Se a Sessão do Comité
Central do partido Frelimo reivindicasse
um título para efeitos
de produção cinematográfica,
certamente que o título não passaria
muito longe de “A Grande
Queda”, muito próximo de “Der
Untergang” (“A Queda”), um filme
lançado em 2004 (vencedor
do Óscar para “Melhor Filme Estrangeiro”),
que narra a história
do fim de um dos homens mais
temidos da história da política
mundial, Adolf Hitler, interpretado
pelo actor suíço Bruno Ganz.
Se no filme “Der Untergang”
o temível Adolf Hitler, que dirigiu
a Alemanha e o seu partido
nazi (Partido Nacional-Socialista
dos Trabalhadores Alemães)
com braço-de-ferro, acabou
encurralado na grande sala do
“Führerbunker” em Berlim,
Armando Guebuza, o temível
“clarividente e visionário” acabou
encurralado também numa
grande sala, ali no vale do rio
Matola, em Hanhane, que alberga
a Escola Central do partido
Frelimo, na cidade da Matola.
Tal como no filme “Der Untergang”,
em que Hitler é aconselhado
pelos seus assessores
a resignar, pela óbvia falta de
condições de resistência e pela
impossibilidade de reversão do
sentido da guerra e o risco de
acabar em humilhação, Guebuza
também recebeu conselhos
para não arrastar a situação até
ao extremo, mas preferiu, tal
como Hitler, apresentar também
o seu plano “Terra Queimada”,
que consiste basicamente em
tentar abater psicologicamente
o inimigo através de ameaças.
Armando Guebuza entrou
para o Comité Central convicto
de que a organização ainda
funcionava nas suas mãos, até
porque já havia montado, no
massacre de Muxara, em Pemba,
uma Comissão Política e
um secretariado composto, salvo
singulares excepções, por
“yesmen”. Apercebendo-se do
cerco a apertar, com o refrão de
exigência de renúncia vindo de
“dentro e fora”, Guebuza ainda
foi a tempo de chamar pelos seus
dotes de propaganda intimidatória,
ao proferir, na abertura da
sessão do Comité Central, um
discurso inflamado, deixando
clara a sua intenção de continuar
a dirigir o seu partido. Não
era só importante deixar clara
tal intenção, era preciso difundir
o medo e coarctar qualquer
tentativa de debate da sucessão.
Se no filme “Der Untergang”,
mesmo com o Exército Vermelho
a apenas 12 quilómetros do
centro de Berlim, Adolf Hitler
foi capaz de declarar “eu os vencerei
em Berlim”, na “Grande
Queda de Hanhane”, mesmo
com o cerco a apertar, Guebuza
foi a tempo de declarar “vamos
transformar os seus sonhos em
pesadelos”, em alusão aos seus
adversários internos. Ou seja,
tal como Hitler acreditava que
iria vencer os adversários, Guebuza
também acreditava num
“déjà vu”, uma espécie de ré-
plica do Congresso de Pemba
de 2012. Para abater psicologicamente
os seus adversários,
tratou de arranjar dois epítetos
de ocasião, ultrajantes para os
seus adversários: “barulhentos”
e “perturbadores”. Estava
assim consumado o baptismo
da maldição aos adversários.
Mas, tal como em Berlim
o avanço do Exército Vermelho
era uma situação irreversível,
na Matola, o coro
e o quórum para a queda de
Guebuza também já estavam
num plano muito avançado.
Alcinda Abreu, membro da
Comissão Política, foi quem
deu o pontapé de saída, convidando
Guebuza a olhar para
a situação à sua volta. Alcinda
Abreu decidiu mesmo desabafar
de uma vez por todas, ao dizer
que Guebuza fomentou terror
dentro do partido e que os militantes
andavam todos com medo
de Armando Guebuza. Chegou
mesmo a dizer que há comentários
avulsos dentro do partido
segundo os quais quem expressar
livremente a sua opinião
“será sequestrado ou morto”.
Teodato Hunguana, membro
do Comité Central, aproveitou
também a ocasião para
responder aos adjectivos “barulhentos”
e “perturbadores”,
dizendo que apenas expressou
a sua opinião como cidadão
e que não via necessidade de
Guebuza resvalar para insultos.
Instalou-se um quórum anti-
-Guebuza, e estavam criadas
as condições para o “Führerbunker”
desabar. A cada inter-
(Continua na página seguinte)
O fim de um reinado que não deixa saudades
Comité Central da Frelimo transforma
sonho de Guebuza em pesadelo
Há uma extensa lista de colaboradores de Guebuza que ainda estão em funções no
Estado e no partido Frelimo e que poderão ser afastados nos próximos dias.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 3
Destaques
Eliseu Machava
Gabriel Muthisse Sérgio Pantie
Margarida Talapa
Edson Macuácua Lucília Hama
Esperança Bias
venção sugerindo a saída de
Guebuza seguia-se uma forte
salva de palmas. Guebuza já não
tinha condições para continuar,
porque estava abandonado. Se,
no filme “Der Untergang”, Hitler
recorreu ao suicídio, no filme de
Hanhane, Guebuza recorreu à
resignação em condições humilhantes,
tomando assim a porção
do seu próprio veneno, cuja receita
foi apresentada na passada
quinta-feira. Em “Der Untergang”
Hitler conhece o seu fim
com os seus fiéis lutando e acreditando
na “vitória final”, até que
decidem tomar porções de morfina
em suicídio, mas na “Queda
de Hanhane” os mais fiéis do
Fuhrer moçambicano, apenas
assistiram com o rabo entre as
pernas a grande derrocada. As figuras
que equivaleriam a Joseph
Goebbels, o ministro da Propaganda
de Hitler, nomeademente,
Edson Macuácua e Gabriel
Muthisse, estiveram em silêncio
e assistiram de forma impávida
à incursão e avanço das “tropas
soviéticas” rumo a Berlim. Até
porque apenas Macuácua é que
teve acesso ao “Führerbunker”
visto que Gabriel Muthisse não
é membro do Comité Central.
Se Hitler não viu a ascensão
dos “vermes”, tal como apelidava
os seus adversários, o protagonista
de “A Grande Queda
de Hanhane” teve de engolir a
humilhação a seco. O seu sonho
de transformar a vida dos
outros em pesadelo não só não
se concretizou, como foi obrigado
a viver o pesadelo de ver
as ideias dos “barulhentos” e
“perturbadores” a triunfarem.
Para o seu lugar foi eleito Filipe
Nyusi, que acumula com as fun-
ções de Presidente da República.
Guebuza não só deixou a Frelimo,
como deixa também o cargo
de presidente da Associação
dos Combatentes da Luta de Libertação
Nacional. Abandona o
seu partido depois de uma vaga
de pressão interna que levou
membros influentes da Frelimo
a virem publicamente contestar
a bicefalia. Dentro e fora, a disposição
bicéfala, com Guebuza
na presidência do partido Frelimo
e Nyusi na Presidência da
República, fazia com que o primeiro
fosse visto como bloqueio
para as iniciativas do segundo.
Nyusi foi eleito por 98,4% dos
222 membros do CC. Houve
dois votos em branco e um nulo.
Com a queda de Armando
Guebuza da direcção máxima do
partido Frelimo, abre-se a possibilidade
de uma remodelação no
secretariado. É uma questão de
tempo para a queda do actual secretário-geral,
Eliseu Machava, e
da sua máquina, o que poderá ter
implicações também no Governo,
que poderá sofrer mexidas.
Eis a lista dos colaboradores
de Guebuza que poderão perder
influência e sair pela porta pequena:
o porta-voz do partido,
Damião José; o actual secretário-geral,
Eliseu Machava; a
chefe da bancada da Frelimo,
Margarida Talapa; a antiga ministra
dos Recursos Minerais e
membro da Comissão Política,
Esperança Bias; o ex-ministro
dos Transportes e co-fundador
do G40, Gabriel Muthisse; o seu
par Edson Macuácua; o membro
da Comissão Política Sérgio
Pantie; a membro da Comissão
Política e antiga governadora
da cidade, Lucília Hama.
O episódio da queda de Armando
Guebuza fez recordar
as intervenções do então ministro
da Informação do regime
de Sadam Hussein, no Iraque.
O porta-voz do partido Frelimo,
Damião José, que até à
manhã da passada quarta-feira
era um homem cheio de convic-
ções, foi levado de surpresa pelos
acontecimentos, mas porque
nunca quis acreditar no fim da era
que o trouxe à exposição pública.
No programa “Café da Manhã”,
apresentado pelo amigo
pessoal de Guebuza Emílio
Manhique, emitido pela Rádio
Moçambique, Damião José falava
de um Armando Guebuza
forte e que tinha a confiança
dos membros que o elegeram
no Congresso, e que os mesmos
membros queriam que Guebuza
levasse o seu mandato até ao
fim. Foi Damião José que, na
tarde de quinta-feira deu com
vigor uma conferência de imprensa
a afirmar que a sucessão
não seria debatida e minimizou
toda uma onda de contestação
interna que se havia formado.
Foi o mesmo Damião José,
com semblante de incredulidade,
que chamou a imprensa
para a entrada da sala de reuniões,
já no domingo, para dar
aquilo que chamou “novidade”.
“O presidente Armando
Guebuza renunciou, perante
os membros do Comité Central,
ao cargo de presidente do
partido, ouvindo o apelo dos
membros e da sociedade”, disse.
Pelo volte face dos acontecimentos,
Damião José chegou
a ser comparado com o ex-ministro
da Informação do Iraque,
Mohammed Saeed Al-Sahhaf,
que afirmava que tudo estava
tranquilo, quando os tanques
norte-americanos já estavam
a desfilar nas ruas de Bagdad.
É que Damião José ignorou
todo o ambiente que já havia sido
criado para a queda de Guebuza,
e continuou a embarcar num
discurso de muito optimismo.
Damião José, o Al Sahhaf do guebuzismo
(Continuação da página anterior)
de Moçambique Moçambique
4 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Destaques
Ficha Técnica
DIRECTOR EDITORIAL
Fernando Veloso | veloso.f2@gmail.com
Cel: (+258) 84 2120415 ou (+258) 82 8405012
EDITOR EXECUTIVO E CHEFE DA REDACÇÃO
Matias Guente | mtsgnt@gmail.com | Cel: 823053185
CONSELHO EDITORIAL: Director, Editor, Sub-Editores, Chefe da
Redacção, Sub-Chefe da Redacção e Editores sectoriais.
REDACÇÃO
Matias Guente | mtsgnt@gmail.com | Cel: 823053185
Bernardo Álvaro | rabucane@gmail.com | Cel: 82 6939477 ou
84 5285696
Raimundo Moiane | raimundomoiane@yahoo.com.br | Cel: 82 4165943
André Mulungo | andremulungo4@gmail.com | Cel: 82 00 72 210
Cláudio Saúte | claudiosaute@yahoo.com.br | Cel: 82 8079810
COLABORADORES (repórteres “free lancer”)
Luciano da Conceição (Inhambane) | lucianodaconce@yahoo.com.br |
Cel: 82 5174200
José Jeco (Manica) | Cel: 82 2452320 | josejeco@gmail.com
DELEGAÇÃO DA BEIRA PROVÍNCIA DE SOFALA
Adelino Timóteo (Delegado) | adelinotimoteo@gmail.com
Cel: +258 82 8642810
Noé Nhantumbo (Redactor, residente na Beira) | noe742 @hotmail.com |
Cel: 82 5590700 ou 84 6432211
DELEGAÇÃO DE TETE
JoséPantie (Jornalista Correspondente) | Cel: 84 43 89 034 | jpantie49@
gmail.com
FOTOGRAFIA
Lucas Meneses
REVISÃO
A.S.
PAGINAÇÃO E MAQUETIZAÇÃO
Anselmo Joaquim | Cel: 84 2679410 | a.joaquim.m@gmail.com
PUBLICIDADE
Álvaro Chovane | 82 3672025 | 82 3073249 | 84 8630145
achovane@gmail.com
ASSINATURAS
Gabriel Chihale | 82 4806000 | 84 7872300
gchihale@yahoo.com.br
DISTRIBUIÇÃO E EXPANSÃO (REVENDEDORES / AGENTES)
Álvaro Chovane | 82 3672025 | 82 3073249 | 84 8630145
Luís Inguane | 84 81 59 337 | 82 38 74 060
CONTABILIDADE
Aníbal Chitchango | Cel: 82 5539900 ou 84 3007842 | chitchango@yahoo.
com.br
PROPRIEDADE
CANAL i, Lda * +258 823672025 * Av. Samora Machel, n.º 11 – Prédio Fonte
Azul, 2ºAndar, Porta 4 * Maputo * Moçambique
REGISTO: 001/GABINFO-DEC/2006
IMPRESSÃO: SGRAPHICS, Lda, Matola
Quando Armando Guebuza
ascendeu à Presidência
da República, em 2005, mais
de 54,7% dos mais de 20
milhões de moçambicanos
viviam na miséria. Apesar
de ter hasteado largamente a
bandeira de luta contra a pobreza,
hoje, dez anos depois, e
quando deixa o cargo de Presidente
da República, a percentagem
de pobres mantém-
-se quase inalterada. Apesar
dos discursos, nada mudou
Isto é o que se pode concluir
do relatório “Análise
da Pobreza em Moçambique”,
realizado para o grupo
dos 19 principais doadores
do Orçamento Geral do
Estado moçambicano pela
VU University, de Amsterdão,
citado pela Lusa.
É, de resto, uma conclusão
que não surpreende. Em vá-
rios relatórios divulgados em
Maputo, o Fundo Monetário
Internacional sempre alertou
que o crescimento que o
país estava a registar não se
estava a traduzir na melhoria
das condições de vida dos
cidadãos mais pobres. Segundo
o FMI, o crescimento
não foi favorável aos pobres.
Pelo contrário, assistiu-se
a um cenário de acumula-
ção de riqueza nas mãos
de um punhado de pessoas
que detêm o poder, e que se
tornou cada vez mais rico.
Um dos relatórios do
FMI, divulgado recentemente,
admite que o país
falhou no objectivo de reduzir
a pobreza até 42%,
em 2014, conforme preconizado
no Plano de Ação
para Redução da Pobreza
(PARP) 2011-2014, colocando
esse indicador em 54%.
Armando Guebuza chegou
a Presidente da República
quando o país se encontrava
entre os dez piores do mundo
no Índice de Desenvolvimento
Humano elaborado pelo
Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento,
e durante os seus dois mandatos
manteve Moçambique
com esse estatuto, ocupando
agora a 178.ª posição, numa
lista de 187 países, apesar
de a economia moçambicana
crescer mais de 7% ao
ano nos últimos dez anos.
A governação de Armando
Guebuza descrita pela Lusa
foi marcada por duas grandes
manifestações populares
violentas em Maputo contra
o custo de vida. Foi igualmente
marcada pelo retorno
à violência militar no primeiro
trimestre do ano passado,
opondo as Forças de Defesa
e Segurança e o braço armado
da Renamo, vinte e
um anos após a assinatura
do Acordo Geral de Paz.
Os confrontos, que terminaram
formalmente em
Setembro de 2014, provocaram
a morte de um número
indeterminado de pessoas e
a destruição de bens, maioritariamente
no centro do
país, fazendo temer que o
confronto militar resvalasse
para uma guerra à escala nacional,
como a que antes arrasou
o país durante 16 anos.
Vários relatórios internos
e internacionais apontam
os dez anos dos dois mandatos
de Guebuza como um
período de maior reforço
do domínio do Estado pela
Frelimo, que reactivou células
que estavam operativas
durante a época do monopartidarismo.
(Redacção)
Dez anos nulos na luta contra a pobreza
Guebuza deixa o país
com níveis de pobreza
iguais aos que encontrou
de Moçambique Moçambique
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 5
Destaques
de Moçambique Moçambique
Nós, os Bispos Católicos de
Moçambique, reunidos em Conselho
Permanente, de 24-26 de
Fevereiro de 2015, no Centro Catequético
de Guiúa, em Inhambane,
vos saudamos cordialmente,
com grande estima e considera-
ção, ao mesmo tempo que manifestamos
a nossa solidariedade
com todos os nossos irmãos que,
pelo país fora, sofrem grandes
dificuldades, sejam elas provocadas
pelas calamidades naturais
ou por motivos de egoísmo humano.
O seu sofrimento é o nosso
sofrimento e de cada um dos
moçambicanos que se sentem
irmanados pelos mesmos desejos
de comunhão, de paz e de solidariedade,
porque o imperativo da
«unidade nacional» nos impele
a sofrermos com quem sofre e
a nos alegramos com quem se
alegra, como é próprio duma
família em que todos os seus
membros comungam da sorte
uns dos outros e juntos procuram
superar as dificuldades e construir
um futuro próspero e feliz.
É a partir da consciência desta
busca comum do bem-estar e da
felicidade, cimentada nos laços
de unidade em que a nossa história
comum e secular se foi tecendo,
que queremos reafirmar o
valor da «unidade nacional», expressão
à qual frequentemente se
faz recurso nos meios de comunicação
social e no diálogo político
hodierno. De facto, a verdadeira
«unidade nacional» não pode
estar ancorada nos meros limites
geográficos do nosso país nem
mesmo na letra morta das leis que
regem o nosso estado, mas sim
na comunhão real dos moçambicanos,
animados pelo mesmo
espírito de fraternidade e de solidariedade,
na construção duma
nação feliz, saudável e próspera.
Nesse sentido, a consolidação
da «unidade nacional», que constitui
um bem inestimável para
todos, uma riqueza à qual não podemos
nunca renunciar, não pode
jamais ser considerada um monopólio
exclusivo de alguns grupos
fechados em si mesmos e obcecados
pela ganância do poder
político e económico. Como todo
o verdadeiro bem-comum, a nossa
«unidade nacional»,empenha
todos os membros da sociedade
moçambicana: ninguém está escusado
de colaborar, de acordo
com as próprias possibilidades,
na sua busca e no seu desenvolvimento,
pois ela exige ser servida
plenamente, não segundo visões
redutivas, subordinadas às vantagens
de parte, mas com base em
uma lógica que tende à mais ampla
responsabilização de todos.
De facto, ela é um bem árduo de
alcançar e, por isso mesmo, exige
uma capacidade de total renúncia
dos interesses meramente egoístas
e a busca constante do bem-estar
do outro como se fosse próprio.
A «unidade nacional», portanto,
constrói-se todos os dias, com
a participação de todos os mo-
çambicanos: homens e mulheres,
crianças e velhos, jovens e adultos,
sem exclusão de ninguém.
Nos dias que correm porém,
por causa da partidarização de
grande parte das instituições do
estado moçambicano, o número
dos excluídos na tomada de decisões
importantes sobre o nosso
país e seus cidadãos cresce vertiginosamente
e o governo do dia
revela-se cada vez menos capaz
de executar alguns dos objectivos
fundamentais daquela agenda
que o Estado Moçambicano tem
bem plasmados no número 11 da
sua Constituição: a edificação de
uma sociedade de justiça social
e a criação do bem-estar material,
espiritual e de qualidade de
vida dos cidadãos; a promoção
do desenvolvimento equilibrado,
económico, social e regional do
país; a defesa e a promoção dos
direitos humanos e da igualdade
dos cidadãos perante a lei; o
reforço da democracia, da liberdade,
da estabilidade social e da
harmonia social e individual; a
promoção de uma sociedade de
pluralismo, tolerância e cultura
de paz; o desenvolvimento da
economia e o progresso da ci-
ência e da técnica; a afirmação
da identidade moçambicana, das
suas tradições e demais valores
sócio- culturais; razão pela qual
a «unidade nacional» está cada
vez mais ameaçada por interesses
meramente partidários ou de algum
grupo de pessoas singulares.
