quarta-feira, 15 de abril de 2015

Um calcanhar daqueles


15.04.2015
MANUEL SERRÃO
1. A lógica é uma batata. Há quem defenda que o putativo lançamento, ou pré-lançamento, da candidatura do ex-reitor da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa, às presidenciais, é desprovido de qualquer lógica política e está a revelar-se um autêntico calcanhar de Aquiles para o líder do Partido Socialista, António Costa. Mas a lógica, em política, é quase sempre uma batata.
Atendo-me aos factos, a verdade é que nas últimas semanas muito se tem dito, opinado e especulado sobre esse cenário de candidatura, que não só nem sequer foi confirmado pelo próprio, como não me consta que nenhum partido, PS incluído, tenha saído a terreiro para comentar ou apoiar tal candidatura virtual.
Analisando os media durante as últimas semanas, aquilo que me salta aos olhos é a névoa que este Nóvoa provocou. Sem que o laureado universitário tenha tido grandes culpas no cartório, a verdade é que a agenda política dos últimos tempos abandonou as listas VIP e outros casos polémicos da governação, para se fixar obsessivamente nas presidenciais e, neste caso, na hipótese de candidatura de Sampaio da Nóvoa. Até o dr. Rui Rio, que estava posto em sossego no seu remanso calmo, foi obrigado a debitar sobre o tema do momento.
Há calcanhares que prenunciam grandes vitórias e apetece-me dizer aos socialistas que têm lançado António Costa às feras, que no Porto temos memória de um calcanhar que nos tornou campeões da Europa. Não consigo achar que o novo líder do PS vai ganhar as eleições e tornar-se novo primeiro-ministro de Portugal, mas sou capaz de defender que mesmo que Sampaio da Nóvoa não venha a ser o candidato apoiado pelo PS, já lhe está a prestar um grande serviço.
António Costa aprendeu com Guterres que o calado é o melhor e pouco tempo depois de se ter retirado da Câmara de Lisboa para assumir a candidatura às legislativas, nada melhor do que este banzé todo em torno de Sampaio da Nóvoa, para que o líder do PS possa continuar a assobiar para o lado. Que, já vimos, é o lado para que dorme melhor.
2. Basta uma batata
Os grandes "melómanos" do futebol recordam Viena como a capital da música clássica, onde uma grande "orquestra" portuguesa deu um "concerto" inolvidável, que pôs os alemães a pronunciar a palavra Porto acompanhada por uma respeitosa vénia. Como ficou para a história o "solista" argelino Madjer, por causa do seu toque mágico, um calcanhar daqueles que nunca mais se esquecem.
Num país que tem andado a toque de caixa muito por causa dos alemães, não faltam gargantas a pedir baile, mais logo. O que eu espero é que o nosso "maestro" utilize todos os "instrumentos" que tem à sua disposição para executar um recital, que até em Munique se ouça com silencioso respeito. E que nenhuma garganta lusa grite, alto e para o baile.
Na terra de Merkel, conta-se, terão ficado alguns "violinos" conhecidos, mas que não chegam aos calcanhares daqueles cinco violinos, que em tempos recuados encantaram a "tocar" naquele clube preferido de um outro candidato presidencial anunciado, Santana Lopes, que já deu também que falar por causa de outros concertos e outros violinos.
É de música para os ouvidos (e também para os olhos, já se percebeu) que falo, porque o nosso ilustre diretor prefere que eu não escreva sobre futebol. Por isso, à música que foi aqui tocando, sobretudo quando evoquei aquele toque celestial de Madjer (pode ler-se Mahler...) gostaria aqui de juntar a agricultura, numa pirueta tipo trivela, daquelas que o Quaresma imortalizou: esta noite basta-me uma "batata". Uma batata a zero.

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