Os refugiados moçambicanos no Centro de Kapise-Malawi correm risco de serem sequestrados e mortos pela secreta moçambicana. Por meio das secretas moçambicana e malawiana, o MTQ tem informações segundo as quais, entre os refugiados já estão infiltrados os operativos do SISE-Moçambique (Serviços de Informação e de Segurança do Estado) com o propósito de praticar assassinatos e sequestros selectivos contra os refugiados, e criação do caos no campo. Além de pretender forçar o regime malawiano a ver nos refugiados um perigo e forçar a sua expulsão, o regime de Maputo pretende dar credibilidade e continuidade do trabalho já levado a cabo por seus órgãos de informação (TVM, DOMINGO, RM e NOTICIAS) recentemente regressados do campo que afirmam estarem ai homens armados da Renamo. Segundo a informação em nosso poder, em 2014, o chefe da localidade de Nkondedzi, Orlando Aviso Sopinho, havia compilado e entregue uma lista de membros activos e ex-guerrilheiros da Renamo que deviam ser sequestrados e abatidos a exemplo do que está acontecer em Manica e Sofala, pelos esquadrões da morte a mando das forças de defesa e de segurança. Ainda, segunda as mesmas fontes, esforços estão sendo envidados para a polícia moçambicana influenciar a polícia malawiana no sentido de prender e entregar as pessoas cuja lista o SISE detêm. Em caso de o Malawi manter a sua posição em defesa do regresso voluntário, o regime de Maputo irá usar o extremo de atacar camiões malawianos que usam a EN 304 (Zobwe-Tete) e atribuirá os ataques aos homens saídos do centro de Kapise para justificar suas detenções. Na verdade, os infiltrados em Kapise possuem as armas em Moçambique e, caso seja preciso, não exitarão em recorrer a elas para criar caos. Tudo leva a crer que o governo de Maputo está determinado para que aqueles refugiados continuem lá pois, segundo diz, desde que eles saíram a paz regressou.
MTQ.
Vejamos as notícias abaixo (NOTICIAS; DOMINGO, RM E TVM)
Mozambican refugees in Kapise Camp-Malawi are at risk of being kidnapped and killed by the Mozambican secret. Through the Mozambican and Malawian secret, the MTQ has information that among the refugees the Mozambique SS agents operators are already infiltrated for the purpose of practicing assassinations and selective kidnappings against refugees and creating chaos in the field. In addition to want to force the Malawian regime to see in the refugees a danger and force their expulsion, the Maputo regime intends to credibility and continuity of the work already carried out by its organs of information (TVM, DOMINGO, RM and NOTÍCIAS) recently returned from the Kapise field who claim there are armed Renamo men. According to information in our possession, in 2014, the head of Nkondedzi locale, Orlando Aviso Sopinho, had compiled and delivered a list of active members and former Renamo guerrillas who were to be kidnapped and slaughtered the example of what is happening in Manica and Sofala, by death squads at the behest of the defense and security forces. Still, the second the same sources, efforts are being made by the Mozambican police to influence Malawian police that can arrest and hand over people whose lists the SISE hold. In the case of Malawi maintain its position in defense of voluntary return, the Maputo regime will use the extreme of attacking Malawians trucks that use the EN 304 (Zobwe-Tete) and attribute the attacks to outgoing men from central Kapise to justify their holdings. In fact, infiltrated Kapise have weapons in Mozambique and, if necessary, will not hesitate to use them to create chaos. It seems that the Maputo government is determined to keep those refugees away from their territory, although talk you want to see them returned because, according to local authorities, since they left the peace returned.
MTQ
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Refugiados que não são refugiados
ASSUMAMO-LOS como refugiados. Mas em bom rigor eles ainda não o são. São, isso sim, moçambicanos que abandonaram as suas terras de origem em Nkondedzi, Monjo, Ndandi, Maculuru e Kabango, no posto administrativo de Zóbuè, distrito de Moatize, em Tete, para se instalarem no campo de assentamento de Kapise, em Mwanza, no vizinho Malawi, servindo de instrumento de pressão política para fins inconfessos.
Até porque tecnicamente o país não está em guerra para produzir refugiados, mesmo admitindo-se a existência de alguns focos muito bem localizados de instabilidade.
