segunda-feira, 28 de março de 2016

General angolano desvaloriza o Exército de Moçambique por não conseguir acabar com Dhlakama.”

General afastado por desvio de fundos

Benguela –   O general na reforma, José Maria Teixeira de Matos foi afastado do cargo de director provincial da Associação dos Antigos Guerreiros de Angola (AAGA) em Benguela no passado dia 9, na sequência de acusações de  desvios de bens patrimoniais e valores avultados não revelados.
Fonte: Club-k.net
O afastamento do mesmo ocorreu a margem de uma Assembleia-Geral, marcada por tensão, onde os associados mostraram-se insatisfeitos fazendo  acusações frontais como a alegada  falta de prestação de contas e desvio de fundos em benefício próprio. Foi-lhe igualmente solicitado esclarecimento do paradeiro  de viaturas e tractores, bens pertencentes a AAGA.
Ainda a margem do clima tenso, o secretário nacional dos antigos Guerreiros de Angola,  Augusto José Kaluhako,  viu-se obrigado a fazer um discurso para acalmar os ânimos.
 “É normal a substituição de quadros porque o anterior director nunca apresentou relatórios de contas e deu destino incerto ao património da direcção”, disse José Kaluhako.
Neste mesmo acto elegeu-se o jurista  José Vieira da Costa para ocupar a vaga deixada por José Maria Teixeira de Matos.
A referida associação integra antigos guerreiros do MPLA, UNITA e FNLA.