Não faltam exemplos concretos
do que acabamos de dizer e
estão bem patentes aos olhos de
quem quer ver a verdadeira realidade
do povo moçambicano.
De facto, a injustiça gritante da
pobreza esmagadora da maioria,
enquanto alguns enriquecem desonestamente
e vivem no fausto;
a ausência de transparência na
exploração dos recursos naturais
e o total desrespeito do meio
ambiente; a extorsão de terras
aos camponeses nacionais para
a implantação de megaprojetos
que só favorecem as multinacionais
estrangeiras e uma minoria
insignificante de cidadãos mo-
çambicanos; a ambição desmedida
de funcionários públicos que
fazem da corrupção, da pilhagem
e do branqueamento de capitais
o seu modus vivendi, para o pró-
prio enriquecimento; o recurso à
força, arrogância e intolerância
para impor as próprias ideias e
opiniões; os pleitos eleitorais
feridos frequentemente de irregularidades,
reduzindo assim a
sua atendibilidade e anulando a
participação do povo na escolha
dos governantes do país; a exclusão
social, económica e política
de tantos moçambicanos; tudo
isso torna a nossa «unidade nacional»
cada vez mais tremida e
nos impede de ser uma verdadeira
família, onde cada membro se
ocupa pelo bem-estar do outro.
A «unidade nacional», portanto,
não pode reduzir-se a uma
expressão retórica ou, pior ainda,
ser utilizada para excluir milhões
de cidadãos moçambicanos, condenados
a viver como apátridas
no seu próprio país. Para consolidar
a verdadeira «unidade
nacional», é urgente que todos
nos empenhemos na construção
dum país próspero e saudável:
através da inclusão sociocultural,
com políticas de acesso à educação
séria e de qualidade, que
permitam a todos os cidadãos
de se transformarem em agentes
do seu próprio desenvolvimento
e do país; através duma política
de difusão dos serviços gerais de
saúde para todos, respeitando a
vida e a dignidade de cada cidadão
moçambicano; através da garantia
da liberdade de expressão,
como pressuposto indispensável
para um diálogo sincero e verdadeiro,
onde cada um se sinta livre
de expressar as próprias opiniões,
sem temer pela sua incolumidade
física; através da inclusão económica,
favorecendo a participação
de todos, particularmente
dos jovens e dos camponeses, na
construção da riqueza do país,
velando para que o nosso crescimento
económico seja realmente
sustentável e não à custa do sacrifício
das gerações vindouras;
através da inclusão política, onde
todas as forças vivas da comunidade
nacional: partidos políticos,
sociedade civil, organizações
não-governamentais e associa-
ções privadas, tenham espaço
suficiente para o diálogo, em
vista da construção dum estado
verdadeiramente democrático.
De facto, se a inclusão sociocultural,
económica e política são
os pilares da «unidade nacional»,
o caminho mestre para a sua consolidação
é o da procura sincera
do diálogo e da participação de
todos os moçambicanos na vida
do país: através da escuta sincera
e respeitosa das propostas e opiniões
de todos; da real adequação
dos processos de governação à
situação concreta do país, procurando
sempre actuar aqueles
modelos de governação que
mais respondam aos interesses
de todos os cidadãos, mormente
os mais desfavorecidos; através
da implementação de políticas
concretas de inclusão e de participação
de todos na vida da na-
ção, renunciando à opinião errada
de que a maioria pode fazer tudo
sozinha, ignorando sistematicamente
a opinião válida e qualificada
dos grupos minoritários.
Para terminar, saudamos e
encorajamos as várias iniciativas,
de pessoas singulares ou de
grupos, que visam a construção
duma verdadeira «unidade nacional»,
marcada por um clima de
comunhão, de justiça, de solidariedade,
de fraternidade, de paz
e de reconciliação. Do bem-estar
de todos os moçambicanos depende
o bem-estar de cada um de
nós. Deus abençoe o nosso país!
Inhambane, 26 de Fevereiro
de 2015.
Pelo Conselho Permanente da Conferência
Episcopal de Moçambique,
Dom Lúcio Andrice MUANDULA
Bispo da Diocese de Xai-Xai e
Presidente da CEM
Os 10 anos de Guebuza vistos pela
Igreja Católica
6 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
de Moçambique Moçambique
Destaques
Tomaz Salomão, antigo ministro
dos Transportes e Comunicações
e secretário-executivo
da SADC foi uma das vozes que
defendeu o debate da sucessão e
a necessidade de os membros
expressarem de forma livre a
sua opinião, sem qualquer tipo
de intimidações. É um dos
membros influentes do Comité
Central do partido Frelimo, e já
foi várias vezes associado à ala
tecnocrata que foi ostracizada
na era de Guebuza. Aproveitá-
mos o intervalo do almoço durante
a sessão do Comité Central
desse partido para lhe fazer
perguntas sobre o ambiente tenso
que se estava a viver na Matola
e sobre o futuro do partido
Frelimo. Numa breve entrevista
ao de Moçambique Moçambique, o antigo”
homem forte” de Gaberone
diz que a paz não tem preço e
que deve ser uma das principais
tarefas do novo presidente do
partido Frelimo.
Canal – Como militante
e cidadão, o que espera do
novo ciclo que se abre dentro
da Frelimo?
Tomaz Salomão – Há um
novo presidente que foi eleito.
Os ciclos trazem sempre
novos desafios, não do ponto
de vista de mudança de linha,
mas de implementar. Eu creio
que o maior desafio é o de assegurar
uma maior inserção da
Frelimo na sociedade e eventualmente
recuperar algum
terreno perdido. Mas fazer ver
que a Frelimo continua uma
força política importante no
contexto político nacional.
Canal – A que terreno perdido
se refere?
Tomaz Salomão – Eu disse
“eventualmente algum terreno
perdido”. Se há terreno perdido
ou não, os cientistas vão fazer
análise e vão dizer se a Frelimo
perdeu terreno, e, na base
disso, se chegarmos à conclusão
de que perdemos terreno, é
preciso recuperar esse terreno e
ganhá-lo. E é uma coisa muito
simples, se quiser olhar para
coisas mais concretas, é que
tínhamos 191 deputados e perdemos
47 lugares. É mais neste
sentido que me estou a referir.
Canal – A renúncia do presidente
Guebuza era algo de
que estava à espera?
Tomaz Salomão – Não
me surpreendeu. Porque, na
maneira de funcionar da instituição,
essas coisas podem
acontecer em Congressos. E
o Congresso há-de ser daqui a
dezoito meses. Em algum momento
isto ia acontecer. Agora
aconteceu, e foi antecipado.
Portanto, nesse sentido, não
estou surpreendido, pelo contrário,
acho que foi um processo
normal. O mérito foi que o
presidente percebeu qual era o
pensamento dos membros do
Comité Central e, na base disso,
acolheu o pensamento dos
membros do Comité Central.
Canal – Do novo presidente,
o que espera?
Tomaz Salomão – Muito trabalho.
Canal – Em que se traduz
“muito trabalho”?
Tomaz Salomão – Primeiro
vamos ouvir o que vai dizer.
Ele vai fazer um “statement”.
Não podemos antecipar.
Canal – Já fez uma declaração,
em que definiu a paz
como objectivo principal.
Como é que olha para essa
prioridade?
Tomaz Salomão – Mas ele
está a ser consequente com
o seu discurso, de que, “para
mim, a coisa que mais me importa
é reestabelecer a paz, a
harmonia e a concórdia entre
os moçambicanos. A paz não
tem preço”. Penso que ele está
apenas a ser consequente com
aquilo que tem estado a dizer.
Canal – O discurso do
agora ex-presidente, na passada
quinta-feira, teve algumas
interpretações cá fora.
Principalmente no atinente
à liberdade de os membros
exprimirem a sua opinião ou
exporem os seus pontos de
vista. Como é olha para essa
questão?
Tomaz Salomão – Olho
sempre da forma seguinte:
esta é uma instituição em que
a democracia sempre prevaleceu.
O que pode haver
é diferença de opinião entre
pessoas, e isso é bom até, que
pensemos de maneira diferente.
Isso é bom e até é positivo,
o surgimento de novas ideias.
Canal – Mas o ex-presidente
resvalou para epítetos
como “barulhentos”, e certamente
que se estava a referir
aos membros do partido...
Tomaz Salomão – Depende
da maneira como cada um
faz a interpretação. Para mim,
o ponto é a diferenças de pontos
de vista, diferenças de opinião,
isso é democracia. Elas
vão prevalecer e existem, e vão
continuar a prevalecer, mas isso
é bom e benéfico para o reforço
da unidade dentro do partido.
Canal – Mas, Dr. Tomaz
Salomão, quando se chega a
esse extremo de um presidente
chamar aos outros “barulhentos”
e outros adjectivos,
isso não pode colocar em causa
a tal liberdade de opinião e
a democracia interna?
Tomaz Salomão – Se ele
chamou “barulhentos”, ou não,
o ponto é que ele aceitou a discussão
desse assunto dentro da
sala. Isso é que é mais importante.
E o assunto foi discutido.
Canal – Sentiu-se visado?
Tomaz Salomão – Eu tenho
as minhas ideias, tenho pensamento
próprio e vou continuar
a ter pensamento próprio, e
discuto com os líderes, com o
presidente. E penso que isso é
bom para o partido e para as
instituições. E não devemos
estar preocupados com isso.
Tomaz Salomão: “Vou continuar a
expressar a minha opinião de
forma independente”
Editorial
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 7
Senhor Guebuza, a
Justiça espera por si!
Moçambique acaba de se ver livre de um dos homens que mais negativamente
contribuiu para o retrocesso desta nação. Sem exageros, Armando
Guebuza será recordado como um grande equívoco político. Um equívoco
singular, que levou o país a um equívoco administrativo colectivo.
Para os mais atentos, não faltaram avisos sobre o que seria do país se
cometêssemos o erro de entregar os destinos da nação nas mãos de um
cidadão que desde há muito tempo deu credenciais de inaptidão. Carlos
Cardoso, jornalista assassinado pelo regime no ano de 2000, já em 1997
havia traçado um fiel e autenticado perfil de Armando Guebuza, tendo ainda
colocado em anexo as consequências que poderiam decorrer da indica-
ção daquele cidadão. Com o texto “Guebuza, não!” – que publicamos mais
uma vez na presente edição, com a devida vénia –, Carlos Cardoso traçou
o perfil de um inapto cujo passado podia testemunhar a sua incompetência.
Típico de malabaristas, Guebuza entrou com um discurso contra o passado,
pretendendo dar a entender que ele era melhor do que o seu antecessor,
e que jamais existiu alguém melhor do que ele. Mas o tempo foi suficiente
para o desmentir e para expor um grande mafioso.
Guebuza hasteou várias bandeiras, sendo as mais sonantes a luta contra a
corrupção e o combate à pobreza. Tudo não passou de mentiras.
Com Guebuza, o país chegou a ser classificado, no barómetro do Índice
de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, como o terceiro pior
país para se viver no mundo, num universo de 187 países avaliados. O má-
ximo que Guebuza conseguiu foi manter o país na lista dos piores países.
E os dados andam aí avulsos para fundamentar a desgraça criada por Armando
Guebuza. Veja-se, por exemplo, que, quando Guebuza ascendeu ao
poder, o nível de pobreza era de cerca de 54,7 por cento. Apresentou vários
documentos de combate à pobreza, como o Plano de Acção de Combate à
Pobreza Absoluta (PARPA), com vários módulos, até ao Plano de Acção
de Combate à Pobreza (PARP). Com os níveis de pobreza a agudizarem-
-se, a única coisa que mudou foi apenas a própria designação do documento.
Porque, como certamente o estimado leitor poderá notar, na disposição
acima, a palavra “Absoluta” deixou de fazer parte do segundo documento.
Só mudaram os documentos, mas a pobreza continuou a fustigar os mo-
çambicanos devido às políticas que foram adoptadas. Os gestores dos fundos
agrários começaram a enriquecer enquanto a população continuou a
viver na miséria. A balança de pagamentos deteriorou-se. Um Inquérito ao
Orçamento Familiar, levado a cabo pelo Instituto Nacional de Estatística,
provou que a pobreza aumentou.
Enquanto isso, em sentido corrupto contrário, Armando Guebuza, os
seus familiares e os seus apaniguados começaram a ostentar riquezas
que só a corrupção pode explicar. De forma descarada, Guebuza começou
uma campanha de roubo jamais vista no mundo. Sendo ele uma
espécie de “Deus de Moçambique”, Guebuza liderou um bando que
assaltou por completo o Estado e instalou as suas próprias empresas a
sugarem o Estado.
São aos pontapés os exemplos da corrupção praticada por Armando
Guebuza ao arrepio da lei e por via da subalternização das instituições
da Justiça. Desde a “Tata”, que vendeu autocarros podres ao Estado, até à
adjudicação da digitalização à sua filha, sem concurso público. E também
os jantares na “Vale” e a adjudicação, sem concurso público, da exploração
da via férrea, os Bilhetes do Tesouro por via dos seus bancos privados, as
comissões da HCB relatadas pela Wikileaks e as mais recentes negociatas
com os gestores da ENI. Isto é só uma ponta do iceberg da corrupção que
atracou na Presidência da República e do partido Frelimo no consulado de
Armando Guebuza.
É urgente levar a cabo uma investigação séria ao império económico e
financeiro da família Guebuza. É da mais elementar necessidade colocar
este senhor num frente-a-frente com a Justiça, para que lhe seja dada a
oportunidade de justificar onde conseguiu tanto dinheiro nos últimos 10
anos. Se ainda quisermos ter alguma honra como país, é preciso não deixar
Armando Guebuza na impunidade. O povo moçambicano tem o dever
moral de levar Guebuza a explicar publicamente como é que os patos o
tornaram milionário, sem que em Moçambique haja restaurantes especializados
em pratos com derivados de pato. Guebuza deve mostrar ao povo a
empresa a quem fornece os seus patos, que, da noite para o dia, o transformaram
num dos cidadãos mais ricos de África.
Estamos todos ainda recordados da guerra em que Armando Guebuza nos
mergulhou para alimentar as suas fantasias de arrogante. E recordamos as
famílias dos jovens e adultos que morreram nas matas da Gorongosa para
satisfazer o insano desejo de Armando Guebuza de acabar com a oposição
no país. E recordamos os membros da oposição que foram assassinados.
Desde a instauração da democracia neste país, nunca se assistiu a um
regime tão brutal e assassino como o liderado por Armando Guebuza. A
oposição e sociedade civil viveram dias terríveis nas mãos de Guebuza.
Bandeiras de partidos da oposição queimadas, sedes vandalizadas, membros
assassinados foram a marca registada da “democracia” dirigida por
Armando Guebuza. Há que convocar este senhor para um encontro com a
Justiça e de indeminização ao povo.
Todos os cidadãos que foram vítimas do racismo, do ódio e da intolerância
propagados pelos órgãos de comunicação social públicos e privados
ligados à Frelimo de Guebuza merecem justiça. E quando Guebuza estiver
a responder por esses actos, que sejam chamados os implementadores dessas
campanhas segregacionistas. São eles Edson Macuácua e Gabriel Muthisse,
que arregimentaram os dirigentes dos órgãos de comunicação social
e alguns “intelectuais” com problemas de fome e de personalidade. Há que
responsabilizá-los pela campanha de divisão. Foi Guebuza que começou
a separar os moçambicanos com base na cor. Foi Guebuza que tratou uns
como “moçambicanos de gema” e os outros como “não de gema”. Há que
responsabilizá-lo.
Mas tudo isto carece de uma limpeza geral e generalizada do sistema de
Justiça, que hoje alberga os filhos mais incompetentes que a ciência jurídica
já pariu. Há que limpar todos os afilhados, cunhados, amigos, sobrinhos,
filhos de guarda-costas de Guebuza, que controlam o sistema judiciário.
Todos nós sabemos que não temos uma Procuradoria, um Tribunal Supremo,
um Gabinete de Combate à Corrupção, um Conselho Constitucional,
uma Assembleia da República. As nulidades que pontificam nesses órgãos,
em forma de dirigentes, só aplicavam a agenda de Guebuza. Portanto, devem
também ser convocados para o grande encontro com a Justiça. Não
temos instituições, Guebuza deu cabo de tudo, montando os seus rapazes e
raparigas, de competência muito duvidosa. Há que restabelecer a República,
para credibilizar o país. Só o povo pode restabelecer a ordem, para que
definitivamente o homem que mais danos causou à República possa ter um
encontro limpo com a Justiça.
de Moçambique Moçambique
8 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Opinião
de Moçambique Moçambique
Por Noé Nhantumbo
Afinal não era um embondeiro, mas sim um cajueiro.
Ambição, arrogância
e desgraça
Queda do “império de gaza”?
Tanto barulho feito, tanta
tinta gasta, tantas horas de televisão
para relatar um conto
mal contado. Foi o que se viu.
Espantam-se os “tristemente
famosos analistas da praça”.
Espantam-se os intelectuais
na diáspora em Maputo. Espantam-se
os apologistas “de
escova e língua” como instrumentos
de acesso a guloseimas.
Entristecem-se os jovens
do “famashow” do “whisky”
barato ou de rótulo azul, os
MC’s. Perderam o patrão. O
nosso “Kangamba” se foi. Vai
deixar muita gente de luto.
Tantos gastaram até a sua
dignidade para saírem na “fotografia
com o rei”. Agora que
o rei se foi, o que será deles?
Numa dinâmica prevista,
mas não certa, a uma velocidade
estonteante, caiu o rei
dos adjectivos qualificativos.
Da sua cartola já não sairão
mais impropérios ou insultos.
Um Comité Central centrado
na sobrevivência do
seu partido e das suas posi-
ções individuais decidiu que
isso colidia com o que AEG
estava fazendo. Num gesto
de força e de realismo, empurraram
o pretendente a
Kim il Sung para a “valeta”.
Todos aqueles que cantavam
hossanas ao chefe todo-
-poderoso foram apanhados
de surpresa. A concertação
de posições que terá havido
antes da reunião da Matola
não foi suficiente para
triunfar. Mesmo oferecer a
cadeira de PR a Filipe Jacinto
Nyusi de nada serviu.
Os que pretendiam o poder
e a substituição de um cônsul
que personificava a continuação
do chamado “impé-
rio de Gaza” viam-se ainda
fora do poder. A estratégia
de mediatização da “unidade
nacional” como fórmula
mágica e resolvente falhou.
O recrutamento de porta-
-vozes “pintados”, mas pouco
criativos, revelou-se fatal.
