sábado, 14 de maio de 2016

Ópera bufa do golpe segue adiante para horror da nação

A ópera bufa, montada com arrogância elementar pela imprensa e representada no palco das instalações da Câmara dos Deputados, será exibida no Senado Federal

Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro:
Como é constante na História do Brasil,o grande derrotado é o povo. Mas, nesse momento trágico-cômico, todos estamos entregue às mãos de bandidos primatas. Quem eles representam? Representam a Máfia que quer dominar a educação, a saúde, as terras e os recursos naturais, hoje em especial a Máfia do Petróleo. Nesse momento, não são os banqueiros e alguns segmentos das velhas elites nacionais. Esses tiveram sempre a boa-educação recebida: dos Setúbal aos Mesquita.
A ópera bufa, montada com arrogância elementar pela imprensa e representada no palco das instalações da Câmara dos Deputados, será exibida no Senado Federal. Seu resumo foi posto em poucas palavras: “O que estamos fazendo aqui? Os senhores já decidiram. Estamos perdendo nosso tempo e gastando o dinheiro do povo”. E tanto é assim, que os produtores e os diretores do espetáculo infame não se preocupam com sofisticações: o elenco de atores é primário, ajustado ao nível de vilania que se atribui aos personagens.
Maria Fernanda Arruda
Maria Fernanda Arruda
Já tivemos a fala de Miguel Reale: proferindo palavras com dificuldade dolorosa, ele não consegue expor ideias que não formula, perde-se no vazio das mentes afetadas pelos malefícios de uma saúde precária. Foi seguido de Janaína, a histérica carente e que vive a crise incalculável de abstinência, aquela a quem falta tudo, mas especialmente o juízo que lhe permitiria fosse um ser racional. Os senadores que já sentem a vitória não se interessaram em ouvi-los, entregando-se a conversas paralelas: pontificava ao fundo a voz do grande líder da UDR, Caiado de Castro. As contestações foram feitas por duas vozes, não fizeram um coral. A quem Lindberg Farias falou? Quem o ouviu? Por que ele esquece que o Tribunal de Contas é apenas um órgão auxiliar do Senado, e não um órgão do Poder Judiciário?
Não apenas a Comissão Especial faz jogo de cartas marcadas, mas, todo o Senado. A Justiça, com o Supremo Tribunal Federal, está praticando o jogo da democracia roubada. As fichas têm os seus donos. Ganharão fortunas, umas maiores, outras menores, ostentadas e escondidas.
São várias as certezas que poderão ser antecipadas e que correspondem aos anseios maiores dos donos do poder, desejosos de completar a obra-prima parida por Fernando Henrique Cardoso. Que cenário político será construído, uma vez que a farsa de agora estará esgotada, no mesmo momento em que se atingem os seus objetivos, e quais serão os atores? Por bom-senso elementar, recomenda-se que todo o elenco seja renovado.
Haja espaço para lamentarmos, além das figuras nojentas, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Jose Sarney e mais alguns tantos. Caiado de Castro não é Carlos Lacerda. As bancadas do PMDB e do PSDB não fazem uma velha banda de música, aquela que era regida por Afonso Arinos. A derrota nos está sendo imposta pela incompetência dos que foram líderes.
Um governo que vem aceitando o massacre dos índios, o uso indiscriminado de agrotóxicos e transgênicos?Governo que faz Belo Monte? Governo que avaliza a produção de pó de amianto?
A enumeração dos erros faz uma listagem muito grande que foram tolerados em razão daquilo que excepcionalmente de bom foi feito: a inclusão social de milhões de brasileiros. O Partido dos Trabalhadores, é preciso reconhecer e entender, acomodou-se no pantanal da política brasileira e os seus comandantes devem ser responsabilizados. Não vale para coisa alguma o sofisma paupérrimo do “ruim com eles, pior sem eles”. Possivelmente, a menor das culpas caiba a Dilma Rousseff. A ela não se atribua corrupção, mas: os desmandos cometidos à sombra da Petrobrás não podem ser justificados pela vontade extemporânea de apura-los e puni-los. Enfim, e quanto ao PT, ele que “cresça e apareça”, que por enquanto perdeu em ética e em competência; não sabe administrar a coisa pública e não sabe fazer a prática política.
