e por outro alinhar com projectos que eram a negação dessa postura.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Há dois problemas, um dos quais Joao Cabrita me obriga e repetir várias vezes: (i) Mondlane nunca recusou treino por Cubanos. O que ele recusou foi um numeroso grupo de "instrutores" cubanos que pretendiam dar esse treinamento na Tanzânia ou no interior de Moçambique. Mondlane disse que o único país que poderia treinar moçambicanos na Tanzânia era a China. Os outros países, querendo, poderiam levar os guerrilheiros da FRELIMO para treina-los nos seus próprios países. A FRELIMO foi consistente com esta posição até ao fim da luta. Em Nachingweya não se estabeleceu nenhum outro país para além dos chineses. Cabrita pode imaginar a confusão que seria se Argelinos, Egípcios, Israelitas, Chineses, Soviéticos, Etíopes, Cubanos e outros países amigos decidissem vir treinar os guerrilheiros na Tanzânia? Esta oferta dos cubanos, de mandarem o tal contingente, surge depois da recusa da FRELIMO em alinhar com a acção dos Cubanos no Congo; (ii) o segundo problema é que Cabrita salta de argumento em argumento. Até agora (e isso está escrito) defendia que a recusa de Mondlane em alinhar com os Cubanos no Congo se deveria ao apoio que a FRELIMO obtinha dos USA. Quando se lhe demonstrou que tal não procedia, pois a FRELIMO obtinha apoios, quiçá mais significativos, de outros países, aparece agora com a tese da orientação ideológica de Mondlane. A fraqueza desta tese está nas declarações de Marcelino dos Santos, a quem Cabrita e as suas fontes atribuem credenciais revolucionárias mais firmes, que foram postadas neste debate. Nessas declarações, Marcelino explica a racionalidade da decisão tomada, coloca-se do lado de Mondlane na posição tomada. Ou seja, fica claro, do que diz Marcelino, que a recusa de ir para o Congo foi uma posição no mínimo consensual no seio da FRELIMO; ou seja, essa decisão não estava permeada pelas diferenças ideológicas que pudessem existir entre os seus líderes.
Joao Cabrita
Joao Cabrita O número de instrutores que Cuba pretendia enviar para treino de guerrilheiros da Frelimo não era “numeroso”. Fontes cubanas referem-se a 9 instrutores. Para além de instrutores, Cuba propôs o fornecimento de material bélico. Não obstante a falta de material bélico com que a Frelimo deparava, Mondlane também recusou essa ajuda.

Gabriel Muthisse, não salto de argumento em argumento. Desde o princípio que defendi que Mondlane não alinhou com o plano por questões de princípios, obviamente ideológicos, entre outros. Logo de início referi-me à postura anti-comunista de Mondlane, citando as próprias palavras dele quando conversava com entidades americanas.
De novo, Gabriel Muthisse faz tábua rasa daquilo que Cuba representava para os Estados Unidos, não apenas no hemisfério ocidental – desde a questão dos mísseis soviéticos ao apoio da guerrilha em diversos países latino-americanios – mas também em África. Quer dizer, por um lado os americanos financiavam o recrutamento de mercenários para combater o contigente cubano e outras forças revolucionárias no Congo, e por outro não se importavam que Mondlane, em quem apostavam – e financiavam – fosse lutar ao lado inimigo. E ao intervalo, Mondlane concertava com os americanos a proposta a que me referi antes e que foi apresentada a Salazar. O tal quadro surrealista.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Nao hei-de voltar a escrever sobre porque Mondlane nao aceitou instrutores de outras nacionalidades em Nashingweya, para alem de Chineses (fossem cubanos ou de outra nacionalidade, fossem 9 ou 90)

Tambem nao vou repetir o argumento de que ee um equivoco presumir que conhecia o pensamento politico e ideologico de Mondlane so porque leu algumas actas e notas de encontros ocorridos em Washington. Nao vou repetir o argumento de que qualquer conclusao que se tire sobre a personalidade de Mondlane na base dessas notas ou actas ee incompleta, se nao for conplementada pelo conhecimento do que Mondlane dizia em Moscovo, em Pequim, em Praga, em Berlim, em Estocolmo, em Brazaville, em Acra, no Cairo... Sem ir buscar o que ele disse nas inumeras conferencias publicas que pronunciou.

