domingo, 7 de junho de 2015

Mateus Sansão Muthemba

Mateus Sansão Muthemba

40 anos após a sua morte : “Pátria Amada” recorda Mateus Sansão Muthemba

EM Moçambique há uma geração heróica nascida da luta de libertação nacional com uma história particular. Dentro desta geração está, sem dúvida, a figura de Mateus Sansão Muthemba, nascido a 25 de Junho de 1906, em Chicumbane, Xai-Xai, província de Gaza. Muthemba veio a falecer a 6 de Junho de 1968, vítima de agressão física protagonizada por reaccionários dentro dos escritórios da Frelimo, em Dar-Es-Salaam. São reaccionários do grupo do padre Mateus Pinho Gwenjere que, pretensamente, lutavam contra o Império de Gaza, a favor de uma representatividade regional nos escritórios da então Frente de Libertação de Moçambique, na Tanzania.
Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008:: Notícias

A 6 de Maio o grupo dirigiu-se aos escritórios/sede da Frelimo, em Dar-Es-Salaam, e trancou as portas. Mas sob a pressão de Eduardo Mondlane e do Comité de Libertação da então Organização da Unidade Africana (OUA), hoje União Africana, as autoridades tanzanianas reabriram os escritórios.
A 9 de Maio, não satisfeitos, os contestatários regressaram e apostados em eliminar a Direcção da FRELIMO. Eduardo Mondlane e Urias Simango não se encontravam nos escritórios. Mateus Sansão Muthemba caiu nas mãos dos revoltosos e foi selvaticamente agredido tendo, em consequência dos ferimentos contraídos, morrido no mês seguinte, no Hospital de Muhimbili, em Dar-Es-Salaam. Os seus restos mortais foram sepultados em Dar-Es-Salaam e a 3 de Fevereiro de 1979 depositados na cripta dos heróis moçambicanos, na cidade de Maputo.
A casa de onde Muthemba partiu rumo a Tanzania
A casa de onde Muthemba partiu rumo a Tanzania

INFÂNCIA E JUVENTUDE

Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008:: Notícias

Mateus Sansão Muthemba é filho de Sansão Muthemba e de Jael (N`Yaieie)  Mucave, ambos naturais de Nhatsembene, posto administrativo de Chongoene, província de Gaza. Mateus Muthemba era irmão de Abiatar Muthemba, pai de Josina Machel, ícone da emancipação da mulher moçambicana.
Mateus Muthemba casou-se na década trinta com Rabeca Muthombene com quem teve dez filhos, nomeadamente, Laura, Rofina, Judite, José, Mário, Patrício, Frederico, Helena, Aniceto e Evaristo.
Começou a sua carreira estudantil na Missão Suíça de Chicumbane, onde fez a 1ª classe. Na mesma instituição frequentaram o ensino primário dois primos, nomeadamente Milagre Mabote e Sebastião Marcos Mabote que se tornaram destacados combatentes da luta de libertação nacional.
Após a conclusão da 1ª classe seguiu para a cidade de Lourenço Marques onde fez os níveis subsequentes, na companhia de outros jovens. Estes jovens foram enviados à capital do país por André – Daniel Clerc, então director da Missão Suíça. Muthemba concluiu a 4ª classe na Casa de Educação da Munhuana, actual Escola Primária Completa da Munhuana.
De volta a Xai-Xai, Muthemba trabalhou na Companhia Manuel Mendes, como escriturário. Mais tarde foi solicitado pela Missão Suíça para leccionar. No início leccionou a 1ª classe, actividade que durou sensivelmente dois anos.
Depois ingressou num curso de formação de professores em Ricatla, em Marracuene, tendo seguido posteriormente para a Escola de Formação de Professores do Alvor, na Manhiça. Finda a formação leccionou em vários pontos, a saber: Guijá, Chókwè, Maputo, Mahel, em Magude Muzui, em Macia.
Nestes locais leccionou vários níveis da 1ª à 3ª classe elementar, tarefa que exerceu até por volta de 1955.
Aquando da sua transferência de Mahel para Lourenço Marques, Mateus Muthemba abandonou o professorado e integrou-se nos Serviços Meteorológicos de Moçambique, onde trabalhou como meteorologista.
De Lourenço Marques foi transferido para a cidade de João Belo, hoje Xai-Xai, onde desempenhou as mesmas funções. Como forma de complemento dos seus rendimentos, dedicou-se igualmente à prática da agricultura na região de Chicumbane, no vale do rio Limpopo. Mais tarde, Mateus Muthemba foi transferido de volta para Lourenço Marques de onde seguiu para Vila Pery, actual cidade de Chimoio. Nesta cidade continuou a exercer as funções de meteorologista. Foi alvo de sucessivas transferências por parte das autoridades administrativas coloniais. Com este procedimento, as autoridades visavam isolar-lhe dos seus irmãos, todos conotados com o espírito revolucionário. De realçar que desde os primeiros momentos do surgimento do nacionalismo em Moçambique Muthemba demonstrou uma atitude considerada subversiva pela autoridade colonial.
Durante um jantar oferecido a E. Mondlane em Xai-Xai
Durante um jantar oferecido a E. Mondlane em Xai-Xai

