terça-feira, 28 de abril de 2015

Caso Kalupeteka: Alguém em Angola tem de ter juízo! - Kamalata Numa


Luanda - Aprendi na escola da vida que tudo o que acontence hoje esta conectado a acontecimentos anteriores. Muito para além dos acontecimentos sobre “Kalupeteka” apoiado pelo governo do Huambu, inclusivamente nas eleições passadas fazendo campanha para o MPLA, o que me dói é voltar a sentir a cobardia dos homens políticos, religiosos, estudantes, etc., diante das notícias do genocídio, dos julgamentos do pé descalço por juízes sem sensibilidade humana, das notícias de crentes da seita a apresentarem­ se como criminosos as autoridades da Baía Farta e outras áreas, da morte dos polícias que deixam suas famílias destruídas etc., etc., etc.
 Fonte: Club-k.net
Apesar de o governo ter instalado o Programa de reconstrução e desenvolvimento em 2002, mantêm­se hoje os sinais que não podem ser ignorados como a falta de habitação, a desigualdade dos rendimentos e as insuficiências dos serviços sociais. A pobreza, o desemprego, a questão mal solucionada da desmobilização dos ex­ militares e a desigualdade não perspectivam uma evolução positiva para o país. Mas, o que se mantem é a corrupção, a intolerância política e o desrespeito da lei que perspectivam uma evolução política perigosa para um país que tem passado por processos de abusos da soberania, direitos humanos, injustiças políticas, sociais, económicas e culturais de forma reiterada.
Senão vejamos, o Artigo 1o da Constituição consagra Angola como República soberana e independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do povo angolano, que tem como objectivo fundamental a construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social. O nr. 1 do Artigo 2o, confirma, A República de Angola como um Estado democrático de direito que tem como fundamento a soberania popular, o primado da Constiuição e da lei, a separação de poderes e interdependência de funções, a unidade nacional, o pluralismo de
expressão e de organização política e a democracia representativa e participativa. Finalmente, o Artigo 59o proíbe a pena de morte e o Artigo 60o diz: “Ninguém pode ser submetido a tortura, a trabalhos forçados, nem a tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes”.
Afinal, em Angola ninguém pode subverter a lei e a ordem pela força. Mesmo os governantes que a subvertem com o atropelo a lei e a corrupção, estão a cometer crimes que devem ser julgados ou tratados de forma legal através da Assembleia Nacional para se harmonizar a normalização da legalidade instiucional nacional na sua relação com a Constituição de Angola.
O recurso à história ensiná­nos que no passado, a Igreja Católica perseguida nas Catacumbas tem memória dos mártires que os romanos fizeram, mas mesmo assim, Ela sobreviveu.
Sem nenhuma comparação com a Igreja Católica e Outras, “Kalupeteka” é inspirador de uma seita que o governo quer dar fim como outras presentes em toda Angola, mas que ainda pululam por aí. Será que não havia outra solução que não esta que vitimou polícias e centenas de crentes desta seita, enquanto o inspirador continua vivo e a espera de ser julgado e todos eles um dia serem considerados de mártires pelos seus seguidores? No passado o que foi feito aos crentes de Simão Toco no passado e nos últimos tempos mesmo aqui na Terra Nova em 1987?
Será que neste país ninguém tem juízo para parar acontecimentos do género, onde as populações de Benguela, Huambu e Bié podem ser mortas como animais sem nenhuma defesa ou posicionamento?
Há quantos anos os alertas têm vindo a ser feitos sobre a intolerância política nas mesmas províncias, o que vem transformando as consequências daí decorrentes num outro genocídio e sem ninguém fazer nada?
Já tivemos em Angola uma guerra de longa duração que vitimou milhares de angolanos inocentes. Durante este período, a minha geração foi arrastada para uma guerra que não beneficiou os autóctones, onde podemos observar as cidades do Kwanza Sul, Benguela, Huambu, Bié, Huila, Kuando Kubango, Moxico, Lunda Norte e Sul a serem bombardeadas pela aviação governamental sem paralelo na História da África negra. Alguém se recorda do bombardeamento de uma escola do Waku Kungo onde morreram centenas de crianças? Há outra referência igual noutras partes de Angola?
Os que o fizeram são os mesmos que no 27 de Maio de 1977 mataram milhares de ambundu. São os mesmos actores do genocídio eleitoral de 1992 e da sexta­feira sangrenta que matou milhares de ovimbundu e bankongo.
Os mesmos actores continuam activos com a saga de matanças, corrupção e controle do poder absolutista sobre os outros angolanos. São os mesmos que inviabilizam a reconciliação entre angolanos. Deturpam a História de Angola, a sua identidade e inviabilizam o desenvolvimento político, económico, social e cultural.
São os mesmos que de forma calculista arquitectaram a acção dos polícias que morreram como valorosos filhos autóctones de Angola de cujo sangue esses verdugos matadores de angolanos autóctones se alimentam através da exploração emocional da sua morte para colocar angolanos contra angolanos.
São os mesmos que silenciam as mortes de centenas de crentes angolanos da seita “Luz do Mundo” mortos nesta acção, são filhos desta Pátria; camponeses, operários ou não. Afinal, quem arquitectou esta acção? Foi “Kalupeteka” quem atacou? Não havia outra saída para solução pacífica deste caso? Onde andam os soberanos tradicionais ou as personalidades com elevada idóneidade moral social que teriam ajudado a encontrar uma saída mais ajuizada deste caso? Será que todas as opções foram analisadas para se chegar ao uso da força como solução única? Quem estava interessado na opção da força com previsibilidade arquitectada para depois explorar vantagens políticas contra a UNITA, numa altura em que Angola se encaminhava para o golpe de estado constitucional com a aprovação da lei do “Registo Eleitoral”?

Olhamos para o mundo e em especial para o Brasil que atravessa um momento complexo da sua História com manifestações gigantescas todas as semanas, mas sem nunca ouvirmos falar de mortes quando todos sabem que as elítes actuais que governam Angola estarem muito próximas da cultura brasileira e portuguesa, porque não aprendem com eles?
Por favor, neste Estado Democrático de Direito de Angola e não na República Popular de Angola, o genocídio do Huambu seja esclarecido por personalidades independentes, pela União Africana e pela ONU e punidos os responsáveis. De contrário passaremos a acreditar na existência de um plano de extermínio das populações destas áreas por aqueles que já dizimaram os ambundu, os kikongo, os lunda­tchokwé, os ovimbundu, os nganguela e outros.
Percebam em definitivo, a companheira Arlete Chimbinda numa Conferência onde dissertou “Os caminhos da reconciliação nacional”, dizia: “Angola reconciliada é Angola que vê nos seus povos negros autóctones ou não, mestiços autóctones ou não, brancos autóctones ou não um único povo que deve construir espaços políticos, sociais, económicos e culturais de liberdade, igualdade e justiça. Porque para a UNITA só existe uma única raça humana que é fundamento da construção da verdadeira paz e reconciliação nacional em Angola”.
Por favor, em Angola haja alguém com juízo!!!


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