O Noticias investigou o cenário que se vive principalmente em Nkondedzi e Monjo, de onde é originária a maior parte dos concidadãos deslocados para o Malawi e visitou o campo de assentamento de Kapise, trazendo nesta reportagem algumas constatações.
OS FACTOS
Com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992, entre o Governo e a Renamo, antigos guerrilheiros da Renamo deslocaram-se de Gorongosa e Marínguè, em Sofala, para se fixarem nos povoados acima referidos, tendo inclusivamente constituído famílias alargadas. Porém, permaneceram sempre armados e sempre atentos às ordens do “comandante”. Ndandi, Monjo, Nkondedzi, Maculuru e Kabangu possuíam até há bem pouco tempo bases militares da Renamo, as quais vieram a ser destruídas pelas Forças de Defesa e segurança. Veio então o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares (ACHM) entre o Governo e a Renamo, a 5 de Setembro de 2014. Mais de 100 guerrilheiros da Renamo foram enviados para aqueles povoados, idos de Maringuè e Gorongosa em Sofala. Estes foram divididos em grupos de sete homens cada pelos diferentes povoados deste posto administrativo. Objectivo: criar instabilidade. Mas um pouco antes deste acordo já reinava naqueles povoados um clima de tensão, senão vejamos:
- No dia 13 de Fevereiro de 2014 quatro homens armados confirmados da Renamo assaltaram pelas 23 horas o povoado de Magalawanda, raptando um cidadão de nome Armando Sandifuno, por sinal, líder comunitário do II escalão.
- No dia 3 de Março de 2014, homens armados da Renamo assaltaram o povoado de Tswende, raptando Walasse Diasse, líder comunitário do II escalão.
- No dia 28 de Março de 2014, cerca da uma hora, homens armados da Renamo atacam a residência do chefe da localidade de Nkondedzi. Orlando Aviso Supinho escapou a morte por simples milagre.
- No dia 10 de Junho de 2014, sete homens armados da Renamo raptaram no povoado de Chidókue o líder do II escalão Fandissone Divaissone submetendo-o a todo o tipo de sevícias. Este, por sorte, veio a ser libertado, ao contrário do que aconteceu com os outros. Brutalmente assassinados.
- No dia 27 de Outubro de 2015 homens armados raptaram o líder do II escalão, Fernando David Nkweezi, do povoado de Nagulo. Depois de torturado foi posto em liberdade.
- No dia 27 de Outubro de 2015 na localidade de Magalawanda, homens armados da Renamo raptaram Mosse Susteni Guetsi, líder do III escalão pilhando todo o seu celeiro e outros bens.
- No dia 28 de Janeiro de 2015, por volta das 22 horas, sete homens armados da Renamo raptaram dois líderes comunitários do III escalão, no povoado de Mutuagulu. São eles Dureis Razão Sole e Armindo José Almeiro, os quais ficaram quatro meses nas masmorras da Renamo.
- No dia 28 de Setembro de 2015 no povoado de Ndandi, homens da Renamo raptaram o líder do II escalão, Campenhetete Eduen Chathima.
- No dia 21 de Outubro de 2015 também em Ndandi, os mesmos homens armados raptaram a líder do III escalão, Joaquina Bonongwe.
Vários outros raptos foram acontecendo, envolvendo não só líderes comunitários, mas também figuras influentes na zona, indiciando-as de fortes ligações com o partido Frelimo. Os mesmos homens protagonizavam ataques sistemáticos contra as Forças de Defesa e Segurança, nas suas operações de manutenção da paz e tranquilidade. Ou seja, o que reinava naqueles povoados era tudo menos a lei e ordem. É então quando cansadas desta “humilhação” as FDS decidem empreender uma verdadeira “caça”a todo o individuo portador ilegal de arma de fogo.
A operação, confessa-se, não foi fácil pois, os homens armados confundiam-se com a população. Aliás, parte desta população foi cúmplice dos desacatos protagonizados pela Renamo protegendo os homens armados e não os denunciando perante as autoridades competentes. Não haja então, qualquer dúvida de que a resposta dada pelas FDS nesta operação foi enérgica, ou seja bem contundente, o que levou os homens armados a fugirem em debandada, uns para as florestas e outros para lugares incertos onde se supõe continuem escondidos. Nesta fuga e já em situação de desvantagem no confronto militar com as FDS, os homens armados foram difundindo mensagens apelando à população para abandonar imediatamente as suas residências e a se dirigir para o Malawi alegando insegurança.
