sábado, 6 de junho de 2015

Ex-PR moçambicano Chissano considera intolerável que Renamo continue armada

O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano considera intolerável que a Renamo, principal partido de oposição do país, mantenha um braço armado, acusando o movimento de querer chegar ao poder a todo o custo.

"Um partido armado não é tolerável numa democracia, sobretudo quando ele [Afonso Dhlakama, líder da Renamo] é a pessoa que se intitula 'pai da democracia' e lidera um partido armado", afirmou Chissano, em declarações à Lusa.

O chefe de Estado moçambicano acusou a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) de provocar a instabilidade no país, supostamente por pretender chegar ao poder a todo o custo.

"Esta instabilidade é causada pelo facto de a Renamo querer estar no poder a todo o custo, eles querem a todo o custo estar no poder, não é por falta de democracia, porque o próprio líder da Renamo declarou que estava satisfeito com os arranjos feitos para a condução das últimas eleições", declarou Joaquim Chissano, referindo-se à recusa do partido de oposição em reconhecer a derrota nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.

Chissano afirmou que não foi possível desarmar o movimento após a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), em 1992, quando ainda era chefe de Estado, devido ao receio de eclosão de uma nova guerra.

"Não podíamos desarmar a Renamo com essas forças residuais, porque, primeiro, não sabíamos quantos eram eles e, se a gente desarmasse alguns tantos, se não havia de eclodir mais uma onda de matanças da população, portanto, agimos com cautela", afirmou o antigo chefe de Estado moçambicano.


Joaquim Chissano enfatizou que os sucessivos governos da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) não recorreram à força para desarmar a Renamo, para não dar um pretexto para uma nova guerra no país.

Sobre a resolução do problema, Chissano defendeu a via do diálogo, mostrando-se otimista em relação a uma solução política entre o Governo e a Renamo.

"A melhor maneira é o diálogo, vai chegar a altura em que a voz da razão vai-se fazer sentir mais forte, e já se faz sentir (...), por isso é que esta situação vem sendo controlada", declarou o antigo chefe de Estado moçambicano.

O desarmamento da Renamo está encalhado devido ao impasse nas negociações entre o movimento e o Governo, provocado pela falta de entendimento em relação à exigência do principal partido de oposição em ter os seus oficiais em postos de comando nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

Paralelamente, a Renamo insiste na criação de autarquias provinciais nas seis províncias onde reclama vitória eleitoral, como forma de ultrapassar o que considera ter sido uma fraude eleitoral, tendo dado um ultimato à Frelimo para viabilizar a proposta sob ameaça de tomar o poder pela força.

Joaquim Chissano, que chefiou o Estado moçambicano durante 18 anos, assinou com Afonso Dhlakama o Acordo Geral de Paz em 1992, acabando com 16 anos de guerra civil.

PMA/HB // EL

Lusa – 06.06.2015

Sem comentários: