sexta-feira, 4 de março de 2016

Parlamento: Gente pobre de espírito jamais deveria estar aí.

Parlamento medíocre ou encenação medíocre?

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Gente pobre de espírito jamais deveria estar aí.
Cada vez que nosso Parlamento se reúne, é ocasião para vermos desfilar o que realmente são os nossos deputados. Há deputados e deputados. Uns deputados que jamais deveriam ter sido eleitos, pois não representam ninguém e nem trabalham para o povo. Não é preciso ser doutor para ser deputado. Mas é preciso ter capacidade de análise e vontade de estudar e aprender. Humildade e hombridade devem ser acompanhantes permanentes dos nossos deputados.
Um deputado que não fala e que no seu círculo eleitoral nada faz deve ser motivo de preocupação e de condenação.
É um espectáculo com “nuances” interessantes, mas também se pode ver que a mediocridade comanda.
É caricato repetir que só a Renamo é que é partido político armado. Deve ser dito que a Frelimo também ainda não deixou de ser partido político armado.
A história das armas nas mãos da Renamo tem a sua génese, e Joaquim Chissano, mais do que ninguém, conhece o assunto. A história das armas nas mãos da Frelimo é conhecida por todos. As FPLM eram o braço armado da Frelimo, e isso continua acontecendo, embora o nome hoje seja outro, FADM. Para que isso continuasse assim, foi feita uma reforma compulsiva dos integrantes das FADM dos soldados e oficiais provenientes da Renamo ao abrigo do AGP.
O barulho que os deputados da Frelimo fazem no Parlamento sobre uma eventual intervenção da PGR no assunto das armas nas mãos da Renamo é uma forma concertada e concebida para se empurrar a Renamo para a ilegalidade.
A troca de mimos e insultos entre deputados mostra o que são e o que conseguem fazer. Tanta pompa e elogios, tantos insultos, tanto formalismo, mas muito pouco sumo sai da AR. Dispendiosas sessões parlamentares que jamais tocam em “dossiers” sensíveis que dilaceram a nação, assim como a endividam.
Compreende-se que as bancadas estejam preocupadas com aquilo que é sua visão dos assuntos na mesa.
O que não se pode admitir é que os nossos deputados usufruam de mordomias e regalias, muito superiores àquilo a que o cidadão comum tem acesso, para produzir tão pouco.
Arrancar armas à Renamo tem de ser algo que aconteça em simultâneo com a construção de um Exército republicano apartidário.
O Acordo Geral de Paz em Roma foi parcialmente implementado, e todos sabemos que isso obedeceu a uma agenda previamente traçada.
A Frelimo, através da sua liderança, decidiu “recuar e negociar o AGP” para ganhar tempo e utilizar os seus recursos para corroer a Renamo e qualquer outra oposição política.
Os mentores desta estratégia têm sido claros ao longo destes anos todos: obliterar a oposição foi defendido e publicamente anunciado por altas figuras ligadas à Frelimo.
Há uma questão que os nossos deputados deveriam ter na sua agenda e com frequência ignoram, que é a economia e a transparência com que se tomam decisões vinculativas.
“Batedores de palmas” diferem de deputados.
A crise que se vive no país tem origens e consequências conhecidas.
O secretismo com que se tratam assuntos de importância capital para o país levou a que se contraíssem dívidas de natureza e objectivos duvidosos.
Uma sinistra posição de controlar por todos os meios as Forças de Defesa e Segurança é a principal causa da contínua existência de dois partidos armados.
Pelo que se pode observar e ouvir dos nossos deputados, a maioria deles sofreu lavagem cerebral e deveria ter vergonha. Mas claro que para ter vergonha é preciso alguma sensibilidade que alguns obviamente não possuem.
Quem pensa que, repetindo mentiras e criações do DIP da Frelimo de 1980, surte efeito e ganha votos, engana-se.
Pode servir para agradar às chefias e mostrar militância, mas é contraproducente para aquilo que são os genuínos interesses dos moçambicanos.
É engraçado, mas ao mesmo tempo triste, olhar para deputados vomitando ódio para com os seus pares. Falam tanto de desarmamento e paz, mas não conseguem perguntar à sua Comissão
Política por que razão nunca houve empenho e consequência para concretizar o articulado no AGP sobre a integração e criação do Exército único.
Deputado que não pergunta o que é pertinente não passa de deputado inútil.
E infelizmente temos muitos deputados desse tipo naquilo que chamam ostensivamente “Casa do Povo”.
Não é o facto de estarmos em 2016 que invalida um AGP assinado em 1992, mas que não foi cumprido na íntegra.
Uma associação de deputados organizados em bancada maioritária tem, ao longo dos anos, carimbado o desempenho do Governo como bom, e agora o país está endividado até ao pescoço. Os nossos deputados deveriam sentir vergonha de apelaram à solidariedade nacional para com as vítimas da seca e das chuvas ao mesmo tempo que esbanjam dinheiro público acumulando regalias e mordomias.
Diz-se que a democracia é um processo de aprendizagem, mas os nossos deputados são alunos péssimos.
Há excepções, mas muito poucas.
A hipocrisia que reina na nossa Assembleia da República é repugnante.
(Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 04.03.2016

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