quarta-feira, 13 de abril de 2016

Guerra, Refugiados, Seca, Fome, Morte, Dívida, Assassinatos, e Nyusi

Ando a procura de uma equação que me ajude entender o que se passa em Moçambique, mas nada me ocorre. O país está à beira da total falência. O Estado vai se tornando cada vez mais insignificante, impotente. A sensação que tenho é que o país não tem presidente. A vida deixou de ter valor. Os adversários calam-se à bala. Há rumores que os soldados que tombam em combate no centro do país são enterrados em valas comuns (são rumores que podem não passar por isso, mas em guerra nada é mais comum, essa era uma prática constante na guerra dos 16 anos, e os comandantes das FADM são os mesmos soldados daquela guerra). A comida que já é cara (a dívida do Ematum e outras dívidas que nunca nos disseram que existiam vão deixando a sua marca) não chega ás populações do centro. Há fome devido à seca no sul, fala-se em 1 milhão de pessoas. Membros da oposição são assassinados diariamente. E magistrados baleados em frente às suas residências. Está criado todo o clima de medo para que o caos final caia sobre o país. Indignamo-nos quando Nyusi foi a Angola e disse que temos muito a aprender do país do Zedu. Mas bem vistas as coisas o MPLA tem um pouco de senso. Eles pelo menos escamoteiam a lei para conseguir prender os seus opositores (reais e fictícios). Em Moçambique os opositores são executados por um esquadrão de morte que os jornalistas continuam a insistir que não se sabe quem é e a mando de quem (chamam-na terceira força). Entretanto um jovem da FIR já veio a público dizer que ele fez parte desse esquadrão, e deu detalhes sobre como são feitas as operações de execução. E como tudo em Moçambique, nada é levado a sério. Nem a FIR se pronunciou para se defender, nem a PGR se pronunciou sobre o assunto. O parlamento esse já nem se fala. A própria Renamo, que tem perdido membros vítimas desse esquadrão de morte limita-se a dizer que espera que a polícia esclareça o assunto. Faz algum sentido? A polícia tentou assassinar Dlhakama por duas vezes. Acto confesso. Invadiu as residências do mesmo em pleno Domingo de páscoa (nunca se vão saber as intenções, essa de armas é para boi dormir, sempre se soube que haviam armas nas casas do velho, desde 1992). E quantas mortes ficaram por esclarecer neste país? Enquanto tivermos instituições públicas ligadas e dependentes da formação política dominante (Frelimo), nenhum desses casos se vai esclarecer. A polícia e a justiça obedecem ao partido, disso todo o mundo sabe. E o partido não quer paz, isso está claro desde que o partido se opôs ao encontro entre Nyusi e Dlhakama logo depois da tomada de posse do Nyusi. Mas de tudo o resto, Nyusi é o grande enigma. Foi ele quem comandou a invasão a Santungira quando ainda era Ministro da Defesa, depois da qual foi para lá verificar o resultado. Hoje prega a paz, mas como um mau padre, não faz o prega. Antes diziam que é porque não tinha a presidência do partido. Mas hoje isso já não é justificação. O meu receio é que tudo isto se vai arrastar até as próximas eleições. Ou até que Dlhakama morra de uma disenteria qualquer no mato. Seja como for, o país de muitos problemas. Mas nenhum deles se vai resolver sem que se acabe com a guerra. Os políticos fracos precisam do caos para se imporem. Ou para irem empurrando a situação com a barriga enquanto o seu bolso de enche, e depois saem de cena. Não sei qual é a estratégia de Nyusi. Mas o tempo nos dirá.
Filipe Nyusi apela aos membros da Frelimo para respeitarem o bem público
Mundo

O Presidente moçambicano e da Frelimo, partido no poder, Filipe Nyusi, exortou hoje os membros do partido no poder a pautarem-se pelo respeito pelo bem público, defendendo ainda o exercício da liberdade de pensamento no movimento.

"Sonhamos com um membro do partido que respeita o bem público e que encontra oportunidade igual à dos outros para a sua autossuperação", afirmou Nyusi, enunciando algumas linhas de conduta que espera dos membros da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), quando falava no discurso de abertura da V Sessão Ordinária do Comité Central (CC), que se prolonga até sábado na cidade da Matola, arredores da capital moçambicana.
Nyusi não referiu situações concretas, embora vários titulares de cargos públicos e quadros da Frelimo tenham sido detetados em atos de corrupção e a oposição e organizações da sociedade civil acusem frequentemente o partido no poder de apropriação dos bens do Estado.
Noutra passagem do seu discurso, Filipe Nyusi apelou aos membros da Frelimo para cultivarem a liberdade de pensamento, numa referência implícita aos anos de gestão anterior do partido e que sofreu duras críticas em relação à diversidade de ideias e expressão.
"O nosso sonho é ver um camarada que confia e é confiado, que exprime o seu pensamento livremente e em frente do seu camarada, ou do órgão a que pertence - uma disciplina de quem usa o espaço do seu órgão para fazer crescer a Frelimo, para fazer progredir o país", enfatizou Nyusi.
Reiterando que a agenda do partido no poder em 2016 é o reforço da disciplina interna, Filipe Nyusi defendeu a necessidade de respeito da experiência dos veteranos do partido, criticando a exclusão de quadros da organização.
"Na disciplina partidária, não encontramos o espírito de quem é mais ou menos importante, mais ou menos influente. Respeitamos a experiência e exploramos a experiência dos que mais possuem e dos que mais acumularam ou adquiriram créditos das lições da Frelimo", frisou o chefe de Estado.
Filipe Nyusi pediu também ao CC da Frelimo para concentrar a sua atenção numa reflexão sobre a paz, observando que " a falta de paz efetiva condiciona o crescimento económico".
"A situação de paz e o comportamento da nossa economia, embora seja parte da conjuntura regional e internacional, aumenta o custo de vida dos moçambicanos e reduz a sua esperança", frisou.
Moçambique vive uma crise política e militar caracterizada por confrontos entre as forças de defesa e segurança moçambicanas e o braço armado da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) no centro do país, e por ataques a veículos militar e civis em vários troços da principal estrada do país na região, atribuídos pelas autoridades ao principal partido de oposição.
Além disso, a economia moçambicana tem sido atingida por uma queda vertiginosa do metical face ao dólar, descida das exportações e subida de inflação, por efeito não só de causas externas, como a baixa cotação de matérias-primas, como também de uma persistente seca que atinge centenas de milhares de pessoas no sul e centro do país.
Outra ameaça prende-se com as contas do Estado, envolvendo o risco de agravamento da dívida pública, num momento em que Moçambique conseguiu restruturar o empréstimo de 850 milhões de dólares, contraído para a empresa estatal de atum, mas em que surgem notícias dando conta da existência de um segundo encargo até agora desconhecido, no âmbito do mesmo dossiê.
O Comité Central da Frelimo esteve reunido em sessão extraordinária em fevereiro, tendo sido renovada a maior parte do elenco do seu secretariado.
Foi a primeira reunião do Comité Central dirigida por Filipe Nyusi, desde que assumiu a presidência da Frelimo, em março de 2015, substituindo o anterior líder do partido e ex-Presidente da República, Armando Guebuza.

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