É assim que começa em Julho de 2015 a entrada de moçambicanos no Malawi sobretudo para os povoados de Kassuza, Kapise, Luwani, Makanani e Mpeni. O número de moçambicanos no campo de assentamento de Kapise, no Malawi tende a crescer até hoje porque a Renamo não parou de fazer campanha no sentido de a população abandonar as zonas alegadamente por razões de guerra. Ou seja, a Renamo encontrou por esta via um instrumento de pressão à opinião pública nacional e internacional para dar a entender que em Moçambique há guerra.
Depreende-se assim que no Malawi não existem refugiados, na verdadeira acepção da palavra, mas sim pessoas instrumentalizadas politicamente para dar o cenário de instabilidade político – militar no país. Aliás, politicamente, a existência de “refugiados” no Malawi interessa a própria Renamo simplesmente para sustentar a tensão político – militar no pais, tensão essa que pretende perpetuá-la para obter dividendos políticos.
DRAMA EM KAPISE
Em Kapise no Malawi, estão assentadas pouco mais de oito mil pessoas. Mas o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que insiste na existência de “refugiados” moçambicanos fala em pouco mais de dez mil.
As condições alimentares não são das melhores, a comida não chega para todos, as condições sanitárias simplesmente dramáticas, enfim, estes moçambicanos vivem no calvário. A malária e as diarreias tomam conta diária das crianças e também dos adultos.
Os “refugiados” ou melhor os deslocados moçambicanos no Malawi vivem em pequenas cabanas próximas umas das outras, em famílias geralmente alargadas. As crianças não vão à escola nenhuma, as mulheres não vão à machamba, os jovens e adultos não vão à pastorícia, enfim as suas vidas estão estagnadas.
“Em Moçambique deixamos muita terra arável; deixamos as nossas crias. Temos gado, temos cabritos, porcos, galinhas. Aqui não temos nada. A nossa vida está parada. E não temos como voltar porque dizem-nos que não há paz. O nosso apelo é que os governantes se entendam para que nós possamos regressar e retomar pacificamente a nossa rotina diária”, desabafou Fastone Chimwala, de 23 anos, que sob forte vigília dos responsáveis do campo falou ao nosso jornal.
Por seu turno, Betinho Adelino, de 42 anos, condicionou abertamente o seu regresso à casa, à ascensão do líder da Renamo ao poder.
“Nós queremos a paz para voltarmos às nossas casas. Mas só podemos voltar quando Dhlakama governar o país. Aqui não temos condições de vida”, queixou-se ao mesmo tempo que se recusava a aceitar que em Nkondedzi como em qualquer outro povoado de Zóbuè e de Moatize e do país em geral reina a paz e tranquilidade.
Aliás, estes responsáveis não permitiam sequer o registo de imagens, sobretudo imagens que ilustram o drama em que vivem os cerca de dez mil moçambicanos naquele centro de acomodação.
Hilary Namakhwa, director do campo, do Ministério do Interior do Malawi diz que tudo está a ser feito tendente à criação de melhores condições para os deslocados e refere que o regresso destes às terras de origem em Moçambique só pode ser de forma voluntária e não forçada.
Ressalvou que para que isso aconteça é necessário um trabalho sério entre os governos de Moçambique e do Malawi com o envolvimento de outras partes interessadas como o ACNUR e parceiros.
REGRESSEM ÀS ORIGENS
O apelo das autoridades governamentais é no sentido de que todos os moçambicanos alegadamente refugiados no Malawi regressem ao país, pois não há guerra e ninguém sofre perseguições de qualquer espécie.
Maria José Torcida, administradora do distrito de Moatize, disse que o Governo tem visitado a população concentrada em Kapise e tudo o que tem feito é no sentido de que esta regresse ao país porque “não há guerra”.
“A vida de cada uma daquelas pessoas parou. O que temos que fazer conjuntamente, é sensibilizar a cada uma daquelas pessoas para regressar a Moçambique” contou a administradora, mais tarde secundada pelo chefe da localidade de Nkondedzi, Orlando Aviso Supinho.
