quinta-feira, 5 de março de 2015

Brigadas da Frelimo ou brigadas de ladrões?

O partido Frelimo continua com a sua cruzada provincial de legalização da fraude e de ilegalização do protesto contra a fraude. E, como órgão de comunicação social, assusta-nos o facto de os moçambicanos assumirem as brigadas da Frelimo de legalização da fraude como se fossem coisa normal. A propaganda do partido Frelimo pode até pagar e controlar algumas mentes, mas o crime eleitoral que cometeu é de uma tal dimensão escandalosa, que levará anos para ser suficientemente esquecida. O que nos preocupa aqui é que a propaganda conseguiu parcialmente moldar o debate público, transformando o violado em culpado e o violador em inocente ou vítima. A seguir explicamos. Alguém já parou para pensar que já não se está a debater a fraude eleitoral, mas está-se a gastar tempo em debater o mérito constitucional das atenuantes que são apresentadas pela Renamo, para se sair da crise pós-eleitoral, numa situação em que se assume (sem editais) a Frelimo e Nyusi como vencedores? E parece-nos que a Frelimo já conseguiu parcialmente o que pretendia: levar as pessoas a esquecerem a fraude eleitoral e colocá-las a pensar em adjectivos para qualificar as propostas da Renamo. E como, em Moçambique, parte da opinião pública e a dita “comunidade internacional” conseguem baixar as calças, dependendo do envelope que lhes é apresentado, conseguiu-se parcialmente transformar o essencial em periférico e o periférico em nuclear. Não compreendemos como é que, de repente, o assunto eleitoral passou a ser a Renamo (violada pela fraude), em vez de ser o próprio acto da violação, isto é, a fraude eleitoral cometida pela Frelimo. Não nos cansamos de dizer, aqui, ao povo moçambicano que não existem editais que provem que Nyusi e a Frelimo ganharam as eleições. Estes editais não existem. Não nos cansamos de dizer, aqui, que o sheik Abdul Carimo recusou-se a mostrar os editais aos seus próprios pares da Comissão Nacional de Eleições. Não nos cansamos de dizer, neste mesmo espaço, que o Conselho Constitucional não teve acesso aos editais, mas tomou a decisão com base num CD áudio que é o da divulgação dos resultados lidos no Centro de Conferências “Joaquim Chissano” na tarde de Dezembro pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral. Ou seja, depois de todo este festival de ilegalidades, algumas “mentes brilhantes” ainda conseguem falar da legalidade das propostas da Renamo! Com que fundamento e legitimidade? No nosso modesto entender, qualquer tomada de posição sobre as eleições que ignore a vergonhosa fraude eleitoral só pode estar inspirada nas masmorras da propaganda. Só um país moralmente decadente e que não sabe o que pretende de si mesmo pode aceitar brigadas de ladrões comprovados baterem-lhe à porta para darem lições de moral pública. Só um país que vive do adiamento do seu próprio futuro é que pode aceitar que ladrões de votos lhes batam à porta para falarem de convivência democrática. É preciso que os moçambicanos acordem para que a imoralidade não se torne vício incurável. Atribuir a Eneas Comiche, Eduardo Mulémbwè, Conceita Sortane, Eliseu Machava, Filipe Chimoio Paúnde, Lucília Hama, José Pacheco o título de brigada central de qualquer coisa que não seja associação criminosa é ser complacente com o a imoralidade, com a falta de ética. Estes senhores, antes de abrirem a boca, deviam, como requisito prévio, informar ao povo como é ganharam as eleições. Deviam perguntar ao povo o que acharam da forma como a Frelimo “ganhou” as eleições. E o que o povo acha em ser transformado num agrupamento de autênticos pacóvios. Deviam procurar saber a opinião do povo sobre como é que o povo se sente depois de ter ido a uma eleição onde o vencedor já havia sido previamente apurado antes da votação ter começado. Um bando de indivíduos que roubou votos, subverteu a vontade popular, esquartejou a democracia, não pode continuar a passear impunemente, a dar lições de legalidade e moral a quem quer que seja. É um caso que exige terapia psiquiátrica colectiva o facto de todo um país continuar a assistir ao espectáculo da imoralidade cavalgando sobre o bom senso. Continuar a ver o sheik Abdul Carimo, o senhor Felisberto Naife e o senhor Hermenegildo Gamito a circularem impunemente nas ruas da capital deste país é a maior prova de que a Justiça deste país nunca será justa enquanto estiver nas mãos de injustos, alguns até com um passado de leitura de sentenças para o fuzilamento de seres humano sem direito a defenderem-se. Mas, aqui, também se chama à responsabilidade os próprios partidos da oposição, que precisam, primeiro, de definir o que realmente pretendem. Responsabilidade mais acrescida vai para a Renamo, que, com o seu presidente, se gaba de ter meios para fazer vergar a Frelimo, de metê-la “na linha”, tal como ele pró- prio disse na semana passada em entrevista a este jornal. É que se esta novela terminar como o roteiro indica que vai terminar, com os violadores a gozarem os violados, há quem corre risco de perder o pouco de credibilidade que lhe restava, e de se confundir com a Frelimo. E esse alguém chama-se Afonso Dhlakama, visto que, para o MDM, aparentemente está tudo bem. Continuamos a não saber em concreto as garantias que o presidente da Renamo recebeu de Filipe Nyusi, que até aqui está numa camisa-de-forças imposta por Guebuza. Encontrar e conseguir a solução menos onerosa para a democracia é o único passaporte que Afonso Dhlakama tem para poder continuar a merecer credibilidade.

Canal de Moçambique

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