quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Rússia e Turquia põem água na fervura e afastam-se da guerra



Presidente russo, Vladimir Putin

Putin revela o que a Rússia espera da Turquia após incidente com Su-24

© Sputnik/ Sergey Guneev
MUNDO
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Pedido de desculpas do governo turco, compensação de danos e punição dos culpados – é exatamente isso que a Rússia espera da Turquia após esta ter derrubado um avião militar russo na Síria, declarou nesta quinta-feira (26) o presidente russo Vladimir Putin.

Na terça-feira (24) um caça russo Su-24 foi derrubado por um míssil ar-ar turco em espaço aéreo sírio. O Ministério da Defesa russo garante ter provas objetivas de que em nenhum momento da missão a aeronave chegou a cruzar o espaço aéreo da Turquia.
A Rússia classificou o incidente como um "golpe pelas costas" e disse que o mesmo terá consequências sérias para as relações entre Moscou e Ancara.
Contrariando o bom senso e a lei
Putin disse ter a certeza de que as ações da Força Aérea turca violaram o direito internacional, mas Ancara resiste em reconhecer os seus erros.
"Aquilo o que aconteceu há dois dias nos céus da Síria contraria o bom senso e o direito internacional. O avião foi abatido sobre o território sírio. Apesar disso, até agora nós não ouvimos pedidos claros de desculpas por parte da cúpula política da Turquia, tampouco tivemos propostas de compensação dos danos causados ou promessas para punir os autores do crime cometido" – disse o presidente russo durante uma cerimônia no Kremlin.
Putin acrescentou que não pode deixar de tratar a presente situação como uma traição, principalmente quando levado em conta o fato de que Moscou considerava Ancara como seu parceiro e aliado.
"Não posso deixar de dizer que nós consideramos como inexplicáveis os golpes traiçoeiros aplicados pelas costas por aqueles em quem nós enxergávamos parceiros e aliados na luta antiterrorista" – disse  o líder russo.
Relações se dirigem para um impasse
Putin lamentou ainda o fato de o incidente com Su-24 conduzir as relações russo-turcas a um impasse.
"Forma-se a impressão de que o governo turco conduz conscientemente as relações russo-turcas para um impasse, e nós lamentamos isso" – disse o presidente russo.
Junto a isso, Putin destacou que quaisquer tentativas de justificar ou favorecer o terrorismo devem ser tratadas como cumplicidade e lembrou que existe gente ganhando bilhões de dólares com a cooperação com o grupo terrorista "Estado Islâmico".
"Os terroristas, o seu comércio ilegal de petróleo, pessoas, drogas, obras de arte, armas, não foram ou estão sendo apenas encobertos, mas alguém também continua ganhando dinheiro com isso, e ganhando centenas de milhões de dólares" – disse Putin.
O principal ainda não foi dito
Especialistas acreditam que, antes de tudo, para sair desse impasse, algumas das coisas pautadas por Putin precisariam ser atendidas. Eles destacam, no entanto, que as palavras do presidente não devem ser tratadas em tom de exigências.
"Quanto aos pedidos de desculpas, estes realmente não foram feitos, tal qual não foram anunciadas as propostas de compensar os prejuízos pela aeronave abatida e o piloto morto. Não acredito que isso possa ser tratado como uma formulação de exigências, apesar de o presidente ter dito antes que uma resposta simétrica seria dada" – revelou à Sputnik Vladimir Sotnikov, pesquisador chefe do Centro de Segurança Internacional do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia de Ciências da Rússia.
Na sua opinião, exigências mais concretas ainda serão anunciadas pelo Kremlin. "O principal ainda não foi articulado por Putin" – garante o especialista. Sotnikov acredita que as expectativas de Moscou deverão ser formuladas de modo com que "a Turquia deixe de fazer campanha para se fazer correta e pintar a Rússia de culpada".


Rússia classifica abate de um caça pela Turquia como uma "provocação planeada", mas assegura que as relações com o povo turco "não se alteraram". Ancara diz que "não tem intenção de provocar uma escalada".




