terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Até quando o ódio e a arrogância?

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Inventar inimigos só para alguém se manter no poder pode ser catastrófico para todo o país.
Cimentar posições através da troca de favores pode parecer útil e um expediente válido, mas, como a história tem ensinado, é como que “construir um castelo de areia junto ao mar”.
Vejamos que quase toda a Comissão Política da Frelimo é composta por pessoas que, em princípio, jamais lá chegariam, porque não reúnem curriculum nem bagagem para tal. Ninguém está examinando ou catalogando, mas é evidente que se procedeu a um jogo étnico-político para escolher tais membros.
Decidiu-se que era necessário equilibrar aquele órgão e, ao mesmo tempo, manter sob controlo o sentido de voto. Alguém engendrou planos de médio e longo prazo para que nada se alterasse.
Agora que a Frelimo se reúne em Comité Central, o país está com a respiração “travada”, esperando que surja uma luz no fundo do túnel.
A soma dos interesses em jogo e o sistema de protecção estabelecido entre os “camaradas” é capaz de pesar mais do que o interesse nacional.
Para além de salários, mordomias, regalias, poder, há alianças ou “acordos de silêncio” que estão em jogo. É de acreditar ou de crer que a disciplina partidária mais uma vez triunfará e que a “montanha vai mais uma vez parir um rato”.
Se houver que fazer uma previsão, uma delas seria que a Frelimo procurará a todo o custo “ganhar tempo” através de resoluções que não afectem o seu castelo. Prolongar tudo até ao próximo ciclo eleitoral deverá ser o caminho escolhido. E mesmo que isso signifique a radicalização e o alastramento das hostilidades hoje localizadas, os “camaradas” tomarão a decisão de “aguentar o barco”.
Se antes contavam com o poder das fintas e golpes de rins, hoje a opção parece ser o rearmamento acelerado e o desdobramento de forças militares e policiais para defender um regime que regressa, a grande velocidade, aos tempos do partido único.
Com o beneplácito do silêncio cúmplice da União Africana, e isso já é habitual, com o reconhecimento rápido e injustificado de parceiros externos e da União Europeia, o regime de Maputo age seguro de quem tem uma retaguarda de apoios fundamentais.
É a política externa suja do Ocidente e do Oriente que tem mantido África e Moçambique manietados e incapazes de desenvolver-se.
Também não interessa aos parceiros externos que Moçambique se fortaleça e se erga como nação.
Quando convém, levantam a bandeira, e quando lhes interessa, apoiam mesmo as ditaduras mais cruéis, como se pode ver com o que acontece com a Arábia Saudita, e já aconteceu com a Líbia. Aquele que apoiou e subscreveu a invasão ao Iraque, Tony Blair, sob alegações comprovadamente falsas, agora possui uma equipa de conselheiros em Maputo. Por que razão? De Portugal de Cavaco Silva, um dos primeiros a felicitar FJN mesmo antes dos resultados homologados pelo Conselho Constitucional, surgem notícias que pintam aquele país como antro de corrupção ao mais alto nível. Do Brasil, temos os actos investigados pela “Lava Jato” contagiando a sua economia de maneira extremamente grave. Da China, temos uma campanha que apanha parceiros os nossos nas malhas da anticorrupção.
Do Vietname, continuam a chegar notícias de apreensões de chifres de rinoceronte e marfim africanos. Da China, recebe-se material de guerra sem que as vozes habituais das chancelarias ocidentais se ouçam. São estes parceiros que alimentam a arrogância e a intolerância do executivo moçambicano e do seu partido de suporte. São estes parceiros que nos empurram, sem que notemos ou não saibamos, para uma guerra que servirá para comprarem ainda mais barato o que o país possui.
Há um alinhamento político entre a maioria dos países da SADC no sentido de não permitir que a democracia sobressaia. MPLA, ANC, ZANU-PF, Frelimo, SWAPO, Chama Chamapinduzi concertam e coordenam acções no espírito de uma camaradagem que perdeu sentido ideológico. Agora é a manutenção do “status” e das riquezas acumuladas ao longo de décadas em posições de poder.
Vender os seus países ao desbarato pode ser feito, e tem sido feito, desde que o poder permaneça nas suas mãos. Em nome da política estomacal e irracional, não se importam de fomentar e provocar guerras. Até porque as guerras têm sido veículos para o enriquecimento rápido dos detentores do poder.
Para compor o quadro, recrutam-se mediatizadores das suas teses, e controla-se a comunicação social através de financiamentos ou cortes.
Quem alinha tem publicidade e enriquece, e quem se mostra reticente é encostado à parede. É o jogo pelo poder, e nele as regras, assim como a história, é a versão do vencedor.
No que se passa no país só podemos dizer que existem forças sinistras interessadas em asfixiar a democracia em proveito próprio. É como que uma sociedade secreta altamente organizada e decidida a não dar oportunidade para que milhões de pessoas alcancem ou realizem os seus projectos e vivam com dignidade.
Nestes dias de vital importância, é necessário que os moçambicanos não se deixem distrair por discursos pomposos e convenientemente elaborados para os enganarem.
Aqui trava-se a batalha contra um grupo tido como “ominpotente e omnisciente”. O povo fez, e faz, a diferença, mas povo é a soma de cada um de nós.
Ninguém se pode excluir dos desafios que colocam a nossa moçambicanidade em causa. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 09.02.2016

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