Diabo da unidade dos moçambicanos
Numa 'postagem' de há mais de 13 horas, o Elvino Dias, jurista moçambicano natural do Norte de Save e residente na Cidade de Maputo, a Capital da República de Moçambique, escreveu o seguinte:
«Sem pendor regionalista, tribalista ou sei lá, o número dos refugiados nos últimos dias no acampamento de Kapisse preocupa-me. Preocupa-me mais a indiferença do nosso Governo e dos médias públicos em torno do assunto. Fiquei triste quando li hoje num órgão de comunicação social estrangeiro que o nr actualmente oscila aos 11.000 refugiados, vivendo em condições desumanas, trazidas ao público pela stv.
«Aqui fica a pergunta: Seria esse o comportamento das nossas autoridades e dos médias públicos, se aqueles compatriotas fossem do sul de Moçambique? Tenho imensas dúvidas. É que isso dói, dói de verdade.»
Quem lê esta "dor" do Elvino Dias fica com a impressão de que o Governo de Moçambique é «insensível» para com os problemas dos moçambicanos que passam pela situação que ele descreve no seu texto por serem do Sul de Moçambique (i.e. a região de Moçambique a Sul do Rio Save). De facto, é intenção deliberada do Elvino Dias dar essa impressão ERRADA. O objectivo dele é fomentar o divisionismo fundado na região de origem entre os moçambicanos.
Com efeito, quem vive e conhece Moçambique sabe que o Governo deste país nunca foi dominado por uma só etnia. Houve sempre um esforço bem-sucedido de incluir todos os grupos étnicos moçambicanos nos lugares de direcção dos destinos do país, exactamente para combater o regionalismo. Não há moçambicanos especiais por serem originários de uma determinada região de Moçambique. Quem fomenta essa ideia—tal como o faz o Elvino Dias no seu texto—, é um indivíduo de má fé e é preciso que se tenha muito cuidado com as suas opiniões.
A verdade é que, ontem e hoje, o Governo de Moçambique foi sempre constituído proporcionalmente por um maior número de pessoas do Norte do que Sul do Save. Este é um critério de partilha de postos de direcção que é praticado para promover a unidade nacional e no respeito pela distribuição e geográfica e diversidade étnica da população moçambicana. Hoje, a Frelimo e a República de Moçambique são dirigidos por um indivíduo que é natural do Norte do Save (mais precisamente, do Norte do Zambeze). O Governo também é constituído por uma maioria de pessoas originárias do Norte do Save. A Cidade de Maputo—a Capital da República de Moçambique—, igual que todas as capitais políticas do mundo, é uma cidade com uma população representativa de todos os grupos sociais, de todas as etnias e todas as raças existentes em Moçambique. O próprio Elvino Dias, sendo nautral do Norte do Save, vive na Cidade de Maputo e contribui, portanto, para o desenvolvimento do município da Cidade de Maputo e não do seu local de nascimento.
A propósito do desenvolvimento, é oportuno esclarecer que as províncias de Maputo (exceptuando a Cidade de Maputo), Gaza e Inhambane, localizadas no Sul do Save, são entre as mais pobres de Moçambique. Na lógica do Elvino Dias, isto ocorre por causa da «insensibilidade» do Governo. Entretanto, os primeiros três (3) presidentes de Moçambique independente são originários do Sul do Save. Como é que o Elvino Dias explica que esses presidentes tenham relegado a sua região de origem ao subdesenvolvimento? Será porque «não tiveram sensibilidade»? Eu acho que não! Acho que eles (os nossos primeiros três presidentes, assumindo que leitor é moçambicano como eu) olharam para Moçambique como um todo e perceberam que o desenvolvimento deveria começar por onde beneficiaria o maior número de moçambicanos. Isso explica porquê é que as províncias do Norte do Save têm mais infra-estruturas que as províncias do Sul do Save (exceptuando a Cidade de Maputo).
Note-se que em 40 anos de independência, a região de Moçambique a Sul do Save não se beneficiou de quase nenhuma estrada, ponte ou barragem de raiz, quando comparada com a região a Norte do Save. Só recentemente é que infra-estruturas de raiz começaram a ser construídas nas províncias de Moçambique a Sul do Save. Portanto, nem se quer é verdade que a região de Moçambique a Sul do Save é mais desenvolvida que a região a Norte do Save. Ou seja, o discurso sobre as "assimetrias regionais" há muito que é uma falácia, se se colar de parte o aspecto sociocultural. Incluindo o aspecto sociocultural, observa-se uma ligeira assimetria no que respeita mormente à escolarização da mulher, com o Norte do Save tendo proporcionalmente mais mulheres menos instruídas do que o Sul do Save. Mas isto é consequências de práticas socioculturais do que propriamente de políticas de desenvolvimento. Na realidade, polos de desenvolvimento existem em todos as regiões de Moçambique—mais na região a Norte do Save do que na região a Sul do Save—, e o país está a desenvolver-se integralmente a partir desses polos.
Enfim, os moçambicanos precisam de estar atentos e vigilantes, para identificar e isolar—para tratamento devido—indivíduos que fomentam o divisionismo baseado na região de origem ou grupo étnico. Infelizmente, temos muitos desses indivíduos aqui no Facebook e noutros espaços de interacção social entre os moçambicanos, incluindo na política e na comunicação social. O objectivo desses indivíduos é dividir os moçambicanos para enfraquecer Moçambique. Em retrospectiva, temos que estar lembrados de que enquanto estivemos divididos na base da região de origem, grupo étnico ou tribo, não conseguimos evitar a dominação que fomos sujeitos por outros povos. Foi a nossa unidade que nos tornou um povo forte e vitorioso. A nossa unidade é, portanto, a nossa maior força para assegurar a nossa viabilidade como um povo soberano. Discursos que estimulam sentimentos secessionistas ou separatistas devem ser denunciados e os seus autores identificados e isolados intelectualmente. Esses discursos são feitos por indivíduos alienados, ao serviço do neocolonialismo. Tais indivíduos são inimigos da unidade dos moçambicanos e da sua pátria; não merecem o nosso respeito, ainda que os possamos tolerar entre nós. Sim, podemos e devemos permitir que eles indivíduos inimigos da nossa unidade convivam connosco, mas devemos nunca permitir que nos manipulem a favor dos seus desígnios. Eles são uns coitados porque despidos do sentido de pátria, mas são úteis por nos permitirem apreciar e valorizar a nossa unidade. Trata-se da outra face de uma moeda, que não pode existir sem as duas faces. Numa palavra, temos que encarar a nossa unidade como o nosso Deus e os seus detractores como o Diabo.
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