segunda-feira, 11 de abril de 2016

Cahora Bassa: 40 biliões de dólares desperdiçados - ou como Moçambique subsidia a África do Sul

Economia Política da Energia.
Cahora Bassa: 40 biliões de dólares desperdiçados - ou como Moçambique subsidia a África do Sul
Por André Thomashausen, Professor Catedrático de Direito Internacional e Comparado na University of South Africa (Unisa)
A visita de Estado do Presidente Nyusi à África do Sul de 21 a 23 de Outubro teve no seu fulcro uma humilhação inesperada. Levaram o Presidente Nyusi e a sua comitiva com uns 60 empresários, mais os altos funcionários que o acompanhavam ao local das obras da futura central térmica de carvão de Medupi, a 360 quilómetros de Pretória. Medupi é um monumento gigantesco à alta corrupção do reino de Zuma.
Com mais de cinco anos de atraso na obra e um excedente de já 50% sobre a verba orçamentada, serviu para encher as caixas do partido ANC, por intermédio do seu braço empresarial “Chancellor House”, imposto como parceiro BEE (emponderamento negro) na obra. A partir de 2018, Medupi deverá produzir 4.000 MW (4 GW) de energia eléctrica queimando mega quantidades de carvão de baixo teor calorífico. Contribuirá assim substancialmente à degradação do ambiente e dos recursos de água na nossa região, aumentando mesmo os riscos do aquecimento global. A visita a Medupi serviu para confrontar a delegação moçambicana com a brutalidade das opções energéticas do ANC.
A estratégia energética do ANC, baseada no carvão e no nuclear, fundamenta-se nos interesses da indústria do carvão na África do Sul e nos favores sem limites que os lobbies da energia nuclear estão a prometer. Estas opções na realidade rejeitam a opção regional da produção de energia limpa e económica a partir dos jazigos do gás natural do Rovuma, quinta ou sexta maior reserva de gás natural no mundo.
Na melhor das hipóteses, o custo da ESKOM para a geração de energia a partir de Medupi será de 1,22 Randes por KWh, mas é provável que atinja 1,60 Randes por KWh. Um cálculo recente dum eventual custo da energia que poderia ser produzida na África do Sul a partir do gás fornecido através dum gasoduto Norte-sul (com um período de implementação de apenas dois anos), conclui num preço máximo de 1,10 Randes por KW/h, inclu- ída a amortização do investimento (totalizando uns 10 mil milhões de Dólares).
Para a opção nuclear do ANC, que prevê a instalação de oito centrais nucleares a partir de 2016 e dentro de um período mínimo de constru- ção de 14 anos, o investimento não será inferior a 120 mil milhões de Dólares. Este investimento é pelo menos dez vezes superior ao custo da opção da integração energética a partir do gás do Rovuma, sem sequer ter em conta o benefício económico indirecto que poderia resultar dum aumento das transferências entre as economias dos dois países. A visita a Medupi manifestou o tradicional papel da África sul de valentão regional.
Mas exactamente por isso, levanta a importante questão sobre a partilha dos benefí- cios resultantes do fornecimento de energia a partir de Cahora Bassa. Cahora Bassa Desde o novo acordo de fornecimento de 2007, a ESKOM da África do Sul compra a energia de Cahora Bassa ao preço de 0,1256 Randes por KW/h, um preço que já em 2007 era absurdo, tendo em conta os níveis de preço da energia produzida na África do Sul bem como ao nível mundial. Correntemente, os preços médios da energia estão a 32 cêntimos do Dólar na Alemanha, 20 cêntimos na França, 16 no Brasil e 14 na Rússia.
Quer isso dizer que um preço realista seria de pelo menos 1,80 Randes por KW/h, em vez de ser 0,1256 Randes. A energia a partir da Central Térmica de Ressano Garcia está a ser vendida na base de 1,49 Randes por KW/h. A enorme diferença entre os 0,1256 cêntimos do Rand vencidos pela energia de Cahora Bassa e os 1,49 Randes cobrados pela energia de Ressano Garcia re- flecte o verdadeiro valor da energia no mercado. O preço da energia de Cahora Bassa anterior a 2007 era inicialmente de 0,036 Randes por kwh, um montante na realidade simbólico. O preço de 0,036 Randes tinha sido imposto pela África do Sul na base da guerra de destabilização que promovia em Moçambique, tendo a África do Sul a partir de 1982 arruinado e paralisado por completo a economia de Moçambique. Em 1982 a quantia de 0,036 Randes era equivalente a 3 cêntimos no dólar americano, estando o Rand quase a 1:1, ou seja a par com o Dólar.
O preço a partir de 2007, de 0,1256 Randes, era na altura equivalente a 0,017 USD. Hoje, em 2015, é equivalente a 0.009 USD. Quer dizer que o preço caiu de um nível de pouco menos de 2 cêntimos do Dólar para pouco menos de 1 cêntimo no Dólar. Quer dizer que hoje em dia a ESKOM só está a pagar 1/3 do que pagava pela mesma energia em 1982.