“Exército de Moçambique é exército de parada, de marcha. Não consegue acabar com o Sr. Dhlakama.” – General José de Matos, antigo chefe do Estado-Maior General das FAPLA
Excertos da entrevista do Gen. José Maria Teixeira de Matos “Siliveli” à LAC (Luanda Antena Comercial), 15 de Março de 2016:
“O Quénia é o exemplo dos africanos. É o 1º país da África negra com milhões de habitantes, o maior exército, tinha pilotos negros. E depois a Nigéria, com marinheiros de farda branca... E agora? Não aguentam com uma guerrilha no deserto. Não conseguem acabar com uma guerrilha no deserto. O exército todo que eles criaram... É como o exército zambiano! São exércitos de parada, de marcha. É como o exército de Moçambique que foi treinado por tanzanianos e por zambianos. Não consegue acabar com o Sr. Dhlakama.
Moçambique é estreito. Você faz um cerco como faziam os índios, cercavam aquilo para pegar o fogo... Não conseguem acabar com o Dhlakama em Moçambique. Você olha aquele exército que não tem nem sequer um albino. Nenhum mulato e nenhum branco. É igual ao exército da Zâmbia. Não tem. Só pretos. Agora é preto contra preto. Preto cristão, preto animista, preto muçulmano...
Já viu a guerra que eles têm? É igual ao problema da Guiné. Na Guiné também não têm mulatos nem nada. Então qual é a guerra do povo que eles vão fazer? É essa guerra.
O Agostinho Neto quando mandou lá um grupo a pedido do Presidente de Moçambique, na reunião, o Dangereux disse: “Camarada Presidente, assim da cor do Matos, não vi lá nenhum”. Então o Agostinho Neto disse “Então não vai lá ninguém”.
Qual é a guerra do povo que querem fazer contra Dhlakama? Você manda lá uma Companhia aqui dos comandos e acaba isso em 15 dias. Esse Dhlakama e tudo, vai tudo à vida.
A Companhia de Comandos que foi ali no Zaire, aqui tal general, não foram todos varridos aí? É nossa companhia. Mas esses de marcha de parada aqui do Zimbabwe e do Namibe, estavam para ser apanhados vivos. Olha, um dia estava a falar com um guerrilheiro e esse disse: “Oh chefe, eu estava lá e quando começou o avião a sair as garrafas de água, e eu disse – isso é para quê - É para a gente beber; - mas você não tem o rio aqui? Você bebe só na garrafa? Vai levar isso na guerra?” O nosso sargento a admirar. “Essa tropa vai beber de garrafa?”. Está a ver! Nós estávamos a beber mesmo a água do rio Zaire. É por isso que aquela guerra não acaba.”
Foto de Joao Cabrita.
Comments
Geraldo Angelo Mutuque outras coisas..
GostoResponder13 h
Aziza Throne Qual é a guerra do povo que querem fazer contra Dhlakama? Você manda lá uma Companhia aqui dos comandos e acaba isso em 15 dias. Esse Dhlakama e tudo, vai tudo à vida. Sera? As guerras de Angola e Mocmabique sempre foram diferentes. Antes, mesmo com o apoio cubanosovietico nao conseguiram,agora vai uma companhia de angolanos...accho que o delirio chegou a Angola.E Que tem Cabinda
GostoResponder113 h
Julio Lacitela Escapo-se-lhe um pormenor:: aqui ele tem apoio popular
GostoResponder512 h
Aurélio Simao João Cabrita, nós aqui não queremo alguém nos dizer uma tática de matar mas sim, de alcançar entendimento, porque mesmo morrendo Dhlakama ainda teremo assuntos a resolver e ainda fica pior porque ele que sabe onde mandou escnnder as armas
GostoResponder412 h
Alcidio Do Rosario O general de Matos esquece que para as FAA neutralizarem o Savimbi tiveram que contar com o apoio dos EUA. Ele esquece que para acabar com Savimbe, o exercito angolano tinha mais mercenarios estrangeiros.
GostoResponder512 h
Aurélio Simao Ainda temos que ficarmos atentos com aquele Sr que consegue pagar apenas com palavras os homens dele sem nenhum centavo durante 23 anos, matar esse nestas aluras é semear vento
GostoResponder112 h
Borges Nhamirre Mostrem esta foto ao General Siliveli. Tem cá um mulato. Claro, Mulato a nossa maneira, mas tem.
GostoResponder312 hEditado
Joao Cabrita Sim, à "nossa maneira" - este comandante da FIR não é "moçambicano originário", na terminologia do glorioso PartidoFrelimo.
Aziza Throne Este comentario fi-lo em outra página . O General falou de raças até pq as coisas tal como aqui em Moç estão bem dividas . Aqui os brancos que se dizem de esquerda serviram para torturar e ensinar os não brancos a torturar o povo com o Snasp, a PIC e a CIM e agora o SISE. Os castanhos ( canecos e mulatos) serviram para colonizar a mente do povo com parolices e parvoices sobre marxismo, leninismo, maoismo, kim il sunguismo e castrismo etc, teorias aprendidas à pressa nos cafés de Lisboa e sei la mais de onde e enqto gatinhavam pelas Universidades europeias. Dai as coisas os proprios nomes.
Zulficar Mahomed Essa cor avermelhada só pode do sangue que bebeu. Futseka
Vassili Vassiliev Este e o Joao de Matos depois de umas boas passas...era assim que ele, o Faceira e os mulatos dos comandos se dirigiam a Jonas Savimbi. Mas ha um facto inquestionavel. O exercito angolano sempre foi multiracial como o Cubano. Ja as FADM tem vergonha de ser comandadas por brancos, indianos ou mulatos. Coisas da luta armada!
Aziza Throne os utros sempre foram minorias ...
Aziza Throne ?????????????.prefiro esperar e reler a multirracialidade do exercito Angolano. Ate da Elite. economica tambem Outrossiim...Angola teve miscegenacao sim... Forte...mas nao se deu com o oceano indico como potencia... Os arabes, persas indianos que nos fizeram a raca ,culturram, modus viviendi e operandi..
Aziza Throne Esse Joao ... Mas o que disse repiso e e actuall....Temos os mesmos brancos e castanhos.... ja nao tao esquerdistas como antes , mas com as obrigacoes e compromissos com regimes desafectos das suas ideologias. Tadinhos...nemmesmoeles acredita, mais, mas que tem que prestar as devidas vassalagens e venias,ovacionando os regimes a custa e com as migalhas da UE e doadores na forma de empresas de consultoria... aiiii
Arlindo Nhantumbo Tertúlias de um general que foi incapaz de eliminar Jonas Savimbi e a liderança da Unita por meios próprios.Teve que socorrer-se de empreitadas externas a troco de milhares de dólares.Isso omitiu para descargo de conscência.Porque não revela os contornos da conspiração internacional que o petróleo comprou ?Foi um mero assassinato,uma execução que o faria sentar no banco dos réus.E talvez se esqueça da legião de mercenários que o sustentaram e dos comentários depreciativos de alguns oficiais cubanos e sovieticos
EXTRACTO DA ENTREVISTA JOSÉ MARIA TEIXEIRA DE MATOS “SILIVELI” NA LAC NO PROGRAMA “CAFÉ DA MANHA” DE JOSÉ RODRIGUES 15 de Março de 2016 na casa de José de Matos em Benguela. 
SOBRE A GUERRILHA 
(...) Nunca passei fome, nunca ninguém me chamou de mulato, branco ou outra coisa. Do lugar onde estava na SRS, a 5 dias de marcha estava o Tozé Miranda, médico branco, filho de madeirenses nascido no Lubango. Havia o Lúcio Lara, o Camarada Dilolwa, o Gen. Rangel que estava a norte do Cuito-Cuanavale, o Camarada Dibala que era comissário da 5ªRM que estava no rio Kwanza, na parte norte no Cassai, estava o Gika e o Spiele, estava o Manuel Videira. Nunca houve problema. O problema era derivado de uma filosofia de comandantes feudais, que vieram com aquela mentalidade e criaram as contradições e não promoveram os filhos da terra. Porque a população aderiu. Essa contradição não foi contra todos mas contra esses comandantes. Por exemplo esse esquadrão Bomboko, era do Gato. Eu só conheci o Gato depois da Independência. O Gato já tinha saído e estava na Roménia a estudar. E foi o Comandante Faty que vinha como integrante deste esquadrão que avançou e com os outros. Até era de Cabinda. Mas havia aquela tendência, havia ditos comandantes que levavam os guerrilheiros a ser treinados e eles nem faziam treino lá. Eram tipo “políticos”. Depois voltavam tipo estafeta e vinham com título de Comandante. Comandante, mas não ia à frente. O Iko Carreira estava a norte do Munhango, sozinho com os guerrilheiros Quiocos e Luvales. 
SOBRE CMDTE IKO CARREIRA 
Iko saído do exército português? Não. O Iko Carreira não saiu... Há um bocado de desconhecimento sobre isso. O Iko Carreira estava a estudar o 2º ano de direito quando mudou para a Escola de Aeronáutica em Portugal tendo feito avião a hélice. Mas quando foi estudar para avião a jato, saíram-lhes as varizes e foi eliminado. Daí sai no grupo dos 100. Mas ele nunca saiu de Lisboa e não pode ter estado a bombardear nada. Aliás como eu. 
SOBRE ANGOLANOS QUE SERVIRAM O COLONIALISMO 
Mas houve angolanos que serviram no exército português. Como sentiram este impacto? É um problema que não sei. Têm que ser especialistas a analisar bem isso. Psicólogos, historiadores... Porquê? Porque houve uma minoria de angolanos no exército português que desertaram para a luta. O falecido Eurico, o Gen. Kianda, o .... Eu conheço três mulatos. Depois houve o falecido Emílio Brás, o falecido Ndozi. Mas muito poucos. Passaram milhares e milhares de angolanos junto à fronteira. Agora o porquê? Eu não sei. Era a educação. E eu por isso é que digo que não houve mobilização na clandestinidade. Houve os tais ditos clandestinos mas ideologicamente eram muito fracos. Não mobilizaram a juventude. Sejam brancos, sejam pretos... o cérebro é igual. Mas não houve essa mobilização, nem patriótica, nem ideológica. Esses comandos todos que estão aí, alguns são Generais das Forças Armadas. Não esta a ver as fotografias deles aí no Exército Português? Por isso têm medo de fazer autocritica. Ainda a pouco tempo, o Brigadeiro Gadhafi disse. Muitos dos GEs e Flechas que o prenderam estão integrados até na Caixa de Segurança Social. Porque o português formou três batalhões: o G-306, G-307 e G-308. 
SOBRE CMDTE KWENHA 
O que se fala sobre a morte do Comandante Kwenha? Apagou-se. Não está a ver as fotografias aí? Você vai só ler aquelas coisas. Você começa a ler aquilo e vê as ordens de louvores assinadas por dois generais portugueses. 11 anos [meses] de campanha até matarem o Kwenha. E olhe que o Kwenha não andava com mais de 15 guerrilheiros. Foi por sorte. Participaram mais de 9 batalhões entre Flechas, GEs, Comandos e até seis helicópteros com uma Companhia de comandos sul-africanos. 11 meses nessa campanha. Mas se tivesse havido um trabalho político de mobilização interna, teria havido [???] do exército português. 
SOBRE MORTE DO HENDA 
Eu tinha a cassete dele. A UNITA veio aqui a minha casa... O Spencer é que tinha aquilo. Foram 50 minutos. O Hoji Ya Henda a gritar “Cuidado, protege-me. Avança...”. Ouvia-se a voz dele... O gajo avançou sozinho. Depois daquele tiroteio todo... Você estar a fazer tiro contra casas... Isso não é canhão. Canhão rebenta com isso... Os gajos tinham buracos assim baixos e foi esse fuzileiro que disparou. O Hoji Ya Henda parece que ficou chateado porque já estavam ali há dois anos e o quartel estava ali de pé. Mas não havia armas de infantaria. 
SOBRE A DESTRUIÇÃO DE KARIPANDE 
Depois é que o Agostinho Neto disse... E depois é que começamos a compreender porque é que o A. Neto nos disse que “pessoas em quem eu confiei traíram-me”. O canhão, eu é que fui com o Agostinho Neto buscar quase em 73 quando o Partido Comunista deu o golpe no Sudão. Aquele canhão americano. Ele é que nos começou a dar armas americanas no Sudão. E eu fui buscar os burros com o A. Neto e foi daí que o record que havia lá do Dingwanza e mais o Diezabo que fizeram curso na Rússia em que o lançamento de obuses era 21 obuses contra o quartel de Karipande... A malta dizia: “21 obuses?”. Quando nós fomos atacar Karipande, foram 247 obuses só de morteiro e 20 obuses de canhão. Rebentamos com aquela porcaria toda. Depois cercamos. O abastecimento era pelo rio Zambeze. Começamos a emboscar as corvetas que vinham abastecer aquela porcaria e os portugueses tiveram que debandar dali. 
SOBRE SITUAÇÃO DA GUERRILHA EM 1972-1973 
Em 72-73, o MPLA estava ou não militarmente debilitado? Não estava debilitado. Eu tenho a minha opinião pessoal. Estou a tentar escrever as minhas memórias... A minha opinião é de que quando você penetra numa profundidade de mais de 500km em várias direcções, não pode estar... Nós avançamos demasiado com o apoio do povo, mas creio que nós exageramos. Essa coisa de não promover, não educar a população local como comandantes, criou esse problema. Quando os do Norte se retiraram, os Kafuches, o Dack-Doy, o Dino Matrosse, isso criou um vazio e foi quando o português se aproveitou e começa a lançar desfolhantes para queimar as lavras. A nossa logística era a mandioca e então tivemos de andar de um lado para o outro. Nós não podíamos ter bases superiores a um pelotão, porque nós não tínhamos lavra para suportar isso. 
SOBRE A FORMAÇÃO DAS COLUNAS E ESQUADRÕES 
Então eu é que recebi a missão, depois do Movimento de Reajustamento, de criar a coluna que tinha três Esquadrões, mas não tínhamos uma lavra para suportar mais e 15 dias um Esquadrão de 150 homens que acabava com a mandioca toda. Então o português é que pensa que debilitou. Porque o que eu fiz foi tirar as pessoas da frente para dar treino na rectaguarda para depois avançar. Mas eram pessoas de outra tribo. Eu estava mais ou menos... essa base dessa fotografia, eu estava a 50km da fronteira dentro de Angola. Agora do outro lado, onde eu estava, era mais à frente. Quer dizer que tive que seguir com um grupo para lá. Então, eu como chefe... Não é como agora que há Juramente de Bandeira, ali não havia. Acabava o curso e eu é que tinha que dirigir. Ou de atacar, ou de rebentar ponte. Porque eram pessoas semianalfabetas. “Oh, porque estão a morrer sapadores!”... Uns diziam que era feitiço. Mas feitiço como? O argelino deu-nos minas eléctricas, fios assim e se você toca e faz curto-circuito... Se ela fica muito tempo, oxida e você não pode desminar. Porque se você desmina, ela faz assim qualquer coisa e pode rebentar. E começaram a morrer sapadores assim. E eles não tinham conhecimento daquilo. Quais eram as propriedades físicas e químicas. Eu ainda me lembro que pegava no canivete, fazia assim e eles fugiam. “É pá, isso não vai rebentar. Então não está a ver que se isso rebenta eu é que vou morrer primeiro? Se isso está assim, TNT, puxou, isso não rebenta. Mas não pode ser com ferro, tem que ser com (???). O TNT, se você pega fogo, até 80º ele derrete, fica como sabão, mas não explode. Agora, se você mete dentro de uma caixa, de uma garrafa, fechado, os gazes é que fazem que rebente”. Então, para explicar aquilo tudo aquela malta, o experimentador era eu. Aquilo era aprender a psicologia deles, aprender com eles. E depois para meter as cargas para rebentar pontes, eu tinha que ir com eles. 
SOBRE EMBOSCADA NO CHIUME 
No Chiume, no 2º Curso, eu fui com o Gen. Dibala realizar uma emboscada de envergadura que eu dirigi. Nós varemos 4 camiões no 1º de Maio. Estivemos três dias à espera. Num lugar onde não havia água. Foi ao meio dia que surgiram. Mas quem tinha mais balas era eu. A minha AK tinha 10 carregadores. O Gen Dibala tinha uma PPSh só com um carregador. O meu segurança tinha uma mauser com 5 balas. Eu disse que “aqui não é como na União Soviética que diz que dispara a 150m. Não! Daqui ali, 7 passos. Abri um buraco e disse na linguagem simples. “Você fica aqui, e quando ele mete aqui o focinho, você PUUUM. Rebenta isso a queima roupa para não falhar. Aquilo rebentava com chauffeur e tudo. Eu via os gajos a cair, parecia filme de bonecos animados porque isso a queima roupa... Eu disse “aqui não tem ordem. Acabou as balas, arranca para o ponto de encontro a 3 km”. Já em fuga. Porque não havia emboscadas assim para rebentar com os portugueses. Porque nós tínhamos que criar uma brecha entre o Ninda e o Chiume para podermos avançar com os carros ao longo do rio para poder montar uma logística mais à frente. Porque... eu levava 67 dias até chegar ao rio Kwanza onde estavam os outros. Ir e voltar eram seis meses. O tuga dava tiros aqui e ali, e você tinha que fugir. Era difícil porque nós não tínhamos abastecimento. Depois os tugas começaram a criar os Flechas que cercavam a lavra. Era a tropa portuguesa dirigida pela PIDE que actuava na 2ª linha. Eles começaram a dar curso de comando aos negros e chamaram-nos Flechas. Flecha vem de Raidair que eram comandos da tropa inglesa. O Flecha branco era dirigido pelos comandos brancos e mais tarde começou a surgir a contradição entre os Flechas. E aquilo... Só que o Flecha era dono do terreno, o outro era estrangeiro e vinha de helicóptero. O Flecha cercava a lavra e ele sabia que a gente não aguentava muito e tínhamos que debandar para outro lado até eles saírem. Houve ai um moço que me perguntou “mas você recebia como?”. Eu não era mercenário. Eu não recebia aí. Agora você é jovem e esta a ir (?) e está a perguntar-me se eu estou a receber alguma coisa! Ele não tinha bem noção daquilo. SOBRE A SITUAÇÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES (I) O que era guerrilha para si? Guerrilha é a continuação da política por meios armados. Mas só que hoje dizem aqui que “Veterano”... O que é o “veterano”? Hoje aparecem três categorias: o guerrilheiro aparece na linha c). Linha b) – 4 de Fevereiro. Depois a linha a) aparecem: Combatentes da Clandestinidade. Mas qual clandestinidade? Você não costuma ver na televisão? Isso é só arranjar confusão! A clandestinidade não durou uma semana. Ficaram presos 10 anos, 11 anos... Assim como entraram na cadeia, saíram 10 anos depois com a mesma mentalidade que criaram problemas raciais, tribais que deu no fraccionismo. Porque lá não houve trabalho político, não houve nada lá dentro... 
SOBRE A CLANDESTINIDADE 
Porque acha que houve uns que estavam presos em Angola e outros que foram para Cabo-Verde? Eu tenho a minha opinião. Isso é que um dia tenho que perguntar ao Escórcio. Porque é que quando ele deu a entrevista disse que estava em São Nicolau, aqui no Cunene ele e o Juca Valentim? E a maior parte dos presos que ele mandava aí eram cabo-verdianos. O Cabo-verdiano não era nada um patriota. O caboverdiano veio expatriado da terra dele porque fazia confusão e mandaram para aí. Agora porque é que os outros que dizem que eram do 4 de Fevereiro foram para lá? E porque é que o Escórcio também lá não foi? O Escórcio quando falou diz que o mentor do fraccionismo não é nada o Nito Alves. Era o Juca Valentim e o José Van-Dúnem. Não ouviu? Porque é que ele está a dizer isso? Ele tem que explicar porquê que ele tirou o Vostok português da PIDE da cadeia, meteu num avião e mandou para Portugal. Porquê? E porquê que ele disse que se não fosse a clandestinidade que nenhum dos movimentos que vieram de fora teria triunfado? Porquê? Se ele nunca conheceu o MPLA! Porque é que ele disse isso? Porque a PIDE e o imperialismo, metiam a UNITA à nossa frente e a FNLA. Você esta a ver 67km, como é que você chega ali e encontra os da UNITA? E a UNITA apareceu como? Eles vieram pelo ar, fazer barreira. Isso chama-se cerco de intercepção. A FNLA era posta à frente para nos fazer barreira. Das quatro colunas, só duas é que conseguiram chegar lá. E a do Ingo que foi a última em 67, com 143 homens, só ficou com 11. Mas não houve de sul para norte nenhum movimento para apoiar ou facilitar naquele rio, o rio Dange... Porque eles vieram, depois apanharam a época chuvosa... Porque aquilo ali chove muito. E aquilo é a mesma coisa com Malange. Não houve esse movimento. E como é que havia fazendeiros mulatos, fazendeiros brancos e fazendeiros pretos? Até hoje... E como é que não houve um movimento de apoio. Não houve nenhuma clandestinidade! E tiveram essa possibilidade! Porque o tuga nunca afugentou os fazendeiros pretos ou mulatos aí do Uíge. Então como é que eles não apoiaram? Agora quem fez aquelas matanças, não foi o MPLA. Foi essas FNLAs e esses quês. As pessoas nunca disseram, mas foram dois milhões de mortos que eu calculo que morreram ali. Mas quem foi que cortou aquelas cabeças? Olha, nesse livro aqui, o Spínola é que é o Comandante do Batalhão. O Spínola fez treino com a Gestapo e que veio com essas teorias que o negro para perder o juízo tinha que ser amputado de um membro, ou cortar cabeça, ou um braço ou a orelha. Essa tal filosofia que eles disseram que era a mentalidade da Dº Ana Maria. Então você não vê as fotografias de pretos com as cabeças cortadas e espetadas no pau? É o Spínola que começou a fazer isso. Fascismo. Quando ele tinha saído do batalhão, os outros que vieram é que tinham outra mentalidade. Começaram a fazer a psico. Não corta nada a cabeça. O mal que ficou atrás, foi o Spínola com o seu batalhão e o Rebocho Vaz que estava com o seu batalhão no Bié e que chegou a ser Governador. Ele é que mandou a companhia varrer os sublevados na Baixa de Cassange. E aqueles da Baixa de Cassange não deram nenhum tiro. Há fotografias de soldados angolanos a participar também nesse processo de corte de cabeça em Moçambique! Esses militares foram fazer treino com a Gestapo na Alemanha. Isso era violência. Fizeram treino no Brasil , tortura de pau de aráre... Depois esses fascistas que se foram exilar no Chile, foram os que fizeram aquelas torturas na época do golpe ao Allende 
SOBRE A SITUAÇÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES (II) 
Há nomes de grandes combatentes ou comandantes que hoje não conhecemos. Há. Eu quando vou a Luanda encontro no Bairro militar ou mais em Viana onde eles estão comandante de Esquadrão da Guerrilha, que estavam mais à frente o Njéoulou [?] por exemplo, que agora é Tenente Coronel! E como é que deram Generais a gajos da FLEC e da UNITA à toa, como generais? É uma diferença de salários e de regalias enorme. Não é só esse. Estou a dizer aquele moço que aparece aí, o [?] aquele que era o ajudante do [Quarta] Punza, esse andou às catanadas, foi para a Rússia e fala russo até hoje. O gajo fez o curso de enfermaria com a Maria Mambo, voltou para o Leste de angola e a patente que lhe deram é de capitão! E há outros gajos que não fizeram nada! Agora, o problema dos Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra é um problema de Estado, não é de nenhum partido. Isso é Nação Angolana, eles lutaram pela Nação. Nação ou Estado. Eles lutaram para a República. Não é MPLA, nem UNITA nem nada. A UNITA foi sobreposta ali na mesma panela para lhes dar um ganha pão. Porque é que não lhes meteram no Ministério da reinserção Social ou do Território? Deveriam lhes ter posto lá! Agora não tem coragem política de tirar e são para cima de 2 mil generais! Agora essa fiscalização que estão a dizer dos funcionários... E agora quem sai fora? É isso! Os sim ou não, nós só nos pagaram o mês de Dezembro no dia 15 de janeiro e o mês de janeiro e Fevereiro, até hoje não nos pagaram! Porque diz que tem que fazer agora o pente fino! Mas o que é que nós temos a ver com o pente fino? Não nos pagam porquê? Tudo subiu! Eu tenho que pagar os meus empregados, tenho que pagar o combustível, tudo subiu! Ainda hoje a minha empregada dei-lhe 7 mil kwanzas, foi comprar carapau e peixe, quatro carapaus assim pequenos estão a dois mil! Porque esses barcos que pescam o carapau são a motor de gasolina e não são nadas subvencionados. E como é que estão a dizer que vão baixar? Se vão baixar, eles deixam de pescar! Quem vai comer peixe? Essa Ministra está a mentir! O Ministro das Finanças também está a mentir! Porque disse que deu ordem para até 18 de Dezembro pagar todos... Mentira! Posso mostrar o extracto da conta e só depositou no dia 15 de janeiro. E porque é que eu como General não tenho o direito de comprar o meu cabaz para a minha família? Porquê? Só em Janeiro! E ele, comprou cabaz? Ele não compra! Tenho que pagar imposto predial, tenho que pagar seguro do carro... E qual é a data que disseram para pagar a taxa de circulação? Esse Ministro das Finanças está a brincar. Então olha, estão a criar problemas. SOBRE A CORRUPÇÃO E INCOMPETÊNCIA Olha, hoje, se criam uma sublevação, o povo angolano aguenta, aguenta, mas quando explode você já não sai. Explode com violência. Eu não tenho outro partido a não ser o MPLA. Mas essa juventude se explode, essa não parte vidros, os vidros dos comboios em Luanda, não parte essas coisas? Olha os Ninjas, os filhos deles também são filhos do povo. As pessoas têm medo deles, mas quando eu converso com eles, eles sabem que eu sou General e eles falam e eu sei o que eles sentem. Mas é isso o que estão a pensar. Essa Ministra fala à toa. Você está a ver esse ministro aqui, esse secretário de estado novo, o Luvualu. Fez curso em Lisboa com o meu filho de relações internacionais. Acabaram juntos. O meu filho tem 26 anos agora. Como é que já é Conselheiro do Presidente da República. Esta a ver esse contrato que assinou ali de 40 mil litros de leite dia na Quibala? Em nenhum país do mundo desenvolvido é possível fazer isso. Eu sou engenheiro antes de ser militar, sou gerente agrícola, tenho curso geral de comércio e o meu diploma tenho na parede. Se é para mostrar na televisão, eu mostro. Agora estes têm o diploma aonde? Está a ver o Kundi Paíhama.. Comprei o livro dele “General Kundi Paíhama. Batalhas e Conquistas”. Mas batalhas donde e conquistas donde? Há muitos que foram ministros, mas não fizeram nada. Você também sabe. Eu não estou a falar mal nem estou a inventar. Há uns que nem sabem porque é que ficaram ministros. O Kundi Paíhama... Olhe, esse Van-Dúnem foi meu recruta. O Kundi Paíhama passou por lá antes. Agora que o Vice-Presidente na reunião que fez o ano passado e subiu a mensalidade aos antigos combatentes 21.909,46 Kwanzas. Um antigo combatente, com mulher e filhos, vive com 21.909,46 Kwanzas? Isso é um problema de estado. Olha, o imperialismo americano com os computadores dele não entende como é que aqui não rebenta confusão. No Zimbabwe duplicaram uma vez o preço do pão e houve confusão. Em Paris se você aumenta só a propina 5 Euros, os estudantes queimam logo 300 carros. Aqui esse estudante é manso. Eu nunca vi estudante mais manso do que aqui em Angola. Você já viu como é que subiu? O MPLA não disse que instrução primária gratuita? Depois não subiu para a sexta classe? Agora como é que na instrução primária cada estudante paga 4.600 kwanzas? Olha, aqui a minha cozinheira ganha 15.000. O salário aqui até já é muito. Há uns que pagam só 10. Então é preciso saber. Como é que a Ministra do Comércio diz que “comeram bem, até se exportou batata para o Zaíre”? É mentira! 