Mesmo a última ofensiva da
Comissão Política contrariando
a posição do PR resultou
num fracasso porque foi contrariada
por um pressão inesperada
a nível interno acrescida
de um posicionamento
cada vez mais firme e orientado
de uma Renamo atenta.
O que parecia impossível
aconteceu. Afinal nem era um
embondeiro. Logo que um
vento repentino soprou, a árvore
arrogante caiu que nem
um cajueiro de Nova Sofala.
É preciso reconhecer que
no lugar de “Unidade Nacional”
se cultivou o culto da
personalidade durante décadas.
Pequenos e grandes comissários
políticos, muitos
deles autênticas caixas-de-
-ressonância e moços de recados,
propagaram teses indigestas
e desestabilizadoras.
Num exercício de pleno lirismo
e poesia alegadamente
patriótica encheram tudo o
que era meio de comunicação
social servil de mensagens
que não eram mais do que formas
de ocultar o que faziam
na calada da noite: acumular
capital e acções em projectos
económicos. A coberto
de um hipotético “segredo
do negócio”, governantes
embarcaram numa ofensiva
empresarial privada lesando
o erário público como nunca
se viu em Moçambique.
A percepção que fica é
que tudo tentaram, mas
foram desmascarados.
Era uma questão de vida
ou de morte para um partido
combalido e desgastado por
décadas de retórica. Quem,
com tudo e oportunidade,
não conseguiu trazer desenvolvimentos
que fossem
sentidos pela maioria estava
em risco de desaparecer do
mapa numa acção contrária
aos anseios de obliteração da
oposição política manifestada
por alguns de seus veteranos.
Valeu a voz da razão.
Agora chegou o tempo
da limpeza geral. Sem legalismos
nem truques, os
moçambicanos querem arranjos
funcionais e estabilizadores,
que não sejam impedidos
nem travados por
concepções constitucionalistas
ou de outra natureza.
A liderança da Frelimo saída
do seu último Comité Central
tem uma espinhosa e complexa
missão. Remover as toupeiras
de AEG no Executivo.
Limpar o Conselho Constitucional
de figuras que abertamente
promoveram uma homologação
suspeita e viciada.
Proceder à criação de
condições para a construção
de um Exército
e Polícia republicanos.
Promover a coabitação política
sã, em respeito aos preceitos
democráticos, afugentar
os factores de beligerância,
garantir a liberdade de expressão
e de manifestação devem
ser questões na mesa do PR.
Parece que foi encontrada
a fórmula para uma saí-
da airosa para as partes. Os
moçambicanos aplaudem e
agradecem. Houve lideran-
ça. Os “tomates” que pareciam
definhados e murchos
encheram-se de sangue.
Um país ganha um novo começo.
A demagogia foi vencida
num golpe fulminante que
apanhou muita gente desprevenida
da queda do “cajueiro”.
É preciso serenidade e não
celebrar em demasia. Fôlego
deve ser poupado para
a gigantesca de recolocar
o país nos carris da PAZ.
Tudo será mais fácil se
houver capacidade de atrair
e motivar os recursos humanos
que o país tem nas diversas
frentes. Há gente que
pensa em Moçambique. Há
gente com o “know-how”
essencial para operar a transformações
de vulto no país.
Governar pode ganhar rapidamente
uma credibilidade
jamais vista é fundamental
para que as coisas
andem na arena governativa.
Cabe aos moçambicanos
continuar a pressionar
e a opinar sobre o seu país.
As chancelarias internacionais
que rapidamente
apadrinharam golpes como
o do Conselho Constitucional
e CNE devem estar surpreendidas
pelo desfecho do
“‘dossier’ AEG”. Moçambique
viu história acontecendo
e, nos seus despachos para
as suas capitais, muitos embaixadores
vão requerer revisão
de posições por parte
de seus Governos para com
Moçambique. Afinal os que
incitavam à guerra viram
as suas intenções goradas.
É preciso ver rigor no Governo
de Filipe Jacinto Nyusi,
e uma das coisas prioritá-
rias que deveriam ser feitas
na área económica era parar
de imediato com as exporta-
ções de madeira, até que fosse
reformulada a política de
exploração florestal. Foram
os milhões dólares desta madeira
que financiaram fraudes
que colocaram o país em risco
de uma nova guerra civil.
Tacto, astúcia, capacidade
de escutar e sobretudo
agir com diligência sobre
os vários “dossiers” nacionais
vai requerer liderança.
Afastar certas figuras do
processo negocial no CCJC
afigura-se quase que óbvio.
Mas não tenhamos ilusões,
se não forem afastados os
“pivots” de AEG no Governo
moçambicano, Filipe Jacinto
Nyusi continuará sem
muito espaço de manobra.
Opções em termos de nomes
existem e são até conhecidas.
O momento é para tudo
menos para hesitações.
Aproveitar os ventos que
sopram vai ajudar o “barco
a alcançar bom porto”
com menos esforços.
Um país
ganha um
novo começo.
A demagogia
foi vencida num
golpe fulminante
que apanhou
muita gente
desprevenida
da queda do
“cajueiro”.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 9
Por Hamilton S. S. De Carvalho – Professor Universitário, Correio electrónico: sarto.de.carvalho@gmail.com
À beira de uma democracia
deliberativa?
Uma primeira palavra de
saudação a todos os que professam
o catolicismo pela
entrada solene para a semana
santa rumo à comemoração da
Páscoa. Que seja uma semana
de perdão, seguido de reconciliação
atendendo as suas
múltiplas dimensões. Quero
também dirigir (em particular)
o meu voto de satisfação
ao prof. Doutor Gildo Espada,
por ter sabiamente conduzido
em provas finais, uma
notável e pertinente tese de
doutoramento, onde inesgotavelmente
explorou um tema
de interesse nacional, A Afirmação
do Direito de Águas,
discutida (na semana finda
– no ISCTEM) em vários
planos, sendo-lhe atribuída
pontuação máxima por unanimidade
o que lhe confere
o grau de Doutor. Que o seu
exemplo de entrega e dedica-
ção pela académia continue a
inspirar tantos outros jovens
como também velhos moçambicanos.
Muitos Parabéns!
Ora bem, penso que o tema
de hoje é encorajador. Basta
reparar para a sequência e
os rumos dos acontecimentos
que arrastam a nossa política
governativa a um patamar da
modernidade. Depois do beneplácito
consentido perante
olhar atento do ex-presidente
do partido da libertação nacional,
ao resignar e colocar
o lugar a disposição do atual
chefe de Estado. Depois de verificada
uma relutante batalha
prime facie de se travar e hoje
de se levar avante a proposta
do maior partido da oposição,
concernente a criação das Autarquias
Provinciais Autónomas,
que se circunscrevem nas
províncias maioritariamente
ganhas pelo “Partido-Réu” –
permitindo uma maior reforma
no processo da descentralização
iniciada em 1996, que
culminou com a instituição da
figura, Poder Local no texto
constitucional, acreditando-
-se (livre da demagogia e do
pessimismo hostil) que com
subsequente aprovação da
proposta em discussão venha
aventar a unidade nacional do
povo moçambicano. Superado
todos os prós e contras (inerentes
a existência de uma
partitura dicéfalo que limitava
os poderes de atuação do chefe
de Estado, “minando” parte
do seu programa quinquenal
de governo trazido através do
seu manifesto político-eleitoral)
e caminhando para um governo
de “unidade nacional”?
(ainda que não assumido), depois
de observada a “forçada”
“queda do Império de Gaza”
só me resta concluir que estamos
em face (ainda que aparente
e diminuta) de uma democracia
deliberada fruto da
«esfera pública». Porquanto,
esclarecendo, diria que estes
são passos significativos levados
a cabo por homens de
boa-fé (homens de virtu) e
que devem ser aprimorados e
ensaiados neste longo caminho
da construção e aperfei-
çoamento da democracia em
vista a aproximar-se cada vez
mais da “democracia real.”
O certo é que a menos já
foi colocado “gesso” num
dos pilares do nosso assento.
Depois de se assistir há uma
sucessiva clivagem que foram
se tornando salientes desde
as divergências entre partidos
políticos, as que tem que ver
com a oposição capital-trabalho
– aqui integrando o conflito
burguesia-proletariado,
urbano-rural, “Estado-Igreja”,
Partido-Estado, secularismo-
-crença, tomará que este assento
fique firme, até porque
no tocante ao exercício da
cidadania, este só há de ser
logrado se se estender para
além da mera participação no
escrutínio eleitoral, exigindo
o engajamento num processo
contínuo de discussão e
crítica-reflexiva das normas e
valores que orientam a nossa
coletividade moçambicana.
Reconhecendo o facto básico
do pluralismo (…) temos
que, apenas o envolvimento
e a participação de todos os
atores interessados e possivelmente
afetados por determinadas
questões e problemas
efetivos pode garantir a legitimidade
e a Justiça do processo
público de tomada de decisões.
Sendo certo que as questões
coletivas devem ser objeto de
apreciação e decisão por parte
de todos. Quando menciono
legitimidade e justiça, lembro-me
de Tomás Mours que
da sustento a necessidade de
se promover processos mais
revolucionários conducentes
a uma maior igualdade social.
E é com Morus que fecho o
artigo de hoje, conduzindo-os
à seguinte reflexão: “por toda
a parte onde a propriedade
constitui direito individual, e
onde todas as coisas se avaliam
por dinheiro, nunca poderá
organizar-se a Justiça e a
prosperidade social, a menos
que chameis justa a sociedade
na qual o que há de melhor é
pertença dos piores, a menos
que considereis feliz aquele
Estado em que a fortuna pú-
blica é presa de um punhado
de indivíduos insaciáveis enquanto
a massa é devorada
pela miséria.” O que na minha
opinião, a reversão dos factos
passará (independentemente
das teorias políticas (…) e/
ou ideologias) pela incorporação
de elementos subjetivos
e a elevação do cidadão como
categoria central, enquanto
protetor incondicional e por
excelência do Estado. É bem-
-vindo o desenvolvimento
do conceito «esfera pública»
uma vez que aliado ao princípio
republicano, princípio
do pluralismo e ao princípio
democrático fornece um suporte
analítico e diferenciado
para a discussão do bem comum
e os rumos da sociedade
politicamente organizada
(…) abrindo nova concepção
do exercício da política sob
outra configuração e de forma
emancipada por uma união
económica e política forte.
Entrosamento entre a «esfera pública» e o modelo democrático deliberativo.
Opinião
de Moçambique Moçambique
Porquanto,
esclarecendo,
diria que estes
são passos
significativos
levados a cabo por
homens de boa-fé
(homens de virtu)
e que devem ser
aprimorados e
ensaiados neste
longo caminho
da construção e
aperfeiçoamento
da democracia
em vista a
aproximar-se
cada vez mais
da “democracia
real.”
publicidade
10 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Opinião
Primeiro: tanto quanto se
sabe, nenhum dos chefes do
terrorismo global era conhecido
anteriormente como dirigente
religioso muçulmano.
Saem do anonimato e tornam-se
conhecidos directamente pela
prática de acções terroristas.
Segundo: nenhum dos mais
importantes dirigentes religiosos
do islamismo no Mundo
foi até agora apontado como
estando ligado ao terrorismo.
Pelo contrário, alguns deles já
declararam solenemente a sua
vigorosa condenação dos actos
terroristas, e multiplicam-
-se por todo o Mundo declara-
ções de crentes muçulmanos
que repudiam que o terrorismo
seja uma prática islâmica.
Terceiro: todos os chefes
terroristas e os executores de
actos terroristas aparecem sempre
armados de metralhadora
ou com uma metralhadora ao
lado ou rodeados de homens
armados de metralhadoras.
Mas acontece que não há conhecimento
de que exista no
mundo alguma mesquita que
tenha lá uma metralhadora ou
a imagem de uma metralhadora
como símbolo do islamismo.
Quarto: é bem provável que
o maior número de vítimas do
terrorismo global seja constituído
por crentes muçulmanos,
pois uma grande parte dos ataques
bombistas tem sido feita
contra mesquitas e contra mercados
em que a maior parte
das pessoas que lá se encontram
é constituída por muçulmanos,
tal como são também
os milhares de refugiados que
fogem dos ataques terroristas.
Quinto: quais são as mesquitas
onde os terroristas ditos “islâmicos”
cumprem os preceitos
de orações diárias que fazem
parte da religião muçulmana?
Apesar de tudo isto que foi
acima enumerado, os meios de
comunicação social do Ocidente
insistem em usar constantemente
a expressão “terrorismo
islâmico” (ou as variantes
“radicalismo islâmico” e “islamismo
radical”). Porquê?
Faz parte da natureza humana
buscar respostas para aquilo
que se apresenta incompreensível,
e esta história do “terrorismo
islâmico” aparece como
uma história muito mal contada.
Não se pretende fazer aqui a
defesa do islamismo em particular.
Todas as religiões são ideologias
de dominação do ser humano,
contrárias ao pensamento
crítico e ao pensamento científico.
Isso não impede, porém, que
haja cientistas que são crentes.
Mas alguns dos acontecimentos
que estão em curso no
Mundo impõem a necessidade
de se estabelecer uma diferenciação
clara e rigorosa
entre islamismo e terrorismo.
Porque é que o terrorismo
global surge no início
do Século XXI? Segue-se
uma explicação provável.
O retrato do sistema capitalista
ocidental enquadra-se
em quatro vértices: a guerra,
o neocolonialismo, a especulação
financeira e a corrupção
(com o seu cortejo
de todos os tipos de tráfico).
Próximo do final do Século
XX, teve o seu fim aquilo
que foi designado como
Guerra Fria, e que assegurava
a corrida aos armamentos.
Também nessa época, chegou
ao fim o sistema colonialista.
O sistema capitalista não sobrevive
sem estar em guerra.
A produção e venda de armamento
é a sua base principal
de sustentação, juntamente
com a pilhagem das matérias-
-primas dos países subjugados,
agora, pelo neocolonialismo.
Por outro lado, é preciso notar
o seguinte: os Governos
ocidentais são fundamentalmente
Governos cristãos. Em
alguns dos países ocidentais,
os governantes fazem o seu
juramento de tomada de posse
com a mão colocada sobre o
livro sagrado do cristianismo.
Por outro lado, comparecem
oficialmente com frequência
em cerimónias religiosas e fazem
invocações a Deus nas suas
intervenções públicas. Muitos
deles declaram-se publicamente
como crentes católicos ou
cristãos. Inclusivamente, existem
partidos políticos que se
definem como partidos cristãos.
Depois do ataque terrorista
à redacção do “Charlie Hebdo”,
ocorreu um episódio que
pode causar espanto. Um dos
terroristas havia gravado anteriormente
um vídeo em que
aparecia sentado ao lado de
uma metralhadora e fazia a sua
propaganda terrorista. Depois
da sua morte, os canais de televisão
dos países de Governos
cristãos fizeram uma ampla divulgação
deste vídeo nos telejornais.
Ora, isto é equivalente
a um anúncio publicitário nos
seguintes termos: “Se queres
ser uma celebridade ou um
famoso, faz um vídeo onde te
apresentes armado com uma
metralhadora, profere várias
ameaças, diz que és muçulmano,
e depois vai assassinar
várias pessoas. Garantimos-te
que serás premiado com a divulgação
do teu vídeo para todo
o Mundo nos telejornais das
nossas cadeias de televisão”.
Podem argumentar que a divulgação
desse vídeo é a prática
da liberdade de expressão do
Mundo ocidental. Mas essa é
a mesma “liberdade de expressão”
que baniu do vocabulário
cristão ocidental a palavra “neocolonialismo”,
que ninguém
poderá ouvir ser pronunciada ou
verá escrita nos órgãos de comunicação
dos países ocidentais.
Resta um argumento que parece
ser sólido: como é que se
pode negar que os terroristas
são muçulmanos, se são eles
próprios que se afirmam como
tal? Mas esse é o argumento
mais débil. Aquilo que alguém
diz de si próprio não tem qualquer
validade como critério. Se
não fosse assim, então “eu sou
o Nelson Mandela de Moçambique”
(e já somos dois no país!).
Se temos que considerar que
os terroristas são islâmicos,
porque eles próprios declaram
que o são, então, nessa mesma
óptica, não podemos considerá-los
terroristas, visto que
eles não se declaram como tal.
Nessa mesma perspectiva,
também seria impossível haver
fraudes eleitorais: bastaria que
aqueles que ocupam o poder
pela força das armas declarassem
descaradamente que foram
eleitos democraticamente.
Também não haveria ditadores,
porque todo o bom
ditador declara ser um grande
democrata. E também não
há governantes corruptos,
pois a frase que os corruptos
mais gostam de repetir é: “Tenho
a consciência tranquila”.
O uso insistente da expressão
“terrorismo islâmico” tem todo
o aspecto de ser uma campanha
ideológica levada a cabo pelos
Governos cristãos, com o intuito
de manipulação psicoló-
gica, para criar uma associação
de ideias entre “islamismo” e
“terrorismo”, porque o sistema
capitalista cristão ocidental tem
uma necessidade permanente de
fabricar a ideia do Outro como
inimigo: os extraterrestres (nunca
amigáveis, sempre com intenções
malignas), os negros,
os comunistas, os muçulmanos.
Inclusivamente inventaram
o termo “jihadista”
para designar os terroristas,
distorcendo o sentido originário
da palavra “jihad”.
A intenção de atribuir ao
terrorismo global um carácter
religioso é uma fabricação ideológica
que visa encobrir que o
terrorismo global tem dois objectivos
fundamentais: por um
lado, assegurar o aumento dos
lucros do negócio de fabrico e
venda de armamento; por outro
lado, debilitar os Estados – que
são corroídos pela corrupção financiada
pelos investidores estrangeiros
– e criar instabilidade
permanente nas regiões que são
cobiçadas pela Internacional
Neocolonialista cristã ocidental.
de Moçambique Moçambique
Por Afonso dos Santos
Governos cristãos, islamismo
e terrorismo
Capim Aceso
publicidade
Anuncie no
Contacte-nos:
canal.i.canalmoz@gmail.com ou
Telefone: (+258) 823672025 | (+258) 842120415 | (+258) 828405012
de Moçambique e
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 11
Opinião
de Moçambique Moçambique
Por João Mosca
Sinais de alerta
Os últimos meses existem indícios
de alerta sobre a sociedade
e a economia moçambicana. Um
conjunto de factores têm para isso
contribuído. Referem-se apenas
alguns que parecem, na opinião
do autor, os mais importantes:
• A evolução política após
eleições com raízes anteriores
de há pelo menos dois anos,
introduzem baixas de confian-
ça dos investidores e doadores,
mantendo-os na expectativa
do evoluir dos acontecimentos.
• Os mercados internacionais
indicam quebras de grande
amplitude nos preços de algumas
das principais exportações
moçambicanas, reforçando a
queda de entrada de divisas.
• Os dois pontos anteriores fizeram
reduzir a entrada de capitais
de investimento estrangeiro refor-
çado com o período em que a cooperação
externa prepara os planos
e as transferências dos fundos.
• Acontecem calamidades naturais
que obrigam à concentra-
ção de esforços, tempo, recursos,
sofrimento de cidadãos e efeitos
negativos sobre a economia.
