sexta-feira, 6 de março de 2015

O DOMADOR DE BURROS OU O EQUIVOCO DA RETORICA


“Estes miudos sao uma boa equipa”. Foi nestes termos que Gustavo Mavie se referiu aos miudos do G 40 quando comentava hoje o assassinato do Prof. Dr. Gilles Cistac no “Café da Manha” na RM, em conversa de amigos com o jornalista Emilio Manhique. Descreveu Filimao Suaze e Isalcio Mahanjane como sendo os querubins de uma equipa que esta a jogar bem no debate político mocambicano, tendo considerado que os miúdos tem futuro se continuarem a jogar como estao a jogar. Diz o Mavie que Filimao Suaze ate é um rapaz bastante “simpático” e “engraçado”, para além de ser “muito inteligente”. Embora considere que a lista do G 40 foi criada por Fernando Lima e outros editores do SAVANA, neste caso Fernando Gonçalves e Francisco Carmona, Mavie acaba por escorregar no argumento, dizendo que Filimao Suaze e Isalcio Mahanjane fazem parte de uma boa equipa, a mesma da qual ele faz parte, ao lado, também, do actual vice-ministro da defesa, Patrício José, assim como do actual consultor do Presidente Nyusi para a política e comunicação social. Portanto, o G 40. Tal o equívoco da retórica. Diz a seguir que na verdade nao sao 40, sao 39, porque um dos nomes aparece repetido na lista. De qualquer forma, acaba por dar a entender que é um grupo que ronda nos 40. Quanto aos chamarizes afectivos com que Mavie trata Filimao Suaze e o Isalcio Mahanjane, dizendo que “estes miúdos sao uma boa equipa”, “bastante simpáticos”, “engraçados” e “inteligentes”, faz-me lembrar a Juventude Hitleriana, de como Hitler, através da televisão, conseguia recrutar crianças para promoverem os ideais do nazismo. Lembrando muito um certo domador de burros que ensina os quadrúpedes a baloiçar no circo e a saltar para o trapézio, Gustavo Mavie convence os miúdos a continuarem a levar a sua acção a cabo, dizendo-lhes que eles são uma boa equipa, quando eles não são nada mais nada menos que a reedição da rádio Milles Colines, cujos locutores foram condenados pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade, justamente por terem promovido o ódio étnico que culminou com o genocídio de Abril de 1994 no Ruanda. Tenho chamado a atenção para a necessidade de não se confundir educação com domesticação. Nesta, a domesticaçao, formata-se a pessoa a partir de fora, encaixando-a num projecto que outro escolheu para ela, impondo-lhe castigos ou a premeiando-lhe com chamarizes afectivos. O afecto, igual a este com que Mavie trata os seus rapazes “simpáticos”, “engraçados” e “muito inteligentes”, pode, por vezes, domesticar a pessoa tanto quanto o castigo. O carinho domestica os miúdos para se encaixarem num projecto fascista. A sedução, por exemplo, porque seduzidos que estão pelos sermões encomendados, pode obnubilar o conhecimento, fazendo escorregar a vontade. Não é por acaso que os elementos do G 40 não são propriamente embuídos de espírito crítico, sendo autenticas caixas de ressonancia de tudo aquilo que alguem lhes manda dizer. É por isso que são uma equipa, como diz o próprio Mavie. Eles actuam em equipa. Uma equipa ao serviço da partido, portanto. Não ao serviço da análise. Por isso mesmo que se sentiram bastante baralhados com os posicionamentos do Professor Doutor Gilles Cistac, porque este nunca agiu em equipa. Muito pelo contrário. Guiou-se pela ciencia. Cistac cultivou a dúvida metódica, já ensinada por Descartes. Seguiu o princípio da evidencia. Baseando-se no conhecimento e não na repetição dos discursos que caracteriza os papagaios do G 40, Cistac afirmou que os estatutos da Frelimo violam a Constituição ao dizerem que os dirigentes ou governantes saídos da Frelimo devem obediencia ao partido em primeira instancia. Pois nao é. Eles devem obediencia ao Estado, ao Povo e a Constituicao. Deixando os 40 a ver navios, Cistac disse ao povo que a Constituição estava a ser revista para acomodar um possivel terceiro mandato para o ex-presidente. Disse posteriormente que os deputados da Renamo nao perderam mandado por nao terem tomado posse, quando o G 40 andara a propalar o contrário. Cistac ainda veio esclarecer que as províncias autónomas não eram contrárias à constituição, nem contrariavam o princípio do Estado Unitário como propalou o G 40. Seduzidos pelos sermões encomendados e pelo canto da sereia, os homens de serviço do G 40 deixaram de lado a dúvida metódica e encheram-se de certezas, as mesmas certezas que produzem os dogmas. A tarefa dos homens de cultura de hoje em dia é mais do que nunca a de semear dúvidas e não já de recolher certezas. De certezas, revestidas da faustosidade do mito ou edificadas com a pedra dura do dogma, estão cheias, regurgitantes, as crónicas da pseudo-cultura dos improvisadores, dos diletantes e dos propagandistas. Cultura significa comedimento, ponderação, circunspecção: avaliar todos os argumentos antes de se pronunciar, verificar todos os testemunhos antes de se decidir e nunca se pronunciar ou decidir a maneira do oráculo do qual dependa, de modo irrevogavel, uma opção peremptória e definitiva. Não é este o caso do G 40, grupo que representa o que há de mais degrante no tecido moral da nossa sociedade. Eles infundem ódio entre os moçambicanos, classificando-nos a todos em grupos de vandalos, apostulos da desgraca, espiritos agitadores, criticos de Maputo, mocambicanos de origem goesa. O G 40 equipara-se ao apartheid. É apartheid político. O que o Mavie veio nos dizer hoje no “Café da Manhã” é que o debate político nacional é feito através de equipas. Portanto, equipas ilegais, se tivermos em consideração que tomam de assalto a rádio e a televisão pública, violando a Constituição da República e o Estado de Direito e Democrático.
Major-General Henri Miller
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  • Armando Nenane Lourenço do Rosário e o assassinato de Gilles Cistac
    “O meu partido (Frelimo) devia ter parado com o ódio racista que se incentivou contra o Professor [Gilles Cistac]. Há, moralmente, uma relação de causa-efeito entre os comentários negativos feitos por analistas políticos afectos à Frelimo e a morte de Cistac...o jurista terá sido assassinado devido aos seus posicionamentos públicos”, In O País de 6 de Março de 2015, pág. 9. Extraido de Ericino de Salema
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  • Muhamad Yassine Ingenuidade política e meninice académica
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  • Egidio Vaz Devemos homenagem ao Professor Cistac. As suas luzes iluminarão os moçambicanos para os próximos dez anos. E até lá cabe-nos a nós apenas seguir o caminho. A malandragem foi atempadamente bloqueada pelo Profesor Cistac. Não houve terceiro mandato, não houve chantagem aos deputados da Renamo, não houve nada. Zangaram e mataram-no. Só que CIstac deixou tudo escrito e de forma clara. Temos o caminho por seguir. E se este Presidente quiser se reconciliar com o povo, e tudo indica que sim, tem o apoio dele para limpar a casa. Eu acredito!
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  • Peter Grácio Arsénio Chambale Papagaiada Politica, G40=Culambismo,.. ja dizia o Eng. Venancio
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  • José Jaime Macuane Órgãos de informação esses pagos pelos nossos impostos e que depois são usados para difundir intolerância e a glorificar processos de cerceamento de direitos.
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