terça-feira, 9 de junho de 2015

Defender o inimigo principal (1)

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Carta a Muitos Amigos
Noto nalguma comunicação social a tendência em distorcer os factos e, na recusa em analisar e no tudo encobrir, desvia a atenção sobre aqueles que combateram a nossa pátria, buscando na sequência bodes expiatórios.
Dentro de 11 dias, no dia 20, celebraríamos, se vivo, o aniversário natalício do Presidente Mondlane. Agora iremos depor uma flor na Praça dos Heróis.
Vejamos o assassinato de Mondlane. Uma bomba num livro de Plekhanov matou-o. Outras dirigidas a vários dirigentes não fizeram dano, porque nós já prevenidos fazíamos a verificação dos embrulhos e encomendas. Ainda assim, houve um camarada que nisto perdeu a vista e um braço.
Um famigerado criminoso, agente da PIDE/DGS, Casimiro Monteiro, de origem goesa, preparou o livro armadilhado na Beira, colocou-o dentro de um embrulho, endereçado a Silvestre Nungu, membro da Comissão Executiva e do CC da FRELIMO e dentro, num envelope selado, com selos e carimbos soviéticos, o livro-bomba dirigido a Mondlane. Entre os feitos de Casimiro Monteiro encontra-se o assassinato do General Humberto Delgado, a 13 de Fevereiro de 1965,em Espanha, perto da fronteira portuguesa e da sua secretária Arajaryr Campos, uma senhora brasileira. Depois do 25 de Abril, Casimiro Monteiro fugiu para França, onde encontrou vários protectores nos serviços franceses para quem também colaborava. Em Portugal, nenhum facínora da PIDE/DGS sentou-se no banco dos réus, cumpriu pena pesada de prisão. Houve detenções muito temporárias de um ou outro.
Orlando Cristina levou o embrulho para o Malawi em busca de um portador. Orlando Cristina fundador dos GE e GEP, braço direito de Jorge Jardim, depois do 25 de Abril fugiu para a Rodésia, onde com o apoio do regime criou a África Livre, depois o MNR e mais tarde aRENAMO, de que era o Secretário-Geral e principal dirigente. Os sul-africanos da Direcção da Inteligência Militar do apartheid assassinaram posteriormente Cristina na base da RENAMO na África do Sul, pois não queriam qualquer componente portuguesa ou pensante na organização. Assim o fizeram também relativamente aos dois irmãos Bomba e ao antigo embaixador moçambicano Ataíde. O apartheid só queria ao seu serviço negros bem boçais, obedientes e indiferentes a cometerem os mais diversos tipos de matanças, incluindo criancinhas, sem falar de destruições.
No consulado português em Blantyre encontrou um antigo missionário estrangeiro que trabalhara no Distrito de Sena. Quando soube que ele ia para Tanzânia de carro, solicitou-lhe que entregasse o embrulho a alguém da FRELIMO que encontrasse em Songea, na Tanzânia. Recomendou cuidado pois continha coisas frágeis. Inocentemente, o sacerdote assim o fez. Esse padre, posteriormente, confirmou-me pessoalmente estes factos. Em Songea encontrou um camarada nosso e sabendo que ele ia para Dar-es-Salaam rogou-lhe que entregasse o embrulho a Silvestre Nungu e que cuidasse bem, devido à fragilidade do conteúdo. Esse camarada assim o fez e chegado à capital tanzaniana contactou o destinatário que lhe marcou um encontro num hotel, junto ao antigo escritório do MPLA. Assim se fez e Nungu estava com Urias Simango.
Este camarada estava totalmente inocente e ignorava o que transportava, como se verificou num inquérito subsequente.
Retirado do embrulho o envelope, quando Mondlane saía do escritório, Nungu pediu a uma camarada nossa que corresse e entregasse o envelope ao Presidente que ia partir no seu carro para Oyster Bay. Ficava na casa de um casal afro-americano que, ausentes no serviço, punha durante o dia a casa à disposição de Mondlane para trabalhar. Este fazia longas caminhadas com os pés nus na praia, exercitando-se para as marchas dentro do país. Ao abrir o livro, a bomba decepou o tronco de Mondlane.
Quem estava ligado ao crime jamais entregaria a bomba no escritório, como o afirmou erradamente um manual escolar não revisto. Os compartimentos no escritório estavam separados por tabiques de UNITEX que nem subiam até ao tecto. Uma explosão poderia atingir tanto Simango, cuja saleta ficava ao lado de Mondlane, como o próprio Nungu. Na véspera do atentado Simango avisou Nkavandame que preparasse uma festa, porque iria ouvir boas notícias pela rádio! A festa realizou-se!
A investigação da polícia tanzaniana e da INTERPOL recompôs o suficiente do livro e do envelope para identificação. Igualmente, com os livros armadilhados subsequentes confirmaram-se os selos e carimbos soviéticos, assim como os autores dos livros, conhecidos marxistas.
Motins no Instituto Moçambicano precederam o atentado contra Mondlane assim como um ataque ao escritório da FRELIMO, quando lá não se encontravam, como acaso houvesse, Simango, Gwenjere e Nungu.
No ataque ao escritório assassinaram Mateus Sansão Muthemba, feriram o camarada Katchamila e Chissano escapou saltando por uma janela. Em Dezembro assassinaram Paulo Samuel Kankhomba, quando este quis regressar a Cabo Delgado, cuja fronteira Lázaro encerrara, porque discordava dos resultados do II Congresso. Ficamos sem munições, abastecimentos, possibilidade de evacuar doentes e feridos.
Já nesse momento os conjurados haviam conseguido que a Tanzânia expulsasse brancos da FRELIMO, o caso do Hélder e Helena Martins, únicos médicos da FRELIMO e membros da FRELIMO desde a sua fundação, professores do Instituto, Fernando Ganhão, João Ferreira e Jacinto Veloso.
Na essência o crime, mesmo que disfarçado por motivações racistas, regionalistas e tribalistas, visava garantir que o sistema de exploração capitalista e colonial-fascista continuassem, mas garantindo-se que os novos exploradores, moçambicanos aparentemente negros substituíssem o poder colonial. Por isso mesmo Nkavandame desmascarado juntou-se aos colonialistas, o mesmo fazendo Simango. Miguel Murrupa a eles ligado, também se juntou aos portugueses, Nungu suicidou-se.
Estes os factos e todos provados em vários inquéritos tanto da INTERPOL, polícia tanzaniana e nossos internos. Simango e Nungu reconheceram em parte na reunião de Abril de 1969 do Comité Central da FRELIMO. Posteriormente e após Simango haver participado na intentona dos ultracolonialistas do 7 de Setembro, ele reconheceu os factos.
Nos últimos anos surgiram várias historietas, todas possuindo em comum a tentativa de ilibar a PIDE/DGS, Orlando Cristina, Simango, Nkavandame, Nungu e outros autores e cúmplices do crime:
Afirmou-se que os soviéticos haviam assassinado Mondlane, porque o consideravam pró-chinês.
Tentou-se acusar Samora e outros camaradas do crime. Há que dizer que nesse momento Samora encontrava-se no interior de Moçambique a vários dias de marcha da fronteira. Nem pode chegar a tempo dos funerais de Estado que a Tanzânia realizou em honra de Mondlane.
Alegou-se que Mondlane só queria na direcção gente do Sul, excluindo os do Centro e do Norte.
Tazama vinha de Niassa; Chipande e Pachinuapa, Cabo Delgado; Munhepe, Sofala; Gruveta, Zambézia; Matsinhe, Tete; Olímpio Vaz, Nampula, e paro a enumeração.
Contra factos não há argumentos. Para uma comunicação social ou anti-social, fora e dentro do país, omitem-se os factos, busca-se o sensacionalismo pelo duplo objectivo de aumentar as vendas e destruir a História da pátria, o orgulho da vitória contra os regimes reaccionários da região e o colonialismo.
 Paciência. Toleremos a diferença e a asneira.
 Um abraço 
 P.S. Os escândalos ficam confinados na FIFA? Por cá nada?

SV

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