sábado, 12 de março de 2016

Funcionários públicos que temos

Servir como deve ser

O Facebook pergunta-me o que estou a pensar hoje, agora.
Ora, estou a pensar no artigo que acabo de ler e que transcrevo a seguir, da autoria do Jaime Langa, Director Editorial do jornal "Notícias", o jornal diário de maior circulação em Moçambique, propriedade uma das publicações da Sociedade Notícias, S.A.; sociedade esta que é participada maioritariamente pelo Estado moçambicano—portanto, uma sociedade com capitais provenientes de fundos públicos—, tendo à cabeça o Banco de Moçambique.


Eis o artigo, transcrito fielmente.


--- INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO ---


BLOGANALISE: Funcionários públicos que temos
Sexta, 11 Março 2016

HOJE estou muito aborrecido, por isso não esperem um texto simpático. Estou triste mais comigo mesmo do que com o que me aconteceu. Saí do meu gabinete e dirigi-me a uma instituição pública, por sinal uma das mais procuradas para tratar burocracias próprias inerentes a negócios com o Estado. A minha perspectiva, na qualidade de cidadão, era de ser "servido", ou melhor beneficiar de um serviço público com alguma dignidade. Esperava, por isso, encontrar um servidor público bem disposto. Puro engano! Saí frustrado e aborrecido.
Na língua chopi costuma dizer-se: - "Dhitina dhanthu i pondo, chibhongo i sumbulane" (não direi o nome de ninguém, pois para isso iria cobrar cem pelo nome e cinquenta pelo apelido).
Na realidade pouco importa indicar nomes aqui, pois o cenário que assisti provavelmente seja recorrente em muitas instituições públicas. Vale somente a referência do sucedido para uma reflexão conjunta sobre que administração pública temos e queremos.
Continuando, cheguei à prestigiada instituição e fiz uma consulta sobre os procedimentos a seguir para obter um determinado serviço. Enquanto explicava o que pretendia, a "perita" que me ouvia, sem me deixar concluir, julgou perceber o que eu queria e lançou-me uma colectânea de 8 páginas. Impaciente, de seguida, disse-me que tudo estava lá escrito, pelo que não havia nada por me explicar.
Perante a minha insistência em obter mais algum esclarecimento, a chefe do referido local saiu do seu gabinete e acusou-me de estar a perturbar o ambiente de trabalho, pelo que deveria abandonar o local imediatamente. Para agravar o cenário, ela afirmou que se eu pensava que alguém estaria ali disponível para me servir, tratava-se de puro engano meu!
Porque entendi colocar os visados em situação de anonimato, fica claro que só eu, a chefe, a secretária e a "perita" é que sabemos deste assunto, poiso objectivo deste texto é tão-somente lembrar aos funcionários públicos que o seu papel é de servidores dos cidadãos e não o de defender interesses próprios no local de trabalho.
Se eu tivesse me identificado como director do Jornal Notícias (o que não costumo fazer), provavelmente até café teria tomado e o expediente teria sido tratado com todo o zelo, mas como fui para lá como "povo" e não me conhecem, fui atendido como geralmente é o 'modus operandi' naquela instituição.
Infelizmente, com este tipo de gestores e funcionários públicos o país não vai a lado nenhum e ficaremos acusando uns aos outros sem sabermos identificar o culpado pela nossa pobreza. E quando é assim a culpa sempre será dos outros. É lamentável ver isso acontecer no meu país. Todavia, como não posso, por disciplina de metodologia, generalizar há funcionários públicos competentes neste país e que se preocupam em servir o público e ver o seu Moçambique crescer.
Enquanto rogava para a "perita" me esclarecer as minhas dúvidas, vi a secretária com a cara atónita escondida e quando a chefe irrompeu à recepção com arrogância fiquei diminuído. Razões não faltavam para tal, pois a "perita" sentiu que a sua acção foi legitimada e valorizada pela sua chefe que nem se quer procurou se inteirar do que estava a suceder. Depois de expulso, senti pena dos utentes que me seguiram.
Nada mais podia fazer se não sair lamentando o nível de ignorância que paira naquela instituição, e porque a minha luta não deve parar por aqui dou este contributo apelando ao funcionário público zelo e responsabilidade no exercício das suas funções.
Às visadas, podem ficar tranquilas, não irei meter queixa, embora devesse, pois até a secretária testemunhou os maus-tratos a que fui sujeito. A única coisa que um dia provavelmente farei é informar ao ministro de tutela pelo respeito e amizade que nutro por ele.


--- FIM DA TRANSCRIÇÃO ---


A minha opinião sobre este artigo é que, sendo o Jaime Langa o Director do "Notícias", ele TUDO DEVIA FAZER para que as funcionárias a que se refere neste seu artigo fossem conhecidas publicamente, pelos seus nomes, e também a instituição para a qual trabalham. Não me parece haver razão bastante para que assim não seja, tampouco para a preferência (do Jaime Langa) por abordar sigilosamente o Ministro que superintende essa instituição, sobre o mau serviço prestado ai prestado ao cidadão por certos funcionários. Aliás, esconder a identidade de funcionários que servem mal o povo é contribuir para a perpetuação do mau serviço prestado ao cidadão pelas instituições do Estado. Penso até que, na sua qualidade de Director de um órgão de informação com capitais publicos, o Jaime Langa está, também, a prestar mau serviço ao cidadão, quando esconde as identidades da instituição na qual foi mal atendido e das pessoas lhe atenderam mal. Não denunciar o mal indicia falta de senso de justiça e responsabilidade!
Vivido o episódio que Jaime Langa relata no seu artigo, uma atitude que acho que seria correcta—e bem alinhada com a profissão de jornalismo—que ele pode tomar, é, por exemplo, introduzir no "Notícias" uma rubrica informativa sobre a qualidade dos serviços públicos em Moçambique. Tal rubrica seria produzida por uma equipa de jornalistas destacados especialmente para medir o pulsar da administração pública moçambicana. O trabalho desses jornalistas consistiria em fazer jornalismo investigativo orientado para o combate contra o mau serviço prestado ao cidadão pelo Estado e pelos seus funcionários e agentes. Para a recolha de informação a publicar nessa rubrica, os jornalistas iriam se fazer passar (secretamente) por utentes de diferentes serviços públicos, para avaliar o atendimento e informar o público sobre as más (e, também sobre as boas) práticas, e os autores dessas práticas (funcionários e instituições). As más práticas assim reportadas deverão ser averiguadas e sancionadas (nos termos da lei) e, as boas, incentivadas (e.g. com premiações). Creio que desta forma podemos sonhar com um Moçambique onde o Estado se exime em servir cada vez melhor o cidadão.
Enfim, eu quero saber qual foi a instituição em que o Jaime Langa foi mal atendido e quem foi que lhe atendeu mal! E tu, meu amigo e compatriota (moçambicano)?

Comments
Jaime Langa Tudo bem meu amigo Julião João Cumbane. Fica acolhida com satisfação a sua proposta. Será apresentada ao conselho editorial e acredito que será favoravelmente sancionada. No que se refere ao nome da instituição e dos maus servidores públicos acho que o texto assim sem sua referência e entregue em mão melhor servirá de reflexão para mudança de atitude o que seria desejável e foi o objectivo deste texto não a sua exposição pública. Um abraço.
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Jose Luis Freaq Son Eu estou elaborando textos sobre os concursos de ingresso na AP.Baseio-me em experiências de Nepotismo e Clientelismo,vivídas na primeira pessoa.Que mecanismo poderei seguir para que os mesmos sejam publicados no Jornal Notícias meu caro Jaime Langa?O mau serviço dos Servidores Públicos precisa de ser denunciado de forma nua e crua.
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Jeronimo Gungulo Administração Pública (AP)
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Ser - Huo O texto do editorial é bom para reflectir, só é só para isso, porque quanto ao resto, pelas razões apresentadas pela Cumbane e demais, é apenas uma FALÁCIA que embora tenha uma boa intenção, não contribui em nada para se melhorar o status quo do serviço público pernicioso de que o texto fala. Enquanto uns dizem que temos todos de denunciar os que praticam mau atendimento em instituicoes públicas - isto já gastou dinheiro público em campanhas de consciencialização - temos um texto de um jornal público, vendido a um tão grande público, a ser cúmplice com mas práticas no atendimento público. Reforçando a ideia do texto, a intenção educativa é muito boa, mas esse esconde esconde o país já não precisa.
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Zeca Becane Felisberto Sibia Se não fosse útil não deveria constar no jornal. Há que identificar a instituição e os tais...
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Alvaro Simao Cossa Estimado amigo e conterrâneo Jaime Langa a boa cidadania exerce-se com bons exemplos, boas maneiras e ensinamentos correctos para a educação de um país. A boa cidadania implica que os direitos e deveres estejam interligados, o respeito e seu cumprimento contribuam para uma sociedade mais equilibrada e justa. Para o exercício da cidadania implica-se ter consciência de seus direitos e obrigações, garantindo desta forma que estes sejam colocados em prática, pelo que seria correcto denunciar esse mau atendimento que sofreu, como exemplo de boas maneiras, para que as pessoas se corrijam e não fiquem premiadas pela sua omissão que luz como consentimento, conivência e premiação. Concordo contigo Julião João Cumbane necessitamos de mudar as mentalidades. Corrigir é de sábios.
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Manuel Domingos J. Cossa Boa professor. Acho que o editor foi "infeliz " e não só
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Manuel Domingos J. Cossa Já se vê porque o jornal notícias não precisa de editores combatentes. O jornal é "distribuído para todas as instituições públicas que pagam coama dinheiros públicos. públicos. O próprio jornal funciona a com dinheiros públicos. Negócio da China
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Júlio Mutisse Kakakakakak! Futseka Jaime Langa!

