sexta-feira, 6 de março de 2015

Pensando em Gilles Cistac


Qualquer dia
Qualquer dia,
Em qualquer lugar,
Um filho irá chorar,
E em prantos gritar,
Porque o pai que saiu
Não mais voltou,
O pai que de manhã abraçou
Ao trabalho não chegou

Qualquer dia
Em qualquer lugar
Uma esposa irá lamentar
E em desespero praguejar,
Porque o marido que saiu
Não mais voltou,
O beijo que de manhã recebeu
Afinal, de despedida se tratou

Qualquer dia
Em qualquer lugar
Uma mãe irá se levantar
E a vida amaldiçoar
Porque o filho que gerou
Simplesmente o mundo levou
Nos ideais que acreditou
E nos avisos que guardou

Qualquer dia
Em qualquer lugar
Alguém contará a história
Do colega que ligou
Que a agenda actualizou
E ao escritório não chegou
Porque no caminho que passou
A intolerância o matou

Qualquer dia
Em qualquer lugar
A Constituição irá chorar
Pelos cidadãos sacrificados
Pelos princípios quebrados
Pelas instituições rebocadas
Pelos sonhos impossíveis
E pelos actos inaceitáveis

Qualquer dia
Em qualquer lugar
Nós iremos chorar
Pelo mal que criámos
Pela indiferença que aceitámos
Pelos mortos que deixamos
E com medo dos incómodos
Em nossas cadeiras ficamos.

Custódio Duma
Gosto ·  · 

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