Senado
Não apenas a Comissão Especial faz jogo de cartas marcadas, mas, todo o Senado
A crítica do Partido dos Trabalhadores precisa ser feita, associada a uma proposta e um programa de ação. Não cabe fazer crítica baseada no sentimento justo de frustração. E não dispensa a contestação dura e firme do Golpe de Estado e o que resulte dele. E aí também é preciso avaliar e pesar muito bem o que vale e é viável fazer. O estoque de pneus velhos, a serem queimados nas estradas e avenidas não é inesgotável: essa é uma ação “desopiladora”, mas de efeitos menores.
Greves? Greve geral é utopia, totalmente teórica e inviável. Greve dos petroleiros: perfeito. Greve dos transportes públicos: altamente desgastante junto ao povo. Greve dos estudantes? Ótimo, desde que não termine com todos indo para a praia: ocupem os estabelecimentos e usem o espaço para atividades de discussão, esclarecimento, diálogo com a sociedade. Fazer passeatas de protesto contra a Globo? Repetir o que já foi feito e está sendo repetido? Seria viável obter o apoio efetivo de atores e atrizes que vendem seus serviços.
Não tenhamos ilusões, como as que foram alimentadas diante da ditadura de 1964, imaginando-se que teria duração curta, jamais supondo-se 20 anos de chumbo. Teremos que enfrentar um parto difícil e dolorido, pois não nos preparamos para ele, embalados pelos sucessos obtidos, mas que cegaram para os problemas que foram se acumulando.
O que fazer então? O que faltou?
1. Aceitou-se e justificou-se a política econômica neoliberal, que era programa do PSDB, e não do PT. Cometeu-se o erro grosseiro, aceitando a atuação de um Ministro empregado de um banco privado. Tivemos meses de justificativas equivocadas. Não será possível a repetição do erro e o povo precisa ser esclarecido, o que não se fez, tentando-se a validação da mentira.
2. A regulamentação da “mídia” é condição para que se realize a desintoxicação ideológica promovida pela televisão.
3. Os programas sociais precisam ser mantidos e aperfeiçoados. Precisam ser divulgados de forma eficiente, sem a conotação simplória que se usou com frequência. Organizados e fiscalizados.
4. A omissão diante do problema indígena é inaceitável, e muito menos ainda a prática de desrespeito sistemático aos camponeses, contando-se para isso com o apoio do MST.
5. O modelo agroexportador, justificando a ocupação ilegal de terras, o uso indiscriminado de agrotóxicos e a disseminação das sementes transgênicas, precisa passar por reformas radicais.
6. O desenvolvimentismo, que justifica a desumanização brutal, tem que ser substituído pelo planejamento de um desenvolvimento econômico e social.
7. A reforma política é condição para as demais reformas. Não se confunde com medidas paliativas e só será possível com uma nova Constituição.
Essa é uma listagem preliminar, incompleta e enunciada de maneira muito pouco refletida. Mas pode ser um ponto de partida. É preciso substituir a superficialidade e o dogmatismo dos slogans que, por mais que sejam repetidos, não se fazem realidade. E, tanto quanto a supressão de uma euforia das pequenas festividades, é preciso que se faça trabalho coletivo, de equipe e equipes. Sem isso, não andaremos à frente. Essa é a primeira questão, que fica em aberto, para a iniciativa das respostas possíveis, que não são uma só: como fazer grupos, organizados ou não como partidos políticos? Como planejar as nossas ações? Queremos construir o Brasil? Já perdemos muito tempo, isso é mais que evidente.
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.

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