Quando este filhote de Machope me recebeu como Vereador no Município da Matola riu se de mim quando lhe contei um episódio ocorrido comigo no Município em que era Vereador e, por acaso, responsável por gestão de recursos humanos.
Nos primeiros dias dediquei me a fazer visitas às Vereacoes do Município. A última seria a de Urbanização. Antes da visita formal, fui lá tratar de assunto particular e, sem usar a prerrogativa de Vereador, fui como cidadão. Ninguém ainda me conhecia Vereador ali. Bati uma porta e esperei... eis que aparece uma funcionária e me diz "miúdo, não pode esperar aqui. Sai já daqui. Já bateu espere lá fora não está ninguém quando voltarem te atendem!"
Enquanto esperava o"diligente" funcionário regressar, eis que aparece uma funcionária que me reconhece como o novo "Vereador dos Recursos Humanos" e se "esmera" naquelas honrarias típicas para espanto daquela "mamã" que me chamou miúdo (na verdade bem mais nova que eu) e demais funcionários presentes. Naquele exercício não só dei conta de como eram tratados os munícipes como, de forma didática, passou a lição sobre o cuidado, delicadeza, educação que se deve tratar qualquer munícipe. Não importa a aparência, o status etc, todos eles tem a sua importância. Os modelos adoptados a seguir nesse local tiveram em conta esse aprendizado e não foi necessário expor essa funcionária. Hoje deve ser das mais ciosas no cumprimento do seu dever e sei que hoje assume cargo de relativa responsabilidade. Errou dessa vez mas corrigiu se. Se a tivesse exposto perdíamos essa boa profissional que temos hoje.
Mando passear o Jaime por que ele riu se de mim quando lhe contei, fez até chacota comigo e hoje provou do seu "veneno"!
Va ku katile nhacadle.

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Julião João Cumbane O meu "like" é pela beleza deste conto factual teu, caro Júlio Mutisse. Mas esse método só é eficaz pontualmente (i.e. para casos isolados). O que ocorre, porém, é que a cultura na função pública é atender mal o cidadão. O combate contra essa cultura tem que ser mais pragmático e visível, para que cada funcionário possa meter na cabeça a noção de que a cortesia e o respeito no atendimento ao cidadão têm que ser assumidos como valores do ser humano, e que quem nãos os tiver não merece o tratamento reservado aos humanos. Proceder como tu e o Jaime Langa procederam compromete a eficácia do combate contra a cultura de desumanidade nas nossas instituições públicas. Há que mudar o paradigma de actuação contra más práticas, para corrigir o 'status quo' da disciplina profissional na nossa administração pública, que é péssima.
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Júlio Mutisse Esse combate não será travado e vencido com exposição. Será vencido com diversas mudanças a todos os níveis, do topo a base. Por mais exposições que façamos dos funcionários mal criados se não atacarmos o que lhes reproduz não estaremos a fazer NADA.

OUTRO EXEMPLO: Eu e Jaime Langa, enquanto vereadores, não tínhamos agenda de audiências... atendiamos on demand exceptuando dias de reunião do conselho... recebíamos na sala que compartilhavamos do engravatado ao mais simples machambeiro no regresso da sua labuta, enfurecidos ex militares mutilados ou mesmo a "tempestade" que é a nossa (minha e do Jaime) manaAlice Mabota. Fazíamos isso com cordialidade, tacto que até estes ex militares conhecidos pela sua agressividade ou uma mana Alice zangada saiam contentes connosco. Isso podia contagiar os nossos colegas. É sempre possível perceber e encaminhar as preocupações das pessoas por mais zangadas, calmas ou agitadas que estejam se assumirmos que esse é nosso dever e estamos ali para isso. A nossa actuação era nesse sentido mas, directa ou indirectamente influia na atitude dos que vinham em posições imediatamente a seguir.
Nenhum expediente ultrapassava 48h nas nossas mesas e não esperávamos secretária para vir buscar, distribuímos por vezes pessoalmente, pelos nossos directores ou outros funcionários. Essa proximidade e comunicação directa (sem intermediação, por exemplo, da secretária ou sem sucessivos despachos de pedido de clarificação) aceleravam o trabalho e a tomada de decisão. Se o Vereador fazia director idem e assim sucessivamente pela cadeia como um todo comprometendo os funcionários com o seu trabalho.
São estilos que adoptamos próximos do tipo de pessoas e líderes que somos. Só não ficamos tempo suficiente para fazer escola mas acredito que, quem trabalhou de perto connosco percebeu onde queríamos ir e podemos ter deixado alguma influência.
Portanto são atitudes a todos os níveis que mudam as coisas.