A Rússia e a Turquia deram esta quarta-feira passos importantes para o alívio da tensão provocada pelo abate de um caça russo na linha de fronteira com a Síria, na terça-feira. Depois de o Presidente turco ter garantido que o país não vai fazer nada para agravar a situação, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo afastou qualquer hipótese de um conflito armado com a Turquia.
"Não vamos entrar em guerra com a Turquia. As nossas relações com o povo turco não se alteraram", disse o ministro Serguei Lavrov durante uma conferência de imprensa, sublinhando que os seus problemas são "com a liderança" da Turquia. Apesar de afastar totalmente uma resposta bélica, Lavrov considera que o abate de um caça Su-24 pela Força Aérea da Turquia foi "uma provocação planeada".
"Temos sérias dúvidas de que se tratou de uma acção espontânea. Há muitas indicações de que foi uma provocação planeada", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
Horas antes, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, garantira que o seu país "não tem absolutamente nenhuma intenção de provocar uma escalada após este incidente".
Apesar de ter desmarcado uma viagem à Turquia que estava agendada para esta quarta-feira, o ministro Serguei Lavrov falou ao telefone com o seu homólogo turco, Mevlut Cavusolgu. Algumas agências de notícias chegaram a avançar que os dois responsáveis tinham marcado uma reunião, mas o Governo russo desmentiu essa informação. "Durante uma conversa telefónica entre Lavrov e o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, o ministro russo não aceitou nenhuma das várias propostas", disse a porta-voz Maria Zakharova, citada pela agência russa Interfax.
De acordo com Serguei Lavrov, o seu homólogo turco "tentou justificar as decisões da Força Aérea da Turquia, dizendo que o avião russo sobrevoou o espaço aéreo turco durante um total de 17 segundos" – esta foi também a informação que o Governo da Turquia enviou aos seus parceiros da NATO e às Nações Unidas na terça-feira.
A Rússia continua a afirmar que o caça Su-24 nunca saiu do espaço aéreo sírio, onde participava na campanha de bombardeamentos contra as forças do autoproclamado Estado Islâmico e contra os vários grupos rebeldes que querem derrubar o regime de Bashar al-Assad. Mas, mesmo que tivesse entrado no espaço aéreo turco, a informação de que isso só terá acontecido durante 17 segundos leva Moscovo a dizer que o ataque é "totalmente inaceitável".
Um piloto resgatado e outro "morto de forma selvagem"

Um dos pilotos do caça russo que foi abatido pela Força Aérea turca foi resgatado com vida por soldados do Exército sírio e levado para a base da Rússia no país.
Havia dúvidas quanto ao destino dos dois pilotos do caça Su-24 russo – ambos conseguiram ejectar-se, mas elementos de um grupo rebelde que combate contra as forças do Presidente sírio, Bashar al-Assad, disseram que tinham disparado contra eles durante a descida de pára-quedas. Consoante as versões, um tinha morrido e outro tinha sido capturado com vida, ou teriam sido ambos mortos.
Na manhã desta quarta-feira, o embaixador da Rússia em Paris, Aleksandr Orlov, contou à rádio Europe 1 uma versão diferente: "Um ficou ferido ao ejectar-se e foi morto de forma selvagem por jihadistas que estavam na área. O outro conseguiu escapar e, segundo as informações mais recentes, foi resgatado pelo Exército sírio e estará a ser levado para a base aérea russa."

