terça-feira, 26 de abril de 2016

Líder rebelde Riek Machar regressa ao Sudão do Sul


Depois de ter abandonado o país em 2013, acusado de preparar um golpe de Estado, Riek Machar vai assumir a vice-presidência do Sudão do Sul, num Governo de transição liderado pelo seu arqui-inimigo, Salva Kiir.
Riek Machar (esquerda) acompanhado pelo Presidente Salva Kiir (direita) na cerimónia de tomada de posse SAMIR BOL/AFP
O líder rebelde Riek Machar foi empossado esta terça-feira como vice-Presidente do Sudão do Sul, horas depois de ter regressado à capital do país, Juba, pela primeira vez desde o sangrento conflito que irrompeu há mais de dois anos.
Machar regressa agora à função que ocupou até Dezembro de 2013, e irá formar um Governo de unidade nacional liderado pelo Presidente sul-sudanês e seu arqui-inimigo, Salva Kiir, com o objectivo de pôr fim a um conflito que levou à morte de dezenas de milhares de pessoas.
“Estou bastante empenhado em implementar este acordo para que o processo de reconciliação nacional comece o mais rapidamente possível” afirmou Machar à AFP.
Também o Presidente sul-sudanês demonstrou o seu entusiasmo com a tomada de posse de Machar. “Agora que o doutor Riek fez o juramento enquanto vice-Presidente, procederemos imediatamente ao estabelecimento do Governo de transição e de unidade nacional”, afirmou Kiir, citado pela Reuters. “Peço-vos que se juntem a mim e ao meu irmão Riek Machar para o processo de paz e reconciliação”, acrescentou.
A grande questão que se coloca agora é perceber como é que os dois arqui-inimigos vão conseguir unir esforços de forma a estabelecer um acordo de paz no mais recente país do mundo, que obteve a independência do Sudão em 2011.
As hostilidades entre as forças leais a Salva Kiir e o círculo próximo de Riek Machar tiveram início em Dezembro de 2013, quando o Presidente sul-sudanês acusou o então vice-presidente e antigo oficial do Exército de Libertação Popular do Sudão de tentar um golpe de Estado para o depor do poder.
Na sequência destas acusações, Riek Machar abandonou o país, o que deixou o Sudão do Sul numa situação extrema. O que ao início era, essencialmente, uma luta pelo poder alastrou-se a praticamente todo o país e assumiu contornos étnicos, opondo os dinka — a etnia do Presidente — aos nuer, a que pertence Machar. Os conflitos extremamente violentos que se seguiram resultaram na morte de dezenas de milhares de pessoas, e mais de dois milhões de sul-sudaneses estão deslocados. Para além disso, a ONU estima que mais de 30 mil pessoas possam estar em risco de morrer de fome nas regiões mais afectadas pela guerra civil.
Perante a extrema violência do conflito, a comunidade internacional pressionou o Sudão do Sul a encontrar uma solução, e um acordo de paz foi assinado em Agosto do ano passado. No entanto, tal revelou-se insuficiente para que as hostilidades terminassem.
A chegada de Machar, que tinha sido adiada várias vezes, traz uma nova esperança ao país, apesar da incerteza de que possa pôr um fim definitivo no conflito, num país que enfrenta ainda enormes dificuldades económicas. “Espero que com a minha chegada possam terminar os obstáculos e que possamos passar à implementação do Governo”, afirmou Machar à Reuters. “Há desafios que precisamos de superar: o primeiro é a estabilização da situação de segurança no país e o segundo é a estabilização da economia”, acrescentou.
Os conflitos no Sudão do Sul levaram as Nações Unidas a denunciar a violação de direitos humanos no país. Para além disso, a economia, fortemente dependente do comércio de petróleo, está estagnada e mais de 11 milhões de pessoas enfrentam enormes dificuldades para ter acesso a alimentação.

Texto editado por Rita Siza

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