sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sentido de responsabilidade ou vigarice?

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No tempo colonial, os homens honrados da comunicação social travavam uma luta bem dura contra os facínoras da PIDE e das censuras.
Contaram-me uma anedota ou história verídica que, no Cine Clube da Beira, fizeram passar o Couraçado Potemkin sob o pretexto que se tratava de um mero filme de piratas e que não se tratava de nada de revolucionário, tanto mais que já o haviam interditado em Portugal e em Lourenço Marques. O bom do censor doutorado em ignorância aceitou a tese do filme de piratas e o filme exibiu-se!
Há que lembrar homens bons desse tempo, a equipa corajosa da TEMPO, Cartaxana, Magaia, Craveirinha, Cardoso, Leite de Vasconcelos, Capela na Beira, tantos outros que já partiram e um ou outro veterano o Quatorze, Cabaço gente que não se seduz com lamber botas ou ver-se subsidiado pelas notas que para cá emigram para corromper consciências. Pena que esta gente competente e boa agora esteja afastada das redacções. Alguns dizem-me que na TV e jornais vitimados pelos famosos ou imaginários G40.
A comunicação social, escrita, radiofundida, televisada não faz parte dos facebooks e outras aplicações de difusão das fofocas, e quantas vezes de assassinato de carácter.
assassinato de carácter contém a palavra assassinato. O Código Penal moçambicano, a Procuradoria deveriam sempre tomar a iniciativa de investigar, não esperar pelas queixas.
assassinato de carácter destrói famílias, carreiras, vidas, pode levar a suicídios e mortes. A indiferença faz parte da negligência ou da incapacidade em compreender os novos crimes surgidos via a eclosão das tecnologias, redes de internet e comunicação mundial.
Coisas abomináveis já ocorreram, desde o assassinato de carácter duma senhora casada e mãe de filhos, governadora, a actos de racismo, até incitamentos à morte de jornalistas e juristas. Pouco antes do assassinato físico do jurista Cistac, o caso mais recente procedeu-se ao assassinato nojento do seu carácter, com doses violentas de racismo e ameaças de morte.
Depois de colaborar cerca de duas décadas com um semanário, senti-me forçado a afastar-me dele pois publicou artigos profundamente racistas contra várias personalidades respeitadas pelo nosso povo e fazedores da História desta pátria de heróis.
Um Marcelino, bem mestiço como um Rebelo e eu tratados de goeses, o Óscar ainda se pode considerar dessa origem. Mas se trabalhamos, militamos, contribuímos para criar esta Pátria, desde 1962, só em 2013 descobriram a nossa origem bem mestiçada de goês, negro, branco e por que não com tanta navegação no Índico, chinesa ou árabe? Qual a pureza racial desses escrevinhadores? Versão nativa de hitleristas de origem bantu, emigrantes da África Ocidental, ou dos fugitivos das perseguições zulus? Examinaram o seu ADN? Disse-me um director de jornal que o forçaram a publicar a infâmia e com a cobardia não pactuou.
Claro que até hoje ignoro a causa do assassinato do jurista Cistac, mas sei que houve acusações imbecis de racismo e até ameaças públicas de morte, ignoradas pela autoridade competente, quando tudo a tal a obrigava.
Um homem da comunicação social antes de publicar ou difundir investiga.
Infelizmente e, no caso Cistac, ninguém até hoje publicou ou difundiu um facto. A conversa de café, a especulação deveriam ficar por lá e jamais surgir nas páginas dum jornal, na voz da rádio e na imagem da TV. Houve até um idiota que censurou haver-se removido um ferido, alegando a necessidade de não contaminar o local do crime, preferindo pois que o deixassem morrer na rua em vez de prestar um socorro imediato.
Muitos os que fotografaram e enviaram as suas imagens para as ditas redes sociais, que deveríamos apelar anti-sociais, raros os que ajudaram. Onde fica a nossa consciência e responsabilidade no socorro à vítima que pode salvar uma vida, ou no enviar imagens dum evento para se gabar que também esteve lá? Cretinice crassa, imbecilidade total ou desumanidade?
Bem disse o Senhor Ministro do Interior: Primeiro salvar, depois preservar o local do crime o melhor possível. Primeiro socorrer, óbvio!
Pretensos porta-vozes de partidos deveriam manter a boca calada, pois com carência de moscas, articulam estupidezes crassas. Calem-se senhores, pensem antes de abrir a boca!
Os bandidos armados assassinaram o casal de juristas, pais do Ministro Nkutumula.
Aconteceu essa infâmia como parte dos ataques iniciais desses selvagens em 1990 na ligação rodoviária entre a Namaacha, Boane e Maputo.
Um fofoqueiro de ínfima ordem bramiu que SISE cometera uma tal atrocidade.
Os magistrados faziam parte de gente proba, respeitada e nenhuma querela os fazia entrar em contradição com o Estado ou o Partido FRELIMO. Provinham da minha terra natal e sempre mantive as melhores relações com ambos.
Quem tentou lançar esta mais que caluniosa idiotice, busca confundir a opinião, tapar pistas e assassinar o carácter do Ministro da Juventude.
Insinua que o Ministro mandara matar Cistac para se vingar do assassinato dos seus pais pelo SISE! Assassinar alguém que jamais esteve directa ou directamente envolvido no crime hediondo faz sentido? Donde veio esta ideia mais que bizarra senão duma cabeça bem tresloucada ou de alguém que deliberadamente busca semear confusão para fins bem obscuros e desviar a atenção dos verdadeiros mandantes e seus sequazes?
Muito mas mesmo muito feio, abjecto! Senhor Ministro apresente queixa contra esse mafioso, que o julguem e condenem!
A designação dum jornalista experimentado e probo à cabeça do Conselho Superior da Comunicação Social pode acender uma luz no fim do túnel da irresponsabilidade que mina uma das grandes conquistas do nosso povo e da Humanidade. Acreditamos que Tomás Vieira Mário esteja atento e se mostre acutilante.
Na nossa sociedade, por arrasto do que de fora vem, por espírito de macaco de imitação, falta básica de ponderação ou raciocínio e responsabilidade do cidadão comum com acesso aofacebook e quejandas, ao jornalista sem matéria para escrever, radiodifundir ou projectar está-se a propagar a doença perniciosa da fofoquice, calúnia, assassinato de carácter.
Quem não ficará chocado e revoltado de ver difundidas imagens duma irmã, mãe, pai, irmão, cônjuge, pessoa amiga e conhecida nua ou a praticar actos libidinosos? Quantas dessas imagens resultam de montagens e quantas as verdadeiras? Mesmo se verdadeiras, por que razão difundi-las senão para achincalhar e destruir A ou B? Mesmo se alguém errou e não cometeu crime perdeu o direito à privacidade?
Onde guardamos o respeito pelos outros? O apregoado amor ao próximo proclamado por todas as confissões e opções filosóficas?
Quero crer que a nossa legislação penal está mais que obsoleta, ignora o novo tipo de crimes que surge com as inovações tecnológicas e mantém-se branda no tocante a crimes infames, permitindo até liberdades provisórias e caucionadas a mandantes de assassínios, burlas, traficantes de droga.
Não chegou o tempo de reflectirmos e alterar o que não sanciona eficazmente o crime, desencoraja potenciais delinquentes e faz justiça perante a sociedade que clama por ela? Há que abraçar o sentido de responsabilidade. 

Sérgio Vieira
P.S. Parabéns Namíbia pelos 25 anos. Presidente Nyusi fez bem em ir saudar aqueles com quem sempre nos solidarizamos!

SV

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