quinta-feira, 11 de junho de 2015

O 'CASO ANGOCHE'. O QUE ACONTECEU À TRIPULAÇÃO? QUEM FORAM OS AUTORES? PORQUÊ?


EM ABRIL PASSARAM-SE 41 ANOS SOBRE O 'CASO ANGOCHE'.O QUE ACONTECEU À TRIPULAÇÃO? QUEM FORAM OS AUTORES? PORQUÊ?
AS VERSÕES SÃO VÁRIAS. MAS AS PONTAS SOLTAS QUE PODIAM CONDUZIR À VERDADE FORAM TODAS 'APARADAS'.
TALVEZ UM DOS AUTORES NA RETAGUARDA E INDICADO COMO SUSPEITO (VÍTOR CRESPO) ASSUMIRIA IMPORTANTES CARGOS.
O IMPÉRIO E OS SEUS DESTROÇOS CONTINUAM COM AS MÃOS MANCHADAS DE SANGUE. 'WIRYAMUS', ANGOCHE, CAMARATE...
MESMO A ESTA DISTÂNCIA, APÓS O 25-ABRIL, NEM FRELIMO, NEM PCP, NEM MILITARES PORTUGUESES, NINGUÉM SE CHEGA À FRENTE. OS HERÓIS DA NOVA REPÚBLICA NÃO PODEM SER ASSASSINOS, NÃO SE PODE DIZER QUE O NOVO MONARCA VAI NU.


O CENÁRIO: PORTUGAL, ESTE PAÍS DE MITOS E MISTÉRIOS.
A História de Portugal regista no seu seio um número considerável de mistérios ou de questões que até hoje não foram completamente esclarecidos. Revejo uma breve lista para que me chamaram a atenção – A questão sobre o “milagre” de Ourique; – O que se passou nas primeiras cortes de Lamego; – As navegações para Ocidente a partir dos Açores; – O que aconteceu ao espólio do Infante D. Henrique; – O significado do Políptico de S. Vicente de Fora; – O que se passou em termos de navegações entre a viagem de Bartolomeu Dias e a preparação da Armada de Vasco da Gama; – O afastamento de Pedro Álvares Cabral de qualquer vida pública após a viagem em que descobriu oficialmente o Brasil; – A reforma das Ordens Militares ao tempo de D. João III; – O desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer Quibir; – O Processo dos Távoras; – A expulsão dos Jesuítas; – O porquê da construção do convento de Mafra; – A morte de D. João VI; – O assassinato do Rei D. Carlos I; – O desaparecimento das jóias da coroa portuguesa; – E, mais recentemente, a morte do General Humberto Delgado e o caso Angoche. E o sempiterno, agora, Caso Camarate. Mas, vamos ao Angoche:

Em 26 de Abril de 1971, a "Hermenegildo Capelo" durante a sua comissão em Moçambique procedeu ao reboque do Navio-Mercante da Companhia Nacional de Navegação “Angoche” até a entrega deste à guarda do Comando Naval de Moçambique, encontrando-o à deriva a 50 milhas a Leste da costa de Moçambique entre Quelimane e Beira, estando parcialmente destruído por um incêndio na popa e sem vestígios dos 23 membros da tripulação, um passageiro ou da carga de cerca de 100 bombas de 50 kgs e cargas inertes para bombas de Naplam que transportava para a FAP.

CRONOLOGIA
10-Abril-1971*escala o porto de António Enes.
22-Abril-1971*Um pedido da Base Militar de Nacala obriga o navio a fazer escala em Nacala. Nessa altura a sua carga era composta de:Farinha, açúcar, gasóleo, material de guerra [100 bombas de 50 kgs e cargas inertes para bombas de Napalm que transportava para a FAP, entre outro], caixas de material aeronáutico, e de engenharia. 23-Abril-1971*parte de Nacala rumo a Porto Amélia.
26-Abril-1971*às 7.30 horas é encontrado a arder ao largo de Mongicul, pelo petroleiro panamiano Esso Port Dickson. Durante todo esse dia a tripulação do petroleiro combateu o incêndio, que se calculou ter origem numa explosão, cerca de 12 horas antes. O comandante do petroleiro manteve absoluto sigilo acerca do achado (tendo rejeitado ajuda de outros navios) e o Angoche foi abordado pela tripulação, não tendo encontrado vestígios da tripulação. Com base em relógios de pulso achados no navio, calculou-se a hora da explosão entre as 10.45 e as 11.20 horas. Nesse mesmo dia foi dada ao Com. Naval de Moçambique, a notícia de que o navio não tinha chegado a P. Amélia.
27-Abril-1971*ás 17.00 chega a informação de que tinha sido encontrado pelo Esso Port Dickson, não tendo sido facultada a sua posição. Nos seis(6) dias efectuaram buscas a Com. H. Capêlo – uma fragata da classe João Belo, a corveta J.Coutinho e aviões militares e civis.
3-Maio-1971* a Hermenegildo Capelo avista o petroleiro que tentava passar o cabo de reboque ao salvadego alemão Baltic.
6-Maio-1971* chegam ao porto de Lourenço Marques(Maputo) escoltados pela fragata, iniciando-se as investigações por parte da PIDE/DGS, que duraram meses sem se chegar a qualquer conclusão. Marcelo Caetano em comunicado tentou explicar que alguns tripulantes tinham morrido na explosão, e os restantes ao se atirarem ao mar, haviam sido comidos por tubarões. Nunca foram encontrados quaisquer corpos. (Artigo de A.A. Morais, publicado na Revista de Marinha em Janeiro de 1996).

O EMBARQUE:
O navio não era de passageiros mas levava um passageiro a bordo, a quem se deu uma boleia, o que era estranho. Houve uma outra coisa curiosa: a mudança, à última hora, do radiotelegrafista. O radiotelegrafista que era para ir resolveu não ir. Pode ter sido uma mera coincidência, mas é curioso que assim tenha sido. O comandante e parte da tripulação eram da Ericeira.

APÓS O INCIDENTE:
Avistado a arder por um petroleiro. A tripulação deste apaga o fogo.
HÁ MANCHAS DE SANGUE NO NAVIO. HOUVE INCÊNDIO MAS NÃO EXPLOSÃO.
NÃO HÁ NINGUÉM A BORDO. HÁ UM CÃO.
O navio é levado depois pelo rebocador Baltic e entregue às autoridades portuguesas, e fundeia na baía Espírito santo, defronte a Lourenço Marques.A primeira pessoa que fez a investigação a bordo do Angoche foi o inspector Casimiro Monteiro (PIDE). Verificou que as armas não estavam lá.

ONDE PÁRA A TRIPULAÇÃO?
1 – Levados pela tripulação da embarcação autora da abordagem/ataque.Fala-se em Nachingweia, o campo da Frelimo na Tanzânia, e da sua morte aí. Referem-se recortes de um jornal chinês em que aparecem fotografados, em detenção.
2 – Devorados pelos tubarões/afogados ao saltarem desordenadamente para as águas ou baleeiras devido a um incêndio, ou isso e serem depois eventualmente atingidos a tiro pela mesma embarcação/submarino (soviético?) que abordou o Angoche, no caso de um ataque por mar. Este cenário cabe ainda noutra versão que refere ter sido o Angoche bombardeado também a napalm por Fiats G91 da própria força aérea portuguesa tripulados por contestatários, cenário que a PIDE se esforçou por camuflar por ser o mais tremendo de todos.
3 – Uma última notícia relacionada com o navio “Angoche” é de Fernando Taborda, o último administrador português de Quionga: “Saiba o povo português que, em Março de 1974, foi descoberta, na foz do Rovuma, uma baleeira do navio “Angoche”, com insígnias começadas por NA confirmada pelo cabo de mar de Palma e que, sobre ela, nunca me foi dada resposta à circular que mandei para a Capitania de Porto Amélia.” In Quionga, meu amor