Por ultimo, a lideranca da FRELIMO nao era constituida so pelo "procapitalista" Mondlane. Estava la um Marcelino, um Simango e um Magaia, para referir os de maior perfil publico naquela altura. Essess que eu citei participaram nos encontros com Che Guevara. E, entre eles, Marcelino era conhecido pelas suas ligacoes com capitais da Europa do Leste. No entanto, todos eles estiveram com Mondlane neste assunto. A sua tese de que a recusa se deveu ao facto de Mondlane ser "proamericano" cai por terra. Como pesquisador que ee, deveria explorar outras hipoteses.
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse até podia dar um valioso contributo a este debate, divulgando aqui documentação do arquivo da Frelimorelativo ao período em causa. Em particular, os pareceres de Mondlane sobre os encontros mantidos com a delegação cubana em Fevereiro de 1965; as instruções por ele dadas a Marcelino dos Santos sobre o que deveria declarar no encontro realizado com a delegação cubana chefiada por Jorge Risquet em Brazzaville em Outubro de 1965, para além de minutas pertinentes. Uma vez que conheceu Risquet, Muthisse poderia ainda trazer a lume os pontos de relevo do livro «El segundo frente del Che en el Congo: historia del Batallón Patrice Lumumba», publicado pela Casa Editora Abril, Havana, 2000.
Benedito Mamidji
Benedito Mamidji Acho que falta mais um pequeno ponto nesta discussão. Reduzir a opção de Mondlane e da Frelimo em recusar a proposta de Che a questões ideológicas e políticas (pro-capitalistas vs pro-comunistas) é minimizar as questões técnicas e estratégicas. A Frelimo acabava de ser criada e estava a lidar com as dificuldades da sua própria existência para se comprometer com os problemas do Congo. Mais do que isso, Mondlane trabalhou algum tempo na ONU para saber do dossier do Congo, e devia saber que a situação ali era explosiva. Mais do que alinhamentos ideológicos, havia uma clara posição realista sobre a situação
210/5 às 12:42
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Falando de instrutores Cubanos, Joao Cabrita pode ver este trecho, de Paco Azanza Telletxiki, num discurso de homenagem a Jorge Risquet, que acabava de falecer:

"En nombre del gobierno cubano, el Che ofreció a Laurent Kabila y a Gastón Soumialot —líderes de los Simbas— instructores cubanos y armas. Ayuda que de buen grado aceptaron los rebeldes.

Lo que estos dirigentes nunca imaginaron fue que, poco tiempo después, el propio Che llegaría al frente de los instructores; acontecimiento que no les agradó demasiado por miedo, según ellos, a que el conocimiento de su presencia provocara un “escándalo internacional”

Como vê, Cabrita, os Cubanos ofereciam "instrutores" e, depois, à revelia dos líderes dos movimentos de libertação, o próprio Che se apresentava no terreno. Obviamente que não para treinar guerrilheiros, mas para combater!!!

Está claro neste trecho que Che não foi convidado para o Congo. Foi à revelia e contra a vontade dos líderes congoleses. É óbvio que, como estes estavam baseados na Tanzânia, Mondlane, Marcelino, Simango e Magaia tomaram conhecimento desta façanha do Che. Crê que, mesmo assim, a FRELIMO deveria aceitar a presença de "instrutores" Cubanos nas suas bases e no interior?