40 mil litros de leite... Olhe, se vão trazer as vacas do Canadá, que não tem caraças... Se você trouxer umas 4 mil vacas, olha, cada vaca tem que dar ao seu filho pelo menos 6 litros. Só fica 4 litros. Agora se você diz 40 mil litros, você precisa pelo menos de ração com 18 a 20% de proteína, você precisa diariamente de 20 toneladas, mais 10% de matéria seca (matéria seca é capim) equivalente a cerca de 40 kg. Agora multiplique por 40 mil vacas por dia, aonde é que estão os pastoreios? É o capim que plantou com a chuva? Foi assinado 25 milhões de dólares! Isso é uma aldrabice. Por menos do que isso, você continua a importar leite e a misturar com água aqui na Lactiangol. A Lactiangol anda aqui na 2ª linha porque agora anda a fazer enchimento de vinho lá. Então isso é mentira! O Ministro da Agricultura falou ali, disse essa semana no Cuchi que o Higino Carneiro tem 40 fazendas para produzir 200 mil bois/ano. Olhe, uma vaca tem um período de gestação de 10 meses. Parir. Para atingir um touro com 300kg para amamentar, precisa de mais 2-3 anos. Como é que vai dar 200 mil por ano? Aquilo não é formiga! Não é rato! Como é que permitem falar na televisão? Se eu fosse Presidente, ele era exonerado na hora! Mandava um comunicado especial. Exonerado fulano e todo o seu gabinete! Rua! Isso é um abuso. Eu conheço o Cuchi. Bom, o de Geologia e Minas disse que Cuchi tem ferro. Sim senhor. Ali é uma zona agrícola, não é pecuária. Não é isso que estão a falar. Eu fui Comandante do KK, do Kuando Kubango. Mas essas aldrabices, quer dizer, estão a enganar quem? A nós próprios? Porque é que eu sou veterano e a pedir financiamento em Kwanza? Três vezes! “Não pode porque tem mais de 60 anos!”. E há uns que não fizeram nada e têm mais do que eu que sou mais velho? O Victor (???) que é mais velho do que eu três anos? E como é que recebeu 12 milhões de dólares do BDA? O Areias, 12 milhões de dólares! Não plantou nenhum capim. Esses bois que estão ali vieram do Botswana. Até a televisão vai lá filmar quando há leilão. 20 mil dólares! Qual é o talho que vai comprar um touro por 20 mil dólares? Para quê? Você com 20 mil dólares traz um contentor com 20 pés da Argentina ou do Brasil de TBone, costeletas! É mais barato! Agora para você ir comprar lá, saber se tem doença ou se não tem doença, você tem que ter o veterinário. Então essas coisas é que é um problema. Porque é que um antigo combatente, veterano de guerra, aquilo que o Kundi Paíhama determinou como Ministro dos Antigos Combatentes, quando morre só tem direito a financiamento de um caixão de 3ª classe! Porquê? Isso é uma vergonha! Há uns que foram enterrados só com manta. Agora você vai lá no Kundi Paíhama, lá, eu contei, são 15 VXR que estão lá na casa dele no Lubango, Quinze! O Tulumba, lá o sobrinho dele tinha um helicóptero e três aviões a jacto. Já lhe foi retirado porque... 24:33- Você está a ver esse prédio aí? Era do Dumilde Rangel que fez com o dinheiro do Estado quando era Governador aqui. Se tiraram agora para o tribunal, mas deveriam ter posto à clara. Deveriam ter mostrado porque é que lhe foi retirado. Não fez retorno ao banco. Agora está lá aquele cartaz do banco BIC. O Banco BIC, porque ele tinha pedido dinheiro aqui. A Isabel entrou ali, não quis brincadeira, “você não faz retorno do dinheiro”, tirou o prédio. Só aquele reclame custa muito dinheiro. Estão a vender 600 mil dólares o T2! 600 mil dólares! Quem vai comprar neste tempo um T2 600 mil dólares? Porque é que não mostram a cara do Dumilde Rangel que não fez retorno do dinheiro porquê? 25:14- Você tem agora a inspecção a fazer aqui fiscalização. Mas está a fiscalizar o quê? A base? Olha, você esta a virar a pirâmide ao contrário. A pirâmide ao contrário é o pêndulo que faz assim. Agora se faz assim, com o vento, ou cai para aqui ou cai para ali. Tem que começar no Kero. Eu tive em Luanda. 3.600 Kwanzas a caixa de Blue. A Coca-Cola subiu. A Coca Cola é feita com água do rio Kwanza e do rio Catumbela. Não é água importada. Porque é que subiu? Então você quando faz uma reunião na Rádio, só o homem que liga a ficha é que sabe e mais ninguém sabe? E o resto vai funcionar como? O Conselho de Ministros todas as semanas se reúne. Isso tem que ser um colectivo! Então essas coisas são assim... Isso é má gestão. Má gestão não quer dizer só roubar. Quer dizer desviam as coisas. Porque eles estão a levantar aqueles prédios todos em Luanda agora, quando é que custa a renda para viver naqueles prédios? 26:15- O Higino Carneiro, eu o conheci professor de posto. 5º ano de liceu, mais seis meses do magistério primário. No Dala sul, ele dormia na própria escola. O Higino Carneiro... Você vê uma pessoa como professor de Posto e agora Luanda tem 2 milhões de estudantes e você já vê a diferença? Você agora com esse microfone, se eu te ponho esse microfone, vais ficar atrapalhado! Hein? Vais ficar gaguejado, liga aqui liga ali e tu não sabes qual é que estás a ligar. Não é isso? Não é brincadeira! Não é isso. Não vai resolver nenhum problema de saneamento. Só que no poder judicial hoje, o Presidente já não manda. [...]mete no tribunal. As pessoas perdem o medo mas ele não vai resolver nenhum problema. O outro era engenheiro, foi corrido. Agora o Higino Carneiro é o quê? O Higino Carneiro falou ali não sei quê, receberam o dinheiro em vez de investir no povo, porque é roubar... Mas o Higino Carneiro no Kuando Kubango deixou mais outro Hotel dele, um resort de 400 dólares a diária. Aqui, atrás deste estádio, tem lá o Hotel Ritz. Aí no Sumbe tem outro Hotel Ritz. Com dinheiro de quê? Não é dinheiro do Estado? O pai dele era capataz! Portanto, tem Tribunal de Contas, tem Lei da Probidade. Nunca lei a Lei da Probidade? Você lê e aquela Lei está mesmo certa para Angola. Como é que são nomeados e não apresentam o património? É isso! Então você quer criticar quem? Tem que começar em cima. Porque é que lá o Kero... De quem é o Kero? De quem é o Jumbo? Não é [???], o Kero não é a mesma coisa? E porque é que o libanês agora é que paga... Já baixaram o arroz para [???]. Porque é que não começou lá em cima? Eu vi em Benguela, nesse Kero do Gika (eu é que era Comandante do Gika) 2.200 o quilo de carapau. Isso é abuso. [Cortado bruscamente para intervalo] A minha vida é a materialização daquilo que a gente pensou fazer. Da convivência com o nosso povo que acreditou em nós. Você vê aquelas imagens do filme, um jovem, o Dangereux. Você vê aquele Comissário político daquele tempo como é que ele falava, o Dangereux, a mobilizar o povo. Nenhuma palavra aqui de marxismo-leninismo... Nenhuma palavra aí de... Vocês querem? Então vamos para o sacrifício. E o povo levantou os braços e “Oh meu velho, é isso mesmo. É sacrifício. Então vamos aguentar mesmo o sacrifício. Vamos lutar com sacrifício até chegar.” E chegaram! Muitos morreram, outros viveram. Agora, há muita gente que não conseguiu ver. Essas imagens nossas... Bom, Angola não foi a única Revolução que se fez com guerrilha. Mas há países aí... O Vietnam influenciou-nos muito. Eu tive muitos amigos vietnamitas. Aquela imagem de um país pequeno... O Vietnam foi liderado pelo Partido Comunista. Era outra disciplina. E nós temos esse problema. Quer dizer aquilo que foi o motor que levou a Independência... 
SOBRE A CIR KAZAGE 
Porque depois dos guerrilheiros, quando chegamos ao que chamávamos “Angola Grande”, dos militantes... Eu quando entrei no Cazage, não tinha menos de 2500- 3000 recrutas. E eu estava ali distraído. Quando o meu primo Gika morreu, a rádio estava a chamar para ir lá a Luanda, o Dangereux chegou lá e disse-me “Oh Matos, não podes ir alí. Tens aí uma reunião, e explica bem quem foi o Gika. Não podes sair daqui. Se u saires daqui, esses miúdos vão sair para Luanda”. Era assim! SOBRE A GIKA Quem era o Gika? O Gika foi o 1º Comissário Político do Estado Maior das Forças armadas. O Gika não era de Luanda. Ele era daqui do Bié. Gilberto Aires Teixeira da silva, Cmdte Gika. Morreu em Cabinda naquelas confusões todas da UNITA e FNLA. Houve um obus que foi lançado lá do aeroporto, ele levantou-se da trincheira e um estilhaço apanhou-lhe no coração. Morreu. O 1º Estado maior das Forças armadas Angolanas [das FAPLA], só foi feito em 74. Esse foi um dos grandes erros do MPLA. Não houve uma liderança militar. Em 1974, quando se cria o primeiro EM, o Gika é o 1º Comissário Político. Ele morreu ainda antes da Independência. O 1º Chefe de EM é o Xyetu. O Dangereux é que era Comissário político do Leste, passou a ser o Chefe da segurança do EMG. Isso foi uma pena, esse Fraccionismo matou grandes quadros. Grandes quadros, não é da universidade. Há quadros que foram mortos ali no Moxico do comité central e que estão enterrados até agora: o Cmdte Kibululu da tribo Luvale, o Zorro que caiu no Moxico. Está lá enterrado esquecido. Ele é do Comité Central. Era o Chefe de Reconhecimento do 1º Estado Maior. Quer dizer, nós estamos a ficar sem história. SOBRE AS FAPLA E FAA O Quénia é o exemplo dos Africanos. É o 1º país da África negra com milhões de habitantes, o maior exército, tinha pilotos negros. E depois a Nigéria, com marinheiros de farda branca... E agora? Não aguentam com uma guerrilha no deserto. Não conseguem acabar com uma guerrilha no deserto. O exército todo que eles criaram... É como o exército zambiano! São exércitos de parada, de marcha. É como o exército de Moçambique que foi treinado por Tanzanianos e por zambianos. Não consegue acabar com o Sr. Dlakhama. Moçambique é estreito. Você faz um cerco como faziam os índios, cercavam aquilo para pegar o fogo... Não conseguem acabar com o Dlakhama em Moçambique. Você olha aquele exército que não tem nem sequer um albino. Nenhum mulato e nenhum branco. É igual ao exército da Zâmbia. Não tem. Só pretos. Agora é preto contra preto. Preto cristão, preto animista, preto muçulmano... Já viu a guerra que eles têm? É igual ao problema da Guiné. Na Guiné também não têm mulatos nem nada. Então qual é a guerra do povo que eles vão fazer? É essa guerra. O Agostinho Neto quando mandou lá um grupo a pedido do Presidente de Moçambique, na reunião, o Dangereux disse: “Camarada Presidente, assim da cor do Matos, não vi lá nenhum”. Então o Agostinho Neto disse “Então não vai lá ninguém”. Qual é a guerra do povo que querem fazer contra Dlakhama? Você manda lá uma Companhia aqui dos comandos e acaba isso em 15 dias. Esse Dlakhama e tudo, vai tudo à vida. A Companhia de Comandos que foi ali no Zaíre, aqui tal general, não foram todos varridos aí? É nossa companhia. Mas esses de marcha de parada aqui do Zimbabwe e do Namibe, estavam para ser apanhados vivos. Olha, um dia estava a falar com um guerrilheiro e esse disse: “Oh chefe, eu estava lá e quando começou o avião a sair as garrafas de água, e eu disse –isso é para quê- É para a gente beber; - mas você não tem o rio aqui? Você bebe só na garrafa? Vai levar isso na guerra?” O nosso sargento a admirar. “Essa tropa vai beber de garrafa?”. Está a ver! Nós estávamos a beber mesmo a água do rio Zaíre. É por isso que aquela guerra não acaba. Qual guerra do povo? Uma guerra tribal. O Ministro tem que sair da tribo, o Comandante do exército tem que ser da tribo... Isso é a maka do Burundi. Se você não foge para ali... Nós aqui temos sorte. Essa pressão que nós sofremos nestes anos todos da guerrilha, isto está incutido no espírito do povo. É por isso que não há essas confusões de sublevações. É por isso que o americano anda aflito para perceber qual é o feitiço de Angola. Porque isso entrou aqui. Você vai aqui no Bié e qual é a família ali que não tem alguém que foi morto pela UNITA? Você vai lá no Bié e a UNITA não consegue pôr a bandeira. No Comité deles, a UNITA não põe. Rasgam. Então, estão aonde os umbundos? Não disseram que os umbundos iriam apoiar? Olha, a maior participação das forças Armadas na luta contra bandidos foram os umbundos. Não foram quimbundos. E o Savimbi inventou outra coisa. 
SOBRE A FORMAÇÃO DE QUADROS 
O que é que ainda não foi contado da História de Angola? A História de Angola, é que dos 40 anos, parece que nós fizemos muito e não fizemos nada. Nós somos um país que dependemos do petróleo. Quantas gerações de engenheiros de vários tipos para a gente assegurar aqui? Olha, eu quando fui, o Agostinho Neto uma vez chamou-me e disse “Oh Matos, até Dezembro de 1978, todas essas Escolas que tu criaste aqui, os instrutores devem ser angolanos”. O Agostinho neto deu-me essa ordem. Agora nós em 40 anos, quantos engenheiros? Nós temos um, formado em direito ou economista que está a dirigir um engenheiro, mas... Se você põe um sapateiro a dirigir electricista, um advogado a dirigir engenheiro, ele não vai entender! E isso, quantas gerações? Pelo menos poderíamos ter treinado três gerações. Três ou quatro. Nós agora estamos a diversificar o quê’ Ainda no outro dia, ouvi aí, “o maior jazigo de rocha decorativa do mundo em Angola, no Lubango, Namibe e Benguela”. O Ministro estava a falar. Esse PLANAGEO que estão a falar aí... Quantas gerações de engenheiros é que nós preparamos para dirigir isso? É preciso chinês ou brasileiro., ou português. O Agostinho Neto também disse-me uma vez, três dias depois da declaração da independência de Angola: “Oh Matos, olha ali naquela coisa ali, estão lá uns soviéticos que chegaram de madrugada. Vai lá falar com eles, e pergunta-lhes quanto é que custa fazer uma Academia militar aqui”. No mesmo dia eu fui trocar com os soviéticos, três vezes. Ia lá, o soviético ria-se: “Não, Académia custa muito dinheiro. Vocês vão treinar na União Soviética”. E ele dizia: “Oh Matos, o que é que eu te disse? Vai lá, pergunta o que te disse”. Se nós não fomos independentes na Economia, se nós não fomos independentes na Educação, se nós não... Olha, nós vamos ser sempre dependentes! Os soviéticos quando nos viram, em 1978, quando fui o primeiro estrangeiro a entrar numa unidade de Comandos Russos, à noite, recebi uma mensagem de um Coronel que dizia que o Comissário político do Exército mandou perguntar qual é a opinião do gen. Matos. Foi com ele que choquei. Era o Gen. Sergueev. Eu disse lhe: “O Camarada Presidente disse quanto é que custa”. Até que o Soviético disse: “Bom, então é Academia? É Academia! Você fica estrategicamente com o nome de Academia, mas não vamos começar como Academia.”. O Cubano só tinha experiencia na Escola Superior de Guerra dele de 200 alunos. Nós começamos com 1525. 
SOBRE A INCOMPETÊNCIA 
Mas, nós temos que ver qual é o problema. Você não está a ver o gerador a trabalhar? Quantos ministros é que por lá passaram? Em Dezembro eu estava a ver aqui do Gana. O Ministro da electricidade exonerado por causa das falhas de electricidade. Exonerado. Eu fui a Portugal 53 anos depois, têm ventoinhas de energia eólica em toda Lisboa. Nós com esse mar, com esse vento... Não esta a ver aquele barco? Mas aqui não dá porquê? É mais barato. Isso não usa gasóleo. Como é que a gente vai diversificar... Estão a falar de 40 mil bois, e a energia vai sair de onde? Vamos esperar lá do Luaxi ou de Cambambe? Essa energia é toda de Cambambe. No dia 4 de Fevereiro, foi reinaugurado o Lumaum. Não mudaram os cabos, não mudaram os transformadores! Estamos aqui a brincar! Aqui tem que ser varrido tudo de uma vez. Eu estava em Cuba. O Fidel dizia assim: “A partir da meia noite, é assim!”. Os autocarros ficavam aí, você ficava à espera mais de uma hora e os autocarros nunca mais chegavam. “Olha, quando chegar o turno, você já não trabalha mais aqui”. Agarrou sargentos e oficiais do exército, tudo de uma vez. “Agora é assim!”. Aqui, os do MPLA, - “Aqui não é assim! A escravidão já acabou há muito tempo. Não me chateia.” – “Ai é, quem receber gorjeta, é fuzilar!”. Olha, no Hospital, o Fidel disse: “A partir da meia noite, que eu saiba que um doente esteve à espera uma hora para ser atendido no banco de urgência, todo o piquete aqui vai para o fuzilamento”. Você vai ver aqui no Hospital, quando passa aqui a ambulância, os cubanos que estão lá no Hospital vêm logo à porta. O Angolano nem está lá. Os cubanos vêm logo a correr. Até hoje. Eu era estudante em Cuba quando o Fidel disse isso. O cubano vem-te logo atender. E nós andamos a brincar! Aonde está o angolano? Está na Baía Azul, está no Mussulo. O Angolano é assim! Olha, há pouco tempo há 900 angolanos médicos que estão fazer mestrado e especialidade em Cuba e vão regressar agora. E vão por aonde? Vão ficar todos em Luanda? Você vai aqui no Cunene, ou são coreanos, ou são cubanos, ou são vietnamitas. O povo não te diz “Bom dia”, diz “Nin Hao”. “Nin Hao é chinês! É o médico que está lá. Eu ouvi quando assinaram em Cuba o orçamento. O Ministro do Estado a dizer, ministério um a um, “o povo está a pedir hospital, nós vamos pôr hospital com médico. Mas se falhar a luz – eu estou-te avisar – vocês calcularam bem isso? Você vai buscar luz onde você quiser. O leite, você calcula bem!”. Olha, Cuba tem mais bois que pessoas. São 12,3 milhões. E Cuba ainda exporta leite para poder satisfazer. Agora estão-nos a aldrabar de 40 mil litros dia na Quibala! Estão-nos aqui a aldrabar. Tem que se acabar com isso. Você chega aqui e vê uma pessoa... Agora estão a dizer que é funcionário – estudo... No outro dia estavam a dizer na televisão que não tem experiencia nem conhece o regulamento. Claro! Eu estou aqui. Está a ver onde trabalha o Governador? Dois anos e tal, nunca me recebeu até hoje. Eu vou ali, tenho que escrever porquê, para quê, para não sei o quê... Mas porquê? Ele só me cumprimenta na rua porque... Estou aqui e ele trabalha ali... O General Armando da cruz neto, eu ia fazer ginástica, ele via-me dali “É pá, o Matos vem daí tomar um café”. Com esse não. Eu já era engenheiro, ele era estudante do liceu. Porque é essa burocracia? 
SOBRE A SITUAÇÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES (III) 
Nunca foi recebido pelo Governador de Benguela? A mim não! Olha, eu tenho ali o meu diploma. Está a ver. Mas chego no banco e já tenho mais de 60 anos. Não tenho direito porquê? E porque é que os outros mais velhos do que eu recebem? Eu não estou a pedir financiamento. Porque é que os Antigos combatentes... Esse meu carro, VXR, 140 litros de gasolina. Mas para quê? Issi é para aumentar a pobreza! Porque é que não nos deram cem mil dólares a cada um para a gente fazer o que quer? Porque é isso aí, este carro? Este mesmo. Motor XL e tudo. Agora a duas semanas a assinar, quem funcionou é que tem direito a carro. E estes carros? É ali. Título de propriedade pede 243 dias. Volta aqui no CIAT para ver se já saiu o papel provisório. 243 dias! Mas o Ministro das Finanças diz que é rápido. Então porque é que ele não vai lá comigo perguntar porque é que 243 dias. Leva 243 dias para pôr uma assinatura num papel daqui para Luanda? Essa porcaria faz online! Para quê? Porque é que nos deram esse carro? Eu tenho esse carro parrado aí. Olha, só hoje é que saiu. Está a quase um mês e meio que não tiro o carro. Não tenho dinheiro para estar a sustentar este carro. Em Luanda isso é bonito. Aqui não! É isso. Você sai daqui, você não vê terreno, não tem marcação, não tem nada, de Luanda até aqui e eu como engenheiro desde 1999, nem um hectare me dão até hoje! Porque o Presidente da República é que tem que ver isso? Porque o Presidente da República é que costuma presidir a Conselhos de Ministros semanalmente de projectos importantes... Isso é importantíssimo! Não é importante, é importantíssimo! Nós ainda estamos vivos. O que é que nós vamos deixar aos meus filhos? O meu filho, olha, eu não posso falar com ele de política, ele vira logo as costas. A minha filha é arquitecta, fez curso superior, foi a Portugal, fez pós-graduação, foi à Suécia e á Espanha, arquitectura de sustentabilidade, com placas solares. Essa minha filha. Aqui ninguém vai compreender isso. Isso é mais barato e tem que ser o mais caro. Porque é que ao longo de toda a costa, nós não temos energia alternativa? Eu, se o Banco me empresta, eu ponho aqui uma torre. Eu quando fui a Roma, o avião quando descola, você vê aí na praia a casa daquele Custódio, o teto e tudo é placa solar. Um rico! Aqui na baía azul está um Yate. Eu pergunto, de quem é esse yate? É de um cubano. Um yate, não sei de onde é que veio. Aquele yate é uma casa. 
SOBRE ABUSO DE PODER 
Mas com uma praia dessas... Olha, nós estamos aqui em Benguela. Eu vou a Luanda, ando com o meu carro na Restinga, passo com o meu carro ao lado do palácio, ninguém me diz nada. Aqui, o Administrador já há um ano e tal, sábado, domingo e feriado, você não pode passar com o carro na praia Morena. Porquê? Mas qual é o turismo que a gente quer desenvolver? As pessoas que vivem aqui tem que deixar o carro desse lado e vão para ali. Porquê? Donde é que saiu essa mentalidade? Então não é turismo? Não está ali a praia? Eu quando nasci, essa porcaria já estava ali. E agora não se pode porquê? Isso é uma via pública! Se o Camarada Presidente vier, vão levantar essa porcaria toda e a gente pode passar. Quem é que deu essa ordem que não se pode passar? Porque ê que.... Olha, eu estou aqui, eu quero tomar banho por causa dessa porcaria. Eu saio daqui e vou na Baía Azul que é mais longe. Eu podia ir aqui perto. A praia está aqui, esta a ver? Mas eu vou ali Sábado, Domingo e feriado, está aí a tabuleta, “Não pode passar”. Mas que raio de mentalidade de administrador? Esse administrador está a irritar as pessoas. Você vai daqui, chega a 10km fora daqui, já não tem mais nenhuma tabuleta. Tem terreno... Os estrangeiros perguntam de quem é, e não é de ninguém. Você vai ali para tratar um ou dois hectares, é barreira sobre barreira. E a Lei da Probidade diz o quê? Eu já li a Lei da Probidade toda. Ninguém pode tomar posse... 
SOBRE A FALTA DE DISCIPLINA E REGULAMENTAÇÃO 
Olha, aqui o único lugar onde você trabalha com Regulamento é nas forças Armadas. O Soviético é que ensinou assim. Tudo tem Regulamento. O Comandante da Região tem o Regulamento dele. O Comissário político tem Regulamento. Não é cada um faz o que quer. Não é nada disso. Olha, na Rússia, quando eu entrei, fui o 1º estrangeiro a entrar numa unidade de comandos, aqueles com riscas azuis. E diz, “olha, você entra lá dentro, se um soldado ficar uma refeição sem comer, no mesmo dia tem que chegar ao conhecimento do Ministro da Defesa. Reclamações, são individuais. Reclamação em colectivo é considerado sublevação. É punido.”. E nós aqui vamos falar com quem? 
SOBRE A SITUAÇÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES (IV) 
Para dizer ao Camarada Presidente, quando se criou o Ministério dos Antigos combatentes, nós fizemos uma proposta de nomes, porque era o Ministério dos Antigos Combatentes. Você vai na Argélia, ninguém se candidata sem ter o aval do Ministério dos Antigos combatentes. Ali não há brincadeira. E a Lei deles é uma Lei igual que a do Vietnam. Aqui, você tem ali um Brigadeiro que não tem as duas mãos e os dois olhos, que anda fardado pela cidade com um miúdo pequeninito... Isso não pode ser! Como é que a gente só agora é que nos estão a dar a casa e diz que é para pagar em 25 anos! Olha, os Guerrilheiros combateram pela terra deste país. As pessoas do Leste até hoje não conhecem Luanda, não conhecem Benguela e lutaram por isso e materializaram aqui, pela Terra. Agora que temos 70 e tal anos é que dizem... Então nós para pagarmos em 25 anos vamos durar o quê? Agora dizem que estes gajos são duros e vão durar até aos 100 anos! E os outros da UNITA e da FLEC? Receberam de borla porquê? Porque é que não se dá uma casa quando se chama condigna? As pessoas não precisam de viver numa casa de capim. As pessoas pensam que “casa condigna”... Depois em Luanda, as pessoas usam muito isso de “casa condigna de luxo”. Que é isso? Os Antigos combatentes aqui não dizem “casa condigna”. Querem “casa”. A Lei dos Antigos Combatentes já foi alterada em 2002. Até lá era do MPLA. Tiraram do MPLA e puseram “da Pátria”. Lá diz que o Antigo combatente tem direito a subvenção pelo Estado, instrução primária e secundária e universitária. Eu já mandei pessoas aqui com a minha assinatura para o Reitor, esse que já foi corrido. Disse que só pode entrar um por ano. Então quantos Antigos combatentes temos? Então isso só daqui a 20 anos? Esta a ver, isso. Só quando tiver 50 anos é que se pode matricular? Essas pessoas que estão a fazer barreira, estão a sabotar. Porque são analfabetas. Então quando vê uma pessoa analfabeta, eu fico parado, senta aqui para lhe fazer entender. Você é o quê? Você estudou direito, você estudou engenheiro, é pá, esta a sabotar. Você é um ignorante. Você estudou isso, como é que você está a fazer barreiras aqui? Isso tem que ser dito. Não tem que ter medo de falar. Nós não estamos a agitar ninguém. Estamos a reivindicar aquilo que nós devemos ter direito. O MPLA tinha programa mínimo e programa maior. Tinha. Agora, eu não posso aceitar que o meu recruta é que é o meu Ministro e quando nós pusemos as pessoas que podiam resolver os problemas, houve um Despacho que disse que ainda não é o momento de chegar a isso. E o que estamos a ver é isso. O problema dos Antigos combatentes não se resolve. Porque o máximo que resolve é de 21 mil ao General. O outro que nunca foi nada, também é 21 mil. Se morre, de sobrevivência, é 60%. No Ministério da defesa, o fundo de sobrevivência é 60%. Então quem está a ganhar lá 100 mil, ou 50 mil, nem antes nem agora... Muito obrigado senhor General... Depois sabe o que passa? Depois dizem que as filhas dos Antigos combatentes são prostitutas dos estrangeiros e não sei quê. Sermos isso para poder sobreviver, isso é uma vergonha para nós. Muito obrigado mesmo....
Digam-me:

a) O governo de Moçambique não sabia até ontem que nas casas de Afonso Dhlakama e na sede da Renamo haviam armas e guerrilheiros guardas?
b) O governo de Moçambique não sabia ou sabe que a Renamo tem armas e guerrilheiros armados? Esses de fardamento verde que andam nos aviões, nas ruas que escoltaram a Afonso Dhlakama antes e depois das eleições e muitas vezes ao lado de membros da PRM quem eram ou são?
c) Alguns concidadãos de bons créditos, alguns até fizeram campanha da Renamo e Afonso Dhlakama nas recentes eleições gerais, que fingem espantar-se com as armas apresentadas no espetáculo de ontem, dia 27 de Março, não sabiam que até então que naqueles locais haviam armas?
d) Porquê há coincidência na posição dos mesmos com os membros e simpatizantes da Frelimo (estes com razão porque não se escondem), o novo posicionamento sobre a Renamo e Afonso Dhlakama e o alarmismo ao espetáculo de ontem?
e) Porquê esses concidadãos não questionam certas coisas estranhas no espetáculo de ontem, tais como a apreensão de bandeiras, pedras, dinheiro, computador e afirmação como armas que dispararam a menos de 30 dias. Afinal essa técnica para apurar isso em poucas horas já era do conhecimento de muitos? 
f) Afinal, o DESARMANETO da Renamo deixou de ser ponto de agenda no diálogo que tanto se fala entre o governo da Frelimo?
g) Porquê os alarmistas do espetáculo de ontem são até os que insistem que o diálogo entre o governo da Frelimo e a Renamo e nunca o alarguem e nem achem que o conflito de hoje é mais do que entre a Renamo e governo da Frelimo, mas que tem factores como injustiça, intolerância política, a exclusão social e a falta de transparência na gestão da coisa pública? 
Apenas minhas reflexões num país onde as mentes são facilmente cooptadas. 
Nota: 1) Nota, para não me distrair demais, tive a oportunidade de acompanhar por vídeo algumas intervenções da última sessão da Assembleia da República e achei que há ali assuntos para debate e reflexão na construção e fortalecimento de Estado de Direito Democrático.
2) Sobre o espetáculo de ontem, julgo haver bons actores em ambos os lados, menos eu. Eu não quero regressar à maneira de pensar dos anos 80, altura em que fui vítima de endotrinamento e propaganda.
Comments
Américo Matavele Marcelo Mosse Paradoxos da nossa democracia
Mais um episodio digno de rocambole… um arsenal em casa de um lider partidario em pleno coracao de Maputo…um partido armado ate aos dentes, cujos deputados reconhecem o Estado por via de sua presenca no Parlamento e recebem honararios pagos por nossos impostos. De repente estamos todos a financiar esta deriva sanguinaria. O Estado financia um partido que combate o proprio Estado, um partido que anuncia que vai golpear o proprio Estado. Somos de uma anormalidade castrofica, uma democracia que se hesita, um Estado paria que não exerce autoridade onde devia e quando devia. 