• A instabilidade social interna recrudesceu:
assassinatos, ameaças
à integridade de pessoas e raptos.
• Existem sinais resultantes do
bicefalismo, divergências e pontos
de vista muito diferentes no seio
da Frelimo e intervenções desastrosas
de alguns dos seus dirigentes
que preocupam os cidadãos e
investidores, sobretudo porque
pouco contribuem para a criação
de um clima de paz e confiança.
• Há evidências que a Renamo
e o governo engendram
preparativos militares e recrudesce-se
o discurso da força.
• Face aos factores mencionados,
algumas multinacionais
ameaçam sair do país, vendem
acções em bolsas de valores, reforçam
as condicionalidades e
reformas legislativas que lhes são
favoráveis, entre outros aspectos.
Economicamente os empresá-
rios dizem “que isto está parado”.
O Banco de Moçambique regressa
à gestão administrativa/impositiva
da taxa de câmbio quando esta
desliza até níveis 36 MZN por
dólar e 38 MZN por euro, aspecto
ao qual não está alheia a “guerra”
cambial internacional entre norte
americanos e europeus, mas
que tem, e de forma não menos
importante, os factores atrás referidos.
No entanto, o sistema bancário
continua a praticar taxas de
câmbio muito diferentes às taxas
de referência e o foço entre os
mercados primário, secundário e
paralelo está neste momento acima
dos 20%. As reservas externas
baixam para níveis inferiores
a 3 meses quando se vangloriava
tempos atrás de reservas seguras e
estáveis de 6 meses ou mais. A elaboração
do orçamento para 2015
parece que foi quase uma missão
de “tornar possível o impossível”
face aos recursos, ao peso e penú-
ria do Estado herdado, às mudan-
ças institucionais/governamentais
e também às lutas para a obtenção
de maiores fatias orçamentais.
Estes factos e evoluções acontecem
imediatamente antes e
depois da tomada de posse do
novo governo. Um fardo pesado
deixado pela anterior governa-
ção que montou uma máquina de
propaganda com o objectivo de
garantir a sua saída “pela porta
grande”. Os chavões de propaganda
enganosa de que “a economia
vai bem”, “crescimento robusto”,
“estabilidade macroeconómica”,
“grandes riquezas naturais” etc.,
estão a cair na realidade e parece
os apóstolos da desgraça tinham
razão quando repetiram por ené-
simas vezes, que a economia era
dependente, frágil e vulnerável,
que as elites endinheiradas viviam
na ficção do mundo das mil maravilhas
e que os desequilíbrios e
distorções da economia e dos mercados
teriam que se manifestar em
forma de crise. Os sinais aí estão,
restando saber se há capacidade
económica, de recursos e ajustamento
(acerto) de políticas públicas
e relações políticas e de poder
para inverter os riscos eminentes.
As soluções, políticas e económicas
não podem ser de curto
prazo como tem acontecido. São
necessárias mudanças profundas
de política económica e de estratégias
assumidas com um plano
de transformação de estratégias
alternativas, aplicadas de forma
paulatina, se rupturas repentinas.
Mas é necessário começar já.
Para que isso seja possível, é
importante reconhecer em primeiro
lugar que a situação é de
alto risco. É necessário que os
políticos chamem a realidade pelos
seus próprios nomes porque
a intelectualidade moçambicana
emerge com algum vigor e onde
a maioria não é mais “domesticada/frelimizada”
com cargos
públicos benesses e mordomias.
A paz é um bem que merece qualquer
preço, incluindo a partilha
do poder e, eventualmente, nos
actuais contextos, de benefícios,
de diálogo e de acordos quanto
ao rumo do país. Mas passar de
um monopartidarismo silencioso/
disfarçado e negativamente eficaz
para um bipartidarismo Frelimo/
Renamo, contém elevados riscos
a médio e longo prazo. É preciso
construir uma sociedade plural,
aberta e possuir um modelo económico
inclusivo de criação de
riqueza de base social alargada.
Existem suficientes estudos
económicos e sociais, de governação,
das realidades rurais e
agrárias que permitem opções
com níveis baixos de erro. A governação
tem a obrigação de
conhecer esses estudos e de os
discutir com a sociedade e particularmente
com os investigadores
e os agentes económicos e sociais
relacionados com os sectores e
com a economia no seu conjunto.
A sociedade civil tem organizado
debates e tem feito declarações
públicas que revelam disposição
para uma nova fase de entendimento,
diálogo, tolerância pela
diversidade, mas sobretudo a
vontade de democratizar a sociedade
e ser útil no quadro das suas
funções para o desenvolvimento
e colaboração com a governação.
Mas também é preciso estar-se
consciente do ambiente nebuloso
e que os períodos de graça têm validades
que, conforme a complexidade
dos cotextos acima descritos,
merecem a extensão temporal.
A sociedade tem actuado patrioticamente
e com maturidade
gerindo as expectativas positivas
passando quase que um “cheque
em branco” ao novo governo.
Este cheque em branco parece
ser a Filipe Nyussi e ao seu governo
(sobretudo pela presen-
ça de alguns novos ministros).
À Renamo exige-se o não à guerra.
À Frelimo e ao governo impõe-
-se a preservação da paz a todo o
custo. O povo quer paz e essa está
nas mãos da Frelimo/Governo
e da Renamo. E, em ou na guerra,
não há santos nem pecadores.
Os sinais aí
estão, restando
saber se há
capacidade
económica,
de recursos e
ajustamento
(acerto) de
políticas
públicas
e relações
políticas e
de poder
para inverter
os riscos
eminentes.
publicidade
12 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Opinião
Nyusi violou Constituição ao
tornar-se presidente da Frelimo
Por Ericino de Salema
Filipe Jacinto Nyusi, Presidente
da República de Moçambique
desde 15 de Janeiro de 2015,
desrespeitou a Constituição da
República de Moçambique ao
tornar-se presidente do partido
Frelimo, na tarde de 29 de Mar-
ço de 2015, pelo simples facto
de a lei fundamental o proibir
expressamente de assumir fun-
ções privadas, enquanto PR.
Na verdade, estabelece a CRM,
no seu artigo 149, sobre incompatibilidades
do PR, o seguinte:
“O Presidente da República não
pode, salvo nos casos expressamente
previstos na Constituição,
exercer qualquer outra função pú-
blica e, em caso algum, desempenhar
quaisquer funções privadas”.
A norma constitucional atrás referida,
que se subdivide em duas
partes – (a) probição de exercício
de funções públicas outras, além
das expressamente previstas na
CRM; e (b) não exercício, em momento
algum, de funções privadas
– não podia ser mais explícita:
a) Domínio público
O legislador constituinte diz
que a regra é o PR não assumir
qualquer outra função pública,
abrindo-se-lhe, porém, excep-
ção, mas somente para as fun-
ções públicas que lhe são constitucionalmente
acometidas, ou
seja, expressamente previstas
na CRM [ser, por exemplo,
comandante-chefe das Forças
de Defesa e Segurança (número
4 do artigo 146 da CRM)].
b) Domínio privado
A CRM veda, em absoluto,
ao PR, a possibilidade de ele
“desempenhar quaisquer fun-
ções privadas”. Ser presidente
de um partido político consubstancia,
assim, o exercício
de uma função privada, o que
contraria o estatuto jurídico do
Estado Moçambicano (a CRM).
Em termos objectivos, Nyusi
está, de forma nítida, clara e
cristalina, a violar o mais importante
instrumento jurídico do
país, que ele próprio, de resto,
jurou respeitar e fazer respeitar
quando fez o seu juramento,
designadamente em sede do
acto público da sua investidura.
Eis o juramento, consignado na
CRM (número 2 do artigo 150),
que ele prestou a 15 de Janeiro
de 2015, na Praça da Independência,
na cidade de Maputo:
“Juro, por minha honra, respeitar
e fazer respeitar a Constitui-
ção, desempenhar com fidelidade
o cargo de Presidente da Repú-
blica de Moçambique, dedicar
todas as minhas energias à defesa,
promoção e consolidação da unidade
nacional, dos direitos humanos,
da democracia e ao bem-
-estar do povo moçambicano e
fazer justiça a todos os cidadãos”.
Sobre a natureza jurídica dos
partidos políticos
Os partidos políticos, nos termos
da (a) CRM, (b) da lei e da
(c) doutrina são pessoas colectivas
de direito privado, sem excepção
alguma. Ou seja, mesmo
os que estejam no poder, como
é o caso da Frelimo, não deixam
de ser entes privados. A seguir,
breves notas sobre a natureza
privada dos partidos políticos.
a) Nos termos da CRM
A conjugação das normas contidas
nos artigos 53 e 74, ambos
da CRM, não parece deixar dú-
vidas quanto à natureza privatística
dos partidos políticos.
O número 1 do artigo 53 preceitua
que todos os cidadãos gozam
da liberdade de constituir ou
participar em partidos políticos,
frisando o número subsequente
do mesmo artigo que a adesão
aos mesmos é voluntária, derivando
da “liberdade dos cidadãos
de se associarem em torno
dos mesmos ideais políticos”.
Já do artigo 74, também da
lei fundamental, se extrai que
os partidos políticos expressam
o pluralismo político, ao mesmo
tempo que concorrem para
a formação e manifestação da
vontade popular e são “instrumento
fundamental para a participação
democrática dos cidadãos
na governação do país”.
b) Lei dos Partidos Políticos
A Lei número 7/91, de 23 de Janeiro
(Lei dos Partidos Políticos)
dá, no seu artigo 1, a definição do
que são partidos políticos. Abaixo,
transcrevemo-lo na íntegra:
“Artigo 1
(Noção)
1. São partidos políticos as
organizações de cidadãos constituídas
com o objectivo fundamental
de participar democraticamente
na vida política do país
e de concorrer, de acordo com a
Constituição e as leis, para a formação
e expressão da vontade
política do povo, intervindo, nomeadamente,
no processo eleitoral,
mediante a apresentação
ou o patrocínio de candidaturas.
2. Os partidos políticos gozam
de personalidade jurídica
e têm autonomia administrativa,
financeira e patrimonial”.
O seu registo oficioso é efectivado
pelo Governo (que é presidido
pelo PR, conforme estabelece
o número 1 do artigo 201 da
CRM), através do Ministério da
Justiça, conforme dispõe o artigo
8 da Lei dos Partidos Políticos. O
registo oficioso é, entretanto, precedido
(artigo 7 da Lei dos Partidos
Políticos) pela verificação,
por intermédio do mesmo pelouro
governamental, do preenchimento
dos requisitos de criação do
partido enquanto pessoa colectiva
de direito privado, o que é feito
“no prazo de sessenta dias a contar
da data do depósito do pedido”.
c) À luz da doutrina
Em artigo intitulado “Partidos
Políticos”, Jorge Bacelar Gouveia
e Ana Rita Cabrita expendem
que eles [partidos políticos]
são “pessoas colectivas de tipo
associativo, com carácter de
permanência, tendo como finalidade
representar a colectividade
ao nível dos órgãos do poder
político, assim contribuindo,
como suas peças fundamentais,
para o funcionamento do sistema
de poder político instituído”.
Três elementos devem ser
considerados na estrutura dos
partidos políticos, nomeadamente
(c.1) o subjectivo, (c2) o
temporal e (c3) o teleológico.
c.1) elemento subjectivo: este
tem que ver com o facto de os
partidos políticos serem referidos
como organizações dos cidadãos,
enquanto detentores/titulares de
direitos, implicando, isso, a dimensão
pessoal como substracto
da entidade a criar;
c.2) elemento temporal: significa,
tão simplesmente, que os partidos
políticos, enquanto projectos
de sociedade, possuem, ou devem
possuir, carácter duradouro;
c.3) elemento teleológico: este
resume a essência dos partidos
políticos, em termos de finalidade,
o que compreende a faculdade
de apresentação de candidaturas,
para que se possa alimentar o sistema
representativo constitucionalmente
consagrado. Alcançar,
manter e exercer o poder político
há-de ser o mote principal dos
partidos políticos.
Consequências jurídicas e
políticas
Em Moçambique, enquanto Estado
de Direito Democrático, pelo
menos sob o ponto de vista formal,
o princípio da legalidade e a prevalência
das normas constitucionais
sobre todas as demais normas
possui uma natureza sacrossanta.
De resto, foi categórico o legislador
constituinte, ao estabelecer
que “O Estado subordina-se à
Constituição e funda-se na legalidade”
(número 3 do artigo 2
da CRM), ao mesmo tempo que
“As normas constitucionais prevalecem
sobre todas as restantes
normas do ordenamento jurídico”
(número 4 do artigo 2 da CRM).
Apesar de ser já “quase tradi-
ção” no nosso país a violação da
norma constitucional que proíbe o
PR de exercer funções num partido
político, enquanto ente privado,
há que ter presente que tal situação
– violação reiterada da lei
fundamental – não torna “constitucional”
o que é “inconstitucional”,
o que possui o potencial
de levar o país a crises políticas.
Na actual situação, por exemplo,
a bancada parlamentar da
Renamo na Assembleia da Repú-
blica, possuindo mais de um ter-
ço do total dos deputados, pode,
querendo, solicitar, ao Conselho
Constitucional, apreciação de
inconstitucionalidade da assun-
ção, por parte do PR, de funções
privadas, o que é absolutamente
proibido pela CRM. Para o efeito,
a Renamo teria como suporte a
norma contida na alínea c) do nú-
mero 2 do artigo 245 da CRM. Ao
CC, sendo óbvia a violação, nada
mais faria senão dar razão à Renamo,
nessa situação hipotética.
COMENTÁRIO
A meu ver, é no que dá a feitura
de normas, incluindo as constitucionais,
com recurso a levianos
“copy & paste” de normas de
outros ordenamentos jurídicos,
com sistemas políticos outros,
ou seja, diferentes do nosso, sem
o necessário estudo, visando, de
entre outros, uma sólida domesticação.
Concorrendo o facto
de o PR ser, ao mesmo tempo,
presidente do partido no poder
(a Frelimo, neste caso) para o
“equilíbrio do sistema”, julgo que
se deveria, o mais urgente possí-
vel, desencadear um mecanismo
visando a revisão pontual da lei
fundamental. Enquanto isso não
for feito, gostemos ou não, é inconstitucional
que o PR assuma
as funções de presidente de um
partido político, sendo este pessoa
colectiva de direito privado.
de Moçambique Moçambique
Os partidos
políticos, nos
termos da (a)
CRM, (b) da lei
e da (c) doutrina
são pessoas
colectivas de
direito privado,
sem excepção
alguma.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 Publicidade 13
Um super desconto
para os importadores
-30% nas taxas bancárias de importação.
De 16 de Março a 16 de Abril, o BancABC oferece-lhe 30% de
desconto nas suas operações bancárias de importação.
Uma banca inteligente é assim, encontra soluções que lhe permitem
gerar maior liquidez através da oferta de produtos eficientes e flexíveis.
Contacte-nos pelo 21482134, pelo e-mail allmoztreasury@bancabc.com
ou vá ao balcão do BancABC mais próximo e obtenha mais informações.
Termos e Condições aplicáveis
www.bancabc.co.mz
14 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Opinião
Afinal o que é que pretendo
dizer com isso ? Tenho para mim
que esse conceito me permite dizer
que hoje a Frelimo tornou-se
um lugar natural paras as burguesias,
para o grande capital,
para o negocio. Um lugar para o
possidentes, os que podem ir a
Paris, Londres, Berlim, Ilhas
Maldivias e outros lugares para
passear ou para as Mauricias e
Dubai para desfrutar das piores
insanidades que nao preciso descrever.
A Frelimo e o seu Estado
nao é mais do que uma empresa
privada regido pelo direito publico.
Os fenomenos mostram que
o Capital é defendido acerrimamente
pelo Partido e o seu Estado
pelas suas politicas fiscais,
pela suas disposicao a violentar
camponeses que reclamam as
suas terras, etc. A Frelimo é um
partido de ricos em via de ser um
partido rico como o MPLA em
Angola, RDPC no Camaroes ou
ainda do PDG de Aly Bongo no
Gabao. Em contrapartida, constata-se
que a Renamo é um partido
de pessoas que sofrem de miséria,
falo da sua grande maioria,
e como partido nao tem capacidades
financeiras consistentes. O
que eu constato nos discursos do
lider da Renamo é um discurso
para os marginalizados, discursos
para aqueles que nao tem terra
e nem pao para comer. De um
partido proximo ao discurso de
direita-crista começa a elaborar
um discurso proximo do que poderiamos
dizer proximo da « esquerda
mesmo que essas terminologias
sejam forçadas como o
sao hoje na Europa (França, Portugal,
Alemenha, Inglaterra,
etc.). Como é que esta a acontecer,
motivacoes, estrutura desse
discursos ainda temos de estudar,
investigar. Porque penso que
ha mudança na estrutura de argumentacao
da Renamo. E isso
pode se ver nas mobilizacoes
que faz nos seus comicios. Sao
milhares de marginais e marginalizados
que participam naqueles
comicios. Uma das perguntas
que me tenho colocado é se
aquelas pessoas estao efectivamente
a entender Dhlakama e a
Renamo ou apenas Dhlakama e
a Renamo sao vectores de reivindicao
? Tenho para mim que nos
discursos do Dhlakama nao encontramos
muitos elementos que
nos permitem ver um projecto de
Moçambique. Por exemplo, que
tipo de economia ? Que regime
de propriedade ? Qual é o espaço
do Estado no desenvolvimento
do pais ? Que tipo de educaçao,
de saude? Ha muitas questoes
que nao encontramos respondidas
mas mesmo com isso ha uma
grande mobilizacao. O que é
motiva aquelas pessoas ? Aquelas
multidoes ? Penso que essas
perguntas podem precisar de um
trabalho de campo para perceber
de perto as dinamicas de mobilizacao
e de participacao naqueles
comicios. Ora, podemos aventar
a possibilidade de que num Mo-
çambique em que o liberalismo e
os ajustamentos estruturais, o
modelo de desenvolvimento, as
extrategias de extraversao, a
economia politica da produçao
agudizaram as desigualidades, a
miséria e outras privacoes que
grassam a grande maioria do
Moçambique periferico, aquelas
pessoas podem estar a identificar-se
com discurso pouco de
democracia, justiça e liberdade
de Dhlkama. Penso que o discurso
do lider da Renamo apesar de
mobilizador ainda é dedalo apreender
o significado do que ele
diz. Essas pessoas que estao ensaguentadas
na marginalidade,
na miséria, na forme, alguns desde
o tempo colonial até hoje, podem
estar a pensar que as coisas
nao mudam. As coisas podem
estar a mudar, mas a mudança é
apenas consolidaçao do sistema
de desigualidades. Penso que
nessa altura a vantagem de
Dhlakama é de ter compreendido
que a estrutura de multiplos
Moçambiques favorece um discurso
relativamente radical que
pode ser utilizado para forçar a
sua integraçao no jogo do poder
que vai para além de questoes
pecuniarias, na minha opiniao. A
configuraçao do sistema da ac-
çao discursiva de Dhlakama é
para mim uma continuidade de
longas batalhas que os marginalizados
produzem ao longo da
historia de Mozambique bem detalhadas
pelo historiador Frances
René Pelissier no seu livro de
1984 « Naissance du Mozambique:
résistance et révoltes anticoloniales
(1854-1918) ». As
mesmas condicoes que nos levaram
à guerra anticolonial, à guerra
dos 16 anos ainda persistem
de forma cada vez mais viva e
que ganham uma estrutura relativamente
estavel com a sua canalizacao
politica por Dhlakama.
