sábado, 12 de março de 2016

Comício de Donald Trump acaba em cenas de pancadaria


Manifestantes que acusam o candidato republicano de racismo e xenofobia entraram em escaramuças com os seus apoiantes. Trump cancelou o evento e culpou "a raiva no país".
Apoiantes e opositores de Donald Trump envolveram-se em pequenos confrontos na noite de sexta-feira, momentos depois de o candidato republicano à Casa Branca ter decidido adiar um comício que reunia milhares de pessoas num pavilhão da Universidade de Illinois, em Chicago. Cinco pessoas foram detidas e dois polícias ligeiramente feridos.   
“O senhor Trump acabou de chegar a Chicago e depois de se ter reunido com as forças policiais decidiu que para segurança das dezenas de milhares de pessoas dentro e fora da arena, o comício desta noite será adiado para uma outra data”, anunciou um responsável da campanha.
Mais de uma hora antes do suposto início do comício já se tornara evidente que entre os apoiantes de Trump reunidos no pavilhão universitário encontravam-se centenas de manifestantes que protestavam contra aquilo que dizem ser o tom racista e xenófobo do candidato republicano. O anúncio dividiu a plateia: o lado dos opositores recebeu-o com aplausos e insultos a Trump; os apoiantes com vaias aos outros e apelos ao magnata do imobiliário.
A notícia de que o comício seria adiado provocou empurrões entre os dois grupos que rapidamente se intensificaram, ao ponto de gerarem várias cenas de pancadaria. O departamento da polícia de Illinois, que garante não ter sido consultado sobre a decisão de adiar o comício, impediu casos de maior violência. A maioria dos espectadores e manifestantes abandonou pacificamente o recinto, embora se tivessem registado novos confrontos fora do pavilhão.
Não é a primeira vez que comícios de Donald Trump se transformam em ocasiões de protesto contra a narrativa daquele que é hoje o líder das sondagens e das primárias do Partido Republicano. A sua promessa de erguer um muro na fronteira com o México para impedir a entrada do que diz serem “traficantes de droga e violadores”, ou a proposta de impedir a chegada de muçulmanos aos Estados Unidos, por exemplo, fez com que vários grupos de manifestantes se tivessem começado a organizar em protestos sobretudo fora dos recintos onde discursa Trump.
Apesar de se contarem já vários episódios de violência – mais do que uma pessoa foi agredida por apoiantes de Trump –, as cenas da noite de sexta-feira são inéditas. Grande parte dos manifestantes pertence a minorias étnicas ou religiosas e Chicago é um dos grandes palcos norte-americanos de movimentos cívicos contra a descriminação racial. O New York Times escreve que os protestos de sexta-feira estavam anunciados por grupos universitários há várias semanas, nas redes sociais.     
“Nasci e fui criado em Chicago e senti que era minha responsabilidade dar-lhe a saber que ele não é bem-vindo aqui”, disse à Reuters Jedidiah Brown, um afro-americano que subiu ao palco depois do comício ter sido cancelado. “A mensagem que Trump alastra por todo o país não funciona aqui.”
Trump é cada vez mais confrontado com episódios de violência nos seus eventos e criticado por incentivá-los – numa ocasião, o candidato disse aos seus apoiantes querer “dar um murro na cara” de uma pessoa que interrompeu o seu discurso. “Nem se pode sequer organizar um comício numa grande cidade neste país sem violência ou o potencial de violência”, argumentou Trump numa entrevista ao canal MSNBC, já depois dos confrontos em Chicago. “Não quis ver a violência verdadeira e por isso decidi cancelá-lo", disse. “Há tanta raiva no país. É apenas raiva no país e não acho que esteja direccionada contra mim ou algo do género. Está só direccionada contra o que se está a passar há anos."
Mas os seus opositores na corrida republicana responsabilizaram a sua retórica pela violência em Chicago. “As sementes de divisão que Donald Trump tem semeado durante esta campanha estão finalmente a dar frutos”, disse o governador do Ohio, John Kasich

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