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Júlio Mutisse Escrevendo isso bateu uma saudade dos grandes profissionais que conheci ali... alguns mais barulhentos ( Manwana GuilicheCacilda MabotaMariamo Juma e outros) que outros mas extraordinariamente profissionais, outros mais discretos ( Feliciana Patricio) mas extremamente eficazes, competentes e profissionais, outros verdadeiros autodidatas e sempre disponíveis para aprender ( Adventino Mandlate). Nem vou falar da Luísa...
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Jaime Langa Caros amigos. Muito obrigado pelas sugestões porém preciso corrigir um aspecto que está a ser mal interpretado. O texto não é editorial do jornal notícias foi publicado na coluna pessoal do jaime langa "bloganálise" página 8. O editorial é publicado na capa. Concordo plenamente sobre a necessidade de denunciar os maus servidores públicos mas a denúncia não significa necessariamente escrever os nomes no jornal isso não é denúncia é exposição que a ser mal feita pode não alcançar o objectivo correcional que almejamos. Existem métodos mais eficazes de denúncia como a informação ao ministro de tutela pois este é quem efetivamente pode tomar medidas. Caro Manuel Domingos J. Cossa a sua situação é grave e pior do que a que assisti. A ausência de conhecimento (ignorância). Tudo que disse no seu comentário é falso. Eu não sou combatente sou empresário, o jornal notícias não é distribuído é vendido a quem o deseja, e ja agora para o teu conhecimento a sociedade do noticias SA dona do jornal notícias é uma sociedade anônima e não recebe nenhuma quinhenta do orçamento do Estado. Aconselho-lhe a se informar antes de comentar assuntos no FB para não cair no retículo como desta vez. Um abraço
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Murala Baal Jaime Langa e Júlio Mutisse, a minha veia Matemática, deve andar a empobrecer a minha capacidade/possibilidade de visão de procedimentos a tomar para correção de males comuns. 


"Punição exemplar" - é um termo que provavelmente andamos nos esquecendo dele. Julio, se por um lado ganhou-se uma boa funcionaria, por outro lado, pode ser que, uma punição exemplar teria criado 1000 bons funcionarios. Portanto, ha que fazer contas e estimativas de quanto ganhamos. Pior quando sabemos que esses males nao sao cometidos por ignorância; cometemo-los(ja que tambem so da FP) por conhecimento.

Jaime, essa de nao meter queixa, "mesmo sabendo que devia o fazer", por mais que eventualmente nao seja, mas, faz transparecer o comportamento generalizado, que a teu nivel encaixa-se nao bem. "para quê sofrer em meter queixa se isto nunca vai mudar", esse tipo de comentarios ouvimos varias vezes, e soa razoavel, mal ou muito mal, dependendo de quem o faz. 

Nao querendo usar o lado popularizacionalista do assunto, talvez em defesa do bom nome da instituiçao, do ministerio, e dos funcionarios, ate, presto lhe o respeito e a devida venia pela posiçao tomada, no entanto, DEVERIA(leia-se bem), DEVERIA no meu emtender, FAZER AQUILO QUE SABE QUE DEVIA FAZER.

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Júlio Mutisse Murala Baal, entendo o que diz e até é útil e isso foi usado em outros contextos. Enfatizei essa funcionária mas acredito que não ganhamos só uma boa funcionária, ganhamos um aprendizado colectivo que foi cultivado naquela casa. Um incidente vivenciado por 7/8 funcionários e a forma como lidamos com ele diante do público e dos demais funcionários corrigindo a atitude foi mais didática do que uma punição que até podia passar despercebida de muitos.

Sou a favor da responsabilização e até da punição mas "chamboco" não é a única forma de responsabilizar, existem outras possíveis de levar um ou mais funcionários a fazerem bem seu trabalho.
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Murala Baal Posso apostar que Julio nao esteja a defender a nao puniçao de "irregulantes". Concordo com quase tudo o que Julio disse, e acho sim que deves ter punido a funcionaria em questao (lembrar que na FP reprensao oral é uma das medidas de puniçao). 


E porque nao ha bem sem mal, repiso aquilo que disse la encima. É preciso medirmos o quanto ganhamos e perdemos em qualquer posiçao que tomamos, e PUNIR = RESPONSABILIZAR. No entanto nao responsabilizar é muito errado.

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