terça-feira, 3 de março de 2015

As redes sociais acordaram revoltadas com a morte de um professor catedrático

Impressionante: as redes sociais acordaram revoltadas com a morte de um professor catedrático. A morte, seja de quem for, revolta-me. Morreu Cistac e é como se o país tivesse de parar. O que me lembra, um pouco, um dos critérios de noticiabilidade: só é notícia quando o homem morde um cão e não o contrário. E, neste caso, mesmo que não queiramos encarar, ocorreu um acto insólito: morreu um branco proeminente. Professor doutor. E logo um branco que falava sobre legitimidades constitucionais ou coisa parecida. Um branco que abriu uma brecha para uma formação política reivindicar direitos que julga adquiridos em sede dos resultados eleitorais. O que não nos indigna, enquanto cidadãos nacionais, é o número de órfãos, viúvas, inválidos que foram gerados por uma instabilidade política militar também ela inconstitucional. O que não nos indigna é o salário de fome que se dá aos moçambicanos que vemos todos os dias curvados nos my loves. O que não nos indigna é o patrão que hoje, nas redes sociais, carrega o archote da indignação enquanto deixa pouco mais de cinco mil trabalhadores sem salário. O que não nos indigna são os mortos empilhados nos hospitais distritais todos os Janeiros e Fevereiros por causa da cólera, essa doença que pode ser prevenida. O que não nos indigna é o refresco que damos ao polícia de trânsito. O que não nos indigna são as gravidezes precoces que semeamos nos ventres adolescentes que largamos depois de nos passar a tusa. O que não nos indigna é a nossa falta de dignidade. Agora queremos chorar Cistac. Fica muito bem. Dá visibilidade e nos atribui um certo espectro de grandeza. Amanhã até vamos marchar, evocando direitos e vamos criar um novo lema: "Sou Cistac". O problema, meus caros, não é a morte de Cistac. Todos actos macabros são condenáveis. O problema é que nós somos indignos e uns falsos porque só sabemos chorar as mortes que nos interessam. Amanhã todos, perdoem-me as generalizações, vão ignorar a criança sem roupa que clama por pão mesmo ao lado da nossa mesa farta. Vão ignorar pais doentes e inválidos que jazem em leitos hospitalares. Tudo isso para disputarem os lugares cimeiros no enterro do Cistac. Os lugares onde podem ver e ser vistos para pousarem para as fotografias enquanto o nosso bairro e país cedem às chamas da nossa condição suprema de indignos...
A nossa condição de indignos não vem de hoje. É tão antiga que não há memória do dia que emergiu dos fundos....
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  • Dino Foi SIM.
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  • Borges Nhamirre A indignação não é com a morte, Rui. A indignação é com o assassinato.
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  • El Patriota Bravo Borges. Descanse em Paz Gilles Cistac.
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  • Alves Talala Reflexão inoportuna Rui Miguel Lamarques!
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  • Dercio Augusto Monteiro quem acha que foi que fezzz?????se eu dicesse.....
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  • El Patriota Tens toda razão, meu eterno mestre da redacção Rui Somos uns indignos e mais: somos uns cobardes do raio. Mas, desta vez permita-me perguntar-te: porque não te calaste???
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  • Fernando Costa Não te entendo... queres que as pessoas se calem? Bem... se calhar isso convinha a muitos daqueles que por actos e inacção contribuem para aquelas situações que descreves.. repito... não entendi nada do que aqui escreveste... e foi assim a "nossa" primeira vez...
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  • Estevao Mabjaia Tudo isso indigna-nos(me). Mas há de convir que não posso passar a vida a tentar resolver todos os problemas que me indignam. Não posso passar o tempo todo a lamentar as minhas indignações. Mas posso, em (usar) situações como esta, (para) manifestar públicamente a minha indignação. Este seu post pode exemplo disso. Por fim, indigna-me não por ser um "branco" que foi assassinado. Indigno-me pela vida que se foi, mesmo não sabendo eu, a razão. Estou indignado sim. Não por ser "um branco" que foi morto. Não estou nem muito nem menos indignado. Estou indignado apenas.
