Padre Filipe Couto, rendido ao impasse, atira a toalha ao chão e sugere:
Entreguemos esse assunto aos dois líderes
- “É uma derrota, mas uma derrota vergonhosa. É nossa responsabilidade de dizer a quem de direito que até aqui conseguimos e o resto sejam vocês a dizer. Não podemos continuar a enganar o povo” – exige o mediador
Figura bastante conhecida pelo timbre próprio e inconfundível, o Padre Filipe Couto decidiu assumir o papel de porta-voz do grupo de mediadores nacionais do chamado “diálogo político” entre o governo e a Renamo, que ontem reuniu-se na sua 104ª ronda. Filipe Couto, sem papas na língua e sem usar linguagem diplomática (porque não é seu estilo) disse, de viva voz, que eles (os mediadores) e os dois contendores (a Renamo e o governo) não podem continuar a enganar e a indignar o povo com discursos repetitivos sobre os insuportáveis impasses no final de cada ronda negocial.
Como sair disso? É assim que Filipe Couto questionou e deu a devida resposta.PARA ele, não há outra coisa que se possa fazer no Centro de Conferências Joaquim Chissano, pelo menos em relação aos temas que tem a ver com a despartidarização do Estado e as questões das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
A saída, na visão de Filipe Couto, é entregar-se os dois assuntos aos dois líderes. Só o Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama e o Presidente da República, Filipe Nyusi, podem resolver o impasse.
Ao nível do Centro de Conferencias, depois de mais de 30 rondas de impasse absoluto, nada mais se pode fazer em torno dos dois pontos em discussão simultânea.
Outra hipótese, no entender do padre Couto, isto no que diz respeito ao assunto “despartidarização do Estado”, é encaminhar o assuntoPARA a Assembleia da República, pois, ao nível do Centro de Conferências Joaquim Chissano, basta.
“É preciso sermos um bocadinho mais humildes e realistas e dizer que não pudemos fazer o que o povo gostaria que fizéssemos. Não tivemos coragem de dizer que aqui, na Joaquim Chissano, faltam-nos baterias. Não somos capazes de resolver problemas dos quais não temos hipóteses de resolver. Quem têm essas hipóteses são praticamente duas pessoas. (Filipe) Nyusi e (Afonso) Dlhakama. Tenho um sentimento de que eles, em alguma coisa chegaram e poderão chegar a acordo” – apontouCouto, exibindo ares de quemestava cansado e irritadíssimo como curso do “diálogo político”.
A improdutividade e a falta de respeito por parte dos antagonistas, entende Couto, chegou a um nível em que as partes em conversação se dirigemPARA o Centro de Conferências apenas para exibir que “sabem falar bem o português” e não para resolver as questões em discussão.
“Dhlakama e Nyusi estão a falar e nós estamos aqui encalhados a bater um ao outro e a mostrar que sabemos falar bem português. A dizer, se a memória não me falha, repetindo 600 vezes o mesmo discurso. Até as paredes sabem o que estamos a dizer. Desde Janeiro que estamos a discutir a despartidarização do Estado e não estamos a conseguir. Então, fazer o quê” – perguntou e, instantes depois, respondeu.
“Entreguemos isso a quem de direito: Ao parlamento ou aos dois líderesPARA que resolvam o resto porque nós fizemos o que podíamos fazer. Estamos aqui, a cada dia a vir tomar os assentos, tomar chá, começar, fazer pausa, tomar café e depois vir aqui (sala de imprensa) e declarar que estamos no encontro 102”.
Este cenário todo tem,PARA Filipe Couto, um nome. Chama-se derrota e, não só. Trata-se de uma derrota que devia envergonhar a todos que fazem parte do “diálogo político”.
“É uma derrota, mas uma derrota vergonhosa. É nossa responsabilidade dizer a quem de direito que até aqui conseguimos isto e o resto sejam vocês a dizer” – sugeriu,PARA depois concluir “não podemos continuar a enganar o povo”. (Rafael Ricardo)
MEDIA FAX – 12.05.2015
Dominus vobiscum
LEMBREM BEM:
Pergunta, questiona, duvida, analisa, vê mais melhor.
É BOM ACORDAR DE VEZ.