Tenho para mim que estamos
numa guerra de baixa intensidade
mas que se costura, se constroi
como uma possibilidade de
alta intensidade. Vimos bem a
forma como os membros da Comissao
Politica da Frelimo foram
recebidos nas provincias.
Pode ser um
sinal de desgaste
desses
marginalizados
em relacao
à um poder que
nao responde à
sua aspiraçao
de integraçao.
Quando nos interrogamos
o
que se esta a
passar no pais
em termos de
transformacoes
sociais, fica
c o m p l i c a d o
respoder pois
ha muitos em
simultaneo que
se ocorrem.
Penso que uma
das marcas
desse movimento
deve ter
sido em alguns
artigos que fazem
agora parte do livro recentemente
publicado pelo IESE «
Revoltas da Fome: Protestos Populares
em Moçambique (2008-
2012) » e que hoje pela participacao
nos comicios de Dhlakama
de forma repetida, pela participacao
na marcha de repudio à
morte do professor Cistac. Penso
que o Moçambique dos marginais
e perifericos começam a ganhar
uma determinada forma de
consciencia historica no sentido
de Lukacs. O que para mim pode
vir a ser, provavelmente, importante
analisar é o que é que efectivamente
estao a mudar essas
mobilizacoes e que tipo de estruturas
de actuaçao estao elas a
construir ? Sera que isso pode
estar a mostrar o denseraizamento
do partido no poder no seio
das grandes maiorias ? Ainda
nao sabemos. Mas o que podemos
dizer é que, por hipotese, o
discurso da unidade nacional é
pode estar a mostrar-se um discurso
caduco ( espero escrever
um artigo especificamente sobre
unidade nacional e Unidade Nacional
nas proximas semanas) e
que os desequelibrios regionais,
desigualidades sociais crescentes
(problematica que atinge
igualmente a Europa) podem estar
a costurar o sentido de classe,
de pertença ao grupo dos marginalizados.
Alias, analisando as
292 paginas
dos discursos
de Armando
Guebuza em
p r e s i d e n c i a
aberta intitulado
« Armando
Guebuza em
p r e s i d e n c i a
Aberta » nao
deixei de ter a
impressao que
ha um problema
muito nesses
Moçambiques
que
precisaremos
de resolver.
Digo isso pela
insistencia e
persistencia do
actual presidente
do Partido
Frelimo no
discurso de
Unidade Nacional
mas
também pela forma como os
processos sociais e discursivos
na sociedade versam sobre esse
assunto. Penso que dentro da
Frelimo ja se deve ter notado que
o Moçambique que pretendiam
impor e construir como projecto
de um so esta a afundar-se pelas
suas inconsequencias, irracionalidades
e banalizalizacao de milhoes
de povos de Moçambique
que podem estar se sentindo nao
parte desse discurso de que « somos
moçambicanos » « somos
irmaos » e outros termos que
como bem mostrou a carta dos
Bispos catolicos recentemente
publicada nao tem conteudo material
nenhum. Moçambique e o
Estado instalado nessa altura estao
a produzir, quanto à mim, à
grande velocidade condiçoes
para um conflito armado. Essa
profissionalizacao na produçao
de marginais, de excluidos e a
incapacidade para um dialogo
fundado no principio responsabilidade
e numa ética do respeito,
parece-me, que pode ser, com
os aspectos ja citados, elementos
que podem viabilizar a guerra no
sentido estreito do termo. Essa
guerra pode ser, provavelmente,
gerida pela Renamo mas pode
mais ser do que ela nessa guerra.
Esse Moçambique périferico, de
um tecido social estrangulado e
atrevessado pelas maiores enfermidades
sociais, é um problema
a ser resolvido. Uma das minhas
propostas podia ser repensarmos
o modelo de construçao do pais.
Talvez reconhecermos que cometemos
erros ao longos desses
anos por nao termos pensado
Moçambique como um « devin
social » « communitas » , como
um projecto de todos os homens
e mulheres de Moçambique, em
que cada um se sente parte de
projecto, de Moçambique que
nao existe mas que vira da participaçao
de todos sem marginalizacoes
e exclusoes. Esse pensar
Moçambique como projecto
passa por reconhercemos que
precisamos de projectos sérios
de desenvolvimento serios, antropologica,
sociologica, etnologica
e psicologicamente enraizados
nos lugares em que esses
projectos seram implantados. A
China esta a fazer isso com a
parte nordeste. Precisamos de repensar
o modelo de desenvolvimento
que ja se mostrou problematico
e incapaz de se justificar.
Temos também o problemas das
elites « desnacionalizadas ». Podemos
numa fixaçao de cotas
especificas para cada regiao do
pais, determinado no orçamento
geral do pais. Temos de repensar
este Pais que ainda nao existe
como espaço descolonizado pois
neste momento tenho sérias dificuldades
de pensar esse pais
como espaço diferente da « situaçao
colonial ». Para terminar
perguntando, ja que dentro de
alguns meses festejaremos 40 do
Moçambique poscolonial, à que
é que serve esse Moçambique ?
Que sentido faz estar-se nesse
Mozambique? Quem é o autor
de Moçambique ? Afinal o que é
Mozambique?
• Mestrando em Ciência Politica
(filosofoateu@ymail.com)
de Moçambique Moçambique
Moçambique periférico (Concl.)
Por Régio Conrado*
Mas o que
podemos
dizer é que,
por hipotese,
o discurso
da unidade
nacional é
pode estar a
mostrar-se um
discurso caduco.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 15
Nacional
O advogado da família de
Gilles Cistac, que foi assassinado
a tiro em Maputo, informou,
na terça-feira, que a família
apresentou à Justiça francesa
uma queixa por homicídio. A
queixa, dirigida ao Ministério
Público de Paris, pede que “todas
as diligências sejam feitas”
no âmbito do caso. Por razões
publicamente desconhecidas, o
Governo de Moçambique tem
mostrado pouco interesse em
esclarecer o caso. O exemplo
disso é o entretenimento que
vem sendo apresentado pela Polícia.
Se no dia do assassinato,
e em cumprimento de supostas
“ordens do partido Frelimo”,
o porta-voz da Polícia em Maputo,
Arnaldo Chefo, disse que
Gilles Cistac foi assassinado
por um cidadão de raça branca,
numa clara tentativa de afastar
todas as acusações de campanha
de racismo que recaíram sobre o
partido Frelimo, na semana passada
o porta-voz do comando-
-geral, Pedro Cossa, veio desmentir
Arnaldo Chefo, dizendo
que “não há nenhuma pista incluindo
a tal de raça branca”.
Citado pelo jornal francês
“20 Minutes”, Thierry Carrère
– advogado da família de Cistac
– diz que o constitucionalista
foi assassinado simplesmente
porque emitiu a sua opinião.
“Parece que ele foi assassinado
simplesmente porque tinha
emitido uma interpretação sobre
o texto da Constituição moçambicana”,
declarou o advogado,
antigo colega de Cistac, quando
ambos estudavam Direito
na Universidade de Toulouse.
Thierry Carrère referiu-se a
Cistac como “uma autoridade
moral, intelectual e legal” e que
“nunca esteve realmente envolvido
no jogo político local”,
insistindo que se limitou “a dar
uma opinião como professor
e especialista constitucional”.
Dias antes de ser assassinado,
o constitucionalista apresentou
uma queixa-crime na Procuradoria-Geral
da República de Mo-
çambique queixando-se de perseguição,
racismo e intolerância
em comentários colocados no
Facebook por alguém escondido
atrás de um pseudónimo. A
figura que pontificou nas ameaças
a Cistac é um tal “Calado
Kalashnikov”, ainda não identificado
pela Frelimo, mas consta
que está ligado ao braço juvenil
do partido Frelimo. (Redacção)
Família de Cistac recorre à
Justiça francesa
Na queixa pede-se ao Ministério Público da França que investigue o homicídio
do constitucionalista em Maputo.
de Moçambique Moçambique
publicidade
16 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Centrais
A Organização Internacional
das Migrações diz que
um ataque aéreo matou pelo
menos 45 pessoas e feriu 65
num campo de refugiados no
Noroeste do Iémen que recebeu
muitos deslocados pelos
vários conflitos que opuseram
os rebeldes xiitas huthis ao
Governo central desde 2009,
mas também abriga refugiados
do Leste de África. Só
nos últimos cinco dias, desde
o início dos bombardeamentos
da coligação formada
pelos sauditas contra os huthis,
chegaram ao campo de
Mazraq 750 novas famílias.
O ministro dos Negócios
Estrangeiros iemenita, Riyadh
Yaseen, acusou os huthis do
ataque. Segundo esta versão,
foram disparos de artilharia e
não da Força Aérea. Os sauditas
não fizeram quaisquer
comentários sobre este “raide”.
Yaseen, como o presidente
Abd Mansour Hadi, está
em Riad, a capital da Arábia
Saudita, que recebeu parte do
Governo em fuga do seu último
bastião, Áden, segunda
maior cidade do Iémen e mais
importante porto do país,
onde os huthis tentam entrar
desde a semana passada.
Contrariando as acusações
do ministro iemenita, membros
de diferentes ONG disseram
que os “raides” atingiram
não só civis refugiados
em Mazraq mas também um
camião cheio de combatentes
huthis que se encontrava
à entrada do campo, situado
a menos de dez quilómetros
de uma base militar. A tribo
huthi, que no ano passado
começou os seus avanços
para Sul (tomaram a capital,
Sanaa, em Setembro) e Leste,
concentra-se no Norte,
junto à longa fronteira entre
o Iémen e a Arábia Saudita.
No dia em que Riad fez saber
que admite negociações
com todas as partes em conflito
promovidas pelo Conselho
de Cooperação do Golfo (dos
membros do clube dos países
petrolíferos da região, só Omã
recusou juntar-se à campanha
militar iemenita), Yaseen disse
ainda que desde quintaBombardeamento
mata pelo menos 45
civis em campo de deslocados
no Iémen
Habitantes de Áden preparam-se para fugir da cidade, no Sul do Iémen
A segunda maior cidade do país, Áden, está isolada pelos combates entre
as forças huthis e os aliados do presidente Hadi, apoiados pelos
ataques aéreos da coligação liderada pela Arábia Saudita.
Os hospitais
também estão
a transbordar,
incluindo um de
45 camas gerido
pelos Médicos
Sem Fronteira.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 17
Centrais
-feira, quando começaram os
bombardeamentos, não houve
contactos entre o Governo e
os huthis, que são uma comunidade
de confissão zaidita
(ramo do islão xiita) que os
países árabes sunitas acusam
o Irão xiita de instrumentalizar
para fortalecer a sua posição
regional, a juntar à influência
que tem no Iraque,
Líbano e Síria, onde apoia o
regime de Bashar al-Assad.
Para além dos mortos em
Mazraq, houve vítimas civis
e militares em bombardeamentos
nos arredores de Sanaa,
em Taiz (terceira cidade,
situada na estrada que liga
Sanaa a Áden) e nos subúrbios
de Áden. Houve ainda
“raides” contra radares e defesas
antiaéreas perto de Marib,
140 quilómetros a leste
da capital, em Hudeidha, no
Mar Vermelho, e várias posições
militares em Mokha,
como Hudeidha, na costa
ocidental, mas mais a Sul.
Os habitantes de Áden
queixam-se dos cortes de
electricidade, que duram pelo
menos seis horas por dia, e
dos medicamentos e alimentos
que começam a faltar na
cidade. O porto está fechado,
assim como a estrada até Taiz,
de onde chegam a maioria
dos bens básicos. Os hospitais
também estão a transbordar,
incluindo um de 45 camas
gerido pela organização
“Médicos Sem Fronteiras”,
que já recebe 150 pessoas.
Tropas terrestres?
Os sauditas insistem que o
objectivo é obrigar os huthis
a renderem-se e devolver o
poder a Hadi. Na passada
segunda-feira, os sauditas
viram o Paquistão confirmar
o envio de forças e o Egipto
atacar pela primeira vez a
partir dos navios de guerra
que enviou para o Golfo de
Áden. Para já, Riad diz que
não está a considerar uma
invasão terrestre do país na
ponta sul da Península Arábica,
mas tem 150 mil soldados
na fronteira e não põe de lado
o envio de enviar terrestres.
Muitos analistas afirmam
que os bombardeamentos não
vão chegar para mudar de forma
significativa o equilíbrio
de poderes e obrigar os huthis
a negociar. Mas outros lembram
que ninguém (sauditas e
egípcios já o fizeram) guarda
boas memórias de combates
no Iémen, um país de tribos,
deserto e desfiladeiros. Para
além disso, uma invasão poderia
conduzir a uma escalada
por parte do Irão, que desmente
apoiar a milícia xiita.
Isto num país com uma posi-
ção estratégica fundamental
para o comércio marítimo,
nomeadamente o do petróleo.
Do que ninguém duvida é
que dificilmente este conflito
será positivo para os iemenitas.
O mais pobre dos países
árabes nunca foi estável, com
uma força separatista a sul
(que agora apoia Hadi contra
o inimigo comum que vem do
Norte) e a revolta dos huthis
(actualmente apoiados pelo
ex-ditador Abdullah Saleh,
obrigado a deixar o poder em
2012, num acordo negociado
por Riad), que sempre se
queixaram de marginalização
económica e social. Quem
tem mais probabilidades de
beneficiar com o aumento da
instabilidade é a Al-Qaeda na
Península Arábica, que controla
várias zonas no Leste.
Para além do Paquistão, outro
Estado não árabe de maioria
muçulmana sunita já tinha
dito que apoia a acção saudita,
a Turquia. O presidente Recep
Tayyip Erdogan ainda tenciona
fazer a viagem a Teerão
que tem marcada para o dia 7
de Abril, mesmo depois de ter
acusado os iranianos de interferirem
no Iémen “para dominar
a região”. Ancara e Teerão têm
posições opostas na Síria, onde
os turcos defendem desde 2011
a queda de Assad, mas continuaram
a dialogar. A diplomacia
iraniana exige agora de Erdogan
clarificações. (Público)
de Moçambique Moçambique
Quem tem mais
probabilidades
de beneficiar
com o aumento
da instabilidade
é a Al-Qaeda
na Península
Arábica, que
controla várias
zonas no Leste.
18 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Nacional
André Mulungo
Depois de ter enviado membros
da Comissão Política para
várias províncias para condenar
o projecto da Renamo,
para a criação de autarquias
provinciais, a Frelimo parece
agora moderar o discurso.
Em conferência de imprensa
realizada semana passada em
Maputo, Damião José, porta-
-voz da Frelimo, disse que o
assunto das autarquias provinciais
deve ser debatido na
Assembleia da República.
“O assunto das autarquias
provinciais foi submetido à
Assembleia da República. Na
nossa opinião, é o local ideal.
Vamos deixar que a Assembleia
da República analise,
e as bancadas também se
posicionem sobre o assunto.”
É uma mudança de discurso
que não deixa de ser estranha,
se se considerar que os
membros da Frelimo, há dias,
diziam claramente que o projecto
seria reprovado pela sua
bancada e que era um absurdo.
De resto, a viragem de discurso
acontece numa altura em que o
presidente da Renamo, Afonso
Dhlakama, reafirma que, se
a Frelimo reprovar a proposta,
“vai haver confusão”. Os trabalhos
da Assembleia da Repú-
blica iniciaram esta terça-feira. Damião José, porta-voz da Frelimo
Frelimo modera discurso sobre as
autarquias provinciais
de Moçambique Moçambique
A Comissão Consultiva do
Trabalho já apresentou a proposta
de novos salários mínimos
por sector de actividade
para este ano, para vigorarem
a partir de 1 de Abril próximo,
cabendo agora a decisão
ao Conselho de Ministros.
Na passada sexta-feira, a Comissão
Consultiva do Trabalho
esteve reunido sob a direcção
ria, Caça e Silvicultura (incluindo
as empresas agro-industriais
a indústria do caju e o sub-
-sector do açúcar;
Sector 2 – Pescas (aplicável
à pesca marítima industrial e
semi-industrial e à pesca de kapenta);
Sector 3 – Indústria de Extracção
de Minerais;
Sector 4 – Indústria Transforda
ministra do Trabalho, Vitória
Diogo, que depois emitiu
um comunicado lacónico,
que não informa quais são as
propostas de aumento salarial
por sector para este ano.
Os nove sectores de
actividade são os seguintes:
Sector 1 – Agricultura, Pecuá-
madora;
Sector 5 – Produção, Distribuição
de Electricidade, Gás e
Água;
Sector 6 – Construção;
Sector 7 – Actividades dos
Serviços Não Financeiros;
Sector 8 – Actividade Financeira;
Sector 9 – Aparelho de Estado
(Função Pública, Defesa e
Segurança).
Neste momento, o sector
das pescas é o que menos ganha
em Moçambique, com
um salário mínimo fixado
em 2857 meticais. O aumento
neste sector, no ano passado,
foi de 8%, correspondente
a 230 meticais. (Redacção)
Já há propostas de novos salários
mínimos
de Moçambique Assinaturas
(*) Distribuição ao domicílio, em Maputo
(**) Inclui porte. Pode ser pago em meticais ao câmbio do dia
Destino Período de Contrato Período de Contrato Período de Contrato
3 Meses 6 Meses 12 Meses
Todo País (*) 720.00 Mt 1,560.00 Mt 3,120.00 Mt
Países da SADC (**) 400 R 800 R 1600 R
Resto do Mundo(**) 171 USD / 143 € 343 USD / 286 € 400 €
publicidade
de Moçambique Moçambique
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 19
Nacional
Bernardo Álvaro
Esta semana não se realizou a
habitual reunião de negociações
entre o Governo e a Renamo.
O de Moçambique Moçambique soube
que a Renamo é que solicitou
para que não houvesse o
encontro, por causa da sua
agenda interna, que teve a ver
com a concertação sobre o projecto-de-lei
das autarquias provinciais,
que decorreu na província
de Sofala.
Por outro lado, os peritos militares
do Governo e da Renamo,
que habitualmente se reúnem às
sextas-feiras com a EMOCHM,
para análise do seu relatório semanal,
não tiveram o encontro
pelos mesmos motivos de agenda
da Renamo, informaram
fontes dos peritos militares.
Na ronda mais recente, realizada
na semana passada, as
negociações políticas entre o
Governo e a Renamo terminaram
com mais um impasse
nos mesmos pontos de divergência,
que são as questões
militares e a despartidariza-
ção do aparelho de Estado.
Nessa ronda, as partes analisaram
o relatório dos peritos
militares, a implementação do
acordo de cessação das hostilidades
militares, a reestruturação
da EMOCHM e a despartidarização
do aparelho de Estado.
Da análise do relatório dos
peritos militares resultou que,
na sequência de alguns países
se terem retirado da EMOCHM,
o coronel zimbabweano
Nelson Munjaranji, afecto
à sede da missão, passou a
dirigir o Comando Central.