PARTICIPAÇÃO NA CLANDESTINIDADE

Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008:: Notícias

Mateus Muthemba faz parte dos primeiros grupos de moçambicanos a se envolverem em acções de luta clandestina. Quando o Dr. Eduardo Mondlane, então funcionário das Nações Unidas visitou Moçambique em 1961, tendo também passado por João Belo, Muthemba fez parte do grupo que, revelando a sua elevada consciência patriótica, encarregou-se pela organização da recepção em sua homenagem.
Na comissão organizadora deste evento, que teve lugar na praia de Sepúlveda, fizeram parte, de entre outros nacionalistas, Abiatar Sansão Muthemba, Afonso Casalino Mazuze, Gil Mazuze, Afonso André, Nicolau Abílio Fernandes, Marcos Novele, António Ribeiro, Eusébio Tamele, entre outros. Depois desta visita de Eduardo Chivambo Mondlane, a vida política teria outro rumo naquela região do país. Os moçambicanos  tinham percebido a mensagem da libertação daquele que em breve seria o arquitecto da unidade nacional, com a formação da FRELIMO.
Em 1964, Maduna Xinana, que usava também os nomes de Joel Romeu dos Santos Monteiro e Joel Guduane Chibambo, chegou a Chilembene, província de Gaza, mandatado da Frente de Libertação de Moçambique. Tinha como principal missão a abertura da IV Região Militar, destinada a desencadear a luta armada de libertação nacional, no sul do rio Save.
Maduna Xinana, em Chilembene, hospedou-se em casa de Samora Machel. Desta casa seguiu depois para a de Mbazima, colaborador da Frente de Libertação de Moçambique, onde haveria um encontro. Mateus Sansão Muthemba e outros convidados foram mobilizados a aderir à FRELIMO. Como consequência, Muthemba tornou-se a partir de então mobilizador e um dos responsáveis da organização clandestina na região sul do país. Posteriormente, Maduna Xinana deslocou-se à cidade de Lourenço Marques, tendo se hospedado em casa de Mateus Muthemba. O objectivo da sua deslocação era o de contactar o grupo preparado no âmbito da abertura da frente sul.
A PIDE/DGS foi alertada sobre as actividades clandestinas de Maduna Xinana e do grupo. Este, apercebendo-se, fugiu da casa de Muthemba, tentando uma saída via Suazilândia, circunstâncias que o levaram à prisão pela PIDE.
Face a este acontecimento um informante foi à cidade de João belo para revelar o sucedido. Reagindo a esta informação, Mateus Muthemba exclamou nos seguintes termos: a ti fijão de woxekile o que  na língua portuguesa equivale a dizer que “o feijão está torrado”. Esta expressão idiomática significa “fomos apanhados”; “fomos descobertos” ou “estamos em maus lençóis”.
As filhas de Mateus Muthemba
As filhas de Mateus Muthemba

INGRESSO E FEITOS NA FRELIMO

Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008:: Notícias

Foi certamente a prisão de Maduna Xinana que precipitou a fuga de Mateus Muthemba. Com efeito, passados alguns dias soube-se que estava em Dar-Es-Salaam, tendo partido via Suazilândia, isto em 1964.
Na Tanzania, Muthemba não foi submetido a treinos militares profundos, provavelmente devido à sua idade, cerca de 58 anos à chegada. Porém, recebeu preparação político-militar em Kongwa, tendo sido formado como instrutor, na companhia de 40 concidadãos.
Em Dar-Es-Salaam, trabalhou como chefe do Departamento de Comunicações nos escritórios centrais da Frelimo. A sua indicação como chefe resultou do reconhecimento  das suas competências técnicas e o carácter de liderança. Sem este combatente teria sido difícil organizar o programa de transmissões da Frente de Libertação de Moçambique.
O velho Muthemba, como era carinhosamente chamado, trabalhou bastante para o estabelecimento das bases, através das quais a rede da Frelimo operou no sul de Moçambique. É também a ele a quem se deve a organização da escola de formação na especialidade de rádio-comunicações neste período.
 NB: Estes dados vêm contidos numa brochura do Ministério da Educação dedicada à vida e obra dos heróis moçambicanos na cripta. 
Destacado Combatente da Luta de Libertação Nacional que nasceu nesta data em 1907
Centenário de Mateus Sansão Muthemba que se assinala hoje pode passar despercebido
Dizem os mais velhos, recordar é viver. E, hoje, vamos relembrar uma figura incontornável na história da libertação de Moçambique, que até há bem pouco tempo fizemos referência o seu heroísmo nacional, quando da celebração do trigésimo nono aniversário da sua morte, a 6 de Junho de 2007 (rever edição do Jornal O Autarca n° 1341, de 06.06.2007, quarta-feira).
Trata-se de Mateus Sansão Muthemba, destacado Combatente da Luta de Libertação Nacional, que nasceu a 25 de Julho de 1907 e que se fosse em vida completaria hoje, 25 de Julho de 2007, quarta-feira, 100 anos de idade.
O Autarca não tem confirmação de realização de qualquer evento ou manifestação política nem pública pela celebração do centenário de Mateus Sansão Muthemba – a semelhança da cerimónia que aconteceu recentemente em Nwadhahane, distrito de Manjacaze, província de Gaza, sul de Moçambique, quando da celebração do 87° aniversário natalício de Eduardo
Chivambo Mondlane, evento qual o Presidente da República, Armando Guebuza, tomou parte pessoalmente, tendo sido acompanhado por numerosos ministros do seu Governo, nomeadamente dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Alcinda Abreu; do Interior, José Pacheco; da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia; da Mulher e para a Coordenação da Acção Social, Virgínia Matabele; da Ciência e Tecnologia, Venâncio Massinga; da Energia, Salvador Namburete; da Juventude e Desportos, David Simango; da Saúde, Paulo Ivo Garrido; do Trabalho, Helena Taipo; e das Pescas, Cadmiel Muthemba; além dos Vice-Ministros das Obras Públicas e Habitação, Gabriel Muthisse; da Energia, Jaime Himede; do Turismo, Rosário Mualeia e o da Planificação e Desenvolvimento,
Victor Bernardo.
Tanto Muthemba como Mondlane, ambos figuram como destacados heróis nacionais. Os dois queridos filhos da pátria perderam a vida em circunstâncias mais ou menos iguais.
Em relação à Mondlane muito tem se dito, pelo que o mais importante neste momento talvez seja recordar que o destacado Combatente da Luta de Libertação Nacional Mateus
Sansão Muthemba, perdeu a vida em Dar-Es-Salaam, vítima de agressão física levada a cabo por agentes hóstis a FRELIMO. Era operador de rádio de comunicações.
Conta-se que os que lhe assassinaram eram reaccionários supostos do grupo de Gwenjere e, segundo eles lutavam contra o império de Gaza a favor da representatividade regional nos Escritórios da FRELIMO em Dar-Es-Salam.
Nos dias que correm, entretanto, vozes críticas tem se levantado contra o que apelidam de singularização de heróis neste país, visto que fala-se mais ou dá-se tratamento especial apenas alguns e não de outros.
“Todos os heróis são deveras importantes e devemos conhecer a sua história ou melhor trajectória” – opinião de Samuel Bernabe, filho do destacado combatente Bernabe Kajika,
publicada neste jornal, edição n° 1295, de 14 de Maio de 2007, que reagindo a um artigo publicado na edição deste diário n° 1293, de 10.05.2007, sobre o Herói Kajika, lamentava
o facto de sendo filho, nunca ninguém das hierarquias quer Partidárias quer Militares das FPLM da altura quiseram divulgar verdadeira data da morte do seu pai, apesar dos seus restos mortais encontrarem-se depositados na cripta dos Heróis Moçambicanos, em Maputo.
Este pode não ser o único caso do género.
O AUTARCA – 25.07.2007

1 comentário:

Anónimo disse...


Devem fazer um acréscimo/correcção em relação aos filhos de Mateus Sansão Muthemba, não consta aqui o nome do primogénito, o mais velho de Mateus Sansão Muthemba, Milagre Mateus Muthemba, já falecido.