Tinha uma vaga ideia de ter lido algo assim. Por isso que, consistentemente, coloquei sempre INSTRUTORES entre aspas.
Lindo A. Mondlane
Lindo A. Mondlane Nao estou seguir o debate, mas neste caso o Che, voltou a cuba ( de incognito, ja q havia despedido publicamente) com pessima imagem de laurent Kabila, lhe acusou de "preguicoso, que nao estava interessado em ganhar nenhuma guerra, mas bem no trafico de bens no lago tanganica"... Segundo ele. Nao havia condicoes para armar uma revolucao com aqueles guerrilheiros, por isso surprendeu quando 30 anos depois o kabila entrou vitorioso em kinshassa.. Isso sim com tropas ruandesas...
110/5 às 14:40Editado
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse E achas bem ir combater na terra do outro sem convite, Lindo A. Mondlane? Dizer às pessoas que estás a mandar "instrutores" quando, na verdade, estás a mandar forças de combate que tu próprio vais dirigir? Como queria a cooperação de Kabila quando o enganou? Não te parece que as acusações a Kabila são desculpas de mau pagador de quem se saiu mal numa aventura mal preparada?
110/5 às 14:43
Lindo A. Mondlane
Lindo A. Mondlane Nao opinei amigo, so recolhi as impessoes de che.. So isso... E dito feito, depois triunfou o kabila
110/5 às 14:47Editado
Joao Cabrita
Joao Cabrita Como disse antes, Gabriel Muthisse, a presença dos 2 contingentes cubanos (um no Congo ex-belga, chefiado por Che Guevara, o outro no ex-Congo francês, sob a chefia de Jorge Risquet) tratou-se de uma iniciativa conjunta do regime cubano e de forças congolesas opostas ao regime em Kinshasa. Foi tudo coordenado pelas várias partes, incluindo-se aqui o governo da Tanzânia que deu livre trânsito à entrada e saída dos cubanos do território tanzaniano.

Do livro de Che Guevara, ˝Pasajes de la Guerra Revolucionaria: Congo", extraio a seguinte trecho que é bastante elucidativo:

« Después del asesinato de Patricio Lumumba, primer ministro del Congo, el Consejo Supremo de la Revolución, dirigido por Gastón Soumialot, solicita el apoyo de los cubanos contra el general Mobutu, quien, aprovechando la guerra civil, ha tomado el poder con el beneplácito de Bélgica y de Francia. Ernesto Guevara, que ve en esta operación una ocasión histórica para atacar las raíces del imperialismo acepta, en los primeros meses de 1965, la propuesta de Fidel Castro de guiar un centenar de combatientes cubanos para instruir y coordinar las tropas de la resistencia organizadas por Kabila, Mulele y Gizenga.»
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse O envio de instrutores foi acordado. O envio de forças de combate não. Por isso que se usa, mesmo no trecho que citaste, da fórmula ambígua de " para instruir y coordinar...". Has-de concordar que há diferença entre "instruir y combatir"
Joao Cabrita
Joao Cabrita Portanto, o corpo expedicionario cubano esteve no Congo aqueles meses todos como "imigrantes clandestinos". É essa a imagem que pretende transmitir, Gabriel Muthisse? E o papel da Argélia como ponto de trânsito (ou «eixo», para usar um termo do DTIP)? isto, para não falar dos tanzanianos, dos checos e outros, como por exemplo aquela conhecida transportadora aérea que movimentou os efectivos cubanos, mais conhecida por Aeroflot? De fora, os congoleses. Novas cores sobre a paleta de uma obra surrealista cada vez mais grotesca.
1Ontem às 2:08Editado
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Veja a fonte que te citei Joao Cabrita. Eu não inventei nada!!!!!!
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse E trata-se de uma fonte Cubana, alinhada com o regime. Vai ler pessoalmente
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Recomendo-te também que leias a história de Che na Bolívia e as contradições que ele teve com os comunistas bolivianos. Isso permitir-te-a percebere melhor o modus operandi da época. Os comunistas bolivianos, com uma rede clandestina muito boa, não cooperaram com Che Guevara. E essa terá sido uma das causas do fracasso. Procura por ti próprio ver o que aconteceu. Mas vai ler o autor e o texto (completo) cujo trecho citei aqui. Mas eu paro por aqui. Abraço
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse , o livro de Che Guevara acima citado, para além de referir o papel dos cubanos como instrutores, menciona ainda que lutaram no terreno com a anuência dos congoleses. Referindo-se a Chamaleso, delegado de Kabila na Tanzânia, diz o autor:

«Quedaba solamente un delegado llamado Chamaleso, quien después tomó el apodo cubano de «Tremendo Punto». Bajo su responsabilidad, Chamaleso aceptó los 30 instructores que nosotros ofrecíamos en primera instancia, pero, al comunicarle que teníamos unos 130 hombres dispuestos a comenzar la lucha, todos negros, también bajo su responsabilidad, los aceptó.»