Ao nível das subunidades, foi
proposta a movimentação de
oficiais, para dar consistência
aos locais onde se prevê maior
trabalho no processo de enquadramento,
integração e reinserção
social e económica dos
homens da Renamo, concretamente
na província de Sofala.
Segundo foi dado a conhecer,
todas as subunidades têm
peritos militares estrangeiros.
O Governo já disse que não
tem objecção em relação a
essas propostas, enquanto a
Renamo preferiu ir fazer consultas
internas, consultas essas
que continuam até hoje.
Mas o Governo acabou
por decidir que, até que haja
consenso, o coronel zimbabweano
vai dirigir interinamente
a EMOCHM.
Os observadores militares do
Zimbabwe na EMOCHM têm
sido considerados espiões por
alguns círculos da Renamo, razão
pela qual existe muita desconfiança
sobre esses oficiais.
O Comando Central da EMOCHM
tinha como comandante o
brigadeiro Therego Tseretse, do
Botswana, que era coadjuvado
por quatro oficiais, sendo dois
estrangeiros e dois nacionais.
A Renamo insiste na necessidade
da existência de um fundo
de integração, uma exigência
recusada pelo Governo, que
considera que “nenhum cidadão
moçambicano precisa de fundo
de integração quando é incorporado
ou integrado nas Forças
Armadas de Defesa de Moçambique
e na Polícia da República
de Moçambique, porque, a partir
do momento de integração,
passa a ter uma remuneração”.
O Governo diz que não vê
razões nem fundamentos para
que neste processo de integra-
ção haja fundo de integração.
A Renamo insiste ainda,
como pré-condição para iniciar
o processo de implementação
do Acordo de Cessação das
Hostilidades, que haja partilha
de responsabilidades nas fun-
ções de comando das FADM.
Sobre os princípios da despartidarização
da Função Publica,
a Renamo exige que todo o
servidor público seja impedido
de exercer actividade partidária
durante as horas normais de expediente,
uma proposta que está
a ser recusada pelo Governo,
que alega que o impedimento
deve abranger apenas os motoristas,
os agentes de serviços,
os contabilistas, os técnicos
e os secretários permanentes.
O Governo alega que os ministros,
os vice-ministros e os
governadores são nomeados
pelo Presidente da República e
não podem ser impedidos, porque
o Presidente da República
chegou ao poder com base num
manifesto eleitoral de um partido,
que deu esperança aos mo-
çambicanos e que foi transformado
em programa quinquenal.
E alega que impedir esses
governantes “pode
não estar alinhado com o
quadro legal do Estado”.
Apesar de várias correntes
da sociedade moçambicana, incluindo
os bispos católicos de
Moçambique, afirmarem que o
aparelho de Estado está demasiado
partidarizado, o Governo
nega que isso esteja a acontecer.
Afirma que hoje ninguém
tem células do partido nas
instituições públicas, hoje ninguém
faz reuniões partidárias
nas instituições públicas, porque
os documentos legislativos
impedem que isso aconteça.
A pedido da Renamo
Negociações interrompidas no Centro
de Conferências “Joaquim Chissano”
Na passada sexta-feira, os peritos militares do Governo e da Renamo não se reuniram com
a EMOCHM para o habitual encontro semanal, igualmente a pedido da Renamo.
de Moçambique Moçambique
20 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Nacional
José Jeco
Quatro funcionários do sector
da Educação em Sofala
estão presos nas celas da Polí-
cia nos comandos distritais da
Beira e do Búzi, acusados de
estarem envolvidos em esquemas
de falsificação de certificados
de habilitações literárias.
O inspector-chefe da Educação
em Sofala, Carlitos
Jofrice, disse que os detidos
são professores afectos nas
escolas públicas nos distritos
do Búzi e da Beira. Segundo
Carlitos Jofrice, os quatro estão
envolvidos na falsificação
de certificados da 12.ª classe
e do Instituto de Formação
de Professores de Inhamízua.
Carlitos Jofrice não revelou
os nomes dos detidos, mas
disse que os mesmos estavam
a ser investigados há muito
tempo. Acrescentou que outros
seis funcionários do sector
foram neutralizados, julgados
e condenados no ano passado
pelo Tribunal Provincial
de Sofala, pela mesma prática.
A mesma fonte disse que
estão em cursos investiga-
ções. Admite-se que tenham
sido emitidos 34 certificados
falsos para pessoas que nunca
passaram pelas escolas ou
pelo Instituto de Formação
de Professores de Inhamízua.
O inspector-chefe da Educação
em Sofala explicou
que, para além dos casos nas
escolas públicas, outros certificados,
poderão ter sido
emitidos em algumas escolas
privadas da cidade da Beira.
Aquele responsável disse que,
no caso do distrito do Búzi, foram
detectados oito certificados
falsos, todos de nível pré-universitário.
Desses, seis dos seus
titulares foram julgados e condenados.
Outros 28 certificados
falsos detectados foram emitidos
para falsos professores, que
nunca foram formados pelo Instituto
de Formação de professores
de Inhamízua. A maior parte
deles está a trabalhar actualmente
no aparelho de Estado, nas
províncias de Tete e Zambézia.
Carlitos Jofrice disse que o
processo de algumas pessoas
detidas encontra-se na Procuradoria
Provincial de Sofala,
enquanto alguns certificados
falsos foram submetidos às Inspecções
da Educação e Cultura
de Tete e da Zambézia que ficam
encarregues de remetê-los
aos órgãos locais da Justiça.
Orlando Mudumane, porta-voz do comando da cidade de Maputo
Sofala
Detidos quatro professores em Sofala
por falsificação de certificados
Cláudio Saúte
Um pai violou na semana
passada a sua própria
filha, de apenas três anos
de idade, no bairro da
Marinha, no distrito municipal
da Catembe, na cidade
Maputo. Ele tem 49
anos e chama-se Lopes.
A informação foi confirmada
esta segunda-feira
pelo porta-voz do comando
da cidade de Maputo,
Orlando Mudumane, na
habitual sessão de informação
para a imprensa.
Depois de violar a filha,
na manhã do dia 24
de Março corrente, Lopes
atravessou para a cidade de
Maputo. e Quando voltou
à Catembe, os seus vizinhos
estavam à sua espera.
O pai violador escapou ao
linchamento popular gra-
ças à intervenção da Polí-
cia. Neste momento, está
detido na 18.ª esquadra
da na cidade de Maputo.
Consta que a mãe da menor
já não vivia com pai e
havia ido deixar a criança
como forma de pressionar
Lopes a prestar assistência.
Distrito municipal da Catembe
Pai viola filha de três anos
de Moçambique Moçambique
de Moçambique Moçambique
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 21
Nacional
Raimundo Moiane
O número de casos de malária,
uma das doenças mais mortíferas,
não obstante poder ser prevenida,
registou um aumento de 40%
em 2014 em Moçambique, em
comparação com o ano anterior.
Os dados foram divulgados
na segunda-feira em Maputo
durante a sétima edição da
palestra anual em Saúde Global
da “Fundação Manhiça”.
Segundo Pedro Aide, investigador
no Centro de Investigação
em Saúde da Manhiça, ao longo
do ano passado foram registados,
em todo país, mais de cinco
milhões e quinhentos mil casos
de malária, dos quais resultou a
morte de mais de três mil pessoas.
Segundo Pedro Aide, estas
elevadas taxas, tanto em termos
do número de casos como
de vítimas mortais, ficaram
a dever-se fundamentalmente
à falta de sustentabilidade
das estratégias de prevenção
e combate à malária que estão
a ser implementadas pelas
autoridades governamentais.
Essas estratégias consistem
em: uso contínuo de artimizinine,
apesar de não ser mais eficaz
no tratamento da malária;
distribuição gratuita de redes
mosquiteiras; pulverização domiciliar
e interdomicilair. Na
óptica do investigador do Centro
de Investigação em Saúde
da Manhiça, estas acções não
estão a surtir os efeitos desejados,
apesar de haver maior
cobertura de beneficiários.
Para alterar esta situação, Pedro
Aide defende a introdução
no país de programas de tratamento
massivo da malária independentemente
de as pessoas
estarem ou não com a doença.
A outra estratégia defendida
pelo Investigador do Centro de
Investigação em Saúde de Manhiça
é de o país dar maior importância
à inovação, que inclui
a pesquisa de mais vacinas de
prevenção e a introdução de mais
fármacos de tratamento da malá-
ria com a finalidade de reduzir
o número de casos até chegar à
eliminação total desta doença.
Um dos quatro países
com maior incidência de
malária em África
Os mais de cinco milhões e
quinhentos mil casos registados
no país no ano passado resultaram
no aumento de 40% da
taxa de incidência em relação
ao ano anterior e colocaram
Moçambique na quarta posi-
ção no grupo de países como
maior número de casos da malária
no continente africano,
numa lista liderada pela Nigéria.
Nesta lista, a Nigéria é seguida
pela República Democrática
do Congo, e em terceiro
lugar está o Uganda.
Casos de malária aumentaram
em 40% no país
Moçambique ocupa a quarta posição no grupo de países com maior número
de casos de malária no continente africano.
de Moçambique Moçambique
Tipo de Assinante
(a) Pessoa Singular
(b) Empresas e Associações de Direito Moçambicano
(c) Órgãos e Instituições do Estado
(d) Embaixadas e Consulados em Moçambique e Organismos Internacionais
(e) Embaixadas e representações Oficiais de Moçambique no exterior
(f) ONG’s Nacionais
(g) ONG’s Internacionais
(USD) Contratos Mensais (i)
20
40
50
60
60
30
50
(USD) Contratos Anuais
(12 Meses) (ii)
15 usd x 12 meses = 180 usd
30 x 12 = 360
40 x 12 = 480
50 x 12 = 600
50 x 12 = 600
20 x 12 = 240
40 x 12 = 480
Notas
- Os valores expressos poderão ser pagos em Meticais ao cambio do dia do mercado secundário
- Nas facturas e recibos inerentes deve-se mencionar a letra que corresponde ao tipo de assinatura
- (i) Pronto pagamento ou débito directo em conta bancária
- (ii) Pronto pagamento ou débito directo em conta bancária
Preçário de Assinaturas | Distribuição diária por e-mail | 20 edições mensais
publicidade
22 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Desporto
O presidente do Conselho
Superior de Comunicação
Social, Tomás Vieira Mário,
disse que o organismo que
dirige já fez diligências na
Rádio Moçambique e no
jornal “Notícias”, relativas a
censura a jornalistas, denunciada
pelo
de Moçambique Moçambique .
Lembre-se que, depois de
Faizal Sidat ter anunciado
que pretendia um terceiro
mandato, o jornal “Domingo”
publicou uma reportagem
afirmando que tal é
ilegal, porque viola a Lei do
Desporto, que fixa dois mandatos
para as federações. A
Rádio Moçambique reproduziu
a notícia do jornal “Domingo”,
mas Manuel Zimba,
repórter que estava na emissão,
recebeu ordens para não
continuar com a matéria,
porque a direcção da Rádio
recebeu ordens superiores.
Zimba denunciou publicamente
e em plena emissão a
interferência política na linha
editorial. Na Sociedade
Notícias, o editor de desporto
do jornal “Notícias”, Gil
Carvalho, recebeu ordens do
seu director, Jaime Langa,
para desmentir o jornal da
mesma sociedade, o “Domingo”.
Na Rádio Moçambique,
Zimba continua com
um processo disciplinar. Na
Sociedade Notícias, acabou
em indignação mútua entre
o editor desportivo do jornal
“Domingo”, Custódio Mugabe,
e o contestado director
do jornal “Notícias” e membro
do G40, Jaime Langa.
“Nós fizemos diligências.
Mandámos correspondência
aos órgãos em causa, para
responderem, e eles respondem
a nós, que fizemos o
inquérito, e não ao jornal.
Vocês também podem fazer
o vosso inquérito. Nada vos
impede de entrevistar os PCA
dos orgãos mencionados, de
forma jornalística. Podem fazer
esse trabalho. Acho que é
assim que se faz, para verem
se reagem”, disse o dirigente
do órgão regulador e de disciplina
da comunicação social.
Questionado sobre os resultados
das diligências, Tomás
Vieira Mário declinou
entrar em detalhes. “Nós fazemos
o nosso expediente
segundo os canais oficiais. A
pessoa que envetualmente
foi alvo desta acção, sendo
ela a vítima, em princípio devia
ser ela a aproximar-se ao
Conselho Superior de Comunicação
Social e apresentar a
queixa. Nós vimos na imprensa
e fizemos as nossas
diligências. Se fosse algo que
o próprio ofendido nos trouxe
como queixa, é diferente.
Agora, nós não podemos inquirir
a Rádio Moçambique
em nome do
de Moçambique Moçambique , disse.
O de Moçambique Moçambique sabe
entretanto que, no caso de
Manuel Zimba, depois de ter
sido instaurado o processo
disciplinar, o jornalista anda
agora com medo de mais medidas
punitivas, que, apesar
de serem ilegais, são aplicá-
veis pelos “donos da Rádio”.
Zimba nem sequer aceita dar
entrevista, temendo represá-
lias dos seus superiores, estando
claro que não poderá
contactar o CSCS. O próprio
secretário-geral do Sindicato
Nacional de Jornalistas, Eduardo
Constantino, é um dos
dirigentes na Rádio Moçambique.
Tomou conhecimento
do caso e fingiu que não ouviu
nada. Quando o contactá-
mos pela primeira fez, disse
que ouvia pela primeira vez
sobre o caso. Mas até hoje,
quase um mês depois, continua
sem ouvir nada.
Apesar de ter afirmado que
o caso que o
de Moçambique Moçambique reportou
é importante, o presidente do
CSCS diz que não pode levar
o assunto em nome do “Canal
de Moçambique” (coisa
que o jornal nunca pediu ao
CSCS), justificando a sua recusa
de partilhar com este
jornal o curso das diligências.
“O CSCS não pode fazer
uma pesquisa em nome
do de Moçambique Moçambique . É
uma questão apenas de lógica.
Não faz sentido. Eu encorajo
que vocês prossigam
com o trabalho, entrevistem
os administradores e as pessoas
visadas para vir uma informação
jornalística para o
‘Canal’. Acho que é assim, e
é importante que a imprensa
também faça a monitoria directa”,
disse.
Tomás Vieira Mário, presidente do Conselho superior de Comunicação Social
Ainda sobre a censura aos jornalistas Manuel Zimba e Custódio Mugabe
CSCS diz que fez diligências na Rádio
Moçambique e no “Notícias”
Mas não pode partilhar os resultados com o “Canal de Moçambique” porque
o jornal também “pode fazer o seu trabalho”
de Moçambique Moçambique
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 23
Desporto
Cláudio Saúte
A Federação Moçambicana
de Futebol colocou
na passada quarta-feira os
jogadores da selecção nacional
de futebol, os “Mambas”,
a viajarem de autocarro
de Maputo para Gaberone
(capital do Botswana), num
percurso de cerca de mil
quilómetros. A FMF alega
falta de condições. Sobre
o risco que da operação
via terrestre, a FMF, através
do seu secretário-geral,
diz que “os acidentes
existem em todas as vias”.
Em contacto com o
de Moçambique Moçambique , para explicar
esta viagem, que já
mereceu contestação por
parte de alguns clubes que
têm jogadores na selecção,
o secretário-geral da FMF,
Filipe Johane, disse que já
aconteceram várias vezes
deslocações similares, com
o mesmo destino, em que se
usam estradas “altamente
convencionais”.
“O risco existe em todas
as vias. Ainda ontem
[terça-feira], despenhou-se
um avião na França. Por
via terrestre também pode
acontecer. A probabilidade
é máxima, mas nós não
estamos a pensar que vai
haver acidente. São situa-
ções normais. Foram por
via terrestre porque os recursos
que temos neste momento
indicam que é mais
fácil irmos desta forma,
porque temos orçamento
para as actividades da selecção
neste ano”, disse.
Os jogadores da Liga Mu-
çulmana ou Liga Desportiva
de Maputo vão de autocarro
com os outros, mas
regressam de avião. Os restantes,
que não são da Liga,
deverão regressar de autocarro.
A Liga Muçulmana
é a equipa da família Sidat,
presidida por Rafik Sidat,
irmão mais velho de Faizal
Sidat, que é presidente da
Federação Moçambicana
de Futebol. E assim vai o
futebol moçambicano, governado
pela família Sidat,
que quer um terceiro mandato,
depois de dez anos
de uma gestão desastrosa.
Para jogo da FIFA com o Botswana
“Mambas” viajaram para Gaberone
de autocarro
Jogadores da Liga Desportiva de Maputo voltaram por via aérea depois do jogo.
de Moçambique Moçambique
publicidade
Anuncie no
Contacte-nos:
canal.i.canalmoz@gmail.com ou
Telefone: (+258) 823672025 | (+258) 842120415 | (+258) 828405012
de Moçambique e
Filipe Johane, secretário-geral da FMF
24 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Economia e Empresas
Um estudo apresentado, na
quinta-feira, pela Confedera-
ção das Associações Econó-
micas de Moçambique (CTA)
recomenda que o país resolva
os problemas estruturais com
que as indústrias se debatem,
como forma de impulsionar este
sector há muito adormecido.
Segundo o documento, intitulado
“Opções de Política Industrial
para Moçambique”, as
acções do Estado neste sector
devem ser desenvolvidas para
adoptar políticas que possam
beneficiar todas as indústrias,
o que passa pelo desenvolvimento
de infra-estruturas e
criação de um ambiente de negócios
favorável às empresas.
O estudo recomenda ainda
que o Estado facilite a livre
circulação do capital, da
mão-de-obra e de outros recursos
necessários às novas
indústrias promissoras e a sa-
ída das que estão em declínio.
Segundo Hipólito Hamela,
assessor económico da CTA,
a elaboração deste estudo faz
parte da revisão da política e
estratégia industrial que está a
ser feita pelo Governo moçambicano,
através do Ministério
da Indústria e Comércio, em
parceria com esta agremiação.
Este é um estudo preliminar
que a CTA encomendou para
definir as políticas industriais
adequadas para o país. Hipólito
Hamela referiu que as
constatações indicam que Mo-
çambique deve adoptar uma
política que resolva os problemas
comuns a todas as indústrias
(infra-estruturas, estradas,
água, energia, comunicações).
O estudo elaborado pelo
SPEED (Programa de Apoio
ao Desenvolvimento Económico
e Empresarial) da USAID
diz que a revisão da política e
estratégia industrial deve ser
feita em paralelo com a reforma
do ambiente de negócios.
