segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Parlamento moçambicano vai discutir república autónoma reclamada pela Renamo

Dois encontros em três dias entre o novo Presidente, Filipe Nyusi, e o líder da antiga guerrilha, Afonso Dhlakama, quebraram o gelo.
Encontro entre Dhlakama, à esquerda, e o Presidente Nyusi abre perspectivas de entendimento SÉRGIO COSTA/AFP
A reivindicação da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) de criar uma região autónoma no Centro e Norte de Moçambique será discutida pelo Parlamento, onde os deputados do principal partido da oposição vão ocupar os seus lugares, pondo fim ao boicote iniciado com a ausência da tomada de posse, no início de Janeiro.
As decisões são o resultado de dois encontros que o novo Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, tiveram em três dias e abrem perspectivas de uma evolução negociada para o diferendo que opõe a Renamo, antiga guerrilha, e o Governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique).
“A Renamo tem de apresentar um anteprojeto, que será submetido à Assembleia da República”, disse esta segunda-feira Dhlakama, após um encontro em Maputo com Nyusi, o segundo depois de no sábado se terem reunido pela primeira vez.
“É importante que as bancadas saibam que há entendimento entre o Governo e a Renamo, à semelhança do que aconteceu com a lei eleitoral, que foi negociada fora, e as bancadas, que já tinham orientações dos partidos, aprovaram”, afirmou o líder da oposição, em declarações transmitidas pela televisão TIM. Dhlakama referia-se ao acordo para a cessação dashostilidades do ano e meio anterior a que chegou com o ex-Presidente, Armando Guebuza, antes das eleições de Outubro de 2014. “Não será um anteprojeto normal em que a oposição apresenta e a bancada maioritária chumba”, sublinhou.
No novo Parlamento, a Frelimo tem 144 deputados e a Frelimo 89. O terceiro principal partido, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), ocupa os restantes 17 lugares.
Afonso Dhlakama disse também que se se sentir enganado pelo Governo, “as consequências serão para o Presidente da República, porque ele não vai poder governar bem". “Eu não quero ver o meu irmão cair”, disse ainda, ao lado de Nyusi, a quem chamou “Presidente”, alterando a posição que adoptara quando, após as eleições, que considera terem sido fraudulentas, disse: “Não queremos chamar Presidente a alguém eleito por fraude”.
A intenção de criar uma república do centro e Norte de Moçambique, da qual seria o presidente, foi anunciada por Dhlakama depois de o Conselho Constitucional ter validado os resultados das eleições gerais de Outubro doano passado, em que Nyusi foi eleito – com 57%, à frente de Dhlakama, com 36,6% – e a Frelimo renovou a maioria absoluta no Parlamento, embora tenha perdido lugares relativamente à anterior legislatura.
O chefe da antiga guerrilha, que inicialmente tinha reclamado a formação de um governo de gestão – para o qual indicaria nomes – afirmou que nomearia governadores e administradores nas províncias de Sofala, Tete, Zambézia e Manica – no centro – e em Niassa e Nampula – no Norte. “A Renamo vai formar os governos provinciais nas seis províncias e eu, Afonso Dhlakama, passarei a ser o presidente da república do centro e norte de Moçambique”, declarou num comício, na Beira.
"No trilho da Constituição"
No final do encontro desta segunda-feira, o novo Presidente da República afirmou que “é falando que as pessoas se entendem” e que o diálogo tem decorrido “sem pré-condições”. “Tudo vamos fazer para não sairmos do trilho que é a Constituição da República.”
Filipe Nyusi tem na gestão do conflito com a Renamo uma oportunidade de afirmar a sua liderança e afastar o espectro da guerra que assolou o país entre 1976 e 1992 e ressurgiu em 2013. O novo Presidente não é o chefe do partido governamental, também ele um centro de poder. O cargo continua a ser ocupado por Guebuza, seu antecessor na chefia do Estado.
O anúncio de que os 89 deputados da Renamo – bem como os mais de 294 membros das assembleias provinciais eleitos pelo partido, e que também boicotaram a tomada de posse, em Janeiro – vão tomar posse “em breve” foi feito logo no sábado, após o primeiro encontro entre os dois líderes.
A confirmação da tomada de posse dos deputados do principal partido da oposição acontece em cima da data limite, que aponta para 12 de Fevereiro, a próxima quinta-feira, 30 dias após a “investidura” dos restantes eleitos, embora haja interpretações divergentes sobre o prazo. E vai ao encontro do desejo manifestado por parlamentares da Renamo de tomarem posse dos lugares para que foram eleitos.
O boicote estava também a impedir o funcionamento das assembleias provinciais onde a Renamo tem a maioria dos eleitos – Zambézia, Tete e Sofala – e também em Nampula, onde Frelimo e Renamo elegeram o mesmo número de membros, mas a ausência do representante do MDM tem impedido a existência de quórum, segundo o boletim Mozambique News Reports & Clippings.
Dhlakama anuncia que nova região autónoma de Moçambique será decidida no parlamento, após novo encontro com Presidente Nyusi
Escrito por Lusa  em 09 Fevereiro 2015
presidente do partido Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou nesta segunda-feira(09) que a sua reivindicação de uma região autónoma no centro e norte de Moçambique, será decidida no parlamento, esperando que o partido maioritário respeite os entendimentos alcançados com o Governo.
"O Presidente entendeu [as exigências] e a Renamo tem de apresentar um anteprojeto, que será submetido à Assembleia da República, no compromisso de que as bancadas terão de levar a sério, porque não será um anteprojeto normal em que a oposição apresenta e a bancada maioritária chumba", disse o líder do maior partido de oposição, após uma nova ronda negocial com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
Dhlakama sublinhou que "é importante que as bancadas saibam que há entendimento entre o Governo e a Renamo, à semelhança do que aconteceu com a lei eleitoral, que foi negociada fora [em 2014 com o anterior Presidente Armando Guebuza, antes das eleições gerais de 15 e outubro], e as bancadas, que já tinham orientações dos partidos, aprovaram

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