sexta-feira, 15 de maio de 2015

Afinal, o homem das cavernas não era machista

Vida


  
   
15/05/2015 14:35:00
    
Os especialistas recolheram dados genealógicos de duas tribos de caçadores-colectores. 
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Afinal, o homem das cavernas não era machista
Um estudo publicado na revista Science sugere uma ruptura com algumas ideias feitas da história da humanidade. Segundo Mark Dyble, antropólogo que coordenou a investigação realizada pela University College de Londres, as tribos nómadas pré-históricas regiam-se pela igualdade entre homens e mulheres. Além de quebrar o estereótipo de que o discurso da igualdade de géneros é algo da nossa História muito recente, o estudo vai mais além: sem uma organização igualitária, as sociedades humanas não teriam evoluído no sentido em que hoje as conhecemos.
“Ainda existe a ideia de que os caçadores-recolectores são mais ‘machos’ ou baseados numa sociedade de dominação masculina. Discordamos e defendemos que só com a emergência da agricultura, quando as pessoas começaram a poder acumular recursos alimentares, é que a desigualdade surgiu”, diz Dyble ao diário britânico Guardian. Sem essa paridade – que incluía a liberdade, de ambos, homens e mulheres, poderem escolher os seus parceiros fora da tribo – a nossa própria evolução seria posta em causa. Foi até uma vantagem para a sobrevivência, acrescenta o antropólogo: “A igualdade de sexos foi uma característica importante para a mudança da nossa organização social, que englobou o encontro de parceiros, o tamanho do nosso cérebro e a linguagem, que nos distinguem como seres humanos”.
Para a equipa, esse salto evolutivo permitiu até distinguir-nos dos nossos parentes biológicos mais próximos, os chimpanzés, “ainda hoje confinados a sociedades de dominância masculina e muito agressivas”.
E como chegaram a esta conclusão? Os especialistas recolheram dados genealógicos de duas tribos de caçadores-colectores, uma do Congo e outra das Filipinas. Esses dados incluíam laços familiares, movimento entre campos – as tribos não eram ainda sedentárias – e padrões de residência. Nas duas regiões, as pessoas tendiam a viver em grupos de 20 e mudavam de acampamento, em média, de dez em dez dias. Os seus meios de subsistência são os já aventados pelos manuais escolares – caça, pesca e recolha de frutos, vegetais e mel.
Os cientistas elaboraram então um modelo informático que simula o processo da disposição dos acampamentos, baseando-se na hipótese de que as pessoas os ocupavam juntamente com os seus entes mais próximos. O número de familiares chegados aumenta, dizem os autores do estudo, quando os laços de parentesco são mais estreitos, o que revela comunidades com dominância masculina. Quando os laços de parentesco entre os membros de um determinado acampamento são mais flexíveis, a igualdade prevalece.
Qual era então a vantagem de se poder escolher membros de tribos distantes como parceiros, cabendo a decisão, de modo igual, a homens e mulheres? Evitou-se a consanguinidade e os males genéticos que daí advêm, e, além disso, “tomamos contacto com mais pessoas, com as quais podemos partilhar inovações, algo que é uma característica humana por excelência”, conclui Dyble.

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