Supinho disse que a localidade está preocupada com a fuga massiva da população em obediência a apelos da Renamo que sistematicamente incita à violência.
“A população vive amedrontada e por isso busca lugares seguros. O que não podemos compreender é que no lugar de se “refugiar” em zonas seguras no interior de Moçambique, como por exemplo a sede do posto administrativo de Zóbuè ou mesmo a sede de Moatize, a população prefira serpentear montanhas, com todos os riscos dai decorrentes para o vizinho Malawi”, lamentou Aviso Supinho, implorando a população para que se mantenha nas suas zonas de origem, pois as Forças de Defesa e Segurança lá estão instaladas para a garantia da ordem e tranquilidade públicas.
Mas ao contrário do que se alega sobre o clima de instabilidade, a nossa Reportagem esteve em Nkondedzi onde testemunhou o funcionamento normal das instituições públicas. O comércio, as escolas funcionam normalmente, há uma livre circulação de pessoas e bens e as Forças de Defesa e Segurança mantêm-se firmes e determinadas na garantia da ordem e tranquilidade públicas.
Entretanto, o “Noticias” está na posse de uma lista dos principais cabecilhas da Renamo que incitam a população a abandonar as suas zonas de origem para o Malawi e a não aceitar o regresso às origens sem que Afonso Dhlakama governe pelo menos nas seis províncias em que reclama a vitória nas últimas eleições.
Da extensa lista, destaque vai para os irmãos Luis Passinguesse e Alberto Passiunguesse; Luciasse; Waissone Siquinala; António Gaulane; Grersse Fraquissone; Jossamu Fiquissone Magange; Micheque Madungu, Catarina Stuale, Fátima Sonto e Julião Sonto, Tomasse Yohane, Efrija Langwane, Missindi Chilimanjara, Agnesse Chilimanjara, entre outros. Muitos destes são delegados da Renamo em diferentes povoados do posto administrativo de Zóbuè e outros serviram como delegados deste partido nas eleições de Outubro de 2014, a maior parte destes, senão todos, encontram-se “refugiados” no Malawi. Algumas mulheres constantes da lista dirigiam a liga feminina da Renamo nesses povoados e estão na linha da frente no que tange à mobilização da população para se retirar das zonas de origem para o Malawi.
No dia 1 de Março, por exemplo, data a partir da qual supostamente a Renamo deveria iniciar a sua governação, a própria vila de Zóbuè esteve parcialmente deserta, à espécie de um recolher obrigatório, pois a população não sabia o que iria acontecer na sequência dessa campanha.
É de destacar aqui que num passado não muito distante, o Malawi acolheu milhares de moçambicanos lá refugiados, fugindo da guerra movida pela Renamo e por via disso beneficiou de ajuda canalizada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e parceiros, sabido que o país está a braços com problemas socioeconómicos.
Salomão Muiambo, em Kapise - Malawi
NOTÍCIAS – 07.03.2016
Kapise é o nome que leva o espaço malawiano que está a albergar alegados refugiados moçambicanos, o qual encerra em si uma imensidão de verdades, mentiras e omissões. A nossa Reportagem percorreu aquele local, ouviu vários populares que para ali afluíram que narraram que estão a sofrer bastante e querem regressar às suas casas.
Entretanto, ninguém revela o que deu origem àquele êxodo com contornos políticos e criminais. Mas,domingo esteve lá e desvenda o véu.
O surgimento do centro de acolhimento de Kapise tem a sua gênese em Fevereiro de 2014, numa altura em que se intensificavam as hostilidades militares na região centro do país, com particular ênfase para o troço rio Save-Gorongosa, com epicentro em Muxúngue, na província de Sofala.
Naquela altura, começaram a ser audíveis, de forma meio tímida, alguns casos de sequestro de líderes comunitários no norte da província de Tete, mas o centro das atenções do país, e do mundo, era Muxúngue, pelo que o esclarecimento destes casos tardou a chegar.
Tanto é que estes episódios se sucederam em regiões remotas do interior do distrito de Moatize, onde a presença da polícia era quase imperceptível, o que alimentava um certo clima de impunidade e de “deixa-andar”.
