sábado, 25 de abril de 2015

Faltam resultados nas negociações de PR moçambicano com a Renamo, considera analista


25 de Abril de 2015, 09:58
A investigadora portuguesa Elisabete Azevedo aponta o impasse entre o Governo moçambicano e a Renamo, maior partido da oposição, como a principal marca dos cem primeiros dias da governação de Filipe Nyusi, realçando a falta de resultados concretos nas negociações.
"Passados cem dias, embora tenha existido uma abertura para falar com líder da oposição, não temos nada em concreto. Os homens da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] continuam armados e não sabemos o que vai acontecer", disse à Lusa a docente da Universidade Católica de Portugal e de Moçambique.
Eleito com 57% dos votos nas quintas eleições gerais de Outubro passado e empossado em meados de Janeiro, Filipe Jacinto Nyusi, 56 anos, tornou-se no quarto chefe de Estado moçambicano e terceiro eleito democraticamente.
Os primeiros cem dias da governação de Filipe Nyusi assinalam-se hoje, num momento em que o país vive um clima de tensão política, associado à Renamo que não reconhece os resultados das últimas eleições e ameaça governar pela força, caso a maioria da Frente de Libertação Nacional (Frelimo), no poder, chumbe o seu projeto de províncias autónomas, a ser debatido no parlamento.
A investigadora considera que Filipe Nyusi foi bem recebido pelos moçambicanos, particularmente pelos intelectuais e pela sociedade civil, no entanto, passados cem dias, o Presidente ainda não conseguiu apresentar reformas e respostas concretas para os problemas políticos moçambicanos, como é o caso da proposta da Renamo.
"Neste primeiros cem dias, houve um `estado de graça` e simpatia. Mas ainda estamos para perceber se, a acompanhar a mudança de estilo, há uma mudança de conteúdo. Não se percebe, até então, qual é a resposta do Governo às preocupações da Renamo. Os encontros negociais continuam, mas não há nada visível e concreto", afirmou Elisabete Azevedo.
A eleição de Nyusi suscitou um debate político em Moçambique, com vários analistas a avisarem para o risco de existirem dois centros de poder no país, um exercido pela influente liderança de Armando Guebuza na Frelimo, outro por Filipe Nyusi na Presidência da República, mas há um mês o anterior chefe de Estado afastou-se e entregou o cargo ao seu sucessor.
"Não sei se a eleição de Nyusi para a liderança da Frelimo foi uma derrota do presidente Guebuza ou se foi uma vitória de Filipe Nyusi. Não sei se a saída de Guebuza foi consequência do poder do presidente Nyusi ou se foi consequência do desgaste do próprio Armando Guebuza dentro do partido", declarou Elisabete Azevedo.
Além da tensão política, os cem primeiros dias de Nyusi foram marcados pelas cheias que afectaram, principalmente, as províncias do centro e norte de Moçambique, destruindo várias infraestruturas, casas, estradas e pontes, e condicionando a ligação a vastas regiões do país durante um mês.
Para Elisabete Azevedo, as cheias agravaram o sentimento de discriminação regional que já existe nas populações daquelas regiões do país.
"As cheias agravaram o sentimento de descriminação entre o norte, o centro e o sul. Eu estou em Quelimane e o sentimento que essas populações têm é de que ´já chega, acontece-nos sempre isso, a assistência é tardia, nós queremos um governo que seja nosso`", disse Elisabete Azevedo, realçando a necessidade de o Governo adoptar uma política de descentralização que não seja discutida de forma partidária.
"Tanto a Frelimo como a Renamo estão discutir de forma partidária um tema que é demasiadamente importante para o país. Entretanto, não se trata de como vai dividir o país, mas o que se pode fazer para desenvolver estas províncias", disse a investigadora da Universidade Católica de Portugal e de Moçambique, reiterando a necessidade de um debate sério na Assembleia da República.
Lusa

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