segunda-feira, 18 de maio de 2015

UMA PALAVRA AMIGA AO MINISTRO DA EDUCAÇÃO PROF. DOUTOR JORGE FERRÃO


Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )

 “Quando exercemos o poder entramos também em processo de erosão, porque sofremos desgaste do tempo.”–Extraído da conversa com o amigo Nkulu
É um homem extremamente competente.
Não está possuído pela síndrome de grandeza ilusória, porque “considerar-se grande é a forma mais baixa de ser insignificante”, nem constrói sobre si muralha chinesa para impedir que os seus subalternos tenham acesso a ele, à semelhança de um pavão que tem as patas no chão e pensa que está empoleirada no planalto, pelo contrário, valoriza o capital humano e aglutina talentos de várias idades, respeitando sempre o próximo, como se fosse parte de si, algo que nos nossos dias é perfeitamente invulgar.
Como reitor da Universidade Lúrio, o Prof. Doutor Jorge Ferrão semeou esperança num meio desértico e soube colher, com mestria, abundantes frutos (maná) que hoje trabalham em diferentes instituições e lugares desta maravilhosa Pátria Amada, quer salvando preciosas vidas, quer impondo uma liça sem tréguas contra a pobreza absoluta que afecta grande parte da população moçambicana. Frisa-se que o Prof. Doutor Jorge Ferrão é verdadeiramente competente. Terá sido por estes predicados que o Presidente da República Filipe, Jacinto Nyusi, confiou-lhe o pelouro da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH). É de facto uma escolha acertada para um sector que há muito andava tresmalhada.
Ainda no campo das hipóteses, talvez seja pelo seu carácter simplista que alguns “profetas da negação”, enraizados no MINEDH, o empurram para um alçapão, chamuscando a sua imagem, quando todos os dias, no lugar de serem os seus súbditos, é o próprio ministro a “anestesiar” as nádegas dos alunos com promessas de carteiras em todas as escolas públicas do país. É possível, sim, mas dificilmente conseguirá fazê-lo em 5 anos. Que estratégia foi desenhada pelo MINEDH para alcançar esta proeza? Donativos? Não sei! O ministro Ferrão está a prometer coisas propensas à época da campanha eleitoral. Está, igualmente, a perder muito tempo aconselhando-se nalgumas pessoas (que jazem no arquivo morto da história do MINEDH) que no passado recente escangalharam o pelouro, ao invés de corrigir o desajustado e improvisado currículo.
As passagens automáticas devem acabar imediatamente, porque quem as importou, fê-lo com o propósito de aplicar “óculos verdes”, para que os superiores hierárquicos comessem “capim seco”, pensando estarem a manjar capim verde. Quis ludibriar com números estrondosos o que está escangalhado em qualidade. Pois é: “quando se trata de desgraçar o povo, alguns políticos são pouco propensos à invenção, havendo já a estrada percorrida”, diria, indignado, o meu amigo Nkulu. Os resultados dessa aventura estão à vista: os estudantes, de todos os níveis, enfrentam problemas de escrita e de fala (língua portuguesa), pior ainda, é não conhecer a história do país. Já dizia Voltaire que “Educar mal um homem é dissipar capitais e preparardores e perdas à sociedade”.
Ouço alguns dizer que o mal irá endireitar-se no futuro, no ensino superior, como se a consciência de um homem fosse um automóvel, basta uma marretada para consertar a direcção. A esse propósito, o saudoso Prof. Doutor José Hermano Saraiva dizia que ao Estado tanto custa ensinar bem ou mal, a diferença é que ensinar mal sai muito mais caro, tem custos. Uma sociedade é como um prédio, constrói-se apartir de uma alicerce, a prioridade, o investimento maciço, a grande massa de bem deve ser investida no ensino primário. O superior é já, enfim, o remate do prédio.
O ministro Ferrão não está proibido de espelhar o seu sorriso irradiante diante das câmaras televisivas, mas deve evitar banalizar-se em promessas de melhores salários aos professores, dedicar-se em inaugurações de escolas, de salas de aulas, abrindo eventos que “desaguam” em comeretes e beberetes, em viagens de auscultação, em seminários que terminam com as velhas recomendações: “precisamos de mais escolas e professores”, enfim, um ritual de coisas que têm um fim previsível: agitar águas, para depois vir à terreiro justificar: “nós, moçambicanos, somos assim.” O ministro deve resguardar-se, aparecer menos, ou seja, aparecer no momento certo e na hora certa, porque, de contrário, parece estar a justificar o que ainda não conseguiu fazer em 100 dias.
O ministro Ferrão não deve esquecer que só tem 4 anos e meio para corrigir o que se perdeu em 20 anos. O MINEDH não é, nem de longe, a Unilúrio.
O tempo de agir é agora. É tempo das escolas primárias voltarem a ser berços da nossa moçambicanidade, pólos de educação cívico-patriótica, centros nevrálgicos para a formação do “homem novo”, lugares onde o ensinar caminha de mãos dadas com a prática, pois “Educação não é só alfabetização, existe um conhecimento infinito de habilidades – como se faz um tijolo, como se lança uma semente, como se faz uma irrigação de forma adequada – que também são muito importantes para o verdadeirodesenvolvimento”. Federico Mayor.
Nos meus tempos de escola, o desporto e as actividades culturais saciavam a fome e consolavam a nossa situação de pobres. Actualmente, em muitas escolas, assiste-se a competição de posses: quem tem melhor calçado, melhor viatura, melhor “dama”, melhor casa, melhor telemóvel, etc. O nudismo, a proliferação da imoralidade, entre outros males, tomaram conta da “machamba” do saber. Já não se sabe onde começa e termina entre o quintal das escolas e das barracas.
Para que os estudantes conheçam o Hino Nacional, pratiquem o desporto, aprendam a História de Moçambique, etc., é necessário medidas imediatas do ministro Ferrão, e não esperar dois ou o tempo que for preciso para corrigir uma situação gritante. Porquê? Porque grande parte das nossas escolas perdeu a excelência. E “A excelência de uma Escola depende da capacidade de criação de condições qualitativas novas que melhorem a própria imaginação colectiva institucional. Sem isso, a excelência, a que toda a gente aspira, não passará de uma palavra vã que se vai limitar a ser vista em função de critérios quantitativos dependentes de paradigmas instalados que oferecem, como é natural, uma imensa resistência à mudança”. Silvério Rocha e Cunha ´.
O meu país tem muitos desafios pela frente, mas não poderá lograr êxitos se a educação for fraca. Como dizia o outro, senhor ministro Ferrão, o meu conselho é tão antigo quanto o tempo.
Zicomo (obrigado).
WAMPHULA FAX – 18.05.2015

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