Ou em outras palavras, o governo do ANC triplicou a injustiça praticada pelo governo do Apartheid! Para se ter a noção da dimensão da pilhagem da energia de Cahora Bassa, é preciso lembrar que o pre- ço real e valor de mercado da energia eléctrica, mesmo no contexto regional do SADC, é 15 vezes superior ao que está a vencer na venda dessa energia à África do Sul através da longa linha de transmissão a partir da Cahora Bassa. Para dificultar a prevalência de considerações comercias normais, a linha de transmissão da Cahora Bassa foi concebida e construída propositadamente de tal forma a tornar inviável qualquer abastecimento de energia no território nacional moçambicano a partir dessa linha de transmissão. Isto quer dizer que a África do Sul continua confortavelmente e sem risco de competitividade a receber 1,3 GW (o que representa uns 5% do seu consumo nacional de energia) a partir de Cahora Bassa. Ao preço actual, equivale a um valor anual de 1.430.332.800 Randes, ou seja, 106 milhões de Dólares. Ao preço real de mercado deveria somar em 1.576.413 milhões ou 1,576 biliões de dólares.
Se Moçambique estivesse a receber o preço real e de mercado pela energia, em vez de receber só uns 7,5% desse valor, Moçambique hoje seria um país em boas vias de desenvolvimento. A diferença é de aproximadamente 1 300 milhões de dólares em vencimentos do Estado por ano. Assim, Moçambique, o quarto dos países menos desenvolvidos no mundo, continua a subsidiar a economia da África do Sul, um país com um nível de desenvolvimento médio e um PIB per capita 20 vezes superior ao PIB per capita de Moçambique. Ao longo das dé- cadas, o prejuízo de Moçambique facilmente soma em 40 biliões (em Brasileiro 40 triliões) de dólares, ou seja 4012. Este montante significa que aproximadamente a receita do Estado durante as últimas duas dé- cadas poderia ter sido em cada ano o dobro de que na realidade foi.
A triste conclusão é que o irmão gigante de Moçambique, a África do Sul, em grande parte goza do seu desenvolvimento e da sua relativa riqueza à custa de ao menos duas gerações de moçambicanos que não tiveram acesso à educação, saúde e geralmente à oportunidade ao desenvolvimento. O desafio político está em convencer os irmãos da luta pela independência na África do Sul que a integração energética regional na base das fontes de energia em Moçambique terá maior vantagem para todos, incluindo o partido ANC.
Yorumlar
Lurdes Ibraimo Macie
Lurdes Ibraimo Macie sad reality... 40 paus desperdiçados nisto e outros mais desperdiçados noutros businesses mal parados.... assim vai Moçambique enriquecendo os outros e ficando cada vez mais pobre.
Rogerio Jose Uthui
Rogerio Jose Uthui As simple as that. And you guys keep on fussing and fighting.
Lurdes Ibraimo Macie
Lurdes Ibraimo Macie indeed
Adérito Evans Mazive
Adérito Evans Mazive And how much gets paid into certain pockets to keep the situation as is?
Emilia Afonso
Emilia Afonso !!!
Rogerio Jose Uthui
Rogerio Jose Uthui Overwhelmed? Cool down baby. In this life never trust anyone when dealing with national interessas of a group or a nation.
Emilia Afonso
Emilia Afonso Yeah. Couldn't believe. And we are comrades and good friends 
frown ifade simgesi
... even more: we are brothers and in laws. Never trust anybody indeed. Tthe political (and diplomatic) challenge is huge ... but it is a 'must'.
Ebon Wammy Nuvunga
Ebon Wammy Nuvunga How long will we live trusting nobody and suspecting anyone? We need to gether courage to look for possible solutions
De Carmo
De Carmo não gostei de ler isto, quer dizer estamos trabalhando pa o vizinho?
Rogerio Jose Uthui
Rogerio Jose Uthui Pior. E nos ajudam a matarmo-nos! Ou pelo menos não se preocupam
Noe Nhancale
Noe Nhancale Muito triste!
Rogerio Jose Uthui
Rogerio Jose Uthui É para perceberem que o nosso governo tem muitas adversidades a vencer. Vontade só não basta.
Djabru Do Rosario
Djabru Do Rosario Pensamento Brilhante. Quando terminarem as férias dos que estão a dirigir poderão ler o post e talvez agirem não só sobre este mas muitos que ultimamente estão sendo publicados. (massacre, assassinatos, dívidas clandestinas, etc.) O bom de tudo é que os autores estão bem pertinho de nós. Se tivermos azar alguns podem até fazer parte do grupo dos que aconselham o próprio ESTADO.
Googlenice Pendrivede Oitogigas
Googlenice Pendrivede Oitogigas Ha vezes que eu digo que ainda não sei nada.
Osvaldo Moz
Osvaldo Moz ".q..Mocambique, o quarto 'pais mais pobre do mundo', continua a subsidiar ...Africa do Sul, um pais com um PIB per capita 20 vizes superior ao de Mocambique"
Socorro!!!
