segunda-feira, 23 de março de 2015

“Renamo está no meu DNA” - afirma Ivone Soares

 Categoria: Entrevistas Publicado em 13 março 2015
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Texto: Gervásio de Jesus e Dalton Sitoe
Sabe calcar o terreno com astúcia e inteligência para agregar valores a imponência feminina. Tem consciência de quanto o poder é determinante para sufragar almas carentes de paz, aconchego, pão e abrigo. O seu pensamento está centrado nas conquistas sociais para o bem-estar do cidadão. A sua visão futurista impregna sonhos de construção de uma sociedade moçambicana pluralista, desenvolvida e com o povo muito menos empobrecido.
Falámos da chefe da bancada da Renamo na Assembleia da República, Ivone Soares, que bem cedo aprendeu a explorar as mãos para coisas úteis a vida. Ela é uma jovem esbelta, linda e inteligente. Com 34 anos de idade, anseia ver os ganhos dos moçambicanos consolidados e revela que vem de uma família de guerreiros pelas liberdades, políticos conquistadores da Independência, lutadores pela democracia e dignidade humana. Confira a seguir as partes significativas da entrevista exclusiva concedida por Ivone Soares.
IDOLO (I) - Quem é Ivone Soares?
IVONE SOARES (I.S) - Sou uma mulher que vive no seu tempo, mas que não se conforma com as coisas como são e quer melhorá-las e realizar os seus sonhos, tanto na esfera pública como pessoal. Sou também uma pessoa que acredita profundamente naquilo que diz e faz, mas que está aberta às mudanças e ao diálogo com todos.
I - Fale-nos sumariamente da sua infância?
I.S - Tive uma infância feliz. O meu pai ensinou-me a explorar as mãos para fazer coisas. Como a mamã gostava muito de ouvir Roberto Carlos, então quando as cassetes encravassem eu corria para ver o que se passava com as fitas. Isso foi antes dos famosos CD´s quando as músicas apareciam em discos ou em cassetes. Enquanto estivesse a tocar uma cassete, havia vezes em que eu pegava noutra e com o auxílio de uma lapiseira começava a adiantá-la ou a recuá-la, para que a pois ouvíssemos a seguir. De tanto ver o papá a reparar aparelhos nas suas horas vagas (porque o engenheiro electrónico dentro dele o impelia a reparar os nossos aparelhos, como os dos seus amigos), acabei-me vendo também a saber qual era o modo correcto de estanhar, como fazer ligações entre fios sem causar curto-circuitos. Lindos tempos e repare que só tinha oito anos quando o destino me tirou definitivamente.
A mamã de tão elegante, sempre bem vestida e muito bem arrumada, encantava-me. Assim que a mamã saísse de casa, eu corria para continuar a contemplá-la a partir da varanda lá de casa. Eu adorava vê-la a caminhar segura de si. Acredito que sou a fã número 1 da minha mãe. Eu fazia de tudo para que eles sentissem orgulho de serem os pais da Ivoninha (assim os pais sempre me chamaram). Eu procurava ser brilhante a tocar piano, procurava tirar excelentes notas na escola. Tomava banho cedinho e todos os dias vestia-me como se fosse a algum evento social. Permanecia impecavelmente limpa e com o cabelo arrumado ao longo de todo o dia para que eles não apontassem uma falha no meu comportamento e assim estava sempre pronta caso eles quisessem sair comigo. Não queria vê-los aborrecidos por sujar a roupa, pois o sabão era caro. Como me tivesse auto-imposto certas regras, não as quebrava.
Sempre fui uma aluna “inquisidora”, pois não saía da aula com dúvidas. Perguntava aos professores tudo o que não percebesse e caso não estivesse satisfeita voltava à carga no dia seguinte, porque tinha sede de saber.
Os meus pais ofereceram-me momentos muito felizes: uma infância cheia de amor, não obstante os anos 80 terem sido anos de fome em Moçambique. A minha família, à semelhança das demais, tinha um cartão de abastecimento e os produtos que podiam adquirir eram em quantidade limitada de acordo com o agregado familiar. Queria reviver, partilhando tanta coisa única de que me lembro, mas vocês pedem-me que fale sumariamente.
Eu não tive um melhor professor, mas vários excelentes professores ao longo da minha formação
I - O que de interessante fazia, em casa, no bairro e na escola quando ainda era menina?
I.S - Em casa ajudava nas tarefas domésticas quando não estivesse a fazer TPC´s (trabalhos para casa que a professora Natália e Goreth davam-me). Aos fins-de-semana ajudava a mamã a arrumar a mesa, ou ao papá no seu ofício como contei acima.
I - Ivone foi sempre uma aluna dedicada aos estudos? Como reagia quando reprovasse de classe ou tirasse uma nota negativa?
I.S - Sempre fui uma aluna “inquisidora”, pois não saía da aula com dúvidas. Perguntava aos professores tudo o que não percebesse e caso não estivesse satisfeita voltava à carga no dia seguinte, porque tinha sede de saber. E mantive esse “estilo” até chegar à Universidade. Se o professor ou professora me atribuísse uma nota negativa eu queria perceber onde errei e o que devia ter escrito. Fiquei muito triste quando, a nível da minha universidade, a melhor nota foi 14 valores e somente deram destaque a dois colegas meus, e a mim ignoraram completamente. Os dois rapazes e eu tínhamos tido média global do curso os tais 14 valores, mas somente eles foram considerados os melhores alunos. Senti-me muito injustiçada, confesso!
I - Tem lembranças interessantes dessa fase escolar? Quem foi o seu melhor professor? Que tipo de actividades lúdicas praticava?
I.S - Eu não tive um melhor professor, mas vários excelentes professores ao longo da minha formação. Eu não me esqueço das minhas professoras da escola primária. Foi com elas que aprendi a escrever as primeiras frases, a calcular, a contar e a falar correctamente a nossa língua oficial. As professoras Natália e Goreth estão no meu coração. Na Universidade, os professores Eliseu Sueia que não parava de pedir que explicasse o suicídio de acordo com Emile Durkheim, o professor Gilberto Matusse, que dado o seu perfeccionismo obrigava-me a escrever bem. O Prof. Almiro Lobo, António Cabrita, Teresa Elvira, Irene Mendes, Tomás Vieira Mário, e tantos outros marcaram-me pelo seu profissionalismo, capacidade de transmitir conhecimentos e pela empatia criadas.
I - Ivone Soares é licenciada em Ciências da Comunicação e Mestrada em Administração Pública. Descreva-nos, em traços gerais, a essência da sua formação superior e as razões que pesaram para a escolha destas áreas de conhecimento?
I.S - O curso de Ciências de Comunicação tem uma estrutura multidisciplinar que confere “n” possibilidades ao profissional de apreender os processos de comunicação humana, principalmente úteis a quem desempenha funções públicas. O que me faz pensar que o servidor público devia preocupar-se em conhecer algumas técnicas para garantir a satisfação do público com que interage. A forma como somos mal atendidos em muitas repartições públicas revela um grande défice de tacto de certos servidores que somente por inerência de funções atendem os cidadãos, mas que não o fazem com competência. Vejo no casamento da ciência da comunicação com a Administração Pública uma ligação perfeita, porque assim o profissional sente-se blindado para, plenamente, participar na promoção de uma administração pública polida e voltada ao bem servir o cidadão, diminuindo a burocracia, os seus riscos e humanizando as instituições.

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