Este quadro viria a agravar-se logo após a assinatura do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares, de 5 de Setembro de 2014, pelo punho do então Presidente da República, Armando Guebuza, e do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na Presidência da República.
Enquanto aquele entendimento era rubricado sob o olhar atento de todos os moçambicanos, e quiçá, do mundo inteiro, a liderança da Renamo orientava mais de uma centena das suas milícias armadas, que actuavam ao longo da Estrada Nacional Número Um (EN1), a se transferirem para a região norte da província de Tete, mais concretamente nas bases de Ndande, Mondjo e Cabongo.
Estas bases estão localizadas no interior do distrito de Moatize, posto administrativo de Zóbwe, lodalidade de Nkondedzi. Para uma fácil inserção deste grupo, o seu comando distribuiu-os pelas aldeias em grupos de sete homens.
Às populações locais cabia o dever de acolhe-los, alimentar e oferece-los guarita, o que deu origem a casamentos, compadrios e outras afinidades entre as comunidades e as milícias que se camuflavam de população a cada dia que passava.
Porque toda esta acção decorreu em período pré-eleitoral, foram estes grupos que pregaram naquela população que “desta vez, nós e o nosso líder, Afonso Dhlakama, vamos ganhar as eleições”, com juras e promessas à mistura.
Por exemplo, assumiam o compromisso de, logo depois do anúncio dos resultados, iniciar com o processo de distribuição de tractores pelos camponeses e um vencimento de, pelo menos, 3 mil meticais para os líderes comunitários por si destacados, contra um subsídio menor que o governo oferece mensalmente aos líderes tradicionais por si acreditados.
Perante estas garantias, sustentadas em juramentos, a população local anuiu sem pestanejar. Tanto é que aquela região (norte de Tete) sempre esteve sob a influência política da Renamo, o que facilitou a aceitação daquelas promessas.
Por outro lado, trata-se de regiões onde o acesso à informação só acontece por via das emissoras de rádio malawianas que emitem em chichewa, língua falada em ambos os lados da fronteira. De televisão não se fala. Jornais, pior ainda.
LISTA DE ATROCIDADES E DE VÍTIMAS
No interior de Nkondedzi pairava um clima de impunidade total que era agravada pela ausência física das autoridades da Lei e Ordem. Assim sendo, enquanto uns disparavam contra pessoas e bens em Muxúngue, na província de Sofala, outros intimidavam e sequestravam líderes comunitários residentes em cinco povoados de Nkondedzi.
Trata-se dos povoados de Monzo, Ndande, Macululua, Magalauande e Cabongo que coincidem com as bases da Renamo que, na verdade, nunca estiveram desactivadas desde o fim do conflito armado dos 16 anos que terminou com o Acordo Geral de Paz de 4 de Outubro de 1992.
Conforme apuramos, estas áreas coincidem com as estradas que ligam a cidade de Tete às estratégicas vilas de Angónia e de Zóbwe que, durante o primeiro conflito armado só eram trafegáveis sob forte escolta militar. Apuramos que quando as Nações Unidas organizaram o acantonamento dos militares antagonistas, muitos homens da Renamo não se deixaram desmobilizar e permaneceram nas cercanias das bases, disfarçados de camponeses.
Como forma de manter a sua hegemonia nestes povoados, homens armados da Renamo que não foram deslocados a Muxúngue iniciaram uma campanha de perseguição aos líderes comunitários tidos como favoráveis ao partido no poder e a primeira vítima foi Armando Sandifuna, do povoado de Magalauande.
Armando Sandifuna era líder de segundo escalão e foi raptado em sua residência no dia 13 de Fevereiro de 2014, por volta das 23 horas por quatro homens armados e nunca mais regressou. O governo do distrito assume que deve estar morto porque nunca mais se ouviu falar dele.
A seguir foi o líder de primeiro escalão da comunidade de Tsuende, conhecido por Walace Comulane Diace que foi raptado a uma hora da madrugada do dia 3 de Março de 2014.