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  • Don Tivane Assumo que a emissão dessa opinião não torna menor a tua dor/indignação face ao bárbaro assassinato de um Homem que, sendo branco, iluminou pessoas de todas as raças e ideologias.
    Assumo que esse é um apelo de revolta perante todas as injustiças sociais... Assumo, Rui.
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  • Isadora Vumbuca Sim, o melhor aqui era calar...
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  • Rui Miguel Lamarques El Patriota, as pessoas que mataram Cistac talvez queriam que ele se calasse. A tua indignação resulta dessa constatação o que faz de ti um amigo da liberdade de expressão e de opinião. Então o que faz com que não me concedas tal direito? Nem que seja o de estar errado?
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  • Elcidio Muchave Desta vez foste infeliz no post meu irmao Rui Miguel Lamarques,
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  • Marcelo Machava Sinceramente nao entendi nada. Sao raras as vezes em que pessoas emblematicas se posicionam distante do sistema, defendendo o elo mais fraco. Dai o nosso reconhecimento ao malogrado. Nao por ser branco, pq quando Teodato Hunguana (negro) foi vertical na sua entrevista tb enaltecemos a sua coragem
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  • Nkuyengany Produções taja meter àgua tio Rui
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  • Evaristo Macauzee Macauzee Esta coisa de direitos ainda vai nos trazer muitos problemas!
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  • Carlos De Sousa Tivir Uma daquelas vezes que preferia que o meu ídolo se mantivesse calado
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  • Marcelo Machava Ele vai retirar o post. ta muito torto para o nivel dele
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  • Leila Lukács Salvado nao fica bem Rui tsc
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  • Evaristo Macauzee Macauzee É dos que menos esperamos que a merda vem...
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  • Yolanda Samuel Inicialmente estava a ver com maos olhos as linhas deste texto, mas depois de lê-lo todo digo: Bem tirada. Texto que nos faz reflectir em males que pioram por nos conformarmos com eles.
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  • Anselmo Titos Cachuada SIM, RL: há macabros assassinatos todos os dias que não nos indignam. SÓ ALGUMAS 'RARAS', incrivelmente! Quando uma criança perde vaga numa escolinha ou estuda numa sala que segue a sombra de uma mafurreira, não obstante alguém esbanja milhões de dólares públicos, é um assassinato que não nos indgna?
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  • Jorge Matine Rui nao entendi o alcance do teu texto, mas parece que ignoras que historia deste pais esta cheia de actos de heroismo e de indignacao de varios mocambicanos. Existe uma diferenca entre uma pessoa que se indigna e uma pessoa que se identifica como justiceiro. Nao me parece que neste caso estamos perante uma indignacao motivada pela cor do professor assassinado, vi muita indignacao com a morte do Juiz silica, todos os anos as pessoas recordam-se da memoria do Siba Siba, etc. penso que ha aqui uma vontade de falsear o acto barbaro recorrendo a incapacidade que a nossa sociedade tem de impor-se contra a injustica numa escala maior do que so "gritar". Mas como digo acima, nao entendi o alcance do texto pois num momento como este onde estamos emocianalmente perturbados podemos nao ler o texto na sua plenitude.
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  • Marcelo Machava Nao acho que os moçamb se conformam com outros actos macabros quotidianos. Todos os dias nos chapas cafes etc a populacao revolta se. Mas agora esta em causa um simbolo e um assassinato: ponto final
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  • Desidério EC Chambo Na verdade, no meu ponto de vista, importa a todos nós seres humanos, o nosso bem estar e nada mais. Mesmo o bem estar do nosso parente mais próximo nos encomoda, daí que não nos importamos quando uma criança faminta nos pede ismola na rua. E se muitos hoje choram é, por um lado, porque querem sair bem na fotografia dos (pseudo) solidários e por outro porque sabem que são poucos os que lutam pelo bem dos outros e mesmo eles não o fazem.
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  • Fernando Costa Eu já reli o texto várias vezes Jorge Matine. E a cada leitura me parece mais que o nosso amigo quer deixar-nos a pensar que a alternativa a ficarmos calados perante este acto.. é ficarmos calados... se calhar tem razão. .
    Mas... será que nem a Presid
    ência da República, putativa responsável por todos os males que enferma a nossa sociedade, se devia ter indignado como revela em comunicado e através do seu porta voz, na perspectiva do mestre Rui?
