Foram a enterrar, no passado sábado, na cidade da Beira, os restos mortais de Dom Jaime Pedro Gonçalves, arcebispo emérito da Beira, que perdeu a vida vítima de doença, semana passada, numa das clínicas privadas daquela urbe.
Se dúvidas existissem nas cabeças de alguns sobre a grandeza de Dom Jaime Gonçalves, essas dúvidas ficaram esclarecidas e ultrapassadas de vez depois do conjunto das cerimónias que constituíram as exéquias fúnebres do prelado que começaram praticamente logo após o anúncio da sua morte.
Líder religioso carismático, Dom Jaime não era apenas mais um bispo da igreja Católica colocado na Beira, sua terra natal. Dom Jaime não era apenas um pregador ou mensageiro da palavra de Deus na terra, era mais do que isso.
Era um líder comunitário, na medida em que nas comunidades por onde pregou o evangelho desde a sua juventude ate a sua morte, era respeitado e admirado, sendo um exemplo a seguir de dignidade e de liderança.
Dom Jaime era um missionário da paz e da reconciliação, pois nas suas homilias, nos seus discursos e nos seus textos literários tinha a paz e a reconciliação na ponta da língua ou dos dedos da mão.
Dom Jaime Gonçalves era homem culto e era, precisamente, a sua grande cultura e sabedoria que usava para chamar os Homens à razão, sendo, muitas vezes incompreendido.
Foi sem sombra de dúvidas um dos construtores do famoso Acordo Geral de Paz, negociado em Roma, capital italiana entre 1990 e a 1992, um acordo que lançou os alicerces da paz em Moçambique, mas que não foi devidamente implementado pelas partes signatárias, dai os “pendentes” que provocam a nova situação de insegurança militar na Pátria Amada.
Coerente consigo mesmo e com os seus princípios, Dom Jaime não colhia simpatias absolutas nem dentro do Governo, nem dentro da Renamo ou mesmo no seio de alguma intelectualidade moçambicana. Eventualmente, mesmo na Igreja Católica, o homem não terá tido consensos.
Lembramo-nos de, muitas vezes, ter criticado o Governo e o partido que o suporte pela intransigência e pelas políticas de exclusão social que ele repetia, eram uma das causas da insatisfação popular no país, por conseguinte, uma das causas dos contínuos desentendimentos políticos.
Lembramo-nos dele a criticar a liderança da Renamo por falta de coerência no que exige em sede de reivindicações políticas. Lembramo-nos dele a criticar o líder da Renamo, fortemente, aquando da cisão que provocou o surgimento do Movimento Democrático de Moçambique.
Lembramo-nos do homem que amargurado, já tinha chegado a conclusão de que as duas partes em conflito em Moçambique não ouvem ou não querem escutar a voz da razão, dai que mesmo que se toquem batuques do Rovuma ao Maputo clamando pela paz, os sujeitos das batucadas nunca irão ouvir. Depois da morte de Dom Jaime, fica o legado. O legado da paz que ele sempre defendeu. Uma paz não apenas com palavras ou em discursos nas televisões e nas conferencias. Mas uma paz que urge reconstruir e defender.
Depois da sua morte e da digna sepultura a que foi alvo, sobra o exemplo de alguns dias de concórdia e reconciliação entre os moçambicanos em sua volta.
Foi bonito ver lideranças do Governo, das principais forças da oposição politica, de diferentes religiões, da Comunidade de Santo Egídio e de varias hierarquias da Igreja Católica e das suas instituições a renderem justa e merecida homenagem a um dos distintos lideres comunitários que passaram por este pais.
Foi bonito ver a dignidade com que o Estado, na pessoa do Chefe do Estado  acompanhou as exéquias fúnebres. Foi bonito ver como a cúpula da Igreja Católica se esmerou para a ultima despedida ao obreiro da paz, ao servo do povo e da concórdia, ao mensageiro…
Oxalá que os que estiveram no seu funeral não deitem por agua abaixo o seu legado. Que os moçambicanos se esforcem pela recuperação da paz. Que as lideranças politicas se esmerem pela paz que todos os dias está a ser destruída.
Que o sonho de Dom Jaime de ver um Moçambique unido, livre de guerras e de exclusões sociais ou políticas se materialize. Que a paz esteja com Dom Jaime no alem e que Deus abençoe Moçambique e os seus lideres. ljossias  magazineindependente.com