Porque as incursões criminosas não eram reprimidas, sete homens armados da Renamo sentiram-se tão desafogados a ponto de se deslocarem para a sede da localidade de Nkondedzi para disparar contra a casa do chefe da localidade, casa essa que funciona como sede da localidade, em cujo quintal funciona o tribunal comunitário, entre outros. Felizmente, ninguém foi atingido.
Depois destas três incursões, consta que houve um relativo abrandamento deste tipo de operações, pese embora decorressem outras acções de intimidação contra todos os que demonstrassem alguma simpatia pelo partido Frelimo.
Entretanto, com o regresso dos mais de 100 homens armados que actuavam em Muxúngue e com o calor da campanha eleitoral, a barbárie atingiu o apogeu. Prova disso é que na noite de 10 de Novembro de 2014, sete homens armados raptaram Fandessone Devaissone Ndeure, líder de segundo escalão de Chidocoe. Este foi torturado durante três dias numa base da Renamo e depois posto em liberdade.
No dia 27 do mesmo mês de Novembro de 2014, quatro homens armados raptaram o líder de segundo escalão de Nagulo, de nome Fernando David Ncueza. Esta deve ter sido a vítima mais brutalizada por aquelas milícias.
Conforme apuramos em Nkondedzi, localidade que visitamos ao longo da semana passada, “Fernando David Ncueza foi espancado até à exaustão e transportado com as mãos e os pés atados, como se faz com leitões e cabritos, com uma estaca a atravessar os membros”, contam testemunhas oculares que sublinham que este viria a ser solto, mas a sua vida virou de avesso porque vive apavorado e traumatizado.
Na senda das atrocidades, no dia 27 de Janeiro de 2015, por volta das 16 horas, quatro homens armados estabelecidos no povoado de Magalauande raptaram Mose Sustene Nguetse e, enquanto este estava em cativeiro, o seu celeiro foi assaltado. Depois mandaram-no de volta para casa.
No dia seguinte, 28 de Janeiro, as 22 horas, sete homens raptaram dois líderes do povoado de Mutuagalu (cabeça de cão). São eles Durege Razão Sole e Armindo José Almeiro que foram mantidos em cativeiro durante quatro meses.
A 28 de Setembro de 2015, um líder de segundo escalão do povoado de Ndande, conhecido por Camphete Eduene Chathina foi levado da sua casa e nunca mais regressou ao convício familiar. É tido como morto.
No mês de Outubro, dia 21, foi raptada uma líder comunitária de terceiro escalão, de nome Joaquina Donongue que nunca mais foi vista. Assume-se que tenha sido assassinada pelos seus algozes da Renamo.
Porque ninguém lhes fazia frente, as milícias da Renamo também raptaram pessoas singulares e influentes, como é o caso do comerciante Francisco Chamuachale, entre outros que conseguiram regressar vivos e outros de que nunca mais se ouviu falar.
MAIS BARBÁRIE
Referimos em parágrafos anteriores que no interior de Nkondedzi vivia-se um ambiente de “faz e desfaz que ninguém nos toca”, a ponto de a população acreditar que, de facto, a Renamo é toda e rainha por ali. Veja-se o estágio a que a situação tinha chegado.
Por exemplo, quando as autoridades do distrito de Moatize relataram que havia homens armados a atropelarem a lei e a ordem naquele distrito, o Comando Provincial mandou estabelecer uma pequena unidade policial por ali, que devia patrulhar a área, identificar e neutralizar os protagonistas daqueles actos.
Os agentes destacados chegaram ao local e se dirigiram aos locais de onde vinham os relatos de atrocidades. Uniformizados, armados e transportados em viaturas, foram abordando as populações com quem cruzavam nas vias. “Homens armados aqui? Nunca vimos. Devem estar lá mais adiante. Nas aldeias que estão para além daquelas montanhas”, diziam os populares.
Sem imaginar o que lhes espera, os agentes seguiram adiante e começaram a ser fustigados com balas pelas costas. Este quadro se repetiu várias vezes. Afinal, aqueles camponeses que conversavam tranquilamente nas bermas da estrada, nas machambas, nos mercados das aldeias, nas áreas de exploração, entre outros locais, vestidos a puros camponeses, civis e desprotegidos, que a polícia pretendia proteger a qualquer custo, eram os tais homens armados.
Outras tantas unidades foram sendo enviadas ao local e a estratégia mantinha-se a mesma. “Homens armados aqui? Nem sonhar! Mas ouvimos dizer que andam por ali naquelas árvores. Vão lá ver”. Mal a polícia virava as costas, eram regados com balas impiedosas.
Com as coisas colocadas desta maneira, foi realizado um trabalho de inteligência que permitiu perceber que havia informantes posicionados em Nkondedzi-sede que forneciam detalhes sobre o número de agentes, tipo de meios que transportavam, entre outros.
Com os meios a seu alcance, e porque a situação já escapava ao controlo das autoridades policiais de protecção e de intervenção rápida, foram accionadas unidades das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) que neutralizaram os informantes posicionados em Nkondedzi e penetraram para Ndande, Mondjo e Cabongo sem pré-aviso.
Colhidos de surpresa com a presença dos militares do Estado, as milícias da Renamo iniciaram uma intensa troca de tiros que viria a culminar com a saída em debandada daqueles locais, levando consigo a população que os acobertava. Há relatos que apontam para a recuperação de bastante armamento, pesado inclusive, que era mantido em esconderijos naquelas bases.
Com medo do dia 1 de Março
O estabelecimento de unidades da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nkondedzi, localidade com 19 povoados, justificava-se pelo facto de não só ocorrerem sequestros, torturas aos opositores, como também porque havia relatos de estabelecimento de tribunais comunitários geridos por homens armados e até estruturas administrativas controladas por estes.
Daqueles 19 povoados, apenas cinco apresentavam sinais evidentes de stress devido à intensa actividade política e também criminosa dos homens da Renamo. Nos restantes locais, a vida continua numa boa. É importante realçar que Nkondedzi tem cerca de 31 mil habitantes e os cinco povoados problemáticos concentravam à volta de 10 mil habitantes.
Parte das estruturas e tribunais montados pela Renamo terão sido estabelecidas depois do anúncio dos resultados eleitorais e favorecidos pelos discursos do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, o qual apregoa(ava) que vai governar seis províncias da região centro e norte a parte deste mês de março.
Estes pronunciamentos animaram ainda mais aquela população que vivia sob a liderança dos homens armados que, por seu turno, sempre apregoaram um ódio visceral pelas autoridades do Estado, com particular destaque para a PRM e FADM. Aliás, apuramos que alguns residentes de Nkondedzi assumem que Tete não é cidade para pisar, porque tem agentes da polícia pelas ruas. Fazem tudo no Malawi.
A ideia de que Afonso Dhlakama poderá governar a partir do dia 1 de Março foi tão propalada na província de Tete que alguns pais e encarregados de Educação, residentes na capital provincial, recearam levar os filhos à escola naquela data temendo eventuais tumultos.
No posto fronteiriço de Zóbwe, por exemplo, agentes ali destacados revelaram que o movimento de viaturas e até mesmo de peões cessou. “Poucas pessoas saíram à rua. Pior à noite”, contaram-nos. Entretanto, e como testemunhamos, não passou disso. A vida voltou à normalidade.
“Queremos regressar às nossas casas!”
Depois de percorrer a localidade de Nkondedzi, a nossa equipa de Reportagem deslocou-se ao centro de acolhimento criado espontaneamente em Kapise, no Malawi, mas a escassos metros da linha de fronteira com Moçambique. Aqui, a Organização das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) afirma para todos os que chegam que estão concentradas cerca de 10 mil pessoas, mas que registadas de forma oficial andam por ali umas oito mil pessoas.
A oficial de campo da ACNUR, Elsie Mills-Tettey, impos uma série de regras que pareciam visar impedir a nossa visita, debalde. Até quis saber se o jornal domingo, por exemplo, era um órgão pró governamental ou não. Depois exigiu que as fotos e filmagens fossem feitas em ângulos que não permitissem ver quem está naquele campo.
Um dos dados que salta à vista é que os números de pessoas ali albergadas parecem não bater com a realidade. Dez mil ou até mesmo oito mil pessoas parecem demasiada gente para os presentes. Aliás, a administradora de Moatize, Maria José Torcida, também torce o nariz perante estes números e apela à necessidade de se fazer um registo conjunto daquela população.