Quanto à Bolívia, Gabriel Muthisse, como membro de um partido que já se intitulou marxista-leninista, sabe perfeitaente que formações dessas assumem-se como forças dirigentes, ou de vanguarda. Foi essa a raiz da disputa entre o corpo expedicionário cubano na Bolívia e o Partido Comunista boliviano: por índole, este pretendia ter o comando da situação, não fazendo muitas ondas; um partido identificado com a URSS que também não queria aborrecer muito os americanos – já havia obtido o que pretendia com a questão dos mísseis em Cuba, para grande desilusão dos cubanos. Os cubanos foram para a Bolívia para uma guerra, não para jogos diplomáticos.

Como deve estar recordado, não me ocupo aqui do mérito ou demérito da intervenção cubana no Congo ou em outras partes. Apenas pretendo demonstrar a validade da minha interpretação quanto à posição de Mondlane, aliado americano, ao ver-se confrontado com um plano que punha em cheque os interesses dos Estados Unidos.

Mas, quanto a intervenções de corpos expedicionários, o Gabriel Muthisse está em posição privelgiada de falar sobre esse tema com autoridade, pois faz parte de um regime que já lidou com contingentes militares cubanos em Mocambique – durante a guerra com a Rodésia, na guerra contra a Renamo, na formação da milícia do Snasp, cópia fiel do LCB que operou em Escambray.

Compreendo perfeitamente que no fundo o Gabriel Muthisse se sinta melindrado em face das ligações do primeiro presidente do seu partido (ou frente, se quiser) áquilo que costumavam designar de “imperialismo”. Afinal, foi a sua formação política a enviar para o cadafalso pessoas culpadas do mesmo “crime” desse primeiro presidente.

O Gabriel Muthisse decidiu dar por finda a participação na iniciativa do Eusébio A. P. Gwembe, e logo no preciso momento em que me preparava para lhe perguntar se, em sua opinião, o primeiro presidente da Frelimo, caso fosse vivo em 1975, teria organizado o célebre encontro de Nachingwea, que visou pessoas acusadas de ligacações ao tal imperialismo, e até em grau bastante inferior ao dele. Fica para uma outra oportunidade.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse De facto tinha decidido dar por finda a minha intervenção neste debate. Julgo que extravasamos, em muito, o âmbito do post do amigo Eusébio A. P. Gwembe. Mas o amigo Joao Cabrita traz dois assuntos que não me posso furtar a comentar:
(i) Acha muito relevante que, numa matéria tão sensível, como a do número de "instrutores" e, mais ainda, a sua participação em combates, a decisão recaia num "Delegado", (aquele que foi possível localizar, porque era o que "se habia quedado", segundo o trecho que citaste), e de cujo nome completo ninguém recorda? Achas que um Sigauke ou um Matsinhe, "delegados" da FRELIMO em Lusaka, poderiam tomar tão delicada decisao? Não foste tu, num comentário anterior, que disseste que essas matérias tinham sido discutidas com Kabila e Sumiolot? Já agora, leste o texto de Paco Azanza Telletxiki, que te recomendei? Volto a insistir que este autor é Cubano, daqueles ainda alinhados com o regime vigente. E ele afirma que o assunto das forças de combate não foi discutido antecipadamente. Pelos vistos, nem o número exagerado dos "instrutores".
(ii) Sobre se Mondlane organizaria a reunião de Nachingweya, caso estivesse vivo. Primeiro, a História não se ocupa de "se"; em segundo lugar, tem a certeza de que Simango, Joana, Nkavandame e outros foram acusados de " ligações com o imperialismo"? Eu não tenho essa certeza. Do que me lembro, Nkavandame foi acusado, entre outras coisas, de deserção, indicação ao inimigo das posições da guerrilha e das populações para serem bombardeadas. Foi ainda acusado de responsabilidade pelo assassinato de Paulo Samuel Kankhomba. Simango terá sido acusado de ser o pivot da crise de 1968/69, que culminou com o assassinato de Eduardo Mondlane. Foi ainda acusado de se ter aliado aos ultra-colonialistas em Lourenço Marques, no Rádio Clube, para impedir o avanço do país rumo à independência. Aliás, as acusações a este podem ser encontradas na alegada confissão que leu. Nunca vi nada que os acusasse de ligações ao imperialismo, na acepção que pretendes dar.
(iii) Quando se lutava contra Ian Smith, eu tinha menos de 15 anos. Não assisti aos detalhes desses eventos. Abraço. Gostei, mesmo, de debater contigo.
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse, teria de voltar a ler o livro para apurar se Chamaleso manteve a direcção do movimento informada da sua decisão. É de presumir que o tenha feito. Seja como for, não fui eu quem, “num comentário anterior, que disse que essas matérias tinham sido discutidas com Kabila e Sumiolot”. Fundamentei-me no mesmo livro: «Después del asesinato de Patricio Lumumba, primer ministro del Congo, el Consejo Supremo de la Revolución, dirigido por Gastón Soumialot, solicita el apoyo de los cubanos contra el general Mobutu...”.