Imaginem eu pegando numa pistola e pondo me a disparar la para as bandas da Junta para tudo o que é machimbombo. Sou logo detido, não sou? E esses apaniguados que andam por ai a solta, sobre eles não recai nada, sobre seus mandantes a Justica se silencia. Os caminhos da paz devem ser sulcados com firmeza. Mas um partido que se quer impor destruindo o Estado, e a economia e o povo que pretende governar? Sou contra essa refeudalizacao do poder em Mocambique. O desarme das residencias de DHL faz sentido, sim.
José de Matos Marcelo Mosse é dono da verdade absoluta ? Porque a opiniao dele deve ter mais autoridae do que a do Antonio ?
GostoResponder19 h
Américo Matavele Sei lá. Pode responder?
GostoResponder19 h
José de Matos Excelente abordagem, Antonio A. S. Kawaria, alguns falsos moralistas e legalistas de pacotilha que defendem certos interesses devem estar a pensar que todos se distraiem com teatro de ma qualidade!
5 estrelas essa abordagem!

Fungulamaso!
Antonio A. S. Kawaria Penso que o mano Américo Matavele (membro da Frelimo) está reflectindo comigo. Abraço!
GostoResponder49 h
Américo Matavele Claro que estou, mano Antonio A. S. Kawaria (membro do MDM e simpatizante da Renamo), diferentemente de certas opiniões emitidas de bunkers de saudosismo rancoroso e que vomita ódio por todos os pêlos. Há necessidade de uma abordagem mais pragmática sobre estas matérias, e deixar-se o ladismo de lado (passe a redundância). O extremismo nasce extremismo, como é óbvio. Não há características que são obrigatórias para certos seres humanos e não para outros. O que um homem faz, o outro pode fazer. Talvez melhor.
GostoResponder29 hEditado
Jeremias L. Chauque Mano Antonio Kawaria, contrariamente a muitos de nos aqui no grupo, sabe muita coisa sobre armaas e armas da RENAMO. Agora, este questionamento parece de alguem que nada sobre o assunto. Mano isto nao combina contigo...
GostoResponder8 h
Abel Zico Eh uma abordagen isenta e reflexiva. Mano Jeremias L. Chauqueo que voce sabe que o mano Antonio A. S. Kawaria sabe sobre armas e armas da RENAMO? Diga-nos se faz favor, pois dessa forma voce mostra que sabe tambem. Qual 'e a verdade entao sobre essas armas? Verdade mesmo mesmo que nao se sabia dessas armas e fardamentos? Verdade mesmo de mesmo mesmo que so olhando para uma arma dentro de minutos posso saber a quanto tempo disparou pela utima vez e onde disparou sem se fazer algum exame de balistica e relacionados? Verdade de mesmo mesmo que em Mocambique ha laboratorios de balistica para onde serao enviadas essas armas? E daqueles atentados contra Dlhakama, Bissopo, assassinato de Cistac, etc estao a espera de resultados de balistica? Porque essas armas de ontem foram logo analisadas e com resultados na hora e as outras levam tanto tempo? Estao a usar laboratorios e metodos diferentes? Tem respostas mano Jere....?
GostoResponder27 h
Jeremias L. Chauque Abel Zico, certa vez debatemos aqui a problematica de armas de fogo em Mocambique, no quadro do reconhecimento dos esforcos do Governo para o desarmamento em Mocambique, por parte da ONU. Falamos aqui da Operacao Rachel, do Projecto de Troca de Armas por Enxadas e da criacao da COPRECAL, iniciativas essas que visavam recolher as armas deixadas em esconderijos pela RENAMO, imediatamente a seguir ao fim da guerra dos 16 anos. No referido debate, o mano Kawaria nao somente mostrou que dominava o assunto como partilhou bibliografia (artigos) sobre a materia, que ele havia lido. Hoje, com este escandalo, parece que o mano Kawaria ja nao sabe nada, nunca leu nada, nunca falamos nada sobre o assunto. Ele sabe e sabe muito....
GostoResponder6 hEditado
José António Monteiro Estou farto de arbitrariedades.

Se não querem que a Renamo tenha armas alterem os AGP's!!!!!

Não se consegue perceber esta coisa do:

Está/não está; é/não é; Foi/não foi; Era/não era....

Ademais é pura demonstração de prepotência não apresentarem mandatos quando detêm e controlam todos os poderes!!!!!!!
A comunidade internacional tem de ser despertada!!!!

GostoResponder16 hEditado


1) Se até Dom Jaime Goncalves é dito que não sabes do AGP, quem sou eu para saber? 

2) Se uns aí, incluindo o governo (pela voz da PRM) dizem que até ONTEM não sabiam que a Renamo tinha armas, quem sou para saber? Esses artigos de que falas SÓ devo ter sido eu a escrever e ninguém mais já os leu. 

Pura e simplesmente não quero voltar aos anos 80. Pior ainda é que eu desconfio que ONTEM só fez-se espectáculo para se evitar arem assuntos importantes, incluindo a questão sobre a paz.

GostoResponder16 h
Aurélio Bull Gza Essa acção da PRM se é boa ou não não me interessa. O que quero mesmo saber é o objectivo dela. Alguém pode ajudar-me a perceber isso?
GostoResponder23 h
José de Matos O objectivo foi teatro de pessima qualidade para nos distrairem ! Tinham feito o mesmo na Beira, com os resultados que conhecemos!



Abílio Kamalata Numa: ‘Vi o Dr. Savimbi a cair’


Luanda – O antigo secretário-geral da UNITA, Abílio Kamalata Numa, agora deputado à Assembleia Nacional por este partido, já foi um dos mais respeitados e temidos operacionais das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), o antigo braço armado de Jonas Savimbi. Era um dos 13 elementos que acompanhavam o líder fundador da UNITA no dia em que este foi morto em combate pelas Forças Armadas Angolanas (FAA), no dia 22 de Fevereiro de 2002, há concretamente 11 anos. Por esta razão, O PAÍS ouviu o homem que diz ter visto Savimbi a cair.

Fonte: O País
Assinala-se mais um aniversário do passamento físico do líder fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi. Angola está melhor com ele morto ou acha que faria alguma diferença se ainda fosse vivo?Infelizmente temos de começar esta entrevista falando do Dr. Savimbi, morto em combate em 2002. A morte do Dr. Savimbi teve quase a mesma similitude do desaparecimento de Yasser Arafat. Naquela altura, os israelitas diziam que o problema palestiniano teria solução com o desaparecimento de Yasser Arafat e tudo foi feito até que lhe envenenaram e o mataram. Mas as coisas estão mais do que demonstradas que Yasser Arafat era a solução e não era o problema.
Aqui em Angola também deu-se a mesma coisa, nós tivemos transições muito turbulentas desde 1974 e, com a assumpção da independência em 1975, os angolanos nunca se entenderam. O partido ou movimento com mais força na altura era a FNLA, em termos materiais o MPLA e a UNITA em volta de si a força do seu líder, mas vinha no terceiro escalão.
Nós percebemos que naquela altura a primeira coisa que o MPLA queria era colocar a FNLA fora da arena política e é o que fez. Houve corações de pessoas que foram encontradas nos frigoríficos, falou-se que as pessoas da FNLA comiam pessoas, do Samuel Abrigada que tinha roubado dos cofres do Governo de Transição 100 mil contos. Falou-se de muita coisa, mas afinal vimos que aquilo foi feito no âmbito de uma propaganda atroz para colocar a FNLA fora do processo político angolano.
A UNITA, que resistiu, foi vista pelo MPLA como o alvo a abater a seguir. E Dr. Savimbi, nisso, foi um exímio estratega, político, militar, diplomata, que conseguiu trazer uma solução para a África Austral, porque do ponto de vista militar não se teria encontrado uma solução para o problema sul-africano nem para a independência da Namíbia.
A resistência da UNITA aqui permitiu que as Nações Unidas tivessem assumido a resolução 435 que impôs a retirada dos cubanos, independência da Namíbia, posteriormente os avanços que existiram com a solução sul-africana, a libertação de Mandela e a aproximação dos angolanos. Nesta caminhada, vocês já teriam visto, a diabolização do Dr. Savimbi foi a peça fundamental da política angolana até ao seu desaparecimento. Agora volto a dizer que o Dr. Savimbi era a solução de muitos problemas de Angola, não era o problema. Da mesma forma que Yasser Arafat não era o problema, Savimbi também não o era aqui em Angola.

Não pensa que o fim do conflito, com a sua morte em combate no Moxico, terá sido fruto de alguma intransigência da parte do líder fundador da UNITA?Não, não. Dr Savimbi não teve intransigência nenhuma neste processo todo. O que havia era do outro lado uma política de subalternização, integração e não era isso que os Acordos de Alvor, que são o fundamento de todo processo político em Angola, diziam. Os partidos ou movimentos de libertação – FNLA, MPLA e a UNITA - eram os legítimos representantes do povo angolano, mas o MPLA arvorava-se a si próprio como se fosse o único.
Esse foi sempre o pomo da discórdia que levou Angola para conflitos desnecessários, mas o problema não está resolvido. Neste preciso momento nós temos uma paz que significa o calar das armas, mas não temos paz política ou social, as pessoas continuam a desaparecer, temos um Governo que tem medo do povo, não resolve o problema da água e luz. Os angolanos empobreceram muito mais. Eu que vi um bocadinho o tempo colonial, se o meu pai estivesse vivo diria mesmo que regredi bastante, olhando para o que nós eramos e o que somos hoje.  E isso terá tido solução com a morte do Dr. Savimbi? Não. Temos uma paz militar que significou o calar das armas, mas não temos uma paz social nem política.

Foi um dos poucos generais que esteve ao lado de Jonas Savimbi quando este morreu a 22 de Fevereiro, no Lucusse. É fácil lidar com esta realidade?Olha, isso vai desaparecer comigo. Aquele dia fatídico passa por mim sempre que tiver que me recordar disso, mas faço um esforço. Primeiro, a formação religiosa que eu tive, fui seminarista, tem-me dado força mental suficiente para poder perdoar, ultrapassar todo aquele calvário que passamos naquela altura. Agora estamos numa outra luta que é a democratização do país e envolve todos vocês.

Como religioso podemos dizer que foi salvo por Deus quando foi carregar as pilhas num outro local e minutos depois o líder que acompanhava é morto na tenda em que se encontrava?Há muita coisa que os homens não sabem explicar. Tive na minha vida situações de sobrevivência que arrepiam as pessoas. Fui 1º comissário político da UNITA no Cubal, em Benguela, e em 1975 começam as escaramuças, fui capturado pelo MPLA, com outros companheiros. Fomos parar na delegação do MPLA, ouvi que tinham sido capturados também mais de 30 e tal militares, estes até estavam desarmados, tinham chegado havia bem pouco tempo de Cangumbe. A UNITA não tinha fontes de armas, as suas tropas e aqueles jovens estavam aí só para o asseguramento da delegação. Foram capturados todos e assassinados naquele período.
E nós, na delegação do MPLA, a dado momento chegou um senhor que estava a recuar do Alto Catumbela, ali onde temos a fábrica de papel. Encontrou-nos aí e começou a falar com os responsáveis do MPLA no Cubal. Perguntou-lhes se tinham capturado os comissários políticos da UNITA, porque éramos dois: eu mais o meu colega Ernesto Vindengandenga. Eles disseram que não tinham capturado nenhum comissário político e que os senhores que ali estavam são da JURA.
E ele diz assim: “se tivessem capturado o comissário político devia ser eliminado rapidamente, porque estes é que estão a mobilizar mal o povo”. “Agora, os jovens da JURA mandem para o CIR de Benguela”. Ele quando sai e os senhores da delegação do Cubal do MPLA dizem que “se fosse um mestiço ou branco ele teria levado para Benguela, mas por se tratar de negros nós devíamos matar. Esta porcaria é que não está bem”.
E quando se deu o 27 de Maio de 1977, vim a perceber que o MPLA sofre de problemas muito graves do ponto de vista racial, porque não solucionaram bem o problema da convivência nacional. Este foi um momento da minha sobrevivência também, porque se os elementos do MPLA tivessem dito que eu era o comissário político da UNITA, teria sido morto naquela altura. Vim a saber mais tarde que afinal de contas esse senhor era membro do Comité Central do MPLA.
Sobrevivi a mais esta, que aconteceu naquela altura. Estava a conversar com o Dr. Savimbi durante a caminhada, desprendemo-nos do grupo maior que ficou com o vice-presidente Dembo. Eu e o Dr. Savimbi ficamos com 13 pessoas apenas e a dado momento achei que devia carregar as minhas pilhas para escutar o relato, porque por volta das 21 horas ocorreria o jogo Guimarães-Sporting. Quando vou para carregar as pilhas os tiros começam. Volto para o local de onde tinha saído e vejo o Dr. Savimbi a levantar-se e a cair, portanto tinha sido alvejado, e depois disso desprendi-me até que estamos aqui neste preciso momento.

