sexta-feira, 8 de abril de 2016

Agora mais do que nunca reconciliar é a palavra

Empréstimos com contornos criminosos contraídos no reinado de Guebuza

Simplesmente dramático!
- Banco de Moçambique, o conselheiro do governo para questões financeiras
É assim como se começa a caracterizar a actual situação financeira e económica do país, do ponto de vista de gestão da dívida pública nacional, particularmente quando se fala de dívidas contraídas a favor de empresas que não produzem absolutamente nada. O actual governo dirigido por Filipe Nyusi, depois de iniciar o mandato governativo com os cofres vazios e dívidas por pagar, continua em démarches complicadas no sentido de conseguir formatos menos doloridos para pagar as dívidas contraídas durante o reinado de Armando Guebuza.
Nisto e numa altura em que os moçambicanos tentam digerir as falcatruas evidentes no processo Ematum, eis que outra bomba cai.
Ficou-se a saber, no início desta semana, que afinal, o governo anterior não fez só dívidas no âmbito da Ematum, no montante global de 850 milhões de dólares. Há outras dívidas, também datadas de 2013. Fala-se de qualquer coisa como 787 milhões de dólares que o governo de Guebuza pediu aos credores internacionais, supostamente para a compra (também) de navios para a marinha e radares para a protecção da costa e águas nacionais contra acções de pirataria.
A dívida, segundo se diz, foi feita em nome da estatal, ProIndicus, uma empresa quase desconhecida no país.
BM não foi consultado
Entretanto, o Banco de Moçambique (BM), conselheiro do governo para questões financeiras e económicas, diz que em relação ao assunto nem sequer foi consultado. Tudo quanto se diz em torno da dívida contraída em nome da ProIndicus é novidade a 100 por cento, segundo reconheceu o governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gouveia Gove. Aliás, Gove diz que nem sequer conhece a ProIndicus, empresa estatal que, apadrinhada pelo governo, governo, foi aos credores buscar 787 milhões de dólares, para instantes depois o mesmo governo apadrinhar a polémica Ematum na busca de 850 milhões de dólares, esta para a aquisição de atuneiros e também de patrulheiros do mar.
“Não conheço a ProIndicus nem os contornos de tal dívida. A dívida pública é gerida pelo Ministério das Finanças. Nós, como Banco Central, levantamos informações para ver qual é a situação geral do endividamento.
Não tenho informação sobre isto e estou a ouvir de vós”, assim respondeu Ernesto Gove, quando questionado por jornalistas sobre que conselhos teria o Banco de Moçambique dado ao governo no âmbito das dívidas que se diz terem sido feitas a favor da ProIndicus.
Tal como o caso Ematum, a divida da ProIndicus também foi despoletada a partir de fora. O governo ficou quietinho na tentativa de esconder a informação de ter contraído, em nome dos moçambicanos, avultadas dividas.
No caso da ProIndicus foi o “The Wall Street Journal”, publicado em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, a questionar as razões que fizeram com que as autoridades moçambicana a escondessem, aos credores do processo Ematum, que já tinham contraído em outros credores, outra dívida, quase para o mesmo fim.
A ProIndicus é uma Sociedade Anónima, constituída a 21 de Dezembro de 2012, e que tem por objecto a “concepção, financiamento, implementação e gestão de sistemas integrados de segurança aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre; Consultoria, Procurement e fornecimento de equipamentos e acessórios, prestação de serviços na área de segurança de infraestruturas e prestação de serviços na área de navegação aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre”, de acordo com o Boletim da República da III série, número 2 de 8 de Janeiro de 2013.
Ainda não são conhecidos os contornos exactos destes empréstimos contraídos pela empresa estatal ProIndicus, porém, segundo o The Wall Street Journal, deverão ser pagos na totalidade até 2021. (Eduardo Conzo)
MEDIAFAX – 08.04.2016
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Essa é chave para a paz e concórdia.
Essa palavra tantas vezes pronunciada, mas poucas vezes assumida, tem sido o entrave para que, volta e meia, se tenha o país embrulhado em guerras.
Num ambiente em que predominam receios de que reconciliação plena dará lugar a processos de vingança, verificam-se esforços conjugados para que não se dê espaço nem oportunidade para que a verdade dos factos prevaleça.
Não vale a pena tentar inventar histórias sobre as razões para que a moçambicanidade continue sendo um projecto por concretizar depois de quarenta anos. Já não deveria ser preocupação falar de “unidade nacional” como objectivo a atingir e a alcançar. Isso prova que temos problemas e que não temos sabido lidar com eles.
Há alguma insensibilidade por parte dos nossos políticos quando abordam os nossos problemas. E também deve ser dito que os mesmos sofrem “deficits” de conhecimento e de informação sobre os “dossiers” nacionais. Quando assim é, face a qualquer desaire recorrem rapidamente à descoberta de justificações.
Quantas vezes não se viu dirigentes a vários níveis mentindo e apresentando relatórios falseados quando questionados sobre o seu desempenho?

