quarta-feira, 13 de maio de 2015

Fazer pela vida



13.05.2015
PEDRO IVO CARVALHO
1. Somos especialistas mundiais em debater com paixão as fatalidades, mas reincidimos com uma frieza inabalável na altura de as resolver. É assim com os incêndios florestais, que estão sempre a surpreender-nos, é assim com os afogamentos nas praias fora da época balnear, tão previsíveis como a queda das folhas no outono, é assim com a segurança dos peregrinos, sempre que uma parte considerável do país se precipita para as estradas nacionais a caminho de Fátima, como acontece por estes dias.
Na semana passada, fomos sacudidos por mais uma dose cavalar de realidade, quando cinco peregrinos, entre os quais dois jovens estudantes, foram atropelados, noite cerrada, por um automobilista. A fé que os guiava não lhes valeu. Morreram.
Como previsto, ressuscitou-se a discussão do costume. Como devem ir vestidos os caminhantes? É aconselhável circularem à noite? É desejável - e este é o ponto - que continuem a arriscar a vida em estradas nacionais que, nalguns casos, nem para os carros são recomendáveis?
A campanha de prevenção da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, sendo salutar, não chega. Porque o problema só se resolve quando a Igreja Católica portuguesa quiser. Quando decidir convocar as partes interessadas para criar um caminho alternativo, verdadeiramente fiável. Essa seria, mais do que rezar pelas suas almas, a melhor forma de a Igreja homenagear os peregrinos que morrem na berma da estrada.
Conselho grátis: por que não usar parte dos donativos entregues ao Santuário de Fátima (cujos montantes permanecem no segredo dos deuses), envolver as autarquias e o Estado central e gizar um mapa seguro, com uma forte vocação turística, ligando-o a Espanha? Já só falta um ano para o próximo 13 de maio. Estão à espera de quê? Já não vamos lá com palavras de conforto nem ave-marias. Façam pela vida.
2. Fazer pela vida é, também, o que pode dizer-se de dois portugueses que, de férias no Nepal, se transformaram numa agência internacional de ajuda humanitária. Pedro Queirós e Lourenço Santos decidiram dar bom uso ao Facebook e angariaram fundos para um povo arrasado pelos sismos. Não são Ronaldo nem Mourinho, mas projetaram nos ecrãs do Mundo a imagem de um país que se agiganta nos gestos simples. Depois da terra tremer, mais de 15 mil nepaleses aprenderam a dizer obrigado. Nós também lhes devemos isso. Obrigado, Pedro. Obrigado, Lourenço.

Sem comentários: