domingo, 15 de fevereiro de 2015

Os mas que podem matar o Acordo de Minsk

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CRISE NA UCRÂNIA


No “caldeirão de Debaltsevo” oito mil soldados ucranianos resistem aos separatistas e os combates intensificam-se à medida que se aproxima a hora do cessar-fogo: a meia-noite de sábado para domingo.
Ainda mal a tinta das assinaturas tinha acabado de secar no Acordo de Minsk e já começavam a surgir interpretações diferentes do texto pelas várias partes, processo que não agoira nada de bom.
Embora no documento se garanta a integridade territorial da Ucrânia, Moscovo já veio dizer que isso não diz respeito à Crimeia, território ucraniano ocupado pelas tropas russas no ano passado. Dmitri Peskov, porta-voz do Presidente Putin, disse que “não se falou e nem se podia falar” do estatuto da Crimeia, dando a entender que se trata de um caso encerrado: “nós discutimos as regiões russas com outros países só no âmbito da cooperação e interacção regional”.
Acordo de Minsk prevê também a retirada de tropas e mercenários estrangeiros, mas Moscovo entende também que isso não lhe diz respeito. “A Rússia é um país reconhecido pelas partes do conflito. É um país que apelou às partes do conflito a assinarem um conjunto de medidas para cumprir os acordos de Minsk. Mas a Rússia não é uma parte que cumpre esse conjunto de medidas. É um país que participa como garantia, que apela, mas que, claramente, não é a parte que deve empreender acções para isso. Nós simplesmente não podemos fazer isso fisicamente, porque a Rússia não é parte deste conflito”, frisou Peskov.
Na véspera, já depois de assinado o Acordo de Minsk-2, o Ministério dosNegócios Estrangeiros da Rússia publicou um comunicado onde se lê: “surgiu informação de que uma série de cidadãos croatas fazem parte do odioso batalhão “Azov”, formado por extremistas de direita. A participação de mercenários estrangeiros, nomeadamente croatas, num conflito interno serve apenas para o atiçar”.
É caso para dizer que não se pode ser mais claro na interpretação do que foi assinado em Minsk.
Mas há mais: o acordo prevê a libertação de todos os prisioneiros de guerra e uma amnistia, mas tanto Kiev como Moscovo já argumentaram que não é bem assim. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia informou que “aqueles que cometeram crimes contra a humanidade” não serão abrangidos pela amnistia. Isso é feito, nomeadamente, por pressão da Holanda, que quer ver descobertos e julgados os culpados pelo derrube do Boeing malaio no Leste da Ucrânia.
Já o Kremlin fez saber também que haverá excepções. Por exemplo, na quinta-feira, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, declarou que tinha sido acordada a libertação da piloto Nadejda Sovtchenko, que se encontra numa prisão de Moscovo acusada de estar implicada na morte de dois jornalistas russos no Leste da Ucrânia. Segundo as autoridades de Kiev, ela teria sido raptada em território ucraniano e levada à força para a Rússia. A militar não reconhece a sua culpa e está actualmente em greve de fome. Dmitri Peskov, porém, afirma que não houve qualquer acordo sobre a sua libertação e que só um tribunal russo irá definir se ela é culpada ou não.
Para além de todas estas declarações, no terreno a situação em torno de Debaltsevo poderá degradar-se ao ponto de que sequer permitir o início de um cessar-fogo. As autoridades ucranianas acusam os separatistas e tropas russas de terem lançado novas ofensivas com vista a cercar os cerca de oito mil soldados ucranianos que se encontram nessa localidade, um ponto estratégico pois, caso passe para as mãos dos separatistas, permitirá a ligação das duas auto-proclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk. Putin já apelou aos militares ucranianos que deponham as armas.
Já o comando militar ucraniano diz não ter permitido o fecho do cerco das suas tropas no “caldeirão de Debaltsevo” e promete resistir. Os combates têm-se intensificado à medida que se aproxima a hora do cessar-fogo: a meia-noite de sábado para domingo.

