terça-feira, 5 de maio de 2015

Mais de 200 resgatadas ao Boko Haram na Nigéria estão grávidas


04/05/2015 - 19:35


Para muitas, já com a libertação à vista, o pesadelo prolongou-se. Algumas morreram atropeladas por carros de combate.Mulheres celebram a libertação no campo de deslocados de Yola AFOLABI SOTUNDE/REUTERS


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Pelo menos 214 das quase 700 mulheres e raparigas resgatadas na última semana pelo exército nigeriano ao Boko Haram estão grávidas. “Algumas estão visivelmente grávidas, outras deram positivo nos testes”, disse o director executivo do Fundo das Nações Unidas para a População, Babatunde Osotimehin.

O dado confirma a fragilidade da situação a que estiveram expostas as mulheres e raparigas raptadas pelo grupo islamista – muitas depois de terem visto executados maridos e filhos rapazes mais velhos, no momento do rapto. Asabe Aliyu, de 23 anos, contou ao jornal nigeriano Daily Times os abusos a que foi submetida ao longo de seis meses.“Tornaram-me um objecto sexual. Faziam turnos para se deitarem comigo. Agora estou grávida e não sei quem é o pai.”

Para muitas das resgatadas depois de um cativeiro de maus-tratos, abusos e privações, o pesadelo prolongou-se já com a libertação à vista. Algumas morreram apedrejadas pelos raptores, outras no fogo cruzado entre islamistas e soldados nigerianos, outras atropeladas por carros de combate ou atingidas pelo rebentamento de minas.

Os primeiros testemunhos recolhidos por jornalistas no campo de deslocados de Yola, para onde foram transferidas no domingo 275, confirmam anteriores relatos de abusos atribuídos aos islamistas. Muitas chegaram traumatizadas, com problemas de malnutrição e histórias de horrores.

Na altura em que os militares se aproximaram, "os Boko Haram que nos estavam a guardar apedrejaram-nos para que fossemos com eles para outro esconderijo, mas recusámos porque tínhamos a certeza de que os soldados nos iam salvar”, contou à Reuters Asabe Umaru, 24 anos. Algumas, não foi referido quantas, terão sucumbido ao apedrejamento.

O destino de outras não foi menos cruel. “Quando os militares assaltaram o campo onde estávamos detidas, os nossos raptores disseram-nos para nos refugiarmos debaixo das árvores e arbustos para escapar aos bombardeamentos”, disse à AFP Binta Abdullahi. “Mulheres que se tinham escondido foram atropeladas por carros que avançaram sem saber que elas lá estavam.”

Mesmo depois de resgatadas, os perigos não terminaram. “Os soldados fizeram subir para os carros as mais fracas ou doentes e pediram às outras para caminharem atrás, para evitarem as minas postas pelo Boko Haram, mas “pelo menos três mulheres e soldados morreram na explosão de uma mina pisada por uma delas”, afirmou também Binta, 18 anos.

“Pediram-nos para casarmos com membros do Boko Haram, mas dissemos-lhes que não podia ser porque já eramos casadas. Eles responderam que nos venderiam como escravas”, contou a mesma jovem.

Lami Musa, 19 anos, 27 noutras versões, disse ter escapado ao casamento forçado por estar grávida de quatro meses quando, há cinco, foi raptada. Os islamistas disseram-lhe que casaria quando desse à luz, o que acabou por não acontecer – foi salva um dia depois do parto.

Num relatório da Amnistia Internacional divulgado há semanas, a organização admitia que mais de 2000 mulheres e raparigas nigerianas tenham sido sequestradas desde o início de 2014. Desde que começou, em 2009, a insurreição do Boko Haram e a sua repressão provocaram a morte de mais de 15 mil pessoas. 






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