domingo, 5 de abril de 2015

Basta o que basta

OPINIÃO



05/04/2015 - 03:33


O prof. Crato devia fechar imediatamente a Lusófona e entregar o caso à Procuradoria-Geral da República.

Tudo começou com o prof. Veiga Simão, ministro de Marcelo Caetano e de Mário Soares, que foi o primeiro promotor da chamada “democratização” do ensino. Como se calculará, a “democratização do ensino” é, em si própria, uma política justa e necessária. Mas Veiga Simão entendeu que a melhor maneira de a executar consistia em abrir as portas ao maior número de estudantes possível, sem qualquer exigência académica ou material.

Na Universidade, para falar só dela, meteu milhares de adolescentes em edifícios caducos do século XVIII ou XIX, que já tinham pertencido à Igreja, e que a I República adaptara à mais nobre função de espalhar as “luzes” entre o povo (e a classe média) que o “jesuitismo” deformara; o ISE, por exemplo, agora ISEG, nasceu assim no convento do Quelhas.

Professores quase não havia e os que havia passeavam o seu espanto e a sua angústia pelo meio do caos. A agitação política cresceu até 1976 e mesmo daí em diante não aprovar um aluno com 18 ou 19, como ele se achava com direito, era contribuir para uma “sociedade de classes”, ditatorial e exploradora. Perante esta catástrofe e a absoluta falta de espaço físico para acomodar a elite da democracia, o Estado decidiu permitir “universidades privadas” sob forma de cooperativas. Não vale a pena entrar aqui na história pouco edificante dessas putativas universidades. Basta dizer que não existia, nem podia existir, entre elas e a verdadeira coisa a mais leve semelhança. As “privadas” não passavam de um negócio, em que a produção e a transmissão de ciência não ocupavam lugar e em que a educação não fazia parte dos fins gerais da empresa.

Como sempre sucede em Portugal, depois de um “escândalo” com um ministro, embora o escândalo fosse há anos público e notório, o prof. Nuno Crato mandou abrir um inquérito à Universidade Lusófona. E esse inquérito apurou que em 152 casos – um número extraordinário – os diplomas daquela augusta casa não deviam ser considerados válidos, por erro na avaliação de “equivalências” várias. Sobre isto, que deixa ver como funciona e para que serve a “Lusófona”, cresceram e floresceram as “praxes” que levaram aos seis mortos da praia do Meco, com absoluta ignorância da gente em posições de autoridade, a quem incumbia garantir a saúde e a segurança das crianças (porque eram crianças) que lhes tinham confiado. O prof. Crato devia fechar imediatamente a Lusófona e entregar o caso à Procuradoria-Geral da República. Basta o que basta. Principalmente para um Governo que não se preocupou de mais com a observância da lei e a limpeza cívica.

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