As 13 pessoas de que falou há pouco estão vivas?Todas elas, só o Dr. Savimbi é que morreu. Segundo o que me vieram dizer posteriormente, a esposa do Dr. Savimbi, dona Valentina, teria ficado ferida ligeiramente e mais um capitão, acho eu. É a informação que tive já depois de ter chegado a Luanda. Estas pessoas estão vivas.

Algumas pessoas acreditam que o desfecho militar da UNITA terá sido consequência do facto de Jonas Savimbi ter-se cercado de generais mais novos e preterindo os mais experientes. Também acredita nisso?Essa é uma outra história que um dia terei de contar aos angolanos e aos militantes do nosso partido sobre o que aconteceu naquele período. Os que faziam parte do estado-maior naquela altura eram o Bock, como chefe do Estado-Maior, eu, como vice-chefe do Estado-Maior e chefe das operações e o falecido Vatuva, como comissário-político.
O Bock e o Vatuva já são desaparecidos, ainda estou aqui eu e tenho alguns apontamentos feitos, acho que brevemente farei sair uma obra a falar disso. Quero dar mais algum tempo para deixar passar alguns processos que podem implicar muita gente. De facto, o que aconteceu é que nós tivemos uma fase mais complexa que depois retirou o protagonismo daqueles que tinham comandado, que eram os comandantes principais da UNITA até recentemente. E neste último conflito que começou em 1998 apareceram novos protagonistas e depois arrumaram com as FALA. Neste momento só é isso que lhe posso dizer.

O que é que pretende dizer com “arrumaram com as FALA”?

Sinceramente digo-lhe com toda a verdade, quando se diz que a UNITA foi derrota não acredito. As FALA não foram derrotadas. E repito-lhe: As FALA não foram derrotadas. O que aconteceu é que o alto comandante tinha morrido. Os principais generais que eram os comandantes das Forças Armadas naquela altura, os generais Kamorteiro, Samy e Kalias, tinham sido capturados.
Como você sabe, o que estou a dizer não é nenhuma heresia, eles apareceram aqui como pessoas capturadas. E a partir daí houve uma sincronização feita entre esses companheiros, as comunicações do presidente Savimbi, os seus companheiros que tinham sido capturados e as FAA, uma manobra que permitiu enviar mensagens para todas as redes da UNITA a dizer que eram ordens do vice-presidente Sebastião Dembo, já que o Dr. Savimbi tinha morrido.
Naquela altura, o falecido vice-presidente, que morreu no dia 25, três dias depois, não enviou nenhuma mensagem para que as forças armadas parassem. Mandou-se parar o conflito em todo o país e a partir daí houve uma gama de manobras que foram travadas pelo Gato, que era o secretário-geral, quando o Governo dizia que estava a negociar o problema com o grupo do Kamorteiro. E o Gato dizia que o Governo não podia discutir com os capturados, mas sim com pessoas livres. Foi nessa altura que se processou a transição da negociação do grupo do companheiro Kamorteiro que estava aqui e o do companheiro Lukamba Gato enviado para o Luena.

Ainda existem mistérios em relação a morte de Jonas Savimbi?Para quem procura fantasmas acho que há. O que aconteceu é que nós fomos atacados e houve algum ripostar muito simples, porque também não tínhamos muito armamento no local. Poucas pessoas estavam armadas e foi um combate de pouca monta. Tínhamos feito uma manobra com um grupo de 13 pessoas numa mata muito cerrada, pensávamos que não seríamos detectados facilmente. Por isso, o nosso cordão defensivo não era uma coisa muito grande, era muito próximo, um cordão de uns 30 metros em relação a tenda onde se encontrava o Dr. Savimbi.
E depois, ainda nesta altura, das 13 pessoas ainda retiramos duas que enviamos para o patrulhamento, para ver se detectava o grosso da coluna do vice-presidente Dembo. Tínhamos ficado 11 pessoas e para quem procura fantasmas pode ver outras coisas, mas o que aconteceu foi simplesmente isso. Agora há pessoas que dizem que o Dr. Savimbi teria feito tiro contra si próprio, mas não foi isso porque ele foi eliminado. Na altura em que eu estava a correr vejo o Dr. Savimbi primeiro a cair, quando saio da zona, depois, sinto uma cadência de tiros a serem feitos ao alvo. Taus, taus, taus… E as pessoas que viram o corpo do Dr. Savimbi disseram que estava varado de tiros.
Portanto, acho que depois de terem derrubado o Dr. Savimbi continuaram a disparar, acredito que tinham recebido ordens para que ele não saísse daquilo vivo. Não queriam o Dr. Savimbi vivo. Era uma ordem que existia, assim como outras, porque depois do Dr. Savimbi ter tombado neste combate fui perseguido durante um mês, já os meus companheiros a negociarem.
Saí do Moxico e fui parar quase na província do Bié, durante um mês, fiz uma manobra terrível a pé, a ser perseguido. Na minha coluna ainda foram capturados majores, caímos em várias emboscadas. No dia em que cheguei no Moxico, depois de ter feito as minhas manobras para que a minha localização já não constituísse problema e os outros soubessem que estava vivo, quando se dizia que o Numa tinha morrido, infiltrei um major num grupo das FALA que estava com o senhor general Condenado pronto para se movimentar para o local de aquartelamento no Moxico.
Ao lado estava já uma unidade das FAA e deste grupo os que eram mais fracos deviam ir para o Moxico por via aérea. Pedi para que esse oficial fosse por via aérea para dizer que eu estava vivo e que me encontrava na área y. E foi assim que quando chegou ao Moxico comunicou aos outros onde eu me encontrava, posteriormente também encontrei um posto-rádio, comuniquei ao Gato e ele fez a comunicação a dizer que eu tinha aparecido. Quando cheguei ao Moxico encontrei um coronel dos Comandos das FAA, que me dizia: “Agora eu posso ir para Cabinda, todas as forças já tinham sido deslocadas para Cabinda”. Porque ele estava aí exactamente com ordens de que eu tinha de aparecer vivo ou morto. Mas, pronto, felizmente tinha aparecido vivo.

Se não há mistérios em relação a morte de Jonas Savimbi, o que dizer sobre o desaparecimento de António Dembo? Porquê razão alguns supostos familiares apareceram recentemente a exigir a localização dos seus restos mortais?O vice-presidente Dembo, estive com ele durante muito tempo na área Norte. O Dr. Savimbi começou a despedir-se havia muito tempo, falou com os quadros, deu indicações e uma das que deixou era de que não tinha certeza que iria ficar mais dois anos. Mas se ele desaparecesse o partido ficava muito bem nas mãos do Dembo.
O companheiro vice-presidente Dembo era um quadro muito querido dentro do partido e era aceite. E quando ele morre ao lado estava o filho Jeff, que alguns conhecem e ele está agora a terminar o curso de Engenharia Informática. Portanto, ele está aqui e as pessoas podem falar com o Jeff e sabem as condições em que o pai se encontrava. Uma das coisas que acho que acelerou a morte do companheiro Dembo foi a diabetes, as manobras que encetávamos durante a guerra, muito movimento, pouca comida ou nenhuma mesmo, isso afectou um bocadinho a própria resistência dele. E começou a perder muitas forças.
Num período que vai de oito a 10 dias também ficou sem a sua esposa. A dona Maria, na manobra que estávamos a fazer na mata, ficou no grupo do Dr. Savimbi. Portanto, a dona Maria faz parte do grupo das 13 pessoas que estavam no grupo do Dr. Savimbi, mas depois o presidente fundador tinha ficado apenas com o filho Jeff. Os outros seguranças tinham morrido, houve gente que morreu a fome e outros que desertaram, fugiram. Muitos de nossos guardas desertaram por causa da fome e outros foram se perdendo. E ela ficou de facto nestas condições e depois não aguentou.

Falou-se muito da existência de enormes quantidades de dinheiro e diamantes muito valiosos em posse de Jonas Savimbi no dia em que morreu. É verdade?O que vou lhe dizer é o seguinte: no dia 22 de Fevereiro de 2002, durante a nossa marcha acordamos um bocado cedo, eu era a pessoa que estava a dirigir, operei muito tempo naquela área, a dado momento sentimos muito fogo, muito intenso e nutrido na parte Sul. Depois falei com Dr. Savimbi que era exactamente ao longo do rio Luio, com precisão para a área do general Big Jó. Era exactamente na área onde se encontrava e foi neste dia que o general Big Jó morreu.
Então tivemos de fazer um movimento para Nordeste, andamos no meio da mata e a dado momento descansamos um bocado, era praxe. Naquela altura o Dr. Savimbi levava uma pasta castanha, não sei se estou errado mas acho que era mesmo castanha. Abriu a pasta e tinha alguns documentos. Acho que tinha coisas muito queridas dele. E era nesta pasta onde, de facto, havia um monte de diamantes.
E o Dr. Savimbi dizia: olha, quando encontrarmos os outros vamos ver como utilizar estes meios para podermos socorrer o partido. Naquela altura também estávamos à procura de uma forma de reconquistar um aeroporto para começarmos a obter recursos que eram necessários. Os que encontram a pasta são os homens das FAA. Nela havia documentos e estavam aí os diamantes.
A UNITA ainda está órfã de Jonas Savimbi?Todos nós tínhamos a consciência de que o desaparecimento do Dr. Savimbi seria um problema de extrema gravidade para a própria UNITA. Não era uma pessoa que seria fácil de substituir e a imensidão e a profundidade cognitiva, o arcaboiço que o Dr. Savimbi apresentava são raros. Mesmo aqui no nosso país é raro encontramos um homem daquela estaleca. Era um excelente estudioso nas Ciências Sociais e ele tinha ganho uma grande experiência, um líder que seguíamos sem questionar. Ninguém questionava o Dr. Savimbi, porque era um grande líder. Era um líder que falava para todas as pessoas e também sabia escutar.
Escutava pessoas quase que nada falavam. O Dr. Savimbi dizia assim: “Nunca despreze nenhuma pessoa. Em uma hora de conversa com uma pessoa que você julga que não tem nada vais apreender sempre alguma coisa”. Por isto tínhamos consciência de que o seu desaparecimento seria um problema grave para a própria UNITA e como tem-se revelado que sim. Portanto, nós continuamos com os nossos problemas que ainda não ultrapassamos e o próprio partido tem feito esforços para ver se rapidamente se ultrapassa esta fase. O importante é que os quadros estão todos motivados, envolvidos e com certeza que as soluções vão ser encontradas.

O Presidente Samavuka tem sido um substituto à altura?O Presidente Samakuva foi uma solução ajustada para o momento. Aquele momento era muito crítico, um momento que precisava de uma pessoa com um fleuma que se ajustasse para aquela circunstância e o Presidente Samakuva conseguiu, de facto, fazer esta transição com muito sucesso.

Como vê hoje o partido em termos de democracia interna? É um aprendizado. Internamente discutimos os nossos problemas sem errar, não temos nenhum receio de conversarmos. A UNITA nisso tem crescido imenso e é só ver que nós fazemos os nossos congressos onde o presidente é eleito. Acho eu que é o único partido que faz de forma muito aberta, limpa, os outros partidos ainda votam com as mãos no ar ou o fazem de outra forma. Ou é o Ngonda que não aparece e só o Ngola Kabangu, ora, as vezes, é o Ngola Kabangu e o Ngonda aparece sozinho. O PRS também não sei o que é que se passou por lá, vamos ver o que é que a CASA-CE vai fazer, se tem democracia suficiente para não estar a encontrar engenharias de liderança.
Mas na UNITA isso tem sido superado e não tem tido grandes problemas. Temos democracia interna sim, mas a democracia é um território de aperfeiçoamento contínuo. Sabemos que ainda não atingimos a excelência e vamos ao encontro. Vamos procurando permanentemente ir ao encontro da excelência e melhorarmos os nossos processos de discussão interna para estarmos à altura de sermos um padrão de referência no nosso país.