Ao contrário do que Elsie Mills-Tettey esperava, foram aqueles deslocados que se aproximaram e pediram para serem entrevistadas ao que anuímos. Um deles apresentou-se como sendo Betinho, mas depois disse que podia ser tratado por Adelino, de 42 anos de idade, que disse que estava a organizar a sua vida e futuro em Nkondedzi, mas a situação virou do avesso e foi obrigado a abandonar tudo.
“Não tenho nenhum problema em voltar. Quero ir para casa. Mas, tenho algum receio em relação à presença da polícia e de militares. Só quero paz. É isso que a maior parte das pessoas que aqui estão querem. Paz. Eramos pessoas prósperas lá porque produzíamos feijão-boer e tínhamos dinheiro para viver tranquilamente. Hoje estamos aqui feitos mendigos e nossos filhos não podem ir à escola”.
Fassitone Paulo Chamuala também acercou-se de nós e pediu encarecidamente para dizer “vocês que são chefes, façam algo pela paz. Estamos muito mal aqui. Só nos dão milho, óleo e feijão para um mês. As condições de vida são precárias. Vivemos em cabanas quando temos casas e bens em Moçambique. Queremos regressar às nossas casas”.
Depois vieram muitos mais que não se importavam em ser fotografados e de falar para vários microfones que lhes eram colocados à boca pelas diferentes equipas de reportagem de órgãos nacionais que para ali se deslocaram.
Elsie Mills-Tettey queixa-se da falta de espaço para acolher mais deslocados, lamenta a falta de redes mosquiteiras e a proliferação de malária, a ameaça de doenças diarreicas por falta de higiene individual e colectiva.
Há delegados da
Renamo entre os deslocados
Um dado que deixa qualquer um espantado no Centro de Kapise é que não há um único professor ou enfermeiro entre aquela população. Nem um para amostra. Quando se sabe que nas cinco povoações de onde aquela gente procede há escolas e unidades sanitárias. A própria oficial de campo da ACNUR, Elsie Mills-Tettey confirma esse dado.
O que apuramos de fontes que ali encontramos é que no meio daquela população se escondem delegados da Renamo cujos nomes nos foram fornecidos e aqui se seguem, sabendo-se que alguns destes são bastante violentos e terão sido os mentores de alguns actos relatados nesta Reportagem:
Texto de Jorge Rungo, Kapise, Malawi
Malawi: Homens armados da Renamo fazem-se passar por populares
07Segunda-feiraMar 2016
in
Homens armados do maior partido de oposição em Moçambique, Renamo, estão a fazer-se passar por populares no centro de acolhimento de Kapise, no Malawi, à procura de refúgio por, alegadamente, terem sido ameaçados pelas Forças de Defesa e Segurança moçambicanas.
Segundo a Rádio Moçambique, trata-se de homens que supostamente esconderam as suas armas do lado moçambicano depois de confrontos com as Forças de Defesa e Segurança na localidade de Nkondedzi, distrito de Moatize, província central de Tete.
Em Nkondedzi, os homens armados da Renamo protagonizavam raptos e assassinatos e emboscadas à Polícia da República de Moçambique, semeando pânico e terror.
Eles vivem no centro de acolhimento de Kapise misturados com a população, onde são assistidos pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR.
Alguns delegados políticos da Renamo também estão no centro de Kapise, segundo revelou a Rádio Moçambique um jovem entrevistado no local.
A presença de delegados da Renamo em Kapise foi também confirmada pelo chefe da localidade de Nkondedzi, Orlando Aviso Sopinho, igualmente deu uma informação detalhada sobre os raptos e assassinatos protagonizados pelos homens armados da Renamo na localidade de Nkondedzi em 2014 e 2015.
O Chefe do Posto Admnistrativo do Zóbwè, Jorge Jassi Lunguzi, afirmou que depois dos confrontos registados no ano passado, entre as Forças de Defesa e Segurança e os homens armados da Renamo a situação voltou à normalidade em Nkondedzi.
Segundo a RM, quase todos os moçambicanos que se encontram no centro de Kapise estão ansiosos em regressar a casa. Dizem que vivem em condições precárias e garantem que com a paz vão regressar a Moçambique.
De acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, cerca de 10 mil moçambicanos estão no centro de Kapise.
Fpnte: AIM
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