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  • Marcelo Machava Nos mostramos a cara ha anos Desidério EC Chambo. Se nao mudamos a vida da criança q pede esmola eh porq somos tb pequenos como ela. Mas quando a este assassinato nao nos calaremos, como fizemos contra outras barbaridades sobretudo quando teem cunho politico
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  • Hélio Norberto Passe Tudo tem o seu tempo, diz a biblia. Hoje é o tempo do Cistac, entao que se respeite esta indignacao.
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  • Marcelo Machava Termino assim: Esta eh a longa metragem da fraude eleitoral
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  • Desidério EC Chambo Fernando Costa, eu não acho que Rui Miguel Lamarques esteja a convidar o ,manifesto do silêncio que os politicos tanto almejam plantar definitivamente em nós, mas sim, olharmos para além das mortes. Não podemos chorar quando as mortes aparecem, mas sim evitar as mortes.
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  • Júnior Chichango Escrever o que você escreveu, é matar Cistac pela segunda vez.
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  • Fernando Costa Eu não choro a morte. Aprendi a viver com ela como fazendo parte da vida. Indigna-me a vida retirada pelas costas... sem sequer olhar nos olhos. Sem motivo...
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  • Zeiss Lacerda Sem comentários. Pensou certo mas descreveu errado o que pensou. Poderia ter escrito o mesmo conteúdo mas de forma aceitável. Não li todo o texto mas é daqueles textos cujo final é previsível e incapaz que corrigir o erro de iniciação.
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  • Anselmo Titos Cachuada Junior Júnior Chichango, leia o texto do Rui nas entrelinhas... do estilo e propósito do Mosse, que , incrivelmente, se referiu ao finado. Literatura apurada aos pormenores que só os iluminados não se esforçam a interpretação dúbia... PS: esta crónica não deve ser lida no contexto da escola primária.
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  • Hélio Norberto Passe Desidério, Lamarques pode ate ter sido mal entendido aqui, mas é que esta reflexao sobre outros pontos da nossa "indignidade" aparece em momento improprio. Na minha tradicao " nao se faz piadas no velorio".
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  • Hélio Norberto Passe Desidério, Lamarques pode ate ter sido mal entendido aqui, mas é que esta reflexao sobre outros pontos da nossa "indignidade" aparece em momento improprio. Na minha tradicao " nao se faz piadas no velorio".
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  • El Patriota Já que nós outros somos uns analfabetos na matéria, irmãoAnselmo, tu que tens a capacidade de ler nas entrelinhas o texto, o que é que o bom do Rui queria nos dizer, exactamente???
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  • Jorge Matine Fernando costa, penso que a alternativa do Rui nao é ficarmos calados mas sacudir complascencia. Mas como comentei acima, nao sei se poderei interpretar melhor o alcance do texto, mas fica o aviso: ha pessoas neste pais que tem direito e licenca para matar, diferente do chapa que sabemos quem licenciou e quem deve estar na rua para controlar os excessos. Neste caso so sabemos que "ele" ou "eles" existem. veja se isso nao da medo?!
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  • Fernando Costa Anselmo...contexto da escola primária? O Rui agora escreve para professores doutores? Desde quando?
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  • Desidério EC Chambo Não se faz piada no velório, mas é um bom momento para pôr as pessoas a pensarem profundamente sobre outros assuntos candentes. E também quem disse que o Rui Miguel Lamarques está a fazer piada? Está a chamar atenção a um erro que ele notou na nossa sociedade
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  • Anselmo Titos Cachuada Que temos que nos indignar pela morte geral da nação, um reconvite à reflexão sobre o que Prof.Dr. Lourenço Rosário disse, via Savana, edição recente: temos que olhar a floresta e não a árvore; mas infelizmente a sociedade - esta nossa- há muito só vislumbra a árvore e não na floresta. Eis o conteúdo, caro ex-colega de Redacção.
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  • El Patriota Obrigado.
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  • Alfredo Macuácua O mano Rui Miguel Lamarques exerceu o seu direito de opinião, tudo bem! Mas há "acontecimentos" que marcam a sociedade e, este, é um deles. Let's talk!
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  • Alexandre Devissone Um texto fica cada vez mais complexo, polissémico e despido pra nós os leigos quando os mais avantajados em matéria de análises fenomenais se esforçam pra posterigar a mensagem que está no nosso naríz.Este texto do RL apresenta uma razão axiológica muito profunda pra ser reflectida em volta do impacto da morte de qualquer que seja cidadão(branco,preto,azul,acastanho,amarelo,etc) e as razöes obscuras de que ela deriva.O poço é fundo neste texto, mais Lamarques por favor. mas evitemos se queremos ser justos e equilibrados os famosos "Je suis Cistac" porque não também Je suis Muxúngwe?
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  • Américo Matavele Este post esta adiantado no tempo. Daqui a umas duas semanas, se o repostar, será entendido. Li nessa perspectiva não emocional.
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  • Anselmo Titos Cachuada Fernando Costa, ao referir-me " escola primária" quis, somente, dizer "interpretação linear", e sinto que terei exagerado no recurso e com isso ofendido os companheiros. Se assim for, passe a frase e sinceras desculpas. Todavia, reiteire-se, desde já, que a escrita é um acto com dimensão filosofico-espiritual.por ex: quandose fala "água" ou "fogo" na dimensão da escola primária, têm de ter esse significado material-real; mas aqueles significantes(palavras) não tomam o mesmo significado na vertente filosofico-espiritual. E o Rui - ao que me parece- narra na dimensão transcendente, isto é, não está a dizer que a morte do Cistac não seja relevante, mas usa o fenómeno para reintrodução à indesejada mas inevitável e colectiva morte dos humanos. E não o faz olhando para o grau académico, e sim na disciplina de pensamento filosófico, que independe de ser primário....ou doutor. E, o Rui não litera , aqui, para os doutores, mas para quem tem luz virada à dimensão filosofico-espiritual, que, mesmo em criança, pode estar no contexto. Fui. Job.Chefe...
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  • Idilioarte Idílio Lourenço Se não tratarmos deste caso caso e dos outros que chamam a atenção de toda uma sociedade, com o rigor e toda publicidade (sim, publicidade), não chegaremos à resolução outros problemas problemas que parecem não nos indignar. O branco que morreu hoje ti...Ver mais
  • Dinis H. G. Nunes Bem dito, bendito.
  • Kudumba Root Acho que este post peca por ser confuso (ainda que não seja a ser necessariamente contraditório) mas o mais grave nele foi ter usado aquilo a que em inglês se chama "race card" [cartada da raça?]. Estou em Chibuto a trabalho e também só agora acedo às redes, e a maioria de tributos que vi era de ex-alunos e outros admiradores do finado. É possível olharmos para ele como aquele que a muitos formou e com coerência defendeu os seus pontos (2 atributos raros por aqui) sem termos que necessariamente partir do facto de ele ser BRANCO? Pela mesma lógica devemos solidarizar-nos com os nossos compatriotas no diário "my love" apenas porque a maioria é negra? O meu princípio nada pessoal é: quer ver o mundo em preto e branco? Ligue um filme do Charlot...
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  • Liovaldo Dêngua Sim senhora!
  • Edgar Barroso Ninguém tem o direito, por mais "frígido" que seja, de condenar a indignação dos outros, por mais selectiva que seja. Rui, eu nunca te vi na minha zona a expressar ou a exprimir condolências a quem lá falece por fome, por doenças curaveis ou evitáveis, ou mesmo por abjecta pobreza. Tu és ou foste jornalista. Só por essa condição é que abordaste os fenômenos sociais que relatas neste post e que, para ti, não têm merecido reparo ou indignação dos outros. Só por isso. Se não fosses jornalista, não serias a perfeição indignativa que preferes ver nos "outros" com sensibilidade diferente da tua. Serias, na verdade, exactamente como eles. Ou um pouco mais, ou um pouco menos. Fica-te mal isso.
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  • Lindo A. Mondlane interessante...
  • João J-double Ferrão Júnior " Eu não concordo com o que tu dizes, mas defenderei ate a morte o direito de dize-lo" Voltaire. Então caro Rui Miguel Lamarques não tenho comentários para o que dizes somente lamentar.
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