segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Será o fim dos subterfúgios e dos jogos baixos?

Será o fim de linha para as “teses dos imperativos”?

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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Mesmo que as interpretações do discurso do PR Filipe Nyusi sejam diferentes em cada órgão de informação que o noticia, alguma coisa deve estar fermentando nas hostes frelimistas.
Quando se olha para os “continuadores” dos “libertadores”, sente-se que eles não dominam a situação, ou que não passam de seguidistas mantidos para defenderem o que os mentores e detentores do poder querem e desejam.
É admirável e suspeito que jovens abracem teses que coloquem o país refém de desejos e agendas secretas, que acabam por se revelar simplesmente ocas. Querem controlar o país e os seus recursos por todo e qualquer meio ao seu dispor.
Se antes havia a facilidade de possuírem todo o poder e de terem um partido político que era o próprio Estado e Governo, depois que os ventos da democracia impulsionados pela guerra civil e por pressões externas, as coisas mudaram de jeito e feitio.
Há estudantes que aprendem rápido e outros que demoram mais tempo.
E há os que jamais aprendem.
Numa estratégia que se consubstancia em acomodar e distribuir “guloseimas” para supostos “delfins”, os “libertadores” conseguiram, durante algum tempo, manter o edifício intacto e forte. Mas eram aparências, porque, mesmo entre eles, as clivagens começaram a transparecer.
Quem afirmava com a “boca cheia” que era um imperativo a Frelimo permanecer no poder era um porta-voz que disso só tinha nome. Uma Frelimo corroída pelo tempo e por erros sucessivos foi também sucessivamente derrotada nas batalhas eleitorais. Primeiro ao nível autárquico e depois a nível das províncias mais povoadas do país, a Frelimo perdeu a hegemonia, mesmo contando com um aparelho de Estado infiltrado pelos seus membros a todos os níveis.
A população, cansada de promessas de uma unidade nacional que só servia para alavancar os interesses materiais dos detentores do poder, começou a exigir mudanças reais. E começou a votar pela oposição, pela Renamo, pelo MDM.
Após o desfecho eleitoral de Outubro de 2014, ficou evidente que, se não tem sido a ausência de editais, a vencedora teria sido a Renamo.
E, se tem havido algum nível de coordenação entre os partidos políticos da oposição, teria sido bem mais fácil remover a Frelimo da Ponta Vermelha e de ser maioria parlamentar. Por “estomacalismo e infantilismo político”, a oposição perdeu uma grande oportunidade.
Terá sido uma questão de acomodação de membros nas listas elegíveis que terá endurecido posições e impedido coordenação e concertação real.
A Frelimo, dominando o aparato informativo, judicial e policial e dos serviços de inteligência, aproveitou a “ingenuidade” da oposição.
Chegados a este ponto, encontrou-se uma ala na Renamo que decidiu que já bastava de cedências e de complacência com as repetidas fraudes e malabarismos legalistas baseados e implementados através de forças policiais e judiciais simpáticas.
As escaramuças que se verificam em algumas províncias do país podem ser uma amostra do que está para vir, mas também podem ser uma demonstração clara de que o país mudou irreversivelmente.
Face à desestruturação das FADM e potenciação das PRM/FIR/GOE, criou-se um certo mal-estar nas FADM, pois ao nível de salários e mordomias, elas sentem que são “enteados”. Com uma cadeia de comando sem experiência de guerra e com uma logística comprometida por redes de corrupção, os esforços para desarmar a Renamo compulsivamente têm sido um insucesso que acaba rearmando a Renamo.
Moçambique, por possuir uma economia fragilizada devido a vários factores, mas, dentre eles, a incapacidade de fazer escolhas acertadas, vê a sua economia derrapando para níveis assustadores sem que surjam sinais de correcção.
Moeda nacional escorregando, crise política instalada, um parlamento incapaz de legislar e fiscalizar, um Governo obtuso e sem visão realista da situação combinam-se para aprofundar a crise.
