sexta-feira, 6 de março de 2015

Moçambique: a vontade de existir

Por BOAVENURA ALEIXO*

Então, a questão que se coloca é: como podemos proporcionar ao nosso povo uma educação que abra as portas para a felicidade individual e colectiva e que estimule a prosperidade e o bem-estar social?
Eu não tenho uma resposta elaborada para esta questão, mas como estamos aqui para reflectirmos juntos, gostaria de avançar três pontos que têm como única finalidade abrir o debate.
primeiro ponto assenta na ideia de que a escola nunca teve o monopólio da educação.
É comum dizer-se ou ouvir dizer que hoje a educação em Moçambique vai mal e, acto contínuo, alistar os principais responsáveis e culpados desta triste situação, a começar pelo Estado, seguido pelo sistema e terminando pelos professores.
Ora, a família, a vizinhança, os amigos, os meios de comunicação, as organizações religiosas, políticas ou recreativas sempre foram e continuam sendo, em modalidades e medidas variáveis, outros poderosos factores de educação, formação e socialização. Os profissionais da educação sabem muito bem disso. Contudo, também estes não conseguem escapar da tendência de apontar o dedo acusador. Assim sendo, o ensino superior queixa-se do secundário, o secundário do primário e todos queixam-se da falta de recursos e de meios. A consequência óbvia disto é a permanente desculpa da mediocridade. Se fulano reprovou é porque não teve a devida atenção do professor, as turmas são numerosas, não “entregou nenhum envelope” ao professor, enfim tudo menos a sua fraca entrega ao trabalho.
Logo, é vital rompermos com esta combinação de acusação e resignação e aceitarmos um pequeno compromisso: ninguém tem de carregar sozinho a cruz da culpa, e ninguém está previamente desculpado. Todos somos responsáveis. As nossas atitudes, os nossos valores, a nossa consciência social são determinantes no processo de bem formar crianças, jovens e adultos, como pessoas, como cidadãos e como futuros profissionais.
O segundo ponto é que a educação em Moçambique precisa de redefinir o seu significado.
É um facto que vivemos num mundo globalizado mas torna-se cada vez menos fácil estabelecer um conceito universal da educação ou impor aos outros a nossa ideia de educação. O sociólogo Carlos Brandão, na sua obra “O que é a educação?”, constata que “não há apenas ideias opostas acerca da educação, da sua essência e seus fins. Há interesses políticos que se projectam sobre a educação”.

Vice-reitor da UniZambeze. Texto apresentado por ocasião da abertura do presente ano académico na UP Manica.

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