segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Costa desvaloriza o “incidente burocrático” que o impediu de discursar em Paris


Ministro do Ambiente, presente na Conferência do Clima, assegura: “É um facto que o senhor primeiro-ministro, António Costa, não estava inscrito para falar, isso é factual”.
António Costa na cimeira do clima LOIC VENANCE/AFP
O primeiro-ministro, António Costa, esteve nesta segunda-feira na cidade francesa Le Bourget, nos arredores de Paris, onde decorre até 11 de Dezembro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP21), mas não discursou na sessão de abertura, porque não estava inscrito para falar, ao contrário do que aconteceu com outros chefes de Estado e de Governo.
A notícia foi conhecida logo de manhã cedo e deu origem a várias versões. O gabinete do primeiro-ministro fazia saber que a responsabilidade de António Costa não discursar era do anterior Governo que não inscreveu Portugal na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima. “Já era tarde para nos inscrevermos quando António Costa e o Governo tomaram posse. Esta conferência tem regras muito estreitas e Portugal não está, de facto, inscrito, porque não o fez em devido tempo. Ainda tentámos inscrever-nos, não conseguimos”, declarou ao Expresso fonte do gabinete de Costa.
Portugal não constava da lista oficial de participantes, distribuída à comunicação social pela ONU. Curiosamente, o país aparece na lista oficial divulgada pela Presidência da República francesa no domingo, véspera da Conferência e nela está escrito que o nome do chefe da delegação portuguesa para a COP21 é o do anterior primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
Uma outra versão assegura que Portugal estava inscrito e que António Costa é que não queria falar. Citando fonte do anterior Governo, a TSF garantia que a inscrição de Portugal foi feita e que a condicionalidade de o país ter eleições e de o primeiro-ministro ser outro na altura da Conferência foi relatado à ONU, que terá mostrado compreensão. Ainda de acordo com a mesma fonte, terá sido o novo primeiro-ministro que recusou discursar, já que falaria num dos últimos lugares da lista.
O novo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, presente na Conferência - o seu primeiro acto público como ministro -  veio esclarecer que António Costa não estava inscrito para falar no arranque dos trabalhos da Conferência. “É um facto que o senhor primeiro-ministro, António Costa, não estava inscrito para falar, isso é factual”, afirmou o ministro à Lusa, acrescentando que “o que é importante sublinhar é que o primeiro-ministro, não estando inscrito, está cá para mostrar de forma clara aos portugueses o quanto Portugal está empenhado em conseguir este acordo e também para mostrar a todos os seus colegas do planeta e, sobretudo da União Europeia, que Portugal está, de facto, muito empenhado”.
A meio da tarde, era a vez do ex-ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, apresentar a sua versão e garantir que a possibilidade de o novo primeiro-ministro discursar fora assegurada pelo anterior Governo.
“Conseguimos assegurar [junto das Nações Unidas] o essencial. O novo primeiro-ministro, caso fosse essa a sua intenção, poderia inscrever-se para discursar” na sessão de abertura. “ [Na transição de pasta], o novo ministro do Ambiente foi por mim informado, na manhã de quinta-feira, isto é, mesmo antes da posse que toda a preparação da CPC21 estava realizada”, escreveu Moreira da Silva num esclarecimento enviado à agência Lusa.
No meio deste pingue-pongue, o primeiro-ministro optou por desvalorizar o “incidente burocrático” que não lhe permitiu discursar na sessão de abertura da reunião da ONU.  Ao final da tarde, em Paris, no Hôtel de Ville, onde foi recebido pela presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, Costa disse tratar-se de um “incidente burocrático que às vezes acontece nas transições de governos": "Não valorizo nada, aquilo que valorizo é aquilo que é a posição central de Portugal, que quer estar na vanguarda da alteração do paradigma energético”. “Portugal é hoje um país que tem uma intensidade de energia renováveis muito superior àquilo que é a média europeia, cumprimos excelentemente as metas a que nos tínhamos obrigado em Quioto e vamos não só prosseguir como acelerar esse processo e a nova organização do Ministério do Ambiente assumindo aqui responsabilidades na mobilidade urbana e na reabilitação urbana é a melhor tradução daquilo que iremos fazer vai permitir que Portugal continue na vanguarda deste processo”, decretou o novo primeiro-ministro.

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