Sabe-se que é comum termos as nossas cidades pintadas e engalanadas sempre que chegue uma visita de alto nível. Mas ao mesmo se sabe que as nossas cidades e vilas clamam por recolha de lixo todos os dias, e os responsáveis deste pelouro revezam-se em desculpas e justificações para, essencialmente, fugirem às suas responsabilidades.
Só se esquecem de dizer que, pelo desempenho que apresentam, deveriam colocar os seus lugares à disposição, pois, pelo que fazem, não merecem o salário auferido nem as regalias que acompanham os seus cargos.
Construir o país de forma sólida, democrática e justa é um desafio de todos os dias, que deve ser assumido como trabalho de todos. Não há quem tenha nascido para dirigir, e outro para ser dirigido. Os nossos líderes devem ser pessoas preocupadas, criativas  e corajosas. A sua liderança deve ser vista e sentida por todos pela diferença que fazem e da maneira que fazem. Ninguém pode ser líder por imposição ou por desígnio de um grupo de pessoas.
As agendas consensuais são produto directo de debates directos e abertos sobre os nossos problemas concretos, e nesse processo as lideranças mostram o que valem de maneira inequívoca.
Não se pode continuar ignorando o clamor de todo um povo sobre a qualidade deplorável da sua vida.
Temos todo o direito de diferir ou de ter opiniões diferentes, mas não é isso que nos deve tornar inimigos, pois aí estaremos a criar um falso problema.
E o agravante é que tem sido esse o expediente para excluir, que visa unicamente colocar uns moçambicanos acima dos outros no que concerne ao direito  inalienável de acesso às possibilidades que o país oferece.
Pintam-se quadros lindos sobre coisas que têm um conteúdo sujo e nefasto. Somos um país em crise e com crise de valores. Surgiram crimes atípicos e hediondos que raramente têm esclarecimento e punição. Por vezes, por não terem enquadramento jurídico, e, outras vezes, por manifesta incapacidade das autoridades de administração da Justiça. Mas o assunto ganha outra dimensão quando vemos os direitos das pessoas desrespeitados por ingerência política em assuntos de cariz judicial.
É improdutivo que os cidadãos se calem e caiam no fatalismo esperando que as coisas e os seus problemas se resolvam por si. É inútil esperar que os açambarcadores se redimam e parem de lesar o público por sua alta recreação.
Há coisas que os cidadãos devem tomar nas suas mãos e uma delas é denunciar quem zelosamente procura desviar-se da causa pública utilizando meios públicos de comunicação social. Travar a cultura do ódio e da limitação do acesso a quem pensa diferente nos órgãos de comunicação social.
Não se pode promover agendas através da aquisição de órgãos de comunicação privados como forma de limitar supostas  dissidências e críticas.
Sociedade forte e saudável existe quando a crítica faz parte do quotidiano, pois isso fortalece, educa e informa os cidadãos.
Jamais teremos aquele Moçambique de que tanto ouvimos falar e que alguns dos nossos políticos frequentemente dizem eufemisticamente ser sua agenda.
Cidadania tem responsabilidades acrescidas.
E reconciliar a família moçambicana é da responsabilidade de todos nós. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 08.04.2016