PORQUÊ?
Versão A) Contrariar a génese de um movimento de guerrilha contra a Tanzânia encabeçado pelo tanzaniano-moçambicano Óscar Kambona. Algum do armamento do Angoche seria para esse grupo – a PIDE já trabalhava esse grupo o que é confirmado até por Óscar Cardoso (PIDE/Flechas) em entrevista: ‘havia informadores na Tanzânia em ligação a Oscar Kambona, o chefe da oposição a Julius Nyerere. Mas o controlo era feito através de Lisboa, pela secção central na António Maria Cardoso, chefiada por Álvaro Pereira de Carvalho’.
B) Révanche a uma acção de forças sul-africanas ocorrida contra um barco tanzaniano em Dar-es-Salaam mas em que Portugal ficara como suspeito – afirma o operacional Orlando Cristina (Renamo/Jorge Jardim/exército português).
C) As hipoteses mais simples (ou menos conspirativas) apontariam para um acto de loucura de algum tripulante, que tivesse morto os seus companheiros e depois se atirasse ao mar, ou coisas desse género(clandestinos a bordo…)
D) Incêndio a bordo. A tripulação abandona o navio precipitadamente. O incêndio consome o navio. O(s) salva vidas com a tripulação afunda-se. E) A mais plausível: Afirmação de força da ARA – Acção Revolucionária Armada (dissidentes extremistas do PCP e a que estava ligado Vítor Crespo), que demonstra poder sabotar os meios da guerra colonial. Ligam os vestígios explosivos/incendiários ao mesmo material utilizado na sabotagem dos hélis em Tancos e na de um navio na doca de Alcântara. “Quem fez explodir os helicópteros de Tancos, fez explodir o Angoche. É que as duas explosões foram provocadas pelo mesmo tipo de explosivo, do mesmo lote. Nós tínhamos um laboratório de polícia no 3º andar da António Maria Cardoso e que era dirigido pelo dr. Carlos Veloso, que ainda é vivo. Foram aí feitas análises para apurar responsabilidades, tendo-se concluído precisamente que as duas acções foram realizadas com o mesmo lote de explosivo. É evidente que o processo do Angoche desapareceu sem deixar rasto. O processo demonstrava que o crime foi perpetrado pela ARA, com a conivência de oficiais superiores da Marinha, entre eles o Vítor Crespo, que nos meios castrenses e não só era também conhecido por Vítor Copos. É que o PCP teve sempre, e ainda tem, os seus informadores na Forças Armadas. Ora, foi precisamente através desses informadores que o PCP soube que o Angoche transportava material de guerra para o norte de Moçambique”. (…) – Óscar Cardoso / PIDE.


PONTAS SOLTAS APARADAS
A) Quatro anos depois, com o golpe militar de 25 de Abril em Lisboa, desapareceu o relatório secreto da PIDE sobre o assunto.- Tínhamos um relatório secreto sobre o Angoche que desapareceu da sede da DGS, na Rua António Maria Cardoso, depois do 25 de Abril, retirado por gente do PCP. Foi um dos processos que desapareceram. O caso estava a ser investigado…. – Óscar Cardoso/PIDEo prédio 'mira-mortos' onde a jovem foi 'suicidada'
B) Houve também o estranho caso de uma rapariga que foi “suicidada” na cidade da Beira, atirada do prédio ‘mira-mortos’ defronte ao cemitério, e que estava ligada aos meios esquerdistas da Marinha portuguesa. Esta versão dos factos constou dos nossos (PIDE) relatórios na altura. Gouvêa Lemos, jornalista na Beira, queria investigar o ‘suicídio’e exumação do corpo. Morre entretanto de doença cardíaca no Brasil em 1972. A moça portuguesa artista e não só num cabaret da cidade, teria sido confidente desse oficial da marinha portuguesa (VC) embriagado, e estaria agora a usar informação do envolvimento desse no caso Angoche para extorquir dinheiro. Terá sido estrangulada com um fio e largada da janela de um dos andares altos do miramortos, prédio da Beira onde vivia e recebia ‘clientes’.
C) (…) Passaram-se uns tempos e um ajudante de despachante que tinha assistido à largada derradeira do Angoche, foi morto misteriosamente em sua casa. O assassino, cortou a rede da janela e matou-o com uma faca. Foi tudo tão silencioso, que a mulher que dormia ao lado, nem deu por isso. Houve quem relacionasse as duas coisas. Que ele teria hipoteticamente visto qualquer coisa e o tinham morto para o silenciar. Talvez fosse verdade, ou não. Na altura, com o terrorismo a dois passos, corriam muitas notícias a meia voz, algumas verídicas, outras não. – declaração de uma testemunha do último embarque e carga em Nacala.
D) 18 de Junho de 1975 – Despacho da Presidência do Conselho de Ministros que cria uma comissão de investigação ao caso do navio “Angoche” constituída pelo primeiro-tenente Luís Paiva de Andrade (em nome da Armada), comandante Manuel Forbes Beça (representante da Marinha Mercante), Francisco Grainha do Vale (representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros) e Jorge Gomes Rodrigues (representante de familiares dos tripulantes)… Mais um inquérito para o arquivo morto e legitimar o esquecimento.Ainda hoje permanece o mistério sobre o que teria contecido aos tripulantes e a um provável passageiro, que viajavam a bordo do navio “Angoche”.

O QUE DIZ A PIDE-DGS: O caso do navio «Angoche» segundo a PIDE/DGS (1)
Foi há 35 anos que o cargueiro Angoche andou à deriva na costa moçambicana depois de ter sido alvo de um ataque, e toda a sua tripulação desaparecido sem deixar rasto. As suspeitas das autoridades porrtuguesa recaíram sobre a Acção Revolucionária Armada (ARA), braço armado do Partido Comunista Português. Prevaleceu deste então a ideia de que a Frelimo se envolvera no caso e que os tripulantes teriam sido levados para a base militar de Nachingwea, na Tanzânia.
Quatro anos depois do sucedido, ocorreu em Portugal o golpe de Estado que pôs termo ao regime monopartidário do então primeiro-ministro, professor Dr. Marcelo Caetano. A instauração de um regime democrático em Portugal permitiu a consulta dos arquivos da antiga polícia política do regime, a DGS (equivalente à moçambicana SNASP do regime monopartidário). Os documentos da DGS, embora contenham pormenores esclarecedores do caso Angoche, estão longe de fornecer provas concludentes do que terá na realidade sucedido no distante ano de 1971. De salientar que de acordo com relatos dispersos da imprensa portuguesa, parte dos arquivos foi fraudulentamente retirada da sede da DGS, em Lisboa, por elementos afectos ao Partido Comunista Português, e posteriormente entregues à União Soviética.

A seguir se reconstituem os acontecimentos em torno do caso Angoche com base em documentos da DGS ainda guardados na Torre do Tombo, em Lisboa.
Com 23 tripulantes a bordo, incluindo 13 moçambicanos, o navio costeiro Angoche, pertença da Companhia Nacional de Navegação, largou do porto de Nacala no dia 23 de Abril de 1971 pelas 17h30 com destino a Pemba. Para além de carga diversa, o Angoche levava nos porões material de guerra a ser utilizado pelas Forças Armadas Portuguesas na guerra contra a Frelimo. Estava prevista a chegada do navio ao porto de Pemba pelas 05h00 do dia seguinte, mas tal não se concretizaria. No dia 24, o petroleiro «Esso Port Dickinson», com pavilhão americano, encontrou o navio à deriva e com fogo a bordo, entre Quelimane e a Beira, a 30 milhas da costa.
Numa mensagem-rádio, com a classificação de “urgentíssimo”, expedida a 6 de Maio de 1971, o Gabinete do Director da DGS em Lourenço Marques, informava a sede em Lisboa que depois do “primeiro exame ao navio verificaram-se vestígios de duas explosões provocadas por cargas colocadas, uma junto à chaminé do lado estibordo, por cima da ponte de comando, carga esta que ao explodir destruiu a ponte de comando e todo sistema de comunicação. A segunda carga foi colocada dentro do ventilador das máquinas. A primeira carga estava reforçada com granadas de fosfato.” A mensagem prosseguia:
“As instalações da tripulação branca, situada ré, completamente pulverizadas. Se tripulação se encontrava suas instalações momento explosão, não há qualquer possibilidade de se encontrar viva.”
Referindo-se aos tripulantes moçambicanos que seguiam a bordo do Angoche, a mensagem-rádio da DGS, que temos vindo a citar, dizia:
“Na proa onde situam instalações tripulação cor verifica-se que referida tripulação as abandonou precipitadamente visto encontrar-se espalhado longo mesmas vestes, tabaco, sapatos, etc e três coletes salvação, faltando restantes em número que se julga entre 10 e 16.”
Tanzânia Apontada como Local de Acolhimento
da Tripulação do Angoche
Numa outra mensagem-rádio com a classificação de “urgente”, expedida da DGS em Lourenço Marques para a sede na Rua Augusto Cardoso em Lisboa, a 11 de Maio de 1971, dava-se conta das medidas tomadas para se apurar a autoria do ataque ao navio Angoche, nomeadamente o pedido de colaboração dos serviços secretos da África do Sul (Bureau of State Security, BOSS) e da Rodésia (Central Intelligence Organization, CIO). A mesma mensagem citava o comandante do navio alemão, «Castor», que atracara no porto de Lourenço Marques no dia anterior (10 de Maio), como tendo “recebido notícia de rádio alemã, em género de aviso para toda a sua navegação, confirmando encontrarem-se em Dar-es-Salaam, 11 tripulantes vivos e dois mortos.”
Três dias mais tarde (14 de Maio), a DGS em Lourenço Marques informava a sede ter accionado “todos nossos meios Dar-es-Salaam e até agora não há confirmação presença tripulação naquela cidade.” Para além de revelar a presença de agentes seus em Dar-es-Salaam, a mesma mensagem da DGS indicava a existência de um outro elo de ligação seu em território tanzaniano: “Elemento nosso destacado Mtwara contactou funcionário capitania e outros naquela cidade. Todos os contactados ignoram totalmente qualquer facto.”
Outras fontes, citadas pela DGS em mensagens anteriores expedidas de Lourenço Marques, faziam referência ao paradeiro da tripulação. Assim, a 4 de Maio, 11 dias após o assalto ao navio Angoche, a DGS dizia que “várias fontes referem Rádio Brazzaville ter noticiado chegada tripulação Angoche Dar-es-Salaam.”
A 6 de Maio, os serviços de língua inglesa da Rádio Moscovo eram citados como tendo dito que “tripulação se encontra Zâmbia como reféns consequência sentença tribunal imposta capitão cubano.” O capitão cubano aqui referenciado era Pedro Rodriguez Peralta, membro das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, capturado pelo exército português na Guiné em Novembro de 1969 quando combatia ao lado dos guerrilheiros do PAIGC.
A Rádio Pequim em língua inglesa era citada na mesma mensagem como tendo anunciado que a tripulação do Angoche havia sido “raptada”.
Face às persistentes referências de um possível envolvimento da Tanzânia, e da própria Frelimo na acção de sabotagem contra o navio Angoche, o governo tanzaniano viria a ser citado pelo jornal londrino, «Daily Telegraph», como tendo dito “não ter a tripulação em sua posse.”

O caso do avio Angoche segundo a PIDE/DGS (II e último)
Na presente edição publicamos a segunda e última parte do trabalho sobre a sabotagem do navio Angoche, ocorrida ao largo da costa moçambicana em Abril de 1971. Permanece envolto em mistério o destino dado à tripulação do navio, que incluía 13 moçambicanos. A suspeita do envolvimento da Tanzânia e da própria Frelimo no caso nunca chegou a ser cabalmente esclarecida.
Casimiro Monteiro apresenta
Relatório sobre Angoche
O funcionário da PIDE/DGS, que em 1969 armadilhou a encomenda que viria a causar a morte a Eduardo Mondlane, também se envolveu nas investigações do caso Angoche. Trata-se de Casimiro Monteiro, o mesmo, nos finais da década de 50, havia executado o líder da oposição portuguesa, Humberto Delgado, em território espanhol. Com a data de 21 de Maio de 1971 e a classificação de “secreto”, Casimiro Monteiro apresentava um relatório, dando ênfase aos explosivos utilizados na sabotagem do navio, área, aliás, em que se especializara. Lê-se no relatório de Monteiro: “Sabotagem, explosivo tipo militar, material militar não atingido; deflagração entre 22h30 e 22h45 segundo varios relógios encontrados a bordo.” Monteiro conclui, afirmando que “a carga [explosiva] teria sido colocada antes da saída do navio de Nacala, accionada por relógio; sem cumplicidade a bordo; houve feridos pois manchas de sangue contra paredes; fuga precipitada tripulação indígena.” Tal como o relatório de Casimiro Monteiro deixa transparecer, as suspeitas da DGS passaram a centrar-se em elementos das Forças Armadas Portuguesas destacados em Nacala, importante base naval e aérea do regime colonial. Uma mensagem-rádio expedida pela DGS a 25 de Maio com a classificação de “secreto”, estabelecia uma ligação entra a sabotagem da Base Aérea de Tancos, ocorrida em Portugal a 8 de Março de 1971, e o caso Angoche:
“Informo que Ângelo Manuel Rodrigues Sousa presumível autor sabotagem Tancos, mantinha estreitas relações amizade com António Vilar Pereira da Silva, seu companheiro inseparável presentemente furriel miliciano colocado Nacala. Tal facto aliado circunstância explosivos colocados Angoche serem mesma natureza utilizados Tancos e técnica empregada ser mesma ou semelhante. Sugere-se que Pereira da Silva deve ser alvo investigações minuciosas.”
De facto, o referido furriel miliciano passou a ser vigiado pela DGS a qual, em mensagem expedida a 31 de Maio dava conta de que no “prosseguimento averiguações apurou-se existir Nampula furriel piloto aviador em serviço no AM [Aeródromo Militar] 52, Luís António Vilar Pereira da Silva. Chegou província [Moçambique], vindo Tancos, em 2 de Abril findo. Oficialmente, depois 14 Abril, não foi Nacala. Está sob vigilância, observando-se modo vida, companhias e sua possível deslocação particular Nacala.” As suspeitas que a DGS tinha em relação a António Vilar Pereira da Silva são, no entanto, postas em causa numa outra mensagem expedida a 2 de Junho, a qual dizia: “Não pode ser o furriel miliciano Luís António Vilar uma vez que estava em Mueda” quando se deu a sabotagem do Angoche.
Todavia, as suspeitas do envolvimento de pessoal militar em Nacala não abrandaram. Uma mensagem da DGS com a data de 3 de Junho, dizia que no “prosseguimento averiguações a que se vem procedendo caso Angoche chegou nosso conhecimento que Batalhão Pára-quedista 32, Nacala, estão proceder averiguações, ignorando-se motivos. Conseguiu saber-se que as averiguações recaem com maior incidência sobre indivíduos que tem curso explosivos tirado em França. Deduz-se que assunto seja caso Angoche.”
O gabinete do primeiro-ministro, Marcelo Caetano, informava o director da DGS a 29 de Julho de 1971 que “a sabotagem do Angoche foi realizada por um capitão, desertor de Moçambique.”
Os documentos da PIDE/DGS disponíveis na Torre do Tombo pouco mais adiantam sobre o caso. Porém, houve fortes indícios de que a acção fora da responsabilidade da Acção Revolucionária Armada (ARA) desconhecendo-se ao certo o que terá sucedido após as explosões verificadas a bordo do Angoche. Já depois da mudança de regime em Portugal, um jornal português reproduziu, de um periódico chinês, a fotografia de um dos tripulantes do Angoche, alegadamente tirada em Nachingwea.
Na cidade da Beira correram rumores de que um oficial da marinha de guerra portuguesa estaria envolvido ou pelo menos teria tido conhecimento dos preparativos do atentado contra o navio costeiro. A morte, em circunstâncias obscuras, de uma cidadã portuguesa, que trabalhava num clube nocturno da urbe, viria a adensar o mistério. Referenciada como amante do oficial em questão, a cidadã portuguesa teria cometido o suicídio, lançando-se do último andar do prédio popularmente conhecido por “mira-mortos” (foto ao lado) por se situar nas traseiras do cemitério. A autópsia, porém, revelou que a vítima havia sido estrangulada.



COMENTÁRIOS
NO FACEBOOK DO XICONHOCA:
Katembe Pesca de Mar comenta:
Boa noite. Vivia em Nacala, quando aconteceu o caso Angoche e trabalhava no despachante oficial João Gomes Pelotas. É rigorosamente verdade que o único passageiro do navio era um funcionário dos CFM, de nome José Pedro, homem de meia idade, que conseguiu uma boleia até Porto Amélia, para onde tinha sido transferido, para ele e para o seu automóvel, que seguiu no convés. O navio transportava para além de víveres algum material de guerra. Dias depois do desparecimento do Angoche desembarcaram no aeroporto de Nacala 3 agentes da Pide/DGS vindos da "Metrópole", o que se notava pela sua cor de pele muito branca que constrastava com a dos residentes, que se apresentaram como pessoas interessadas na compra de terrenos para fins industriais. Depois de alguns dias em que conversaram com todo o tipo de pessoas, passando horas nas poucas esplanadas existentes e em almoços e jantares com pessoas influentes da pequena cidade, desapareceram conforme chegaram. Mas não foram sós, com eles levaram 3 pessoas de Nacala, uma delas o sr. Gil, da Casa Gil, representante da marca de motorizadas Yamaha. Três meses depois o sr. Gil voltou a aparecer em Nacala, magríssimo, branco e com ar doente, evitando conversas fosse com quem fosse, mesmo com os seus melhores amigos. Constou que ele os os outros teriam sido presos e torturados pela Pide/DGS na sequência do caso Angoche. Outra pessoa que parece ter sido também levada foi o Zeca Magalhães, um dos filhos do dono da Casa Magalhães, que no entanto voltou a Nacala muito mais cedo que o sr. Gil. Não me recordo quem foi o terceiro detido.

MUITO INTERESSANTE A SEQUÊNCIA DE COMENTÁRIOS NO BLOG ‘BRONCAS DO CAMILO’.
SERÁ QUE ALGUMA VEZ ALGUÉM SE VAI CHEGAR À FRENTE COM A VERDADE, ANÓNIMO OU NÃO, COMO PARECE ACONTECER COM CAMARATE?
TRANSCREVEMOS:
UM SEGREDO BEM GUARDADO (26 / Abril / 1971) – O que se passou no “ANGOCHE”? O que fizeram aos seus 22 tripulantes? O que fizeram à mercadoria que transportava? Quem era o passageiro misterioso? O relatório oficial, detalhado e secreto, conservado na PIDE/DGS em Lisboa, desapareceu após o golpe militar Lisboeta de 25/Abril/1974. QUEM SÃO OS ASSASSINOS/TRAIDORES??? – Publicada por Camilo em 3:25 AM 16

comentários:
Anónimo disse… Nessa data, também desapareceram dos arquivos da PIDE/DGS os processos de muitos comunistas. Como, por exemplo o do Dr. Álvaro Cunhal. Porque teriam “desaparecido”?
Domingo, Maio 06, 2007 11:32:00 PM Camilo disse…Amigo “anónimo”: Provavelmente para não sabermos o nome dos criminosos. Alguns residem em Portugal. (Nunca de cá saíram). Quer dizer: estiveram “em serviço”, fora, “mas cá dentro”… Os arquivos da PIDE iriam desmascarar, por exemplo:1- A célebre fuga do Forte de Peniche. Uma “história” sempre mal contada. Querem fazer-nos crer que a fuga foi um acto heróico dos elementos do PC. Não, não foi. Foi obra da PIDE/DGS. Totalmente da PIDE/DGS. 2- A verdade sobre a morte de Humberto Delgado. 3-Os amigos do Dr. Mário Soares. Quem eram? Quem?!!! Que cargos exerciam na PIDE/DGS???
Terça-feira, Maio 29, 2007 12:41:00 AM Anónimo disse…Jantei a bordo do Angoche por volta das 19h30, 2 horas depois de sairmos de Nacala com o João Tavares e o António Sardo no dia 23de Abril de 1971.Disse-lhes para se dirigirem para o convês com os coletes por volta das 22 horas e mandarem os Moçambicanos trazerem as caixas que diziam “FAP” para cima.
Quinta-feira, Dezembro 13, 2007 2:37:00 PM rotivsaile disse… Caro Camilo: Estranho este “ANÓNIMO” vir aparecer no teu Blog com comentários que me parecem mais um prenúncio de confissão do conhecimento de muitas das respostas que se vêm fazendo ao longo de todos estes anos. Eu estava em Moçambique quando ocorreu a explosão no “Angoche”, que jamais foi explicada, pelo facto de não aparecerem tripulantes, mortos ou vivos, que pudessem deixar surgir um pouco de luz para este mistério. O “Anónimo” afirma ter jantado a bordo, com um João Tavares e um António Sardo, a quem pediu que usassem coletes de salvação e mandassem os Moçambicanos as caixas identificadas com “FAP” para o convés… presumindo eu que este anónimo será um dos tipos que “derreteu” o “ANGOCHE”… só não se sabendo “vendido” a que interesses. Parece ser pessoa que sabe muito do assunto e de outras coisas que ninguém ligará com o caso, mas que estarão relacionadas.Que é estranho é… mas será alguém que não será cobarde e é competente naquilo que faz, dado ter cometido este atentado com o êxito que se conhece. Isto de este estranho “anónimo” é realmente aquilo que penso. Na Força Aérea, em Moçambique, desenvolveu-se uma teoria,sobre o “ANGOCHE”, mas agora parece-me não ser apenas uma teoria. Um dia te direi qual. Um abraço do Elias
Sexta-feira, Dezembro 14, 2007 1:24:00 PM Anónimo disse… Apesar dos anos, lembro-me perfeitamente. Estava de passagem no Escritório Central do Cais. Era sábado e o serviço era intenso. Apareceu um estafeta dum despachante oficial com uma nota de embarque para o Angoche, onde constavam granadas. O taxador fez questão de saber se elas estavam ou não espoletadas, pois com espoleta eram consideradas explosivos e pagavam uma taxa mais cara, o que não aconteceria se estivessem despoletadas. O tipo voltou para trás regressou dizendo que não, não estavam espoletadas. Ele calculou a nota.Entretanto havia um funcionário dos CFM, já velhote, que ia para Porto Amélia de boleia, no Angoche. Ele e o carro. Era o José António.Quando foi dado o conhecimento do desaparecimento do navio, a pobre da esposa metia dó, tal era a sua aflição. Era de cortar o coração. A coitada lá ia todos os dias ao Escritório Central falar com o Inspetor, numa vâ esperança de notícias. Saía de lá a chorar e soube que a sua aflição e desgosto era tão grandes, que nunca mais se deitou na cama conjugal e dormia num tapete no chão, ao pé da mesma.Passaram-se uns tempos e um ajudante de despachante que tinha assistido à largada derradeira do Angoche, foi morto misteriosamente em sua casa. O assassino, cortou a rede da janela e matou-o com uma faca. Foi tudo tão silencioso, que a mulher que dormia ao lado, nem deu por isso.Houve quem relacionasse as duas coisas. Que ele teria hipoteticamente visto qualquer coisa e o tinham morto para o silenciar.Talvez fosse verdade, ou não. Na altura, com o terrorismo a dois passos, corriam muitas notícias a meia voz, algumas verídicas, outras não. Mal sonhávamos nós que três anos depois aquilo ia tudo para o beleleu, entregue pelo Acordo de Lusaka, de qualquer jeito. Que ironia. Ainda se tivesse havido um consenso entre todos os que lá estávamos, sem a imposição de leis marxistas, que hoje estão a ser abandonadas, por incoerência!…
Domingo, Março 30, 2008 5:29:00 PM Camilo disse… Caro “anónimo”, Acontece que também há uma morte “misteriosa” de uma ‘funcionária’ que terá sido empurrada de uma janela para a via pública e que teve morte imediata. Fala-se, fala-se evidentemente, que o alto comissário, empossado pela maldita junta de salvação do pós 25/abrilada, que estaria “metido” no assunto.Os traidores continuam por aí…Um abraço.
Segunda-feira, Março 31, 2008 12:56:00 AM Anónimo disse… O funcionário do CFM era José Pedro e não José António. Quanto ao ajudante de despachante morto em casa era o Tony, que trabalhava no Despachante Oficial João Gomes Pelotas e constou ter visto o Angoche zarpar, pelo que hipoteticamente teria sido morto por se ter apercebido de qualquer coisa. Conhecia-o pessoalmente. Se há excelentes pessoas, o Tony era uma delas. O taxador era eu e passou-se exatamente assim. Duarte Silva Post Scriptum: Só não sei como hei-de sair do anônimo!… Vai mesmo assim.
Segunda-feira, Março 31, 2008 1:52:00 PM Anónimo disse… Como Camilo!?Na altura já não estava em Nacala, mas LM e não soube disso.Já agora: O Alto Comissário não era aquele oficial da Armada, um tal Víctor qualquer coisa, que montou arraiais na boite Aquário na Rua Major Araújo, (para quem não sabe, rua de boites, bares e prostituição) onde, além de fazer presença com os seus marujos, bebia uísque de manhã à noite, pelo que ficou conhecido como o “vira-copos”, ou esse tocava outra gaita, além dos copos, claro)? Duarte Silva
Terça-feira, Abril 01, 2008 1:10:00 PM rotivsaile disse…Camilo:Recordo haver alguém em Nacala, com quem cheguei a falar, por diversas vezes, que tinha o nome do nosso Amigo ex- “Anónimo”: Duarte Silva.Na verdade o Vitor Crespo, vulgo “Vitor Copos” ou “Garrafão com pernas”, inefável Alto Comissário em Moçambique, tinha por hábito fazer da “Aquário” – dancing da Rua Araújo bastante frequentado pelas gentes deste incorrigível mestre da bebedeira, que nunca de lá saíu pelo próprio pé.Eu trabalhava na Av. 5 de Outubro e ia frequentemente à Spanos, comprar material de desenho. Muitas das vezes me cruzei com tão “simpático Almirante”. Muitas vezes referi, em conversas de amigos, que quer Angola, quer Moçambique haviam ganho o Almirante que mereciam… mas isso não é verdade, no caso Angolano. Agora em Moçambique, o desprezo que a população de Lourenço Marques tinha para com os Militares, veio a saír-lhes muito caro.Tenho pena do que aconteceu ao Angoche, pois mil e uma questões se puzeram, mil e um culpados se arranjaram, mas a verdade é que as famílias nem lhes puderam dar a sepultura que mereciam.Foi traição e assassínio… mas perpetrado por quem? a URSS? a China, a FRELIMO?, A CIA?, a DGS?quem fez voar aquele barco? O que transportava, na realidade? Como foi preparado o golpe? Onde? São perguntas sem resposta, infelizmente.Casimiro: Porque tú, tal como eu, sempre gostámos de dizer as coisas olhos nos olhos, deves estar satidfeito por se haver quebrado o mistério do “Anónimo do Angoche”. Por causa dos muitos embarques e desembarques de material das Infras da FAP, cheguei a comunicar-me com o Sr. Duarte Silva… e muito folgo em ele estar a falar para o teu blogue.Um abraço a ambos do Victor Elias
Terça-feira, Abril 01, 2008 6:45:00 PM Camilo disse…Eu estava no “Notícia” em Luanda quando aconteceu o “Caso Angoche”.Fui a Lourenço Marques e vi o navio encostado no Porto.Anos mais tarde,encontrei em Lisboa um fotógrafo amigo, o Óscar Saraiva,que era fotógrafo d’”A PALAVRA”. Aqui era fotógrafo da “Gazeta dos Desportos”.Falámos de várias coisas, das quais, da celebérrima ”DESCOLONIZAÇÃO EXEMPLAR, S.A.R.L.”O Angoche veio à baila e ele fez-me lembrar que, quando fotografou o navio ancorado onde eu o vi -em Lourenço Marques- que tinha uma grande circunferência preta no casco. Portanto, o navio foi pirateado.Ficou de me mostrar várias fotografias do mesmo, mas estive pouco tempo em portugal e não houve hipoteses de as ver.Entretanto, (de morte natural) o Óscar Saraiva veio a falecer de doença prolongada.Descobrir os traidores do Angoche é meio caminho andado para a consolidação da Democracia neste “à beira mal plantado”.Não o conseguindo, é a continuidade desta corrupção generalizada.Aliás, o que se passa hoje… é o reflexo -a continuidade- das traições havidas.
Terça-feira, Abril 01, 2008 10:31:00 PM Anónimo disse…Ora aí vai um abraço Sr. Victor Elias.Recordo-me de si perfeitamente do Escritório Central. Se é quem eu penso, costumava levar notas de descarga e embarque da tropa.Eu frequentava muito o AB5 e o BCP32 e toquei naquele célebre conjunto em que o único civil era eu. O resto era pessoal do AB5. Tenho aí uma foto disso.Claro que os civis em Lourenço Marques eram muito diferentes de nós, lá no Norte. Se eles eram separatistas em relação a nós, civis do mato, que fará com os militares! Não era por maldade, mas por bairrismo. LM era Moçambique e o resto mato. Ainda se lembra do cinema do Parrô do Ferroviário?Já agora:O Casimiro será filho do Dr. Casimiro, médico em Nampula?Um grande abraço para todos.Duarte Silva
Terça-feira, Abril 01, 2008 11:04:00 PM Camilo disse…Amigo Duarte Silva,O Elias, por engano, chamou-me Casimiro.Julgo que foi erro dele.Continue a mandar notícias.Um Abraço.
Quarta-feira, Abril 02, 2008 1:31:00 AM Anónimo disse…OK e muito obrigado.É um prazer falar com pessoas que entendem o nosso ponto de vista.Cá destas paragens do Rio Grande do Sul vos mando um abraço.Duarte Silva

Quarta-feira, Abril 02, 2008 10:13:00 PM Anónimo disse…O caso Angoche tem que ser forçosamente revelado aos Portugueses com a mesma relevância que a comunicaçaõ social revela os desmandos do Estado Novo.Estaline não fez um acordo com Hitler que foi sempre negado pela URSS até á sua queda?Porque é que não são revelados os nomes de todos os criminosos da dita esquerda Portuguesa, dos crimes que praticaram e que agora se arvoram em patriotas.Quem tem medo da verdade?Admiro-me porque é que este e outros casos que ocorreram não são divulgados em reportagens de investigação nos meios de comunicação social.É preciso chamar os bois pelos nomes e é uma vergonha que Palma Carlos e outros bandidos sejam homenageados e todos aqueles que cumpriram com as suas obrigações de patriotas sejam descriminados e esquecidos.




SERVIÇOS DE INFORMAÇÕES (2), (3), (4) E (5)

Brevemente serão apresentados neste blogue mais documentos sobre Serviços de Informações/Angoche.

SERVIÇOS DE INFORMAÇÕES (1) - CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY E "ANGOCHE"

A CIA E O CASO ANGOCHE

A "Information and Privacy Coordinator" da Central Intelligence Agency (CIA) comunica-me formalmente a 21 de Setembro de 2012 que o meu pedido de consulta do arquivo sobre o caso Angoche mereceu um parecer negativo: não será divulgado um único documento.


De acordo com a instituição, foi efectuada a pesquisa e localizado material, mas a sua consulta "deve ser negada na totalidade com base nas "isenções" (exemptions) do FOIA (Freedom of Information Act) (b)(1) e (b)(3)".

A isenção (b)(1) é um dado que poderá de alguma forma ter importância : o nível de decisão é particularmente elevado ("Executive Order" - Presidente dos EUA).


Eu podia recorrer do parecer da CIA, mas precisava de contratar advogados norte-americanos ($). Tratando-se de uma investigação histórica que não conta com o apoio de nenhuma organização ou empresa, era impossível suportar os custos.

TEMPLÁRIO - 18 de Novembro de 1977

CASO "ANGOCHE"

Segundo três oficiais superiores da Marinha Mercante, o comandante do costeiro "Angoche", Adolfo Bernardino, nunca abandonaria o seu navio a não ser de forma violenta - raptado - e se tivesse sido morto.
Ainda segundo outras fontes foram nomeadas duas comissões para investigar o estranho caso do pequeno cargueiro, mas até ao momento presente nada foi tornado público, o que é ainda mais de admirar.
Tem-se conhecimento, de fontes fidedignas, que a Companhia Nacional de Navegação pagou, após o incidente, sempre os vencimentos aos familiares dos "desaparecidos" durante meses até que a Administração daquela companhia deliberou entregar o caso à companhia seguradora que por sua vez indemnizou as pessoas com direito às referidas indemnizações.
Contactado ainda um comandante da Marinha Mercante portuguesa, o mesmo afirmou-nos que conhecia de há muitos anos o Adolfo Bernardino e que este não era homem para se atirar ao mar, abandonando assim o navio: "Tinha coragem, era honesto e sabia a responsabilidade que tinha sobre os ombros e além disso nunca abandonaria a tripulação, mesmo que o perigo fosse grande."
O "Angoche", conforme já noticiámos, foi encontrado abandonado e com fogo a bordo, ao largo da costa de Moçambique, em 25 de Abril de 1971.
O carregamento era constituído na sua maioria por material de guerra, incluindo bombas para a Força Aérea Portuguesa.
O petroleiro que encontrou o "Angoche e deu o alarme, pela rádio posteriormente, esteve 24 horas sem prestar qualquer esclarecimento, o que leva a crer que o comandante daquele navio a isso foi obrigado, por terceiros.
O sinal de alarme foi escutado por diversas estações de rádio, mormente das rádios-navais da Machava (Moçambique) e da África do Sul e repetidos pedidos para serem informados da posição do navio sinistrado não obtiveram qualquer resposta.
O "Angoche" foi rebocado posteriormente pelo navio-tanque até à entrada da barra do porto de Lourenço Marques, tendo este navio prosseguido viagem. Não teria havido qualquer esclarecimento por parte do comandante do petroleiro?
Após a carga do "Angoche" ter sido decarregada, o mesmo foi despojado dos seus maiores valores, e fundeou, mas anteriormente estiveram a bordo elementos da ex-PIDE/DGS, durante alguns dias, a investigar a ocorrência.
Os coletes de salvação e boias encontravam-se a bordo, nos respectivos lugares, e o casario da proa estava absolutamente intacto. Aí eram os alojamentos de parte da tripulação.
Não apareceu o corpo de uma única vítima, nem a bordo nem no mar.
O "Angoche" não se encontrava em perigo de ir ao fundo ainda que houvesse incêndio a bordo e materiais explosivos e tanto mais que foi rebocado centenas de milhas sem ter acontecido o pior para o navio.
No costado havia sinais positivos de se ter dado uma abordagem.
Há relatórios com inúmeros elementos que não são tornados públicos por motivos que nos levam a pensar sobre o que faz as autoridades a procederem desta forma. Os familiares fundamentalmente e o povo português na generalidade têm o direito absoluto de saber o que se passa.
Tudo leva a crer - como também já o escrevemos - que os tripulantes foram raptados e levados para destino desconhecido.
T. Santos Gil


O DIABO - 28 de Abril de 1992

Memórias de um ex-PIDE/DGS

"Operação Garrafão" resgatou Rosa Coutinho. ARA por detrás do caso "Angoche"?

Os ex-elementos da PIDE/DGS têm ainda a memória fresca de factos e acontecimentos que investigaram durante a sua actividade. Conhecem o passado de algumas figuras que se notabilizaram durante o chamado PREC. Recordam, por exemplo, a operação designada por "Garrafão" destinada a resgatar Rosa Coutinho, então detido no Congo:
"O António Augusto Bernardo foi buscá-lo ao Congo e levou um garrafão cheio de aguardente para dar aos negros, de forma a aliciá-los a entregar o Rosa Coutinho. No entanto, o resgate só se concretizou mais tarde, quanto o então director da PIDE/DGS de Luanda, Porto Duarte, enviou para o Congo um serviço de prata para pagar a operação."
O agente C. (referindo não querer o seu nome no jornal, pois já basta de chatices), vinte anos ao serviço da instituição na sua grande parte em Moçambique, revela pormenores curiosos, até agora inéditos, sobre o caso "Angoche", o navio que surgiu ao largo da costa moçambicana semidestruído e sem tripulação.
"Havia fortes indícios de que tinha sido uma célula da ARA a responsável pelo ataque ao navio. Detectámos que o explosivo utilizado no assalto ao "Angoche" era de alumínio, com as mesmas características e composição de um outro empregue no atentado terrorista aos helicópteros estacionados na Base de Tancos."


O DIABO - 10 de Março de 1992


O DIABO - 7 de Janeiro de 1992 (1/2)

"ANGOCHE": O NAVIO FANTASMA ACUSA



Na nossa frente um homem alto de cabelos brancos, o tipo "herói de filme americano sobre a Guerra do Vietname". A guerra dele foi outra e bem autêntica. Por que depôs as armas e não pretende entrar em escaramuças, prefere o anonimato, embora nos tenha deixado completa a identificação.

Descreveu a sua versão do "Caso Angoche" em Banda Desenhada, mas as editoras acharam-na demasiado... "melindrosa". Vamos saber porquê.

"Fui 2º sargento dos Comandos na Guiné entre 1963 e 1965. Fui um dos oito primeiros quadros a tirar esse curso em Angola - Quibala Norte - e após o meu regresso a Bissau ajudei ao treinamento e formação de grupos das milícias indígenas, de onde saíram os comandos africanos.

Homens como Mamadu Jaló, Jamanka, Marcelino da Mata e outros, passaram pelas minhas mãos. Tenho louvores em combate, e naqueles anos a minha figura era muito conhecida nos meios militares.

A propaganda do PAIGC e cubana, apresentava sempre um soldado de óculos e képi à legionário, e em 1965 ofereceram ao General Costa Gomes a minha "G-3"- arma facilmente identificável por ter na coronha umas trinta e tal marcas e as iniciais "VM" gravadas a fogo.

Acabado o meu tempo de tropa, fui trabalhar para Moçambique, e como esta coisa da guerra me entrara no sangue, alistei-me na Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil - OPVDC - numa companhia de intervenção de que fui comandante de secção.

Propus ao comandante um treino mais adequado às funções do grupo, com vista a torná-lo mais coeso. Faziamos trabalho individual ou colectivo com a Polícia de Choque, nos arrabaldes de Lourenço Marques, durante a noite.
Corria o ano de 1968, quando ao deslocarmo-nos vagarosamente pela Avenida Massano de Amorim, seriam umas três horas da manhã, captámos uma mensagem "morse" muito fraca.

Sabíamos que àquela hora todas as transmissões estavam mudas. Ainda se alvitrou que partisse de um navio (???!!! mas a resposta não se fez esperar, bem nítida. À medida que nos deslocávamos o sinal ia enfraquecendo.

Depois de uma ou duas voltas identificámos a zona do dinal, mas como nenhum de nós sabia "morse" recorremos à esquadra da Polícia existente ali perto, que destacou um homem para nos acompanhar.

Até às 6 da manhã mais nenhuma transmissão foi captada.

Feitas as devidas diligências pela esquadra, a resposta foi sempre a mesma: não houvera nenhuma transmissão, nem da tropa nem de outras entidades.

Insisti para que, pelo menos de noite, estivessem à escuta. Várias vezes foram escutadas transmissões: acorríamos à esquadra e o que nos respondiam era "que não os chateássemos porque tinham mais que fazer do que aturar maduros a armar em polícias".

Em menos de três meses o quartel-general acabou com as patrulhas da OPVDC.
Em 1970 fui chamado para assistir a uma reunião do comando com individualidades militares, para estudarmos o tipo de armamento e organização das companhias de intervenção.

Decidiram que as secções seriam enquadradas por militares, e as "Mausers" (espingardas) substituídas por "FBP" (pistolas-metralhadoras de fabrico nacional).

Insurgi-me contra essa ideia, argumentando que seria perigoso equipas com armas tão traiçoeiras, indivíduos não familiarizados com armamento, e também que o facto de enquadrarmos militares na CI iria retirar-nos o carácter civil que sempre tivéramos. Outros interesses porém se sobrepuseram, e eu fui convidado a afastar-me.

De notar que, aquando do 7 de Setembro de 1974, os militares quiseram mandar a OPVDC para os bairros negros com as armas descarregadas, porque não havia munições. Voluntários que vieram da África do Sul com "MG 42", "Dreysers" e "Madsen" (metralhadoras ligeiras) voltaram para trás quando se aperceberam disso.

Os cunhetes no depósito estavam vazios.

Já em 1969, falando com algumas pessoas relacionadas com a PIDE/DGS, se comentava que no seio da própria Polícia do Estado havia grande divisão e receios quanto ao futuro. As ordens na frente de combate eram contraditórias e o moral dos rapazes era péssimo. Uma guerra que deveria por profissionais, era comandada à distância, enquanto na frente os milicianos eram impedidos de actuar como o havíamos feito em 62, 63 e 64.

E então, em 1971, surge o "Caso Angoche".

Correu muita tinta, fizeram-se muitas suposições, mas a verdade dos factos, essa, ficou na gaveta. Porquê?


Será que o testemunho de algum dos tripulantes denunciaria figuras do "25 de Abril" ? Porque o navio não foi assaltado por ninguém? Porque é que os navios de guerra não estavam nos seus lugares de patrulha, que incluíam aquela área? Porque é que as buscas só começaram 72 horas depois?

O DIABO - 7 de Janeiro de 1992 (2/2)



Talvez porque foi necessário tempo e à-vontade para determinados capangas tomarem conta do navio, desviá-lo da rota, ir ao encontro da barcaça, descarregá-lo e eliminá-lo.
Mas infelizmente o petroleiro apareceu em cena, e isso não estava no programa. Os intrusos assistiram a tudo.
Era impossível afundar aquela montanha de aço. (Talvez até já tivessem mandado alguma mensagem e o "compadrio" falhasse, ou a aviação e os navios de guerra aparecessem.)
Então houve que fazer uma manobra de diversão: abriram-se as válvulas e incendiou-se o navio. Só que as coisas correram mal. O diabo do "Angoche" nem explodiu nem se afundou !
Como é que um petroleiro consegue aproximar-se de um cargueiro em chamas sem correr o risco de ir também pelos ares ? E, no entanto, o fogo foi apagado e o navio retirado rapidamente da zona, a fim de que a barcaça pudesse pôr-se a salvo.
Do aparecimento do navio, já a caminho de Durban, da sua intercepção, das dificuldades postas pelo comandante, já todos sabemos.
Mas os homens do Dickson" foram proibidos de prestar declarações. A DGS foi atrás deles e tudo demorou demasiado tempo. O tempo suficiente para permitir a necessária infiltração que levaria as informações às "mãos" colocadas estrategicamente para as abafar.
O "25 de Abril" selou definitivamente o assunto.
Por altura da 2ª Assembleia Geral de Comandos, em S. João da Madeira, e baseado em informações colhidas junto de elementos da Resistência de Moçambique, pedi publicamente, e na presença do secretário-geral, general Soares Carneiro, que se intercedesse junto do general Ramalho Eanes para que este exigisse do Governo da Frelimo a libertação de todos os portugueses, comandos e não só, que se encontravam em campos de concentração de Moçambique e da Zâmbia.
Em 1976 soubemos através de um oficial do Exército rodesiano, que alguns elementos da oposição, como Joana Simião e tripulantes do "Angoche", tinham sido vistos durante a sua tranferência para outro campo em Moçambique.
Decidi então acordar toda esta gente, e fiz uma "Banda Desenhada" em que contava um motim num barco chamado "Archote" e o assalto a determinado campo no interior de Moççambique por um grupo de voluntários portugueses, com a consequente libbertação de todos os prisioneiros, em que se contavam os sobreviventes do "Archote", que poriam a claro todas as canalhices da Mafia que ocupara postos-chave na altura.
Esta "história" foi apresentada à Agência Portuguesa de Revistas.
Chamou-me um belo dia o sr. Magalhães, uito alarmado, perguntando-me onde me fora basear para tal argumento.
"Era muito melindroso, e não o podia publicar."
Tentei outras editoras, em vão. Invocando as mais diversas desculpas, todas recusaram a sua publicação.
Vim a saber, mais tarde, que num campo de prisioneiros libertado pela Renamo estariam alguns sobreviventes do "Angoche".
Com o meu "Bayette" tentei acordar as consciências, mas... o que são trinta e dois palermas no tabuleiro de organizações políticas onde se movem interesses de poder ?
Talvez se perguntarem aos senhores Rosa Coutinho, Almeida Santos, Otelo Saraiva de Carvalho, Melo Antunes... (bem me dizia o Ricardo Saavedra:"Andei com o Rosa Coutinho na travessia do Atlântico Sul, e nunca pensei que estivesse ali um traidor ").

O TÍTULO - 27 de Outubro de 1994 (1/3)

MAIS UM TESTEMUNHO IMPORTANTE
O MISTÉRIO DO "ANGOCHE"



O TÍTULO - 27 de Outubro de 1994 (2/3)



O TÍTULO - 27 de Outubro de 1994 (3/3)

DOCUMENTOS DESVIADOS DA SEDE DA PIDE/DGS


"Nesse tempo (1974) entrava e saía da sede da PIDE quem queria. Os militares permitiam tudo a toda a gente. Os arquivos foram sequeados por quem quis", diz a nossa fonte.
A prova aí está.



MINISTÉRIO DA MARINHA - 29 DE JULHO DE 1971 (6/6)



MINISTÉRIO DA MARINHA - 29 DE JULHO DE 1971 (5/6)


MINISTÉRIO DA MARINHA - 29 DE JULHO DE 1971 (4/6)

SERVIÇOS DE MARINHA


SERVIÇO DA REPÚBLICA

GOVERNO-GERAL DE MOÇAMBIQUE

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE MARINHA

Nº 431/C/118/71/S

                                              
SENHOR MINISTRO DO ULTRAMAR

EXCELÊNCIA

Tenho a honra de informar a V. Exª. que o comandante do navio panamiano ESSO PORT DICKSON, após ter encontrado abandonado o navio costeiro ANGOCHE, não enviou às autoridades portuguesas qualquer mensagem comunicando a ocorrência, não tendo também estabelecido comunicações quando chamado pelas Estações Rádio navais da Província, conforme informação da Direcção Provincial dos Serviços de Marinha de que junto cópia.

         Acresce que o comandante do ESSO PORT DICKSON não fez quaisquer esforços para localizar os tripulantes do ANGOCHE, tendo tido apenas a preocupação de salvar o navio.

         Dado que o procedimento do comandante do ESSO PORT DICKSON não está de harmonia com os princípios aceites do Direito Internacional, afigura-se a este Governo-Geral que tal facto deve ser comunicado às autoridades competentes da República do Panamá, nação do pavilhão, e à firma armadora que se julga associada à ESSO com interesses em Portugal.

         Apresento a V. Exª. os meus melhores cumprimentos.

                                                        A bem da Nação

         Governo-Geral de Moçambique, em Lourenço Marques, aos 3 de Junho de 1971

                                               O GOVERNADOR-GERAL

                                            Eduardo de Arantes e Oliveira

CONFIDENCIAL



MINISTÉRIO DA MARINHA - 29 DE JULHO DE 1971 (3/6)



MINISTÉRIO DA MARINHA - 29 DE JULHO DE 1971 (2/6)



MINISTÉRIO DA MARINHA - 29 DE JULHO DE 1971 (1/6)

INFORMAÇÃO MANUSCRITA

Da leitura da informação do Ministério da Marinha conclui-se da parca utilidade prática do protesto diplomático, no caso de haver razões para o apresentar.

No entanto houve uma perda total da tripulação pelo que se houver razão para accionar protesto deverá o mesmo ser apresentado.

Proponho a Vossa Excelência que seja pedido parecer ao M.N.E.

5/8/71


NOTA OFICIOSA - 16 DE JULHO DE 1971 (4/4)



NOTA OFICIOSA - 16 DE JULHO DE 1971 (3/4)



NOTA OFICIOSA - 16 DE JULHO DE 1971 (2/4)



NOTA OFICIOSA - 16 DE JULHO DE 1971 (1/4)



DGS - XX DE JUNHO DE 1971


MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - 17 DE JUNHO DE 1971 (2/2)



MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - 17 DE JUNHO DE 1971 (1/2)



MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - 31 DE MAIO DE 1971

SECRETO

Exmo. Senhor
Director-Geral dos Negócios Políticos
MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

3269   E-5-15
Nota G.M. M29

Em cumprimento do desapacho de Sua Excelência o Ministro e em aditamento ao ofício nº 3042, de 20 do corrente, tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exª. o seguinte telegrama recebido do Governo-Geral de Moçambique, em 22 deste mês:

“O relatório da DGS relativo ao caso do “Angoche” encontra-se na fase final de elaboração, unicamente dependente do resultado dos exames laboratoriais. Será enviado à Direcção-Geral logo que concluído. Todo o esforço de investigação da DGS está concentrado sobre Nacala pois parece de admitir que a carga foi colocada no “Angoche” durante a estadia do barco naquele porto”.

Apresento a V. Exª. os meus melhores cumprimentos,

A bem da Nação

Gabinete dos Negócios Políticos, em 31 de Maio de 1971

O DIRECTOR,
        - Ângelo Ferreira-
-1.JUN.1971
MJ/MO.





DGS - 25 de Maio de 1971


D.G.S.
RÁDIO
TRANSMITIDO 25/5/971
DIRSEG    LOURENÇO MARQUES
50-CI (2)              SECRETO             CIFRADO

INFORMO VEXA QUE ANGELO MANUEL RODRIGUES SOUSA PRESUMÍVEL AUTOR SABOTAGEM TANCOS MANTINHA ESPECIAIS RELAÇÕES AMIZADE COM ANTÓNIO VILAR PEREIRA DA SILVA SEU COMPANHEIRO INSEPARÁVEL PRESENTEMENTE FURRIEL MILICIANO COLOCADO NACALA PT TAL FACTO ALIADO CIRCUNSTÂNCIA EXPLOSIVOS COLOCADOS ANGOCHE SEREM MESMA NATUREZA UTILIZADOS TANCOS E TÉCNICA EMPREGADA SER MESMA OU SEMELHANTE SUGERE QUE PEREIRA DA SILVA DEVE SER ALVO INVESTIGAÇÃO MINUCIOSA.
DIRSEG
LISBOA

Nota manuscrita: Luís António Vilar Pereira da Silva


MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - 20 de Maio de 1971 (2/2)


3.       A correspondência alude ainda ao comunicado oficial do dia 6 deste mês, esclarecendo que “seguimento primeira inspecção conduzida serviços navais bordo Angoche assumia-se que barco fora atacado e tripulação raptada. Investigações prosseguiam”. Outra alternativa do possível ataque por um dos seis barcos armados chineses operando da Tanzânia, seria de que o costeiro português teria sido vítima de um motim instigado pela Frelimo.

4.       Segundo a mesma correspondência, um oficial superior naval britânico do Cabo, Comodoro Fanshawe, teria afirmado que barcos ingleses do patrulhamento do bloqueio da Beira não tinham informado nada acerca do Angoche. Teria acrescentado que os mencionados navios teriam actuado se tivessem assistido ao que supusessem fosse um acto de pirataria no alto mar. Noutra notícia de Lourenço Marques, também apresentada na primeira página, diz-se ser provável que Portugal destaque mais forças navais para o norte de Moçambique para proteger considerável tráfico ao longo da costa.

Aproveito a oportunidade para apresentar a V. Exª. os meus melhores cumprimentos./.



A Bem da Nação

     pel’O DIRECTOR GERAL




MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - 20 de Maio de 1971 (1/2)




MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS
DIRECÇÃO-GERAL
DOS
NEGÓCIOS POLÍTICOS


Proc. 928,70                                                 Lisboa, 20 de Maio de 1971
 
PAA 1843
 
Exmª. Senhor Director do Gabinete
 
dos Negócios Políticos
 
MINISTÉRIO DO ULTRAMAR
 

Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exª. que o jornal sul-africano “Argus” publicou com grande relevo, no dia 7 de Maio corrente, uma correspondência da Beira intitulada “Two crewmen killed – Beira report of raid by comandos from Tanzania”, comunicando que, segundo fonte segura, o departamento de informação de Moçambique teria anunciado que o navio “Angoche” sofrera um ataque do tipo de comandos e que dois membros da tripulação teriam sido assassinados.
 
2.       As referidas notícias, que ainda não teriam tido confirmação oficial portuguesa, acrescentavam que os restantes tripulantes estariam prisioneiros em Dar-Es-Salaam onde a China Comunista tem uma base naval. Constaria também que um membro da tripulação teria conseguido enviar uma mensagem ao Quartel General de Nampula informando ter a tripulação sido levada para a Tanzânia.

/…


DGS - 19 de Maio de 1971 (2/2)



DGS - 19 de Maio de 1971 (1/2)

D.G.S.                                                                                  CONFIDENCIAL
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO
INFORMAÇÃO Nº. 543 – CI (2)
DISTRIBUIÇÃO:
Presidência do Conselho
Ministério da Defesa Nacional
Ministério do Ultramar
Ministério dos Negócios Estrangeiros
Secretariado-Geral da Defesa Nacional
ASSUNTO:              A “FRELIMO” E O “ANGOCHE”
ORIGEM:                D.G.S. – MOÇAMBIQUE
DATA DE ORIGEM:    12/5/71

Em entrevista telefónica para o correspondente do “DAILY MAIL’S LONDON”, em Dar-Es-Salaam, JOAQUIM CHISSANO, porta-voz da “FRELIMO” naquela cidade, declarou ser muito possível que os “combatentes de libertação tivessem capturado a tripulação do costeiro português “ANGOCHE” e que, nesse caso, tratar-se-ia dum legítimo “acto de guerra”, em que a tripulação ficaria na situação de “prisioneiros de guerra”.
JOAQUIM CHISSANO esclareceu no entanto, que não dispunha de suficientes informações para se pronunciar sobre o acontecimento.
Junta-se fotocópia do texto em inglês publicado no referido jornal de 8/5/71.

NOTA: Na Província de Moçambique esta informação foi distribuída às seguintes entidades:
- CCM
- 3ª. RA
- RMM
- CNM
- SCCIM



DGS - 19 de Maio de 1971



MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - 18 de Maio de 1971 (2/2)



MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - 18 de Maio de 1971 (1/2)



DGS - 18 de Maio de 1971


CONFIDENCIAL

Exmº. Senhor Presidente do Conselho da
Administração da Companhia Nacional de
Navegação
LISBOA

URGENTE
1.452-CI(2)               18/5/971
        “ANGOCHE”

1.      Com vista ao inquérito que se procede para determinar as causas do sinistro ocorrido com o “Angoche”, tenho a honra de solicitar a V. Exª. se digne informar esta Direcção-Geral de Segurança da quantidade de armas e munições que se encontrava na posse da tripulação do referido navio, convindo especificamente, a indicação dos tipos de armas, calibres, números e a quem estavam distribuídas.

2.      Agradecendo desde já a boa atenção de V. Exª. para este assunto, aproveito a oportunidade para apresentar os meus melhores cumprimentos,.

A BEM DA NAÇÃO
O DIRECTOR-GERAL

RR/MI


DGS - 17 de Maio de 1971



MINISTÉRIO DO ULTRAMAR - 15 de Maio de 1971

MINISTÉRIO DO ULTRAMAR
GABINETE DO MINISTRO
AO GABINETE DOS NEGÓCIOS POLÍTICOS
404/D/6/7
EO/MI
SECRETO
Em 15 de Maio de 1971

Transmite-se o seguinte telegrama do Governo-Geral de Moçambique, recebido ontem neste Gabinete:
“Informo V. Exª de que o navio tanque costeiro “Sonaptanque” recolheu na posição 1319S 4039E uma pequena balsa de madeira que entregou na Capitania de Porto Amélia; o capitão do navio que já comandou o “Angoche” afirma a grande possibilidade de a balsa pertencer ao “Angoche” para utilização na pintura do costado visto ter manchas de tinta igual à usada pelos navios da CNN. Na última vistoria efectuada ao “Angoche” encontrava-se a bordo uma balsa de madeira que não foi considerada como meio de salvação por não satisfazer as regras da convenção presumindo-se ser a encontrada pelo “Sonaptanque”. o Comando Naval ordenou à corveta “João Coutinho” efectuar uma busca na posição em que foi encontrada a balsa. As autoridades administrativas foram altertadas para pesquiza em terra no litoral da área. A balsa tem as dimensões 2,03m por 1,38m por 0,21. No depósito da CNN em LMarques existem balsas para uso dos navios costeiros com dimensões de 2,03mx1,43x0,20m.”
sobre o qual Sua Excelência o Ministro despachou:
“Ao G.N.P. e aos S.M.
Conhecimento ao M.N.E. e ao M.M.
14-V.971. –as) J. da Silva Cunha.”
Foi dado conhecimento aos Serviços de Marinha.
Foram enviadas cópias à Presidência do Conselho e ao MNE.
A bem da Nação
O CHEFE DO GABINETE

03/07/2012



2 comentários:

Unknown disse...

Por favor alguem sabe a data em que foi"suicidada" a minha Mãe Olivia Santos no Miramortos? E por acaso alguem tem mais informações actuais do oficial da marinha Victor Crespo ou o vira copos? Fotos ou assim? obrigada.

PhotoEventsPT disse...

Poderei ter informações, fui eu que compilei o artigo. Paulo Oliveira. Lisboa
pfbo2011@gmail.com