Sobre se tenho a “certeza de de que Simango, Joana, Nkavandame e outros foram acusados de ‘ligações com o imperialismo’”, baseei-me nas palavras de Samora Machel proferidas no encontro de Nachingwea, que segui através da Voz da Frelimo. Disse Machel após Uria Simango ter lido a “confissão" :

“O imperialismo vai penetrar em Moçambique se estes puderem tomar o poder em Moçambique. Estes todos são os agentes do imperialismo, instrumentos directos do imperialismo. É com estes que nós lutaremos agora em Moçambique. (...) Nós cortaremos esta ligação entre estes agentes do imperialismo, estes reaccionários nacionais, com o imperialismo internacional.”

Portanto, agora que tem a confirmação, a pergunta mantém-se, Gabriel Muthisse.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Veja o video que Maria Paula Meneses postou,Joao Cabrita. Far-te-a alterar todas as tuas certezas. Deixemos Nashingweya para la. E fiquemo-nos pelo post do amigo Eusébio A. P. Gwembe. Se ver esse video e insistir em que os Congoleses sabiam que os cubanos iam enviar forcas combatentes, irei reavaliar minhas nocoes sobre teimosia. E sobre como as pessoas receiam mudar depois de terem defendido uma certa tese. Lembra-se que o ponto que agora se confirma no video postado pela Maria Paula Meneses ee fundamental para perceber porque a FRELIMO teria recusado ir para o Congo e a aceitar "instrutores" cubanos nos seus campos e no interior: (i) a FRELIMO tinha sido fundada para lutar pela independência de Mocambique, e esse era o seu focus; (ii) mandar os guerrilheiros da FRELIMO para o Congo equivalia a alienar a direccao da revolução moçambicana favor dos cubanos. Depois de libertarem o Congo, sob a direccao de Che, esses combatentes desenvolveriam lealdades fortes com os cubanos e, quando a revolução irradiasse para outros países, dificilmente se colocariam sob a liderança política da FRELIMO e de Mondlane. Estes ficariam irrelevantes; (iii) sob a capa de estarem a enviar "instrutores", os cubanos enviavam, forcas combatentes para territórios em luta. Essas forcas combatentes eram dirigidas por lideres de primeiro plano da revolução cubana que, como o caso da Bolivia demonstrou, disputavam com os locais a liderança política dessas lutas. Todos estes factos desaconselhavam que a liderança da FRELIMO colocasse os seus homens sob o comando de entidades que dificilmente controlariam. Veja-se que, como os rebeldes congoleses estavam baseados em Dar-es-Salam, as maquinações de Che poderiam ser conhecidas pelos Tanzanianos e pela FRELIMO. Daqui não ser dificil entender a recusa da liderança da FRELIMO. Não se coloca aqui a questão das inclinações ideológicas de Mondlane, pois Marcelino (como se postou aqui) e a totalidade da liderança da FRELIMO estiveram do lado de Mondlane na recusa em se submeter aa estratégia Cubana. Teraas de rever as tussa teses, meu amigo.
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Para adensar a discussão, acho que vale a pena ver este documentário - Cuba, uma odisseia africana -, e, como dizem os brasileiros, ouvir as falas dos cubanos e congoleses. O filme é de uma amiga, a Jihan el Tahri
2Ontem às 6:50
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Tudo o que venho dizendo, confirmado neste vídeo. O vídeo contém declarações do tal "Delegado" a dizer que não se lhe referiu que os Cubanos contemplavam forças combativas. Um cubano, sobrevivente do Congo e da Bolívia conta o pânico deste "Delegado" quando finalmente soube que o branco que estava no acampamento era Che Guevara. E o "Delegado" conta como a pele negra de Kabila ficou quando, em Dar-es-Salam, soube que Che estava no Congo.
Sei que mesmo depois de Joao Cabrita ver este vídeo ha-de insistir na sua acusação absurda de que pretendo reescrever a História. Cabrita, veja o vídeo e, por favor, pesquisa outras hipoteses. A sua tese está furadissima. Abraço
2Ontem às 8:02Editado
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse, agora que admite ter apurado o nome completo do 'Delegado', eu pergunto: tem a certeza de que Chamaleso, mencionado no livro de Che Guevara, e Godfroide Tchamlesso mencionado no vídeo que acabou de ver, é a mesma pessoa?
Joao Cabrita
Joao Cabrita Muito obrigado, Gabriel Muthisse, por ter chamado a atenção para este vídeo que irei ver com todo o interesse,