Estamos claramente perante incapacidade de liderar combinada com uma agenda paternalista dos anteriores detentores do poder.
Existem receios de que se o PR tiver carta-branca muitos interesses patrimoniais serão devorados ou diluídos. Habituados a sacar benefícios das posições ocupadas no quadro governamental, os que agora estão fora do jogo batem-se com todas as armas pela sua sobrevivência enquanto potentados e senhores de tudo.
Durante muitos anos, instalou-se na mente dos que sempre governaram Moçambique, que sem eles o país não existia. Isso repercutiu-se e propagou-se de tal forma que gente pouco informada e com baixos escrúpulos aceitou servir de agente de propaganda à mistura com outras funções regularmente atribuídas como as de agente de fraude e de ilicitudes eleitorais.
Não há quem não sinta as mãos de “professores e membros de OJM e OMM” na operação Outubro 2014.
Se o anunciado pelo PR quanto a “ponderação” no desarmamento da Renamo tiver alguma credibilidade, teremos que ver o ponto das questões militares discutido no CCJC esgotado e implementado.
Não vale a pena dizer que a Frelimo não é partido armado, pois todos sabemos que a cadeia de comando das FADM e PRM/FIR/GOE pertence e é composto por membros da Frelimo.
Se houvesse equidistância das forças militares e policiais, o cenário político moçambicano seria outro e a paz não estaria em discussão nos dias hoje.
É preciso desconstruir teses de normalidade não existente.
Os “imperativos de Edson Macuacua” ruíram assim como AEG foi “derrubado” no seu próprio partido.
Toda a engenharia montada em Pemba foi enferrujando e mostrando-se insustentável, pois, para além de sua rejeição interna, não ganhou tracção no país em geral.
Este Moçambique precisa do fim do jogo sujo e dos arranjos para beneficiar grupos de cidadãos com interesses especiais. Não podemos reduzir tudo ao que os “cidadãos especiais” entendem e desejam.
Seremos outro país se entendimento do “básico” suplantar o egoísmo doentio tornado epidemia.
Basta de fingirmos que está tudo bem e que o nosso país está andando, porque a realidade é bem diversa.
Desconstruir mitos e heroísmos jamais existentes, construir pontes entre uma irmandade real e fundada no senso de que somos cidadãos iguais para além da verborreia da “unidade nacional”. Jamais se tratou de pôr em causa a Unidade Nacional ou paz, mas, sim, de ultrapassar o servilismo montado para beneficiar pretensos cidadãos especiais.
Recuperar o senso de que o país e o seu povo são mais importantes do que proclamações políticas e concertação política visando a manutenção do poder.
Nem juntando antigos movimentos de libertação tornados Governos resolve os nossos problemas, se não houver capacidade de pôr em prática justiça política e económica.
O único imperativo válido é proteger os direitos políticos e económicos dos cidadãos moçambicanos.
Travar as correntes maléficas que só conduzem a desgraças e a violência é trabalho que deve ser assumido por um número cada vez maior de compatriotas.
Abnegação, trabalho, competência, persistência, inteligência, diligência, abertura e seriedade são chamados à mesa nacional.
Não há sabichões únicos e indispensáveis que ofereçam lições de sapiência omnisciente. Somos humanos e moçambicanos, e entender isso é o ponto de partida para a solução da crise político-eleitoral.
Torna-se evidente que as FADM e a PRM devem ser reconstituídas numa base apartidária, e esse facto merece um debate profundo, apoiado por consultorias e endividamento estratégico visando dissipar desentendimentos e vícios que processos como aquele do AGP conheceram.
Superar os “complexos de libertadores” faz parte do que se tem de fazer com urgência.
Cortar iniciativa aos charlatães e mercenários nos partidos políticos vai travar ondas mediáticas de ataques contra os esforços de estabilização do país.
Olhar para Moçambique para além de “interesses intestinais” é um ponto de partida para quem se pretenda líder político.
Sem seriedade e consequência não se estabelece confiança. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 23.11.2015

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