O senhor foi um dos poucos defensores da realização de um congresso extraordinário na UNITA depois das eleições. Ainda é da mesma opinião?Risos. Esta é uma questão interna a que não me vou referir. Com certeza o próprio partido, na altura da reunião da Comissão Política, fez um comunicado e este problema não é só do Numa. É um problema interno e o próprio partido vai encontrar, com certeza, soluções.

Faz sentido defender o projecto de Muanguai hoje?Faz sentido sim senhor. Você já viu católicos sem a Bíblia? É impossível. A Bíblia é eterna, é a filosofia que alimenta uma crença e nós acreditamos nos princípios fundados em Muangai. São bem claros: democracia. O país terá de ter vários partidos políticos, dar prioridade ao campo para beneficiar a cidade. É um princípio de desenvolvimento sustentável que a UNITA vem já a falar desde os tempos idos.
Hoje muita gente utiliza estes chavões “desenvolvimento sustentável”, etc, etc, mas a UNITA vem a falar disso há bastante tempo. Hoje temos uma economia dos petróleos e as gerações futuras vão ter um problema gravíssimo, porque o petróleo não é eterno e os dinheiros que nós conseguimos obter com os petróleos andam pelo mundo, à devirá, na mão de pessoas e não criamos infra-estruturas que vão sustentar o desenvolvimento de Angola amanhã.
Hoje continuamos com um ensino pobre, uma saúde débil, uma infra-estrutura industrial inexistente, estradas assim pequeninas. Quando se fala em auto-estrada você pensa que é uma coisa respeitável, mas é só ver. Conheço um dirigente deste país que foi ao Burundi ou ao Ruanda, chegou e quando foi para a Assembleia Nacional viu a imponência da instituição e disse: “Ai meu Deus, como é que posso convidar aqui o meu homologo a ir para Angola”? E penso que deve ter partido daí a ideia de se fazer a actual Assembleia Nacional, que deve terminar em 2014.
Temos muitos recursos mas não estão a ser aplicados devidamente. Neste preciso momento temos um dos maiores orçamentos de África. O orçamento de Angola deve ser necessário juntar uns 30 países que andam por ai para se fazer um orçamento de 70 biliões. Mas isso não vai resolver os problemas de Angola, porque não vai resolver o problema da água, ensino, energia. O dinheiro vai servir outros fins e é aí onde muita gente vai debicar para se enriquecer de forma ilegal.
Felizmente Muangai recomenda-se e recomenda-se porque internamente também somos os culpados. A UNITA não tem capacidade de explicar o que é Muangai. A UNITA tem de passar para uma actividade pró-activa de forma a poder explicar melhor o que significa Muangai, para os angolanos poderem apreender melhor. O Muangai passado aqui não é o da UNITA, mas sim o Muangai da diabolização. O Muangai da UNITA não é racista, não é tribalista, porque a UNITA é União Nacional para Independência Total de Angola.
Recorda-se que em 1974, quando se definiu quem é o angolano, foi o Dr. Savimbi que escreveu a definição que ficou na Constituição. Até Lúcio Lara queria uma outra coisa, mas os outros não aceitaram e tiveram de adoptar aquilo que o Dr. Savimbi tinha explicado. E ele tem uma frase que anda nos telefones: “para mim primeiro o angolano, segundo o angolano, terceiro o angolano, quarto o angolano, o angolano sempre. Agora os outros não sei aonde ficam”. “A cooperação comigo não é muito fácil”, porque ele não definia o angolano como negro, mestiço ou branco, mas aquele que ama este país”.

Qual é a verdadeira razão da constante fuga de quadros da UNITA? Depois das eleições vimos muitos militantes do Kuando-Kubango a abandonarem as fileiras e rumarem para o MPLA.A história do Kuando-Kubango não está bem contada. E vocês também comecem a ter um jornalismo investigativo mais profundo, para não estarmos aqui na corda bamba do MPLA. Isso vem desde 1974. Para o MPLA ainda não estamos em paz e vou mais longe: para o MPLA o resto é inimigo, não é só mais a UNITA. Porque é que se fala de indivíduos que saem de partidos e vão para o MPLA, faz-se propaganda.
Os outros partidos também recebem indivíduos, uns saem para a UNITA, FNLA ou PRS. Porque é que se faz isso até hoje? As pessoas tornaram-se troféus? Humilhar outros, os casos dos Valentins, Hamukwayas, para serem apresentados ao público, olha aqui o Dr. Hamukwaya, o general Black Power. Isto está errado. Não é correcto. São angolanos e como tal têm opções. Não ficam com a UNITA, não ficam. Mas também a UNITA não está a desaparecer, é um partido que se recomenda.
A UNITA está a aproximar-se dos dois milhões de membros, não é nenhuma falácia. Há trabalho de mobilização, os dois milhões estão aí. Nós tivemos alguns problemas nas eleições passadas, vamos ser contundentes nisso porque tivemos um controlo muito deficitário. Controlamos ao nível de 35 ou 36 por cento, ao máximo. É o que levou para os 32 deputados que temos. A UNITA, se tivesse tido um controlo de 80 a 90 por cento nas eleições passadas, ter-se-ia aproximado entre os 90 ou 100 deputados. A UNITA teria chegado aí, mas o resto o MPLA foi governando sozinho, atribuiu-se os votos que quis.
Porque até ao último dia os delegados de lista da UNITA não estavam credenciados, houve tanta manobra que permitiu que chegássemos às eleições nas  condições em que chegamos. As pessoas dizem que as eleições foram livres e justas porque foram normais e não houve problemas. Somos cívicos, queremos fazer o jogo democrático de forma limpa, mas o MPLA controlou sozinho estas eleições.

A saída do deputado Abel Chivukuvuku foi um sério revés para a UNITA ou é algo que já esperavam havia muito tempo?Primeiro, digo que o Abel é um quadro angolano como qualquer outro e se ele achou que tinha chegado o momento… O que senti inicialmente é que ele queria ser presidente da UNITA. Ele fez muito por isso, concorreu para as eleições no 11º Congresso e foi derrotado. O nome do Abel depois ficou ligado aos grupos de reflexão, até que achou que não tinha terreno aqui e foi-se embora. Agora que tenha sido um revés para a própria UNITA não, porque o Abel não mexeu na estrutura dos membros da UNITA.
Estou a lhe dizer que nós tivemos um controlo eleitoral que anda a volta dos 35 a 36 por cento, mas mesmo assim tentaram fazer tudo para baixar a UNITA e chegaram aos 32 deputados. Aqui em Luanda no mínimo teríamos eleitos três deputados. Andam aqui a dizer que a UNITA ganhou no Cacuaco, mas não foi só lá. A Viana, Kilamba Kiaxi, área do município de Belas. Tivemos sim dificuldades aqui em Luanda no centro da Cidade. Ali a UNITA tem de rever os seus métodos de trabalho para ver se encontra formas de penetração no centro da cidade, para ver se reconquista uma parte substancial de quadros que possam, a partir de determinado momento, compreender, de facto, qual é a missão da UNITA no espaço angolano. Sinto que a CASA-CE, que tem como seu líder o Abel, tirou mais membros ao MPLA e não foi buscar à UNITA.

O Huambo e o Bié podem ser considerados bastiões da UNITA?

É só ver, está demonstrado. Também teríamos tido no mínimo quatro deputados no Bié, três no Huambo, dois no Kuando-Kubango, que também é outro bastião da UNITA que temos estado a lutar para recuperarmos e vamos conseguir mesmo com a saída de ‘Black Power’ e outras pessoas. A UNITA tem projecto e vigor suficientes para voltar a liderar a área do Kuando-Kubango. Temos Benguela como nosso bastião, a Huíla, onde temos de fazer esforços em determinadas áreas para nos sentirmos à vontade, o Kuanza-Sul, onde precisamos de melhorar. Temos umas áreas onde a UNITA se sente bem, precisamos apenas de melhorar os nossos processos, as nossas lideranças, capacidade dos nossos quadros para poderem levar a mensagem e discutirmos com o MPLA na conquista destes espaços.

Nunca pensou ser presidente da UNITA, uma vez que já foi secretário-geral do partido?A UNITA é um partido que tem um naipe de quadros que têm perfil para serem líderes da grande instituição. Temos companheiros como o Jardo, que está nos Estados Unidos da América, Lukamba Gato, Jaka Jamba, Alcides Sakala, Adalberto da Costa Júnior... Temos aqui uma vasta gama de quadros, desde que sintam que estão em altura de solucionar os problemas de Angola com certeza que vão ter programas para se poderem apresentar no próximo congresso do partido. Agora, eu não posso dizer que desta água não beberei. É possível que esteja a pensar nisso, mas também estão aí outros companheiros.

Já ouviu das pessoas argumentos de que o senhor tem um discurso muito musculado?Já ouvi falar disso. Já me chamaram de incendiário, racista e de tudo. O que eu lhe digo é o seguinte: não aceito em nenhum momento concordar com o que se passa neste país. E o discurso musculado é dizermos a verdade. O que temos estado a dizer é apenas a verdade. Agora, estar com a minha gravata e a dizer querido Presidente está tudo bem, isso não faço. Nasci como um homem livre e vou morrer como livre. Não aceito. Então desaparecem milhões e milhões de dinheiro do país e nós estamos aqui a dizer que está tudo bem? As pessoas não têm água.
Aliás, tenho uma casa no Kilamba e há vezes em que se passa duas semanas sem água. Como é que as pessoas fazem um plano para uma cidade como aquela, tão bonita, e depois não fazem plano das águas e da energia naquela área. É muita incompetência. Se eu disser incompetente dizem que ele tem um discurso truculento, mas não é. Só estou a falar a verdade, não estou a mentir nada.
Fui ao Mundundo, quero citar este exemplo, para ir prestar solidariedade à morte de uma companheira Dina Chinossoke, morta só por ser presidente da LIMA. Para um homem como eu, que vai encontrar uma senhora morta a pedrada, que deixa filhos de colo, xuxa, que discurso é que tenho? Digo que aqui no país está tudo bem, não há problemas. Se disser que há intolerância... quem está a comandar é o fulano de tal. Porque se o Presidente da República quisesse que este país estive em paz política e social, estaríamos. Mas ele não quer. Se isto é truculência, então que seja.

Nunca se arrependeu por ter abandonado as Forças Armadas Angolanas?Nunca, nunca. Estou muito bem.
Quais foram as razões do seu abandono? Fui co-fundador das FAA com o general João de Matos. E o companheiro com quem iniciei a formação das FAA tinha saído, não me iria subalternizar àqueles que eram meus subalternos no ponto de vista técnico. Do ponto de vista ético também não ficaria bem. Tenho um sentido bem firme no meu posicionamento em relação ao respeito das instituições. Não me agarro a poderes nenhuns e não há um que me faz andar de joelhos. Não quis ir às FAA porque achei que não havia razões para entrar.


Os meus companheiros que entraram agora, Kamorteiro e outros eram parte de oficiais que eu tinha levado para as FAA, fizeram comigo o primeiro estado-maior com os outros oficiais que tinham vindo das FAPLA. De certeza que tinham assumido situações de protagonismo e estava muito bem. Agora eu vir para uma posição de subalternização em relação aos oficiais que tinha comandado antes estava errado. E também não sou, não tenho muita queda para ser militar, andar de botas até aos 50 anos. FAA é para os jovens que lá estão e acho que o país tem de ter políticas de transição para que os mais velhos deixem os lugares para os mais novos que vão surgindo, agora com muito mais competência e formação.

Fala-se muito que quando abandonou as Forças Armadas deixou um filho que foi criado por um oficial general muito conhecido...Não deixei filho nem foi criado por algum general. Isso foi maldade.

Sem comentários: