domingo, 10 de maio de 2015

Votar para quê?


Então votar para quê? Por motivos altruístas, por vaidade, por interesse pessoal, para minimizar o arrependimento, porque aprendemos com os erros... Escolha um motivo, e não se esqueça de votar.
Esta semana o Reino Unido foi a votos. A eleição para a Câmara dos Comuns (a outra Câmara, dos Lordes, não é elegida) foi surpreendente em vários aspetos: a vitória expressiva dos Conservadores a nível nacional, apesar das sondagens apontarem para uma eleição renhida, a vitória esmagadora do Scottish National Party na Escócia, a derrota significativa dos Liberais Democratas que perderam mais de metade dos deputados.
O que não surpreendeu ninguém foi a abstenção, que chegou a perto de 34% dos eleitores e foi ligeiramente inferior à das eleições de 2010 (35%). O aumento tendencial da abstenção desde a Segunda Guerra Mundial em vários países ocidentais (França, Holanda, Alemanha, por exemplo) tem atraído muita atenção, bem como os esforços para combatê-la. Basta recordar o vídeo do Parlamento Dinamarquês realizado antes das eleições europeias de 2014 para incentivar a participação, onde um super-herói chamado Voteman utiliza técnicas pouco convencionais para reduzir a abstenção. Em Portugal, excluindo os primeiros anos de democracia, em que praticamente não existia, a abstenção subiu de menos de 25,8%, em 1985, para 41,9%, em 2011.
As motivações para a abstenção nas democracias bem estabelecidas já foram amplamente estudadas e incluem a falta de qualificação, a idade dos eleitores (os jovens e os mais idosos votam menos), o sistema eleitoral (os sistemas maioritários favorecem um menor número de partidos, alienando assim uma parte do eleitorado potencial), ou a relativa importância da eleição aos olhos do eleitorado (por exemplo legislativas vs Europeia).
Todos estes factores são importantes para explicar a abstenção e mudá-los pode reverter a tendência dos últimos anos, mas na perspetiva de um economista, pode ser mais surpreendente o facto das pessoas escolherem votar de todo. Se olharmos estritamente para os custos e benefícios individuais de votar, a abstenção poderia ser muito maior (modelo de Downs, 1957).
Em espírito de serviço público, o Economista à Paisana foi descobrir para que serve votar.
Por um lado, o benefício de votar, que é dado pelos ganhos que o potencial eleitor antecipa de o seu partido favorito ganhar multiplicado pela probabilidade de que o seu voto altere o resultado a favor do meu partido, é infinitamente pequeno. Por outro lado, o custo de ir votar (custo físico de transporte, o custo de oportunidade e o custo de aprendizagem sobre os potenciais candidatos), não sendo muito elevado, é certamente superior ao benefício. Assim, esta contabilidade simples entre custos e benefícios deveria levar muito mais gente à praia em domingo de eleições. No entanto, a experiência mostra que, na maioria dos países com democracias estabelecidas há vários anos, mais de metade dos eleitores votam, pelo menos nas eleições legislativas, o que sugere que os benefícios antecipados são em média superiores aos custos.
Para explicar a realidade é preciso então modificar o modelo simples clássico para integrar outros potenciais benefícios das eleições (ver Geys, 2006). Alguns exemplos incluem:
  • O próprio Downs, autor do modelo simples inicial, sugere que existe um benefício próprio de votar, por exemplo para a sobrevivência da própria democracia, por sentimento de dever cívico, etc. Nesse caso, o principal benefício de votar deixa de ser o resultado eleitoral. Recentemente, tem-se feito um esforço significativo em explicar melhor qual será o benefício intrínseco de votar. Para isso tem-se recorrido a modelos sociológicos e psicológicos tais como o desejo de afirmação pessoal e de afirmação face aos outros, investimento em reputação dentro de um grupo específico socioeconómico, aprendizagem sobre as vantagens de votar ao longo dos anos, etc.
  • O benefício altruísta surge se os eleitores incorporarem nas suas preferências as preferências dos outros. Este altruísmo implica que ao votar, o eleitor beneficia também da felicidade dos outros por ganhar o seu partido.
  • A minimização do arrependimento pode também entrar nas preferências. Assim, votar permite reduzir o arrependimento no caso de o partido preferido perder. É, por sinal, esta a essência do vídeo dinamarquês.
Então votar para quê? Por motivos altruístas, por vaidade, por interesse pessoal, para minimizar o arrependimento, porque aprendemos com os erros… Escolha um motivo, e não se esqueça de votar.

4 Comentários

    • rasarrad .9 Mai 2015
      realmente é uma pobreza de razões…
      para mim a única razão devia ser a oportunidade de escolher um partido que tome as melhores decisões para o país e as pessoas…
      como isso é impossível na conjuntura corrente (não só em Portugal!) ou não voto ou voto em branco!
  • Joaquim Moreira9 Mai 2015
    Concordo com o apelo ao voto, no entanto gostaria de reflectir sobre duas questões: primeiro, há muita gente que vota sem a mínima convicção ou conhecimento de causa; segundo, não votar é muitas vezes uma manifestação de vontade.
    Estas duas reflexões, levam-nos a uma outra: o número de lugares no parlamento deveria ser proporcional aos votos dos votantes e dos não votantes, incluindo os votos em branco. Aqui está um bom assunto para a democracia resolver, antes que seja tarde.

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