domingo, 7 de fevereiro de 2016

Falta de chuva abranda economia sul-africana

07.02.2016 • 00h00


Seca na região Norte-Oeste matou milhares de cabeças de gado. Governo está sem fundos disponíveis para aliviar a seca.
Por REDE ANGOLA.
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Siphiwe Sibeko/REUTERS
O fenómeno meteorológico El Niño tem provocado a queda das produções agrícolas[ Siphiwe Sibeko/REUTERS ]
Os agricultores sul-africanos estão endividados como nunca na história do país e o governo, liderado por Jacob Zuma (ANC), não tem fundos disponíveis para aliviar a seca. Nos próximos meses, se não houver alterações na quantidade de chuvas e no acesso aos fundos para financiar a agricultura e a pecuária, os rebanhos continuaram a diminuir e a produção interna deixará de ter capacidade para alimentar a África do Sul.
O desastre começou a aproximar-se dos camponeses e grandes produtores sul-africanos, em 2013, com a seca na região Norte-Oeste a dizimar dezenas de milhares de cabeças de gado e milhares de hectares de terras agrícolas. No ano seguinte, foi a região de KwaZulu-Natal a enfrentar os mesmos problemas. O governo respondeu com dinheiro, mitigando os prejuízos.
Os fenómenos meteorológicos locais (a região Austral tem várias novas zonas de estiagem e de insegurança alimentar, provavelmente associados às mudanças climáticas), misturados com um cada vez mais poderoso fenómeno El Niño, provocaram a queda da produção total de trigo: depois da África do Sul ter produzido 14 milhões de toneladas, em 2014, o valor caiu para cerca de 10 milhões de toneladas em 2015. O preço de alimentos básicos subiu um terço, segundo o jornal Mail & Guardian.
Mas este ainda era (aparentemente) um problema localizado, de algumas províncias, e o país tinha fundos para importar alimentos e ajudar os agricultores, subsidiar a alimentação do gado e a comercialização de sementes.
Em Maio de 2015, o governo sul-africano concordou com um aumento salarial de 7 por cento para os funcionários públicos, ao mesmo tempo que o sector produtivo do país continuou a endividar-se como nunca. Para o ano corrente, Zuma já anunciou que terá de recorrer à reserva de contingência nacional para equilibrar o orçamento.
Ainda em 2015, caiu menos chuva na África do Sul do que em qualquer um dos 112 anos de registos climatéricos no país. Em Setembro, a província de Free State declarou o estado de “desastre provincial”. Em Novembro, Limpopo seguiu o exemplo e a província de Mpumalanga fê-lo no mês seguinte.
Senzeni Zokwana, ministro da Agricultura, disse recentemente que está a ver “o gado a morrer”. “As plantas também estão murchas. Não queremos ver as pessoas a morrer”. 80 por cento do gado sul-africano está nas mãos de agricultores comerciais, num total de 12 milhões de cabeças, segundo a última contagem.
Incapazes de pagar os alimentos ou a água extra para compensar a falta de chuva, os agricultores começaram a vender os seus rebanhos. O peso médio do gado caiu de 300 para 200 kg.
A empresa Grain SA (especialista em sementes) diz que os “silos do país têm reservas suficientes até à primavera” (último trimestre do ano). Depois disso, a África do Sul dependerá da importação de sementes.
Wandile Sihlobo, especialista sul-africano em produção de grãos e sementes, citado pelo Mail & Guardian, diz que “a variação de preços será sentida nas lojas daqui a nove meses” e por isso o país tem “que encontrar um caminho através do mercado de milho (onde as rentabilidades estão a aumentar devido a uma subida de preços nos mercados internacionais) e, em seguida, do mercado de cereais e leite”.
O contexto poderia melhorar se as chuvas que têm caído nos últimos dias significassem um aumento consistente de rendimentos e de pastagens (agora secas) para o gado. Caso se verifiquem estes pressupostos, pelo menos a seca seria minimizada, deixando a insegurança alimentar como uma emergência nacional.
O fenómeno El Niño já terá atingido o seu pico. O serviço meteorológico sul-africano prevê que as chuvas apareçam já nos meses de Março, Abril e Maio. A economia sul-africana tem sofrido com problemas internos e externos, devido à baixa do preço das matérias-primas, ao desemprego, e às insinuações de corrupção generalizada e promiscuidade entre economia e política.
O ANC e o presidente Jacob Zuma enfrentam o maior desafio desde a capitulação doapartheid.

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