P.S. Puxa! o que seria se os cubanos tivessem pedido a Mondlane para enviar estudantes moçambicanos para a Ilha da Juventude (ou dos Piños, como era conhecida na altura em que o presidente da Frelimo preferia enviar bolseiros para um país um pouco mais a norte). Gabriel Muthisse melhor saberá.
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Há relatos de que Malhyeye tinha conseguido enviar 40 militantes da Frelimo a Cuba. Outros 13 se seguiram e mais tarde outros 9, tudo entre 64-65.
2Ontem às 10:16
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Mondlane nao tinha problemas em enviar homens, tantos quanto fossem necessários, para qualquer paiis. Deve ser a centésima vez que repito isto, Joao Cabrita. O que Mondlane não queria eram Cubanos em Nashingweya. Ou no interior. Por motivos óbvios. Se quisessem treinar guerrilheiros, so em Cuba. O mesmo com todos os outros amigos, excepto Chineses. Estes eram a única nacionalidade permitida em Nashingweya.
Lindo A. Mondlane
Lindo A. Mondlane Joao Cabrita, a ilha de pinos ou juventude se inicioj com a chegada dos estudantes mocambicanos em 1977, apesar dos angolanos terem sido os convidados especiais, foi nesse periodo q se mudou o nome.. antes desse periodo nao havia estudantes extrangeiros, pelo q o mondlane nao podia ter enviado estudantes nos anos 60, nao se havia pensado nem nessa filosofia, nem no nome.. podia ter enviado a ilha maior como refere o Eusébio A. P. Gwembe
1Ontem às 10:27Editado
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Mas julgo ter havido mais escolas na Ilha: de Moçambique, Venezuela, Angola, Africa do Sul (ANC), Etiópia, Sahara Ocidental, Zimbabwe (?)...
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Nos meus tempos eram 4 de Mocambique, 2 de Angola, 1 de Etiopia e 1 de Namibia. Africa do Sul e Venezuela, tanto quanto sei, não tiveram escolas especificas. Nem Sahara, nem Zimbabwe.
2Ontem às 12:12
Lindo A. Mondlane
Lindo A. Mondlane Eu estudei la 6 anos, igual q o Gabriel Muthisse, antes de 1977, nao havia extranjeiros na IJ, e como disse a denominacao surgiu nessa epoca pela quantidade de extranjeiros, sobretudo adolescentes, houve tempos q a idade media era de 30 anos...
1Ontem às 12:13Editado
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Eu saii de Mocambique com 13. Fiz 14 anos no barco. Estava na Setima Classe
2Ontem às 12:13
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Depois terá havido para os Sahrauis, ou eles estavam na escola de 'outro' pais. Mas estudaram lá, já os ouvi falar com moçambicanos que lá estudaram, trocando experiencias
Lindo A. Mondlane
Lindo A. Mondlane Venezuela nao havia quase, nao implica q houvesse pouca quantidade, o resto sim, mz. Angila,CV Guine Bissau, namibia, SA,sudao, yemen e outros
1Ontem às 12:14
Lindo A. Mondlane
Lindo A. Mondlane Havi escola especifica dos saharaouis..igual q mz, angolanos, etiopes, sudaneses yemenitas, nicaraguenses, ganenses, burkinabes, coreianos.. O resto eram mixtas
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Maria Paula Meneses este documento também fala de Minas del Frio, Havana (com reticências) e cidade de Trinidad. Devo ter uma lista de alguns dos estudantes moçambicanos que fizeram parte do primeiro grupo e local em que estavam alojados.
1Ontem às 12:48
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe Continuidade do documento anterior faz referência a 4 recrutas do Togo.
1Ontem às 12:50
Eusébio A. P. Gwembe
Eusébio A. P. Gwembe A primeira página do documento que indica o tipo de fonte (Nível B) reservada.
1Ontem às 12:55
Maria Paula Meneses
Maria Paula Meneses Obrigada! Vou ver melhor esse fundo da SCCI
22 h
Arlindo Nhantumbo
Arlindo Nhantumbo A História a reescrever.
Lindo A. Mondlane
Lindo A. Mondlane Mais tarde sahara sim, os sul africanos por serem poucos e por afinidade estavam na esbec 15 com os namibios
2Ontem às 12:54
Joao Cabrita
Joao Cabrita Vi o vídeo, Gabriel Muthisse. Alguns pontos a considerar e que demonstram que a sua opinião de que a minha interpretação dos factos está «furadíssima» não passa de uma opinião :