Inventar a guerra para comprar armas

Canal de Opinião por Adelino Timóteo
A verdade é como o azeite: sempre vem ao de cima. Esse ditado enquadra-se perfeitamente no que está a acontecer em Moçambique, onde um grupo de mafiosos, sem outro nome, defraudou o Estado em 622 milhões de dólares e aplicou-os na compra de armas. O referido grupo de mafiosos, que sonegou o saque daquele dinheiro, encontrou na guerra uma justificação para eximir-se de futuras responsabilidades criminais.
E a causa de justificação, para tudo o que esse grupo mafioso urdiu, programou, criou e esquadrinhou, de forma infalível e criminosa, foi um segmento de cidadãos que acreditava ilusoriamente que estamos num Estado de Direito. O resultado pretendido pelo referido grupo de mafiosos não podia ser mais fantasioso que esse: estão os pobres cidadãos moçambicanos a mataram-se entre si. Estão os pobres militares e guerrilheiros a lutarem  por uma causa oca, criada e fantasiada por gente astuta, que criou um inimigo, estão os mafiosos a cultivar ódio recalcado entre os humildes cidadãos de um país, quais sadistas, para continuarem a saquear dinheiro ao Estado, para engordarem as suas contas bancárias e garantir um futuro próspero aos filhos, com o sangue de gente empobrecida e sacrificada por defender os seus caprichos e luxos, lá nos ricos apartamentos e faustas mansões em que vivem.
É aconselhável uma marcha da sociedade civil moçambicana a pedir a cabeça desses mafiosos, a pedir o congelamento de contas  bancárias e riqueza detida por esses mafiosos, lá fora. É aconselhável que a sociedade civil apele aos países de origem das multinacionais que estão ligadas a esses mafiosos no sentido de desencorajar qualquer conexão empresa- e garantir um futuro próspero aos filhos, com o sangue de gente empobrecida e sacrificada por defender os seus caprichos e luxos, lá nos ricos apartamentos e faustas mansões em que vivem.

É aconselhável uma marcha da sociedade civil moçambicana a pedir a cabeça desses mafiosos, a pedir o congelamento de contas bancárias e riqueza detida por esses mafiosos, lá fora. É aconselhável que a sociedade civil apele aos países de origem das multinacionais  que estão ligadas a esses mafiosos no sentido de desencorajar
qualquer conexão empresarial com estes leprosos pejados de sangue nas mãos, que não só são responsáveis de milhares de refugiados, como de matanças de centenas de nacionais no campo e nas nossas cidades, onde nos últimos dias se reportam cenas horrorosas de assassinatos, e sempre gente sem conexão com o poder do dia.
Mobilizemo-nos numa marcha geral contra essa guerra. Digamos “não” à guerra. Digamos “não” a essa “gangster” de mafiosos que depaupera e dilapida os cofres do Estado a pretexto premeditado  e de enriquecimento.
Chamemos a atenção à comunidade internacional, para, na eventualidade de esta guerra resvalar num genocídio, que os autores, que estão bem identificados, sejam chamados à responsabilidade criminal, para que a justiça internacional caia em cima dos mesmos.
E, para que não nos acusem de revanche, é preciso referir que tudo está plasmado nos dois acordos de paz que estes mafiosos assinaram e ilusoriamente dizem cumprir, sem sequer dar os passos visíveis e necessários, como a integração  dos guerrilheiros de outra parte nas forças armadas e de segurança, coisas conhecidas de há mais de vinte anos, nem mesmo depois do acordo celebrado há menos de dois anos, porque, para esses mafiosos, sempre foi prioritário fazer-se com o controlo da Polícia e do Exército, seus cachorros para todo esse triste teatro de matança a que assistimos impotentemente.
Para esses mafiosos justifica recusar um Exército e Polícia unificados, pois, habituados a ordenar matanças, têm o seu suporte existencial nesta saga de difícil memória na nossa sociedade, onde já ninguém sabe de que lado nem quando pode ser crivado de balas desses matadores.
O país tornou-se tão perigoso que já não dá confiança de viver nele, porque aqueles que se dizem o garante da segurança, aqueles que arrancam armas a outros, são os mesmos que têm estado a matar indiscriminadamente os civis e indefesos, nas cidades.
Os astutos e mafiosos mobilizaram a imprensa engajada, mostrando armas que uma das partes mantinha em seu poder, sabendo todos que são cobertas pelo acordo de paz, a imprensa acantonada não se deu ao trabalho de recordar esse aspecto.
Contudo, ainda assim, ficou claro que as armas que vimos não são essas que estão a matar nas cidades do nosso país. São as armas que estão com as ditas forças de segurança.
Não nos venham dizer que o clima de guerra reinante é por causa de cinco dúzias ou mais de guerrilheiros que não foram integrados no Exército. Antes senão, é preciso que dêem a mão à palmatória, e digam que compraram as armas, para prover as suas comissões e com isso se enricarem.
É preciso que digam “mea culpa”, porque, enquanto não comprávamos armas lá fora, enquanto transformávamos os quartéis em escolas e universidades, jamais houve guerra na nossa pátria amada!
Indignemo-nos! A melhor geração de jovens, formados e educados, está a acabar nessa guerra injusta.(Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 08.04.2016

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