9 COMENTÁRIOS

  • PortugueseMan .13 Fev 2015
    “…por pressão da Holanda, que quer ver descobertos e julgados os culpados pelo derrube do Boeing malaio no Leste da Ucrânia…”
    Podiam ter começado por esclarecer porque o espaço aéreo não estava fechado. De seguida podiam ir bater à porta da companhia e perguntar quem foram as pessoas que traçaram as rotas de aviões civis por cima de um país mergulhado numa guerra civil onde aviões eram abatidos.
    Alguém disparou um míssil? sem dúvida.
    E quem colocou o avião ali? esta parte já poderia estar esclarecida, no entanto nada se ouve. Porquê? porque muita gente tem culpa. não foi só o tipo que disparou o míssil.
    Pessoas morreram, para se poupar no combustível. Esta é que é a dura verdade.
  • PortugueseMan .13 Fev 2015
    Apesar de haver “mas” que podem matar o acordo de Minsk, também existe esperança que a coisa possa ir para a frente.
    Volto a insistir que nunca se fala da situação completamente catastrófica da economia ucraniana.
    A Ucrânia está totalmente dependente de terceiros. Os cheques terão que ser passados pela a Europa e por muito tempo.
    O dinheiro ucraniano está a chegar ao fim. Para continuar com as hostilidades, só com dinheiro de terceiros, SÓ para continuar com as hostilidades, já não falo em manter o país minimamente a funcionar.
    Minsk-2, teve a participação de 4 chefes de estado. 2 deles são quem actualmente pagam os cheques à Ucrânia. o que passava cheques deixou de passar e ainda ficou com uma parte de território.
    A Europa, neste momento já fez os cálculos de quanto vão ter que enterrar por ano e por muitos anos na Ucrânia e se querem minimizar de alguma maneira a pastilha para a Europa, vão ter que negociar com a Rússia.
    Sou da opinião que Merkel e Hollande, apertaram Poroshenko, para que este comece a preparar as cedências aos russos, ou então não vão ver dinheiro europeu a entrar. E este vai ter mesmo que entrar.
    Um outro aspecto interessante sobre estas negociações, foi a ausência de Obama. Isto é um problema europeu, a Europa meteu-se nisto, a Europa vai ter que resolver.
    Pelo meio, muito euro que poderia estar destinado a paises da UE, vai ser canalizado para a Ucrânia.
    A Europa cometeu um sério erro ao quebrar o delicado equilíbrio na Ucrânia. Agora, todos vamos ter que pagar a factura.
  • Fernando Pedro Moutinho13 Fev 2015
    Acredito que este cessar fogo (não fim das hostilidades) será respeitado. Quem o anunciou foi Putim. logo os separatistas pela primeira vez não irão continuar as provocações. Antes, com o apoio tático do exercito russo vao continuar a massacrar o exercito ucraniano em debaltseve (sim, vi hoje um vídeo com as ditas “milícias” com um equipamento anti aéreo tipo javelim e a coordenar tiro ao alvo e não de zona gracas aos drones e informação de precisão (ou sea aquilo que os americanos ainda não decidiram fornecer ao exercito ucraniano, mas que milícias sem dinheiro evidenciam em grandes quantidades). O objetivo é selar o inicio das tréguas com uma grande derrota do exercito ucraniano(cerca de 6000 homens quase cercados mas ao alcance de artilharia de precisão) Será o Massacre de São Valetim e uma vergonha para as democracias Ocidentais. A ucrania também tem culpa. devido à herança soviética, o exercito ainda não é capaz de dizer a verdade das perdas no campo de batalha, serve para as democracias assobiarem para o lado e para a russia prosseguir com o reforço de equipamento e de mercenários com treino militar. Mas julgo que haverá cessar fogo agora ate Março-Junho e ai haverá novos argumentos para relançar os combates e a conquista de terreno e perante a implosão económica da ucrania, a derrota militar levará à caça das bruxas na Ucrânia Democrática. Não será difícil imaginar uma ucrania desiludida com o Ocidente e amordaçada pela bota russa (alguns chamam geo-politica a isto). Teremos perdido uma Ucrânia democrática ou a caminho disso e teremos novas ameaças nos Estados Bálticos e na Moldávia,….só que os primeiros são NAT0… Isso deveria levar alguns apoiantes Portugueses do expansionismo russo a mais moderação no apoio. Portugal é NATO e ninguém quer imaginar um conflito de outra natureza
  • Fernando Pedro Moutinho13 Fev 2015
    Em reforço do que acima referi, há um pormenor não referido nos acordos MINSk -2, não foi incluída uma força armada de interposição entre os beligerantes. Esse era um assunrto tem sido discutido envolvendo tropas alemãs e francesas, biolorussas ou mesmo russas. a sua não inclusão deixando aos observadores da OSCE a verificação do cessar-fogo deixa espaço para o reacendimento dos combates. Antes os lados teoricamente podem ter ter essa tentação, mas a fraqueza do exercito ucraniamo impede-o de tentar. Só as milícias poderão beneficiar disso. Mas só o farão com pretextos, campanha de propaganda prévia e o ok de Putim. Não será já, mas quando for conveniente. Entre Março e Junho será o período critico. Se passar disso talvez haja esperança séria de uma paz numa ucrania a reconciliar-se e a lamber as feridas de uma guerra contra a Russia (não assumida publicamente) mas que passou a ser também uma guerra civil por incompetência e demagogia do Estado Ucraniano que se deixou vencer pela propaganda e mentiras russas.
  • Álvaro Aragão Athayde14 Fev 2015
    Faltou dizer que Dmitry Yarosh, o líder Sector Direito da Ucrânia, rejeitou o acordo de Minsk-2, afirmando que as suas unidades no Leste da Ucrânia continuariam a “luta activa” de acordo com seus “próprios planos.”
    E, também, que as forças de reserva ucranianas, treinadas e equipadas por americanos e polacos, tentaram romper o Cerco de Debaltsevo e foram batidas.
    Minsk-2 está morto… e duvido que haja Minsk-3.
  • PortugueseMan .14 Fev 2015
    “Minsk-2 está morto”,
    Talvez não.
    Apesar do que foi dito por essas unidades, se o resto respeitar o cessar fogo, de alguma forma essas unidades terão que ir “ao sítio”.
    Dado o envolvimento de Putin, Merkel e Hollande, talvez se consiga colocar um travão a isto.
    Mais tarde ou mais cedo, a coisa terá que ser resolvida políticamente.
  • KILDARE PEREIRA15 Fev 2015
    A OTAN é o principal responsável pelo conflito ucraniano, mas JM omite, pois a OTAN descumpriu os acordos firmados com Gorbachev de que não haveria expansão para as fronteiras russas. O comunismo acabou, felizmente, mas a OTAN permanece, cumprindo ordens dos EU, com o seu objetivo principal : cercar a Rússia. O que o presidente Putin fez ainda foi pouco : deveria reincorporar todo o leste/sul ucraniano, territórios da Rússia dos tzares. A Europa não aprendeu com as duas guerras mundiais, pois não sabe que uma guerra contra a Rússia seria suicídio. Com relação à Crimeia, sempre foi russa; jamais poderia ser da OTAN.

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