A política e estratégia industrial
e a reforma do ambiente
de negócios devem ser complementares,
pois têm os mesmos
objectivos, nomeadamente,
reduzir ou eliminar as barreiras
ao livre funcionamento dos
mercados, incluindo o controlo
de preços, o salário mínimo,
regulamentos restritivos, burocracia,
falta de protecção dos
direitos de propriedade. (FDS)
Hipólito Hamela, assessor económico da CTA
Empresários voltam a criticar políticas
que não ajudam a indústria
Canal de Fotografia
de Moçambique Moçambique
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 25
Internacional
Prosseguem o braço de ferro e
as divergências nas negociações
sobre o programa nuclear no
Irão. Os países do P5+1 querem
evitar a todo o custo que o Irão
consiga construir uma bomba
atómica e, para isso, a sua melhor
garantia é um acordo com
Teerão. Vão então insistindo na
imposição de uma complexa
rede de obstáculos técnicos e
políticos da qual não parecem
querer abdicar. O Irão não quer
ceder em toda a linha, mesmo
estando economicamente pressionado
para aceitar restrições
ao seu programa nuclear, assim
como um processo de permanente
vigilância, a troco de
uma suspensão das asfixiantes
sanções internacionais. Estas
são as forças originárias do
processo de negociações iniciado
em Novembro de 2013 e
são as mesmas que, mais de um
ano depois, continuam a toldar
as hipóteses de um acordo.
Ao longo do dia da passada segunda-feira
(dia 30), sentaram-
-se frente ao Irão todas as partes
envolvidas nas negociações: os
cinco membros permanentes
do Conselho de Segurança das
Nações Unidas – EUA, China,
Rússia, Reino Unido e França –
em conjunto com a Alemanha.
Algo que não acontecia desde
Novembro de 2013. Mas o
pouco que foi saindo da sala de
negociações ao longo da tarde
em Lausanne, na Suíça, pareceu
indicar que os grandes impasses
se mantiveram. Algo que John
Kerry confirmaria ao início da
noite. “Há ainda assuntos difí-
ceis”, afirmou o secretário de
Estado norte-americano. “Vamos
trabalhar tarde pela noite e
amanhã, com o objectivo de conseguir
alguma coisa”, concluiu.
No exterior, o principal jogo de
forças nesta recta final das negociações
teve como ponto central
o “stock” de material nuclear no
Irão. O ministro-adjunto iraniano
dos Negócios Estrangeiros
afirmou, na noite de domingo,
que Teerão não estava afinal disposto
a abrir mão do seu “stock”
de urânio enriquecido, contrariando
assim a convicção de que
este ponto – especialmente sensível
para apaziguar os receios
de que o Irão pudesse chegar a
uma arma nuclear – estava já
arrumado nas negociações. Em
resposta, o Departamento do
Estado norte-americano desvalorizou,
na segunda-feira, as
notícias de que o Irão estaria a
mudar de postura num ponto
sensível tão perto do prazo final.
Temas fundamentais e
m aberto
A questão em torno do “stock”
de urânio no Irão esconde
um problema maior nas negociações.
A um dia do prazo final
para um pré-acordo político, os
principais pontos de discórdia
sobre o programa nuclear iraniano
são temas fundamentais
que se têm vindo prolongar ao
longo de todo o processo de
negociações. Há sobretudo três
tópicos em discussão: a extensão
do acordo e suas restrições,
o processo de levantamento
de sanções e, em último lugar,
o processo de reintrodução
de sanções no caso de o Irão
violar as medidas impostas.
Os países do P5+1 querem
que o conjunto de restrições ao
programa nuclear iraniano se
prolongue para além de um período
de 10 anos e que Teerão
não avance na tecnologia de
enriquecimento de urânio. Algo
que os responsáveis iranianos
recusam. A principal preocupação
dos países nas negocia-
ções é impedir que o Irão seja
capaz de construir uma arma
nuclear em menos de um ano,
uma janela que lhes permitiria
intervir com sanções ou até
com uma intervenção armada,
caso Teerão tentasse, de facto,
armar uma bomba atómica.
Mas as atenções de Teerão parecem
estar sobretudo debruçadas
para as sanções económicas.
Segundo as informações que
têm surgido em volta das negociações,
a vontade dos P5+1 é
a de que as sanções sejam gradualmente
levantadas ao longo
do tempo, caso o Irão cumpra
as restrições ao seu programa
nuclear. Outra das medidas em
discussão é a possibilidade de as
actuais sanções serem automaticamente
renovadas, caso o Irão
reprove nas inspecções ao seu
nuclear. Estes dois pontos são
terminantemente recusados no
Irão, como afirmou, na segunda-
-feira, Ali-Akbar Belayati, conselheiro
do Ayatollah Ali Khamenei,
o Supremo Líder do Irão.
“Não podemos parar as nossas
actividades se o levantamento
de sanções for condicional a
um número de anos de supervisão
e avaliação”, começou
por dizer Ali-Akbar Belayati.
“Se o outro lado decidir reinstituir
as sanções, nós deveríamos
ser capazes de retomar toda a
actividade nuclear aos níveis
do pré-acordo”, concluiu, citado
pelo “Financial Times”.
Com “problemas substanciais”
ainda por resolver, segundo
as palavras do embaixador
francês nos EUA, a possibilidade
de um acordo até ao final
de terça-feira parece escassa. As
negociações podem ainda ultrapassar
por alguns dias o fim de
Março. A data foi auto-imposta
e remete para o verdadeiro limite
para um acordo técnico, que
é o final de Junho. Mas, se estes
obstáculos não forem ultrapassados,
as negociações podem cair
esta mesma semana. A porta-voz
do Departamento de Estado norte-americano,
Marie Harf, colocou
as probabilidades de um
acordo num “50-50”. (Público)
A delegação iraniana contesta o mecanismo de reintrodução automática de sanções
Continua impasse para um acordo
nuclear iraniano
Os principais pontos de discórdia são ainda as questões fundamentais
do programa nuclear iraniano.
de Moçambique Moçambique
A principal
preocupação
dos países nas
negociações é
impedir que o
Irão seja capaz
de construir uma
arma nuclear em
menos de um ano.
26 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Internacional
O co-piloto iniciou deliberadamente
a descida do avião da
Germanwings que se despenhou
nos Alpes. A informação
foi divulgada por Brice Robin,
da procuradoria de Marselha,
em conferência de imprensa, e
indica que o co-piloto Andreas
Lubitz, de 28 anos, “queria destruir
o avião”, tendo sido responsável
pela morte de 149 pessoas
e pela sua própria morte.
“Podemos falar de uma
ação deliberada para destruir o
avião”, disse o procurador, com
base na gravação recuperada da
“caixa negra” do avião. Segundo
Robin, o co-piloto do Airbus
A320, de nacionalidade alemã,
estava a respirar normalmente,
o que exclui a possibilidade de
este se ter sentido mal. Além
disso, tinha de estar consciente,
porque iniciou manualmente os
procedimentos para provocar
a descida do avião, numa queda
de mil metros por minuto.
Andreas Lubitz não voltou a
falar depois de o comandante
Patrick Sonderheimer sair do
“cockpit”, dizendo-lhe “deixo-
-te aos comandos do avião”,
após um início de voo normal
em que tinham tido uma conversa
educada. Não falou nem
mesmo perante os murros na
porta dados pelo comandante
do voo, que foram ficando
cada vez mais fortes. “Não
disse nenhuma palavra durante
os últimos 10 minutos.”
“A ‘caixa negra’ regista a
conversa entre o comandante
e co-piloto. Temos os últimos
30 minutos de voo. Durante os
primeiros 20 minutos, os dois
falam normalmente. Depois,
ouve-se o comandante a falar
sobre a aterragem, e a resposta
do co-piloto é lacónica. Depois,
ouve-se o comandante
pedir ao co-piloto para assumir
o comando, e ouvimos em seguida
a afastar-se e uma porta
que se fecha. Parece que saiu.”
As autoridades francesas estão
à espera de mais informação
das autoridades alemãs sobre
o co-piloto Andreas Lubitz.
Questionado pelos jornalistas
sobre a origem étnica e religião
do piloto, Robin disse não ter
informação, mas considerou
que podem não ser importantes.
O procurador considera
que não é provável que tenha
sido um acto de terrorismo.
Brice Robin disse ainda que
as vítimas só se deram conta
do que estava a acontecer no
último momento, pelos gritos
que se ouvem na gravação.
As mortes foram instantâneas,
uma vez que o avião bateu na
montanha a 700 quilómetros
por hora. Segundo as autoridades,
as operações para recuperar
e identificar os corpos
podem estender-se ao longo
das próximas duas semanas.
Os últimos 30 minutos
do voo:
• Nos primeiros 20 minutos,
os dois pilotos, o comandante
Patrick Sonderheimer e o co-
-piloto Andreas Lubitz, falam
normalmente.
• Quando o comandante começa
a referir os procedimentos
para a aterragem, há uma resposta
lacónica.
• O comandante diz ao copiloto:
“Deixo-te ao comando do
avião”.
• Ouve-se um movimento de
arrastar e uma porta a fechar-se,
o que leva os investigadores a
pensar que Sonderheimer saiu
do “cockpit”.
• O co-piloto inicia deliberadamente
a descida, numa queda
de mil metros por minuto. Não
volta a falar.
• Ouve-se o comandante a bater
à porta e a pedir para entrar.
• A gravação do som no “cockpit”
mostra que o co-piloto
estava a respirar normalmente,
apesar de não responder.
• Ouve-se o controlador aéreo
de Marselha a perguntar várias
vezes o que se passa. O controlador
aéreo pede a outros aviões
que tentem contactar o Airbus.
• O comandante continua
a bater à porta, cada vez com
mais força.
• Ouve-se um alarme de aproximação
a terra.
• Só nos últimos momentos é
que se ouvem gritos dos passageiros.
• Há um primeiro impacto,
e depois o avião bate contra a
montanha a 700 km por hora.
(Redacção)
Co-piloto do voo da Germanwings provocou
a queda do avião e matou 149 pessoas
Andreas Lubitz impediu o comandante de entrar no “cockpit” e causou
deliberadamente a queda do avião.
de Moçambique Moçambique
Andreas Lubitz
não voltou a
falar depois de
o comandante
Patrick
Sonderheimer
sair do
cockpit”.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 27
Internacional
O gabinete do procurador
de Düsseldorf, que investiga o
envolvimento de Andreas Lubitz
na queda do avião da Germanwings,
revelou na passada
segunda-feira (dia 30) que o co-
-piloto recebeu no passado tratamento
a tendências suicidas.
Quase uma semana depois do
desastre nos Alpes, que matou
150 pessoas, há pela primeira
vez a confirmação oficial de que
Lubitz sofria de perturbações psiquiátrias.
O co-piloto é suspeito
de ter feito o avião despenhar-
-se nos Alpes franceses, matando
as 149 pessoas a bordo.
“Vários anos antes de obter
a sua licença de piloto, o co-
-piloto esteve em tratamento
psiquiátrico durante um largo
período de tempo por evidentes
tendências suicidas”, disse
Christoph Kumpa, porta-voz
da procuradoria de Düsseldorf.
Kumpa especificou que Lubitz
esteve em tratamento antes de
obter a licença de piloto. Porém,
disse que, desde que a licença foi
emitida, não há documentação sobre
esse tratamento. “No período
que se seguiu, e até recentemente,
houve mais consultas médicas
que resultaram em notas sobre
doença, mas sem serem assinaladas
tendências suicidas ou agressividade
em relação aos outros.”
Segundo informações obtidas
pela BBC, a comissão especial
criada para investigar a
tragédia dos Alpes já recolheu
amostras que permitiram identificar
mais de 80 vítimas do
acidente. Os investigadores procuram
agora a segunda “caixa
negra” que contém os dados
técnicos do voo cuja queda está
a ser tratada como suspeita de
crime de homicídio. (Público) Andreas Lubitz, co-piloto do avião da Germanwings
Habitantes de Idlib em fuga depois da tomada da cidade por islamistas
Co-piloto da Germanwings recebeu
tratamento por tendências suicidas
Grupos islamistas, incluindo
a Frente al-Nusra, ligada
à rede Al-Qaeda, tomaram a
cidade de Idlib, uma capital
da província síria muito perto
da estratégia auto-estada
entre as duas principais cidades
do país, Damasco e Alepo.
O regime de Bashar al-Assad
ainda não comentou a notícia
dada por combatentes que publicaram
vídeos da cidade na internet
e por grupos de observação
do conflito. Idlib é ainda próximo
da província de Latakia, o
grande bastião de Assad. A televisão
do Estado continuava a dar
conta apenas de combates perto
da cidade. É a segunda derrota
do Governo numa semana, depois
de rebeldes terem tomado a
cidade histórica de Busra na província
de Deraa, no Sul do país.
Ao tomar Idlib, no Noroeste
da Síria, a aliança de “jihadistas”
que inclui a Frente Nusra, leal à
Al-Qaeda e rival do autodenominado
“Estado Islâmico”, ganha a
sua primeira capital de província.
O “Estado Islâmico”, pelo
seu lado, tem Raqqa, a leste, que
é o seu principal bastião e que
tem sido alvo da ofensiva área
dos EUA contra os extremistas.
Grupos que participavam na
ofensiva para tomar o controlo da
cidade publicaram vídeos mostrando
combatentes nas ruas da
cidade e perto de um antigo edifício
governamental, disparando
para o ar e gritando “Allahu
Akabar” (“Deus é grande”).
A cidade foi o local onde a
luta da oposição pacífica, que
encontrou uma pesada repressão
militar do regime, começou
a tornar-se armada. A popula-
ção de Idlib também aumentou
por causa do enorme número
de refugiados internos que fugiam
de outras zonas do país.
A guerra na Síria causou
mais de 220 mil mortos e
quase dez milhões de deslocados,
mais de três milhões
dos quais se refugiram nos
países da região. (Público)
Quase uma semana depois da queda do avião nos Alpes, há pela primeira vez a confirmação
oficial de que o co-piloto da Germanwings sofria de perturbações psiquiátricas.
É a segunda capital de província a cair nas mãos de radicais, depois
de Raqqa, controlada pelo autodenominado “Estado Islâmico”.
Cidade síria de Idlib nas mãos de
extremistas ligados à Al-Qaeda
de Moçambique Moçambique
de Moçambique Moçambique
28 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Ciência e Tecnologia
O mercado das aplicações mais seguras cresceu após as revelações de Edward Snowden
Reforço da segurança após as revelações de Edward Snowden dificulta
trabalho dos serviços secretos. Defensores da privacidade dizem que
a culpa é dos programas de vigilância em larga escala.
de Moçambique Moçambique
O director da Europol está
preocupado com a multiplica-
ção de aplicações para telemó-
veis que permitem a duas ou
mais pessoas manterem uma
conversa ou trocarem fotografias
e vídeos de forma mais
segura do que no passado.
O galês Rob Wainwright afirma
que a dificuldade em descodificar
essas comunicações “tornou-se
no maior problema para a
Polícia e para as agências de serviços
secretos que têm de lidar
com as ameaças do terrorismo”.
“A própria natureza do contraterrorismo
mudou, deixando
de ser um trabalho assente numa
boa capacidade para vigiar as
comunicações”, disse o director
da Europol no programa “5 Live
Investigates”, da BBC Radio 5.
Vários responsáveis de agências
de serviços secretos e outras
organizações com responsabilidades
no combate ao terrorismo,
como a Europol, têm criticado o
reforço da segurança nas comunicações
na internet, promovida
por grupos de activistas mas também
por gigantes da tecnologia
como a Apple e o Google e por
empresas mais pequenas, que
lançam aplicações e programas
para serem usados em telemó-
veis e computadores pessoais.
Apesar de já existirem há alguns
anos e de a encriptação de
comunicações ser uma realidade
com várias décadas, a revelação
dos programas de vigilância da
Agência de Segurança Nacional
norte-americana pelo antigo
analista Edward Snowden, no
Verão de 2013, veio alargar o
mercado das aplicações seguras,
e obrigou as empresas Apple,
Google e Microsoft a responderem
às exigências de privacidade
de muitos dos seus clientes.
Apesar das aplicações WhatsApp,
Facebook e Messenger
estarem entre as mais usadas,
existem outras mais seguras,
fortalecidas com várias camadas
de protecção. Chatsecure,
Surespot e Telegram são apenas
alguns exemplos. A organização
sem fins lucrativos “Electronic
Frontier Foundation” tem um
“ranking” que avalia o grau de
segurança dessas aplicações.
Ferramenta essencial
Poder comunicar de forma
mais segura é uma ferramenta
essencial para jornalistas ou
activistas dos direitos humanos
em países com regimes particularmente
repressivos e violentos,
mas essas aplicações
estão também a ser usadas por
grupos terroristas para radicalizarem
jovens por todo o mundo.
Numa primeira fase, grupos
como o autoproclamado “Estado
Islâmico” usam blogues, o Facebook
ou o Twitter para transmitirem
a sua ideologia. Depois
disso, quando a mensagem consegue
passar e alguém manifesta
vontade de falar com mais pormenor
sobre possíveis viagens
para a Síria, por exemplo, os
responsáveis pelo recrutamento
dão instruções aos potenciais
“jihadistas” para instalarem
aplicações mais seguras, que
os serviços secretos têm mais
dificuldade em descodificar.
O equilíbrio entre a privacidade
e o acesso às comunicações
no combate ao terrorismo é a
solução defendida pela maioria
dos especialistas, mas em termos
técnicos essa solução não
tem passado das boas inten-
ções. Os defensores do direito
à privacidade culpam mesmo
as próprias empresas de tecnologia
e as agências de serviços
secretos pela dificuldade em resolver
ou reduzir esse problema.
“A questão é que, nos últimos
dez anos, a internet tem sido
construída por empresas interessadas
em garantir que as nossas
vidas são um livro aberto. Os
Governos têm vindo a beneficiar
disso, ao porem em prática programas
de vigilância em massa”,
disse à BBC Gus Hosein,
director da organização britâ-
nica “Privacy International”.
“Ao fim de anos de pressão,
por causa das revelações de
Edward Snowden, as empresas
estão a acordar e a perceber que a
função delas é criar uma internet
segura, e não um livro aberto.”
Vigilância em massa
Os defensores da privacidade
na internet lembram que
a encriptação é um pilar da
economia actual, garantindo a
segurança das actividades comerciais
e das transacções bancárias,
por exemplo. “A verdade
é que teríamos de desligar a internet
tal como a conhecemos,
para que os serviços secretos pudessem
ter tudo o que querem.
Seria necessário desligar toda a
segurança em termos de registos
médicos, cartões de crédito, toda
a nossa vida, para satisfazermos
as necessidades dos serviços
secretos”, afirma Gus Hosein.
O director da “Privacy International”
explica que “o
que as agências de serviços
secretos têm perdido nos últimos
meses é a sua capacidade
para levarem a cabo uma vigilância
em massa, algo que
nunca deveriam ter feito”.
Mas o director da Europol
avisa que o reforço da seguran-
ça na internet “abre uma lacuna
em termos de capacidades” por
parte de quem investiga possíveis
actos de terrorismo ou a
radicalização de jovens, apesar
de defender que a Polícia e os
serviços secretos não devem
poder entrar nos servidores de
empresas como o Facebook directamente,
com ou sem o conhecimento
dessas empresas.
