domingo, 12 de abril de 2015

Papa classifica de “genocídio” o massacre de arménios em 1915

PÚBLICO e AGÊNCIAS

12/04/2015 - 10:57

(actualizado às 12:56)


Palavras do Papa abriram um "problema de confiença" entre os dois estados, reagiu o Governo turco.

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Está aberto um conflito diplomático entre o Vaticano e a Turquia. Depois de o Papa Francisco ter dito, neste domingo, que a morte de 1,5 milhões de arménios durante a I Guerra Mundial, quando o Império Otomano se desfazia, foi o “primeiro genocídio do século XX”, o Governo de Ancara reagiu considerando que o comentário criou “um problema de confiança".

Francisco, explica a BBC, não foi o primeiro Papa a usar a palavra genocídio. O termo consta de um documento assinado em 2001 por João Paulo II, mas este Papa foi o primeiro a pronunciá-la publicamente e o termo ecoou sob as abóbodas da Basílica de São Pedro.

Francisco estava consciente do impacte que as suas palavras iriam ter. Pronunciou-as na missa deste domingo, quando se celebrava a vida do místico arménio do século X São Gregório de Narek, que foi declarado doutor da Igreja Católica, e na presença do Presidente arménio. O Papa disse que a humanidade viveu “três tragédias sem precedentes” no século passado. “O primeiro, que é considerado o primeiro genocídio do século XX, atingiu o povo arménio.” A seguir referiu-se aos crimes “do nazismo e do estalinismo” e disse que outros genocídios aconteceram posteriormente, no Camboja, no Burundi, no Ruanda e na Bósnia. “Esconder ou negar o mal é como permitir que uma ferida continue a sangrar sem se tratar dela”, disse o Papa.

Em concreto sobre os arménios, o Papa recordou o “massacre inútil” e defendeu ser “necessário e até um dever” honrar a memória das vítimas. Mas logo de seguida vincou que a sua condenação era para todos os genocídios, ao dizer: “Falhas de memória” em relação a episódios como este fazem com que o mal continue a “infectar as feridas”.

Turquia reage

O Governo de Ancara reagiu de imediato. O embaixador do Vaticano na Turquia foi chamado e foi-lhe transmitido que o Governo turco “lamentava profundamente” o que acontecera e ficara “desapontado” com as palavras do Papa — Francisco, foi dito ao embaixador, criou “um problema de confiança” entre os dois estados.

O embaixador turco no Vaticano chegou a marcar uma conferência de imprensa, quando soube que o Papa — que tinha uma relação de grande proximidade com a comunidade arménia quando era cardeal na Argentina, diz a Reuters — se iria referir ao genocídio, mas cancelou-a.

Em 2014, o então primeiro-ministro turco, Recep Erdogan (agora Presidente), ofereceu as suas condolências aos descendentes dos arménios que perderam a vida. Mas considerou que a Arménia — cujas relações com a Turquia estão ensombradas pelo massacre da I Guerra — não deve transformar a questão “em matéria de conflito político”.

A Arménia defende que entre 1,5 e 1,7 milhões de arménios foram mortos entre 1915 e 1916 pelos turcos otomanos; Ancara diz que o número é bem menor. Defende que muitos arménios foram vítimas dos combates e frisa sempre que também muitos turcos morreram.

A maior parte dos académicos não turcos classificam estas mortes de genocídio, e entre os Estados que reconhecem formalmente o genocídio estão a Argentina (o país do Papa Francisco), a Bélgica, o Canadá, a França, a Itália, a Rússia e o Uruguai. Logo em Maio de 1915, França, Rússia e Reino Unido assinaram uma declaração conjunta contra o massacre, considerando que tinha sido cometido um “crime contra a humanidade e a civilização”.

Países como os EUA e outros aliados da Turquia têm sempre fugido ao uso do termo para evitar esfriar as relações com Ancara, parceira estratégica importante à porta do Médio Oriente.

Bula oficializa Ano Santo
No sábado, o Papa Francisco publicou a bula Misericordiae Vultus com a qual oficializou o Ano Santo extraordinário, que tem início a 8 de Dezembro e será dedicado à Misericórdia. O pontífice fez a apresentação da bula no átrio da Basílica de São Pedro, na qual entregou uma cópia do documento aos membros da Cúria Romana e aos prelados representantes das dioceses de todo o mundo.

Em seguida, o regente da Casa Pontifícia, o arcebispo Leonardo Sapienza, protonotário apostólico, procedeu à leitura de alguns trechos do texto, convocando oficialmente o "Jubileu da Misericórdia".

Neste documento, composto por 25 pontos, o Papa explica as razões que o levaram a convocar o Jubileu, que terá lugar entre 8 de Dezembro deste ano e 20 de Novembro de 2016, sob o mote "Misericordioso como o Pai". O texto divide-se em três partes: na primeira, Francisco aborda o conceito de "misericórdia"; na segunda, propõe práticas para viver o Jubileu; e, na última, faz uma série de chamamentos contra situações como a pobreza e a corrupção.




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