1. Todos os membros do movimento de oposição congolês entrevistados expressam agrado pelo apoio cubano – designadamente o contingente chefiado por Che Guevara: Godfroide Tchamlesso; Placide kitungwa, ministro do interior; e Freddy Ilunga, o intérprete de Che Guevara.

2. Godfroide Tchamlesso; Placide Kitungwa manifestam apreensão que a presença dos cubanos possa ser detectada pelas potências ocidentais (Reino Unido, França e também os Estados Unidos).

3. Larry Devlin, chefe da missão da CIA no Congo, considera a entrada do contingente cubano uma estratégia soviética.

4. Um oficial do exército de Mobutu confirma que os Estados Unidos estão por detrás da campanha de recrutamento de mercenários em apoio ao regime de Mobutu.

Se Godfroide Tchamlesso e Chamaleso são a mesma pessoa, o facto é que este, no livro de Che Guevara por mim citado, concorda que os 30 instrutores cubanos e os restantes membros do contingente entrem no Congo e fiquem sob seu (Chamaleso) comando.

Mas o que, quanto a mim, esteve sempre em discussão foi a recusa da Frelimo de Mondlane alinhar com o plano cubano no Congo, e não os outros pontos que Gabriel Muthisse tem vindo a destacar: que Che Guevara terá mentido, que este era um sujeito que se sentava no lado errada da mesa, e outras questões de lana-caprina.

O vídeo confirma a posição dos Estados Unidos na questão do Congo, o que vem reforçar, creio, a minha interpretação de que Mondlane, já comprovadamente identificado como aliado americano e recipiente de ajuda americana, para além de colaborador activo de iniciativas diplomáticas americanas junto de Portugal, não poderia envolver-se no plano cubano. E a recusa de Mondlane não é apenas no envio de efectivos para o Congo mas tambem na aceitação de instrutores e de material bélico cubanos. Neste ponto citei uma fonte oficial cubana – o embaixador Pablo Rivalta. A interdição de instrutores cubanos de que Gabriel Muthisse fala era das autoridades tanzanianas? das mesmas autoridades tanzanianas que haviam consentido a aterragem de aviões da Aeroflot transportando efectivos cubanos ? E quanto a material bélico cubano, também estava abrangido pela mesma interdição?

No vídeo não é corroborada a alegação aqui feita por Gabriel Muthisse e outros de que o projecto cubano exigia a suspensão das lutas travadas pelos movimentos de libertação da África Austral.

Há ainda uma questão de coerência que tem de ser realçada. Gabriel Muthisse, afirma que poderá ter sido pela "centésima vez que repetiu que Mondlane não tinha problemas em enviar homens, tantos quanto fossem necessários, para qualquer país". Mas a determinada altura, Muthisse sugere que os efectivos da Frelimo eventualmente enviados para o Congo poderiam deixar se der leais à direcção da Frelimo, e que isso representava um perigo. Se assim é, volto a perguntar: e o envio de centenas de estudantes moçambicanos para Cuba não representaria o mesmo perigo para Mondlane?
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Isto é um círculo vicioso. Nem com testemunhos orais ou escritos, Joao Cabrita desarma. Finge que não os leu e finge que não os ouviu.
Cabrita, não sei porque não entendes que há uma diferença fundamental entre o envio de militares para combaterem sob estratégias que não controlamos, o que tem o potencial de desenvolver lealdades diferentes aos do movimento político original, e o envio de estudantes para Cuba. Realidades muito diferentes. Só um dado para tua informação. Os mais de 12.000 moçambicanos que passaram pelas nossas escolas em Cuba tinham professores moçambicanos e Cubanos. Os primeiros davam disciplinas como História, Educação Política, Português e Geografia. Os Cubanos davam as outras disciplinas "científicas". Isso diz-te alguma coisa? Ou nem por isso?
Joao Cabrita
Joao Cabrita Eu apresentei os factos que retirei do vídeo, Gabriel Muthisse. Cabe a si demonstrar como é que fingi que li e fingi que não ouvi.
22 h
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Mais ainda, Joao Cabrita negou que no Congo estivesse em aplicação a teoria do "Foquismo". Um entrevistado, Cubano, corrobora essa opção. E diz que, para Che Guevara, do Congo irradiaria a Revolução Africana, tirando vantagem das 9 fronteiras terrestres que aquele país tem. Esta é (mais uma) confirmação implícita de que ao pedir o envio de guerrilheiros para (combater no) Congo, Che Guevara queria transformar aquele país no Centro da Revolução Africana, secundarizando ou marginalizando os movimentos de libertação de onde esses guerrilheiros teriam provindo. Cabrita ha-de fingir que não viu essa passagem.
2Ontem às 13:43
Joao Cabrita
Joao Cabrita Gabriel Muthisse não deve ter lido com a devida atenção aquilo que escrevi sobre "foquismo".

Maria Paula Meneses disse aqui que Che Guevara se havia inspirado na teoria do foco de Régis Debray quando foi combater fora de Cuba. Eu rejeitei essa ideia uma vez que é por demais conhecido o facto de que Debray apenas interpretou a estratégia de Guevara – não a concebeu, portanto, ao contrário do que sugere Maria Paula Meneses. A estratégia de Che Guevara é claramente explicada no vídeo por Harry Villegas (ver declarações de Villegas aos 24m 50s – as maiúsculas são minhas) :

«Ele (Che Guevara) estava confiante de que o Congo seria a base a partir da qual irradiaria a coluna para a independência de África, independentemente das fronteiras, no seu conceito da luta revolucionária, que Debray DEPOIS CHAMOU DE FOQUISMO...»

Numa monografia publicada em 2000, abordei o tema aqui discutido, nomeadamente o plano cubano no Congo, incluindo a chamada teoria de ‘foco’. Voltei a fazê-lo num artigo de fundo publicado na primeira edição do semanário «ZAMBEZE». Num dos primeiros comentários ao tema avançado aqui por Eusébio A. P. Gwembe, abordei essa mesma teoria de forma sucinta.

Torna-se, portanto, descabida a alegação de Gabriel Muthisse de que eu teria fingido não ver as declarações de Harry Villegas; alegação essa que ajuda a concluir que Muthisse tem vindo a debater o presente tema com ligeireza e de forma incoerente, ambígua e destituída de objectividade.

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