“Temos de alcançar o equilí-
brio certo que garanta os princípios
fundamentais da privacidade,
por isso as empresas de
tecnologia e os legisladores têm
muito trabalho pela frente”, conclui
Rob Wainwright. (Público)
“Apps” de mensagens mais seguras dificulta
trabalho dos serviços secretos
Apesar de
aplicações como
o WhatsApp
ou o Facebook
Messenger estarem
entre as mais
usadas, existem
outras mais
seguras.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 29
Ciência e Tecnologia
O fóssil é de uma criatura que viveu 250 milhões de anos antes de surgirem os primeiros dinossauros
A Google Inc. aceitou pagar à
nova directora financeira, Ruth
Porat, 64,2 milhões de euros
até 2019. O valor em causa inclui
um bónus de 4,6 milhões
de euros que a directora vai
receber 30 dias depois de começar
a trabalhar na empresa.
O salário base da nova directora
financeira vai rondar os
597 mil euros. A multinacional
anunciou no início da semana
que ia substituir Patrick Pichette
– um executivo que trabalhou
durante muito tempo na
empresa mas que vai, agora,
reformar-se – por Ruth Porat.
A financeira exercia, até
agora, o mesmo cargo no banco
Morgan Stanley, local onde
exerceu vários cargos desde que
começou a trabalhar naquela
instituição, em 1987. A directora
financeira vai ver o seu
ordenado aumentado. O último
valor de que há registo no seu
antigo posto de trabalho é de
11 milhões de euros, em 2013.
Pichette, que ganhou cerca
de 35,5 milhões de euros
em 2012, viu o seu salá-
rio cair para os 4,7 milhões
de euros em 2013. (Público)
Mais de uma centena de fósseis da nova espécie foi desenterrada no Canadá.
Antigo artrópode era um grande predador.
Google vai pagar 64,2 milhões de
euros à nova directora financeira
de Moçambique Moçambique
de Moçambique Moçambique
O fóssil é de uma criatura que viveu
250 milhões de anos antes de
surgirem os primeiros dinossauros
A cordilheira canadiana Rockies,
na região ocidental do Canadá,
na Colúmbia Britânica, tem
uma zona de fósseis que transporta
os paleontólogos para um
ecossistema marinho com mais
de 500 milhões de anos, muito
antes dos dinossauros povoarem
a Terra. Agora, este local ofereceu
um fóssil de uma criatura
marinha intrigante: um artrópode
predador com quatro olhos
e um par de garras com picos.
Os cientistas desenterraram fósseis
bem preservados de um animal
que viveu há 508 milhões de anos,
a que foi dado o nome de Yawunik
kootenayi, e que se parece com um
grande camarão. Terá sido um dos
maiores predadores do seu tempo.
Contando com as garras, o animal
teria cerca de 22,5 centímetros
de comprimento. Este tamanho
pode não parecer impressionante,
mas a maioria das criaturas daquela
altura era muito mais pequena.
As camadas geológicas onde
o fóssil foi encontrado, no Parque
Nacional Kootenay, pertencem
à formação rochosa Burgess
Shale, que durante mais de um
século revelou fósseis excepcionais
do período Câmbrico (541 a
485 milhões de anos), quando a
maioria dos grupos animais surgiram.
Mas esta região específica
ainda não tinha sido explorada.
O nome Yawunik, que a espécie
ganhou, é de um monstro marinho
da mitologia dos Ktunaxa,
um grupo indígena. A espécie era
um artrópode primitivo, um grupo
que inclui hoje os camarões, as lagostas,
os insectos, as aranhas e os
escorpiões. O artrópode era capaz
de nadar e era um predador activo,
tinha duas fileiras de picos nas garras
frontais e um sistema sensitivo
muito desenvolvido com dois pares
de olhos e antenas elaboradas.
O seu corpo tinha 17 segmentos.
“O novo fóssil mostra claramente
que estes artrópodes primitivos
eram predadores temí-
veis e sofisticados”, disse Robert
Gaines, paleontólogo do Pomona
College, na Califórnia, Estados
Unidos, e um dos investigadores.
“Os antepassados dos vertebrados
[como é o homem] ainda não
tinham desenvolvido ossos ou
mandíbulas, e eram ainda humildes
comensais na base da cadeia
alimentar”, acrescentou, comparando
os dois grupos de animais.
Segundo Cédric Aria, um aluno
de doutoramento da Universidade
de Toronto, no Canadá, mais
de uma centena de fósseis deste
animal foi desenterrado. “Pode-se
mesmo dizer que se parece com
um grande camarão em que as
antenas são grandes garras”, disse
Cédric Aria, um dos autores do
artigo sobre o fóssil publicado na
revista científica “Paleontology”.
O artrópode tinha dois apêndices
na parte da frente da cabeça
que permitiam mover-se para a
frente e para trás. Os picos nas
suas garras ajudavam-no a agarrar
as presas. As antenas elaboradas
que tinha nos apêndices serviam
para sentir o ambiente, não só para
tactear, mas talvez para detectar
moléculas químicas, cheirando-as.
“Há 15 anos que estou a investigar
no campo os fósseis do
Burgess Shale e o Yawunik é,
sem dúvida nenhuma, o mais
entusiasmante e belo fóssil que
já vi saído destas rochas”, disse
Robert Gaines. (Público)
Descoberto fóssil de grande artrópode
com 508 milhões de anos
30 Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
Cultura
A testosterona é por excelência
a hormona do sexo, da
virilidade e do desejo masculinos.
E nas mulheres? Será que
esta hormona, que elas também
produzem – embora em quantidades
muito inferiores às dos
homens –, nomeadamente ao
nível dos ovários, também tem
efeitos sobre a libido feminina?
A acção da testosterona no
cérebro humano é tornar as pessoas
mais atentas aos sinais sexuais
(visuais, auditivos) e, mais
geralmente, estimular a imaginação
sexual. Por outro lado,
uma das coisas que os especialistas
têm vindo a perceber nas
duas últimas décadas é que “as
pessoas em relações monogâmicas
estáveis [ou que cuidam dos
filhos] têm níveis mais baixos de
testosterona do que as pessoas
sem – ou com múltiplos – relacionamentos
sexuais”, disse ao
“Público” Rui Costa, psicólogo
experimental do ISPA – Instituto
Universitário, em Lisboa.
Esta relação testosterona-
-relacionamento tem sido sobretudo
testada nos homens, e,
conforme tudo indica, verifica-
-se no sexo masculino. Mas,
em paralelo, um número mais
limitado de estudos em mulheres
tem igualmente vindo a
sugerir que existe uma relação
semelhante no sexo feminino.
Daí, a pensar que quanto maior
o nível de testosterona no sangue
das mulheres, maior a apetência
por sexo, vai um passo.
“A busca pelo ‘Viagra feminino’
despertou o interesse
em estudar a relação entre a
testosterona e o desejo sexual
nas mulheres”, explica-nos
Rui Costa, que trabalha precisamente
nesta área fronteira da
psicologia e da fisiologia. “E,
muito recentemente, a testosterona
passou a ser muito procurada
para tratar problemas de
desejo sexual nas mulheres.”
Resultados equívocos
Só que, nas mulheres, essa
relação testosterona-libido é
bastante menos linear do que
nos homens: “Nas mulheres,
os resultados são equívocos”,
acrescenta Rui Costa. Há mulheres
em que a testosterona aumenta
o desejo sexual, e outras
que não reagem ao tratamento.
De onde vem essa discrepância?
Rui Costa procura respostas.
Numa primeira fase, este cientista
quis confirmar, desta vez
em mulheres portuguesas, outros
estudos já feitos na Noruega, nas
Filipinas, nos EUA ou no Canadá.
“Fui investigar se as mulheres
que estão numa relação está-
vel têm menos testosterona do
que as mulheres sozinhas.” Com
a sua equipa, acaba de publicar,
numa recente edição da revista
“Personality and Individual
Differences”, o primeiro estudo
deste tipo realizado em Portugal.
O trabalho envolveu 73 mulheres
jovens (com 18 a 35 anos
de idade). Rui Costa salienta:
metade dessas mulheres eram estudantes
universitárias e metade
empregadas de supermercado,
“colegas da minha mestranda”
e co-autora Mónica Correia, que
lá trabalhava em “part-time”,
Os níveis de testosterona das
participantes foram medidos
através de amostras de saliva.
E, globalmente, os resultados
confirmam o que já se pensava:
níveis mais elevados de
testosterona surgem associados
a níveis inferiores de envolvimento
romântico exclusivo, e,
portanto, em princípio, a uma
maior disponibilidade sexual.
Diga-se antes de mais que,
embora uma relação deste tipo
possa existir em ambos os sexos,
a causa e o efeito parecem inverter-se
dos homens para as mulheres.
Assim, nas mulheres, será a
relação monogâmica a induzir
uma redução da testosterona em
circulação no organismo, ao passo
que os homens “têm de ter um
nível baixo de testosterona à partida
[dentro da normalidade, claro]
para entrarem mais facilmente
numa relação monogâmica”,
explica Rui Costa. “Tem havido
alguma investigação que sugere
que, no caso das mulheres, a relação
sentimental é mais a causa
e o nível baixo de testosterona
o efeito”, acrescenta. “Tenciono
aprofundar esta questão.”
Voltando ao estudo agora publicado,
a equipa portuguesa
quis ir mais longe do que os estudos
anteriores, ao incluir uma
variável adicional nesta “equa-
ção”, uma variável de ordem
psicológica e não fisiológica
como o nível de testosterona.
Mais precisamente, os cientistas
quiseram saber se, em presença
de um de dois traços da personalidade
(extroversão e procura
de sensações) que tornam as pessoas
mais atentas aos estímulos
sexuais, os níveis de testosterona
nas mulheres deixariam de
ser, por assim dizer, um indicador
da sua situação sentimental.
“A extroversão e a procura
de sensações são dois traços
da personalidade que, estatisticamente,
tornam uma pessoa
mais propensa ao sexo casual,
e a procura de sensações tem
sido por vezes associada à infidelidade”,
diz Rui Costa. “E
a minha hipótese de partida era
que, nas mulheres mais extrovertidas
[ou mais propensas a
procurar sensações], não haveria
diferenças de níveis de testosterona
conforme elas tivessem
ou não um parceiro estável. Decidi
ir ver se esta relação [testosterona-relacionamento]
era
moderada pela propensão [das
mulheres] para o sexo casual”.
Para isso, a equipa pediu às
participantes para preencherem
questionários especificamente
destinados a avaliar esses dois
traços da personalidade. Resultado:
nas mulheres que apresentavam
esses traços de forma
mais pronunciada, os níveis de
testosterona já não eram um indicador
da situação relacional.
Reconhecer as emoções
Rui Costa já passou para a
fase seguinte do seu trabalho:
determinar o que faz com que
certas mulheres com perturbações
do desejo sexual res-
“O beijo”, de Gustav Klimt, óleo e folha de ouro sobre tela, 1907-1908
A testosterona parece desempenhar um papel importante nas relações amorosas de
ambos os sexos. Mas nas mulheres, essa equação não é tão simples como nos homens.
Cientista português pensa que isso acontece por razões psicológicas.
Pessoas em relações monogâmicas
estáveis têm níveis mais baixos
de testosterona
(Continua na página seguinte)
A busca pelo
‘Viagra feminino’
despertou o
interesse em
estudar a relação
entre a testosterona
e o desejo sexual
nas mulheres.
Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015 31
Publicidade
pondam positivamente à testosterona,
e outras não. “Estou
agora a investigar quais são os
traços da personalidade que explicam
a correlação observada
entre os níveis de testosterona
e a libido”, explicou-nos ainda.
Como se trata, segundo ele,
de traços associados a “uma
boa capacidade de reconhecer
as suas próprias emoções”, o
investigador está a estudar precisamente
um traço que surte
o efeito oposto, ou seja, que
conduz a uma incapacidade
de reconhecer essas emoções.
Em termos médicos, este tipo
de perturbações é conhecido por
“alexitimia”. Ora, mesmo sem
atingirem níveis
patológicos, salienta
Rui Costa,
muitas pessoas
apresentam níveis
de maior ou menor
alexitimia. E
as pessoas alexití-
micas costumam
ter um desejo sexual
muito baixo.
É por isso que,
argumenta o cientista,
a alexitimia
poderá explicar
o défice de desejo
sexual observado
em parte
das mulheres,
independente -
mente dos seus
níveis de testosterona.
“É muito plausível que
nas pessoas muito alexitímicas
não exista uma correlação entre
os níveis de testosterona e
a libido”, frisa o investigador.
Esta série de experiências,
também com voluntárias jovens,
tem consistido na medi-
ção dos níveis de testosterona
antes e depois da apresentação
às participantes de dois tipos
de estímulos que suscitam pensamentos
de ordem sexual: um
questionário “online” e excertos
de filmes românticos. No
questionário, é-lhes pedido para
descreverem uma fantasia sexual
com um parceiro imaginário.
“Estou interessado no estudo
dos problemas sexuais na população
jovem”, refere ainda Rui
Costa. “Estudos psicológicos indicam
que 10 a 20 % dos jovens
sofrem de falta de desejo sexual.”
Ora, pouca atenção é dada a esta
população, quando precisamente
os jovens “têm mais vergonha
de consultar um médico do que
as pessoas mais velhas”, frisa.
Este trabalho ainda está em
curso, mas Rui Costa diz-nos
que os resultados que obteve até
aqui já lhe permitem concluir
que, efectivamente, “a alexitimia
explica a discordância observada
[nas mulheres] entre os
níveis de testosterona e a libido”.
E acrescenta: “Constatei que nas
participantes mais alexitímicas
essa discordância é maior do que
nas menos alexitímicas. E confirmei
que pode haver dois tipos
de situações: testosterona alta e
libido baixa, e testosterona baixa
e libido alta.” Rui Costa, que
pensa que no cerne do problema
está essa dificuldade em sentir as
emoções, também estuda, para
além da alexitimia, outras situações
em que essa dificuldade
se manifesta, como, por exemplo,
quando
existem mec
a n i s m o s
de defesa
psicoló -
gicos que
bloqueiam
os pensamentos
desagradáveis
e, ao mesmo
tempo,
a capacidade
de sentir
as próprias
emoções.
Estes res
u l t a d o s
poderão ter
implicações
importantes
no tratamento
da
falta de desejo sexual, diz-nos
ainda Rui Costa. “Se for possível
explicar por que há pessoas com
um nível de libido baixo apesar
de terem níveis de testosterona
normais, e que a causa reside na
dificuldade em sentirem as suas
próprias emoções, o problema da
falta de libido poderá então ser
abordado através da psicologia.”
Acontece que, ultimamente,
o tratamento dos problemas do
desejo sexual nas mulheres tem
sido muito baseado na medica-
ção, diz Rui Costa. Mas, a confirmar-se
a sua teoria, o investigador
acha que os médicos poderão
então avaliar a personalidade
das pacientes, antes de lhes prescreverem
testosterona, para
determinar se uma abordagem
não puramente médica, mas psicológica,
não seria mais eficaz.
“Há estudos que mostram
que, nas mulheres, a meditação
de tipo ‘mindfulness’,
que treina a pessoa para sentir
as suas emoções sem fazer
juízos de valor, tem tido resultados
positivos, aumentando
o desejo sexual”, conclui.
(Continuação da página anterior)
de Moçambique Moçambique
A extroversão
e a procura de
sensações são
dois traços da
personalidade que,
estatisticamente,
tornam uma pessoa
mais propensa ao
sexo casual.
publicidade
Av. Samora Machel nº11 | Prédio Fonte Azul, 2º andar, Porta4 | canal.i.canalmoz@gmail.com
www.canalmoz.co.mz
de Moçambique de Moçambique
Quarta-Feira, 1 de Abril de 2015
publicidade
MOZAMBIQUE SCIENTIFIC
Hematologia Bioquímica Bioquímica seca POC (Na/K/Cl) Hb / Glu / Alb / HB1AC / WBC Diff (Hemocue) CTG
Garantia: 01 Ano / Facilidade de pagamento / Assistência garantida p´la MOZAMBIQUE SCIENTIFIC
www.msmedical.co.mz
/
moz.scientific@tvcabo.co.mz
/
+258
21
400
781
/
+258
84
1033076
Via Ripua, mais uma vez passamos
a conhecer assuntos intestinais
do partido Frelimo, discutidos,
em surdina lá dentro.
Desta vez, é a sucessão de Chissano.
Ripua quer Guebuza. Já o tinha
proposto Primeiro-Ministro.
Na nossa opinião Guebuza
não. O nosso parecer assenta
em dois factores: 1. As pessoas
têm medo de Guebuza.
2. Ele foi, talvez por uma razão
de causa e efeito o primeiro factor,
um dos ministros mais incompetentes
a passar pela governação
da Frelimo. Onde tocou, estragou.
Vamos à questão do medo.
É verdade que Chissano tem
gerido a presidência com grau
de hesitação, por vezes prejudicial
para o país. Mas com ele na
presidência desde 1986 Moçambique
foi praticando níveis de
liberdade de expressão. E hoje
está bem evidente quanto melhorou
na governação a pauta
aduaneira por exemplo, fruto do
uso crescente dessa liberdade.
Via debate, o país foi encurtando
o caminho para consensos e assim
se arranjaram algumas soluções.
Moçambique precisa, pois, de
um presidente, cuja personalidade,
ainda que menos hesitante do
que a de Chissano seja pelo menos
tão aberta ao diálogo como a dele.
Guebuza tem sido o contrá-
rio disso. As pessoas calam-
-se por causa dele. Não tem
nem um décimo da postura de
Chissano no tocante a aceitação
de crítica contra ele.
A governação do país ficaria
seriamente prejudicada com um
presidente inspirador de-temor-
-e revolta-entre os cidadãos.
Em segundo, mas não menos
importante, lugar, a questão da
incompetência. Armando Guebuza
tem sido mau gestor da
coisa pública. Como Governador
de Sofala pôs em perigo o
relacionamento com Portugal.
Como ministro do Interior,
adoptou para a operação produção,
um método que anulou
qualquer hipótese para a concretização
das intenções que lhe
deram vida (pese as responsabilidades
do presidente Samora
Machel numa conceptualização
apressada do programa).
E nos transportes Guebuza
cruzou os braços perante o alastramento
impetuoso do roubo
e da corrupção, levando entre
outros males, a uma quebra terrível
do tráfego via porto de
Maputo e ao desmoronamento
quase irreversível da LAM.
No partido Frelimo há outros
sucessores possíveis para
Chissano, apesar de nenhum deles,
depois da morte de Samora
Machel, ter defendido o país,
contra a pilhagem desenfreada
das nossas riquezas, tem no seu
CV muitos mais méritos do que
Guebuza para o cargo do PR.
Por outras palavras, a transição
pós-Chissano pode ser
pacífica. Mas, a escolha final é
a dos eleitores. Pelo menos enquanto
Guebuza não for PR.
(In «Metical» de 15 de Julho de
1997, Carlos Cardoso) (*) Publicação
a título póstumo. O autor
foi assassinado a 22 de Novembro
de 2000
A empresa Canal i, Lda procura agentes em Maputo-cidade
e em todas as províncias do país que estejam interessados
em revender o jornal Canal de Moçambique.
Os interessados deverão contactar os nossos serviços
comerciais por email: veloso.f2@gmail.com ou por
telefone: 82 3672025 | 84 2120415 | 82 8405012
Procura de agentes
de vendas
de Moçambique Moçambique
Guebuza não!*
Sem comentários:
Enviar um comentário