quinta-feira, 5 de março de 2015

Carlos Nuno Castel-Branco, sobre a investigação do assassinato de Gilles Cistac



Se a Polícia quisesse investigar o assassinato de Giles Cistac:

1. Teria recolhido os relatos das testemunhas que viram o crime ser cometido (todas confimando terem sido 3 indivíduos numa viatura de marca identificada, mascarados e não identificáveis) em vez de espalhar a informação que não se sabe de onde vem.

2. Teria selado o local para ainda tentar alguma investigação técnica, mesmo que este já tivesse sido contaminado - em grande medida pela longa demora da polícia em chegar ao local.

3. Estaria já investigar as declarações de figuras públicas (como as do porta voz da Frelimo) que, poucos dias antes do crime, acusaram Cistac de objectivos obscuros, puseram em causa o seu direito de expressão (nunca rebateram nem uma vígula do argumento dele, mas apenas questionaram o seu direito à palavra e os objectivos da sua expressão), e questionaram a sua moçambicanidade por causa do seu pensamento independente e profissional. (Até parece que o sloogan é: O bom moçambicano é o que não se ouve nem se vê, ou o que é racista e incita à violência contra os que têm voz). Estas declarações estão publicadas e registadas pelo que é possivel para qualquer cidadão obter esta informação,

4. Teria já desvendado quem é o tal Calado Calachinikov que escreveu o post racista que incitou à eliminação dos tais "brancos ao serviço da mão externa" (que nunca conseguiu nem ligar esses "brancos" uns com os outros, a não ser pela semelhança da cor da pele - como quem diz que todos os brancos são iguais - muito menos com qualquer dos crimes de que são acusados). Para autoridades é facil desvendar quem este indíviduo ou instituição é - se o perfil estiver bem escondido, peçam informação ao facebook, por exemplo, através do governo americano, e vão obtê-la mesmo que ele elimine o perfil.

5. Já teria investigado uma série de outros indivíduos que não só promoveram o ódio, intolerância, racismo e violência, como especificamente até apelaram à eliminação física dos tais "brancos". Os posts a que aqui me refiro ainda estão disponíveis, ou estavam esta manhã, no mural do tal Calado Calachinikov. Por exemplo, eis aqui o texto de um tal senhor Chadreke N: "Ja os descobrimos, precisamos de sair da pacificidade que caracteriza os Mocambicanos, quando mais formos pacificos, o maior sera ingerencia desses tipos que se fazem de Mocambicanos quando tem as suas terras proprias, onde estao os seus progenitores, esses aparecem em Mocambique numa clara missao, interferir directamente nos assuntos nacionais, agitar uma parte do Povo para inviabilizar a governacao da FRELIMO,fragilizar o Estado e fazer Mocambique um Pais sem soberania, por favor vamos scanar estes individuos que sao virus contra Patria." Este post é de 21 de Fevereiro, publicado como comentário ao texto do Calado Calachinikov que declara os tais "brancos" inimigos a abater. Um tal senhor Julião Cumbane, professor, declarou, no facebook, que o racismo joga um papel social útil, que a repugnância entre raças é natural e incitou à eliminação dos "brancos" (hoje são brancos, amanhã indianos, depois mulatos, depois chingondos, e por aí fora). Este senhor foi dos que mais incitou à violência e mais "agrediu" Cistac nas redes sociais. Estes textos foram publicados dois a três dias depois das declarações de Damião José em que Cistac é acusado, vilepandiado, apesar de os seus argumentos concretos nunca serem mencionados, discutidos ou rebatidos com base no mesmo método usado por ele - a interpretação técnica da constituição. O tal senhor Julião declarou, após o assassinato de Cistac, que o "facto" de os assassinos de Cistac serem chefiados por um branco que deu os tiros - nenhuma testemunha ocular confirmou isto, excepto a polícia que nem estava presente - prova que foi um plano construído por "brancos" para desacreditar a Frelimo. Um outro senhor, jurista, activo G40 e muito envolvido em animar o post do Caldo Calashinicov e em atacar o Cistac, endereçou condolências à família, via Facebook, mais de 3 horas antes de Cistac ter sido declarado sem vida. Apesar de parecerem absurdas e dementes, estas pessoas e declarações são perigosíssimas. Aliás, o assassinato de Cistac está aí para prová-lo.

Estes crimes contra o País só podem continuar se houver conluio das autoridades, incluindo as policiais. Sem esse conluio, os crimes serão combatidos e os criminosos punidos e, pelo menos, vai instalar-se a certeza de que o crime não compensa ou, no mínimo, que há uma elevadíssima probabilidade de não compensar. Neste momento, o crime, quando praticado a favor de certas autoridades e contra certos indivíduos identificados etnicamente ou como vozes independentes, compensa e fica impune.
Portanto, se os discursos recentes do Presidente da Repúbica, que dão estrutura e foma ao sentido de unidade nacional e mocambicanidade com bastante profundidade e clareza, são para ser honrados por todos nós, no espírito e na letra; se as recentes intervenções da PGR e do Bastionário da OAM na abertura do ano judicial são para servir de inspiração e referência para a justiça em Moçambique, as autoridades têm que agir com determinação, coragem, profissionalismo e integridade. Se o fizerem, terão o apoio de todos os cidadãos honestos e pacíficos deste país. Se o não fizerem, serão responsáveis pelos crimes e caos que estas brigadas de choque anti pensamento, anti cidadania, anti liberdade, anti unidade nacional e racistas, inspiradas no nazismo, estão a criar.
Aos que querem enterrar o pensamento e a liberdade, aqui fica uma aviso: o pensamento e a liberdade são sementes que germinam em conjunto e florescem mesmo nos terrenos mais estéreis. Amontoar corpos faz nascer mais flores de pensamento e liberdade, constrói mais pontes entre rios e montanhas, cria mais bandeiras para até as crianças aprenderem o que significa liberdade.
Para os outros cidadão, aqui fica outro aviso: é melhor começarmos agora a fazer alguma coisa muito a sério, belo e positivo, sobre este nosso país, antes de chegarmos a um ponto em que já não haja país pelo qual possamos fazer alguma coisa de belo e positivo.
Lembrem-se que o segredo da felicidade é a liberdade, e o segredo da liberdade é a coragem.
Lembrem-se que a coragem não é ausência de medo, mas a recusa de ser dominado por e viver sob esse medo.

A Luta Continua!

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