Filimone Manuel Meigos
Filimone Manuel Meigos Já dizia o veterano marcos Mabote :essa coisa de camaradagem não é bem assim. ..
A minha (nossa ) geração tem físicos nucleares como meu amigo utui, que ainda tem pachorra para ficar - se pelo equacionamento . Creio, por hipótese, que a próxima linha de vizinhos,vai andar à akaemada:
-quão bons comrades nós éramos. ...
(Equação solucionada! )
Rogerio Jose Uthui
Rogerio Jose Uthui kkkk. KalashinLove. O meu objectivo é passar a explicar um bocado os problemas reais que nós temos como país e dar uma espécie de "introdução a estudos estratégicos de moçambique " aos meus jovens facefriends de modo a termos debates reais desideologizados e deixar de só falar sobre patetices fo DHL. O meu medo é me chamarem de G41.
Don Tivane
Don Tivane Quantas coisas perdemos por medo de perder (Paulo Coelho).
Penso que é uma boa iniciativa e merece todo o nosso apreço e acolhimento. A tecnologia cria este laço/encontro entre físicos nucleares, exímios intelectuais, gente nobre, ..., e uma cambada de gente sedenta de saber, com a qual me identifico! 
Obrigado por partilharem connosco...!
Filimone Manuel Meigos
Filimone Manuel Meigos Kkkkkkkk 
Um físico nuclear com a tua postura académica , ainda que fosses feito g41, seria sempre um luxo. Vou dizer uma frase feita que serve para o caso ,embora não me agrade muito :
"Os cães ladram, A caravana passa! "
Rodrigues Simao
Rodrigues Simao Verdade, vontade não basta, temos que agir mas de forma diplomática. Um texto que elucida o quão os fortes ficam mais fortes a custa dos fracos.
Graça Samo
Graça Samo Professor Rogerio Utui, estes assuntos não são tão novos assim. O CIP publicou informações a respeito disto. No ano da conversão de Cahora Bessa, quando o PR apresentava o Estado da Nação no Parlamento eu estava na TVM para comentar o discurso. Algumas das questões que eu levantava eram relativas à ao sector de Energia no contexto da conversão, inclusive. A entrevista foi cortada bruscamente, e o jornalista recebeu um telefonema perguntando de que partido eu era. A verdade é que com ou sem partido, estamos todos ferrados. Isso dói muito.
Helio Nganhane
Helio Nganhane Li e estou com muita pena de nós. ...!!!!
Samuel S Sitoe
Samuel S Sitoe Agora sao 18:30h e hoje ja tivemos dois cortes de energia electrica em Chibuto e nao so. Todos os dias acontece o mesmo. Na RSA isto nao acontece. E agora?
Ana Hassane
Ana Hassane Ta mal isso! Morte silenciosa é oque nos aguarda.
Samo Joao
Samo Joao Hä tempos aträs ouve kem disse k Cahora Bassa era nossa! 
Mas esse "nossa" ñ era extensivo ä todos moçambicanos! !!!
Ele keria dizer "nossa" a dele e sua familia.
Carlos Manuel da Silva
Carlos Manuel da Silva Boaaa kkkk
Nell Filipe
Nell Filipe Em suma. Somos um país empobrecido. Podemos investir em tudo, mas se não estamos preocupados com a sustentabilidade ambiental , essa é uma estratégia económica suicida. Nós precisamos do Meio Ambiente mas ele não precisa de nós. Um futuro incerto
Osvaldo Jorge Brito Rupias
Osvaldo Jorge Brito Rupias Lamento imenso compatriotas.
Mas a pergunta que faço agora é: durante estes anos todos será que não se tinha noção dessa injustiça?
Guy Armindo
Guy Armindo True or false
Ebon Wammy Nuvunga
Ebon Wammy Nuvunga Triste e lamentavel realidade!
Oscar Esau M. Munhequete
Oscar Esau M. Munhequete E esses ainda nos humilham...
Antonio de Sousa
Antonio de Sousa Pois é assim andamos nós pelo nosso Moçambique
Nelson Chichava
Nelson Chichava Força magnífico vai emancipando as nossas mentes mas fica a questão qual é o nosso papel diante a tamanha atrocidade
Nelson Chichava
Nelson Chichava Uma autêntica delapidação a economia nacional
Yolanda Dambi
Yolanda Dambi Realmente o futuro é agora a que cada um fazer a sua parte,se apenas um faz e a outra parte não não teremos o almejado alcançado é necessário o engajamento de todos e de todas as partes envolvidas.YD
Yolanda Dambi
Yolanda Dambi Nisto em parte,uma consciência sã, mentes despertada e espaço para agir.YD
Jose Gopa Agostinho Muchacuar
Jose Gopa Agostinho Muchacuar temos q ter coragem de tomar medidas serias mesmo para os vizinhos. Assim nao da ha que repensar q estrategias de desenvolvimento a seguir. Somos capazes.
Deolinda Carlos Chilundzo
Deolinda Carlos Chilundzo Afinal cahora bassa não é nossa!!!

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