Segundo as agências de notícias russas, o piloto que foi resgatado diz que não recebeu qualquer aviso por parte das autoridades da Turquia e garante que o seu avião não entrou no espaço aéreo turco.
O outro piloto russo foi morto por elementos da milícia turcomana Alwiya al-Ashar, que é apoiada pela Turquia e pelos EUA no combate contra as forças do Presidente sírio, ao lado de inúmeros grupos rebeldes – desde os que Washington descreve como "moderados" até aos jihadistas da Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda na Síria. Todos eles são adversários da Rússia, que está na Síria para ajudar o Presidente Bashar al-Assad.
O caça Su-24 russo foi abatido na manhã de terça-feira, quando voava ao longo da fronteira entre a Síria e a Turquia. Ancara diz que o avião entrou no espaço aéreo turco, onde esteve durante 17 segundos, e que os pilotos russos foram avisados dez vezes durante cinco minutos, à medida que o caça se aproximava do espaço aéreo turco; Moscovo garante que o seu avião não chegou a sair do espaço aéreo sírio, e Vladimir Putin acusou o Governo turco de ser "cúmplice dos terroristas". O caça russo caiu em território sírio, no Norte da província de Latakia.
Um outro militar russo morreu durante as tentativas de resgate dos pilotos do Su-24. Um dos helicópteros Mi-8 enviados pela Rússia para procurar os pilotos foi atingido "em território controlado por gangs armados" e teve de fazer uma aterragem de emergência "em território neutro". Um dos soldados morreu e os restantes foram resgatados, avançou o Estado-maior general das Forças Armadas da Rússia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou esta quarta-feira que vai condecorar o piloto morto na terça-feira, o tenente-coronel Oleg Peshkov, com o título de Herói da Federação Russa. O piloto do caça Su-24 que sobreviveu, o capitão Konstantin Murahtin, e o soldado que morreu na queda do helicóptero Mi-8, Alexksandr Pozinich, vão ser distinguidos com a Ordem da Coragem.
Na terça-feira, o Presidente dos EUA, Barack Obama, fez chegar a mensagem de que a Turquia tem o direito de defender a sua integridade territorial, mas sublinhou que o melhor a fazer para reduzir a tensão é que turcos e russos falem entre si para esclarecerem o que se passou e para que sejam "tomadas medidas para evitar uma escalada".
Também o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu "medidas urgentes para minorar a tensão", incluindo uma investigação que "permita clarificar o que se passou neste incidente e evitar que se volte a repetir".
No final de uma reunião extraordinária da NATO, pedida pela Turquia, o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, apelou "à calma" para travar o intensificar da crispação entre os dois países, para depois reafirmar que a Aliança Atlântica "está solidária com a Turquia".
Esta quarta-feira, o embaixador da Rússia em Paris chegou a dizer que o seu país admite receber a Turquia numa eventual coligação abrangente contra as forças do autoproclamado Estado Islâmico – uma declaração que terá pouco peso político, já que o Presidente Barack Obama rejeitou qualquer coligação, enquanto a Rússia não deixar de bombardear grupos rebeldes apoiados pelos EUA e pela União Europeia.
"Estamos preparados para planear ataques em conjunto contra as posições do Estado Islâmico e para constituir um estado-maior comum juntamente com a França, os EUA, com todos os países que estejam dispostos a integrar esta coligação", disse Aleksandr Orlov. "Se os turcos também quiserem, serão bem-vindos."
Por outro lado, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou esta quarta-feira que vai instalar sistemas de defesa antiaérea S-400 na base militar em Hmeimim, na Síria.
Depois de os EUA terem começado a bombardear as posições do autoproclamado Estado Islâmico na Síria e no Iraque, ainda em 2014, a Rússia lançou a sua própria campanha de ataques aéreos na Síria em Setembro deste ano.
O principal objectivo dos EUA e dos seus aliados é derrotar o Estado Islâmico e, ao mesmo tempo, fortalecer os grupos rebeldes que são descritos por Washington como "moderados" e que tentam derrubar o Presidente sírio, Bashar al-Assad; a Rússia tem também como objectivo derrotar o Estado Islâmico, mas, ao mesmo tempo, quer fortalecer o regime de Assad na luta contra todos os rebeldes – "moderados" (que têm o apoio dos EUA) ou jihadistas como a Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda na Síria, que também luta contra as forças de Assad